TGV – parte 4 do texto do Maurício Levy
Vamos então “ver”.. se há mercadorias para transportar.
As mercadorias que podem ser atraídas para esse tipo de transporte têm que:
a) situar-se na zona de influência directa das linhas de AV (se os percursos iniciais e terminais forem longos, o benefício da rapidez na linha de AV é cada vez mais diluído – se eu com AV ganho 40% do tempo de transporte na ferrovia mas esse tempo representa 30% do tempo total só ganhei... 12% do tempo total de transporte)
b) ter como destino zonas de influência directa da linha de AV
c) serem “time-sensitive”, isto é estarem dispostas a pagar um sobrecusto (porventura elevado) para chegarem mais cedo ao destino
Quais são essas mercadorias? ...Não serão certamente os contentores de Sines: para estes uma chegada à zona de Lisboa ou Madrid em tempos compatíveis com um serviço FIÁVEL (o que ele muitas vezes não é) em linha “convencional” é, dizem, amplamente satisfatório (aliás seria estranho que depois de passarem semanas no mar as mercadorias de repente passassem a ter de tal maneira pressa em chegar ao seu destino que estivessem dispostas a pagar (muito) mais para poupar umas poucas horas). Nem serão as mercadorias para as quais um horário de saída do ponto de origem (por exemplo Lisboa) às 19h00 (hora a que o expediente das empresas fecha) e uma chegada ao ponto de destino (por exemplo Madrid) ás 06h00 do dia seguinte, é ajustado às suas necessidades (que interesse teriam essas empresas em pagar mais para chegar mais depressa ao destino. e esperar pela abertura dos mercados?)
Não sendo as “célebres” mercadorias de Sines (aliás significativamente a PSA nunca exigiu tal linha de AV) nem as que se acomodam bem de horários já hoje possíveis sem AV, quais podem ser, então, os tráfegos interessados em pagar um forte sobrecusto para chegarem mais rapidamente ao seu destino? Tráfegos transpirenaicos (França, Itália, Alemanha Inglaterra)? – mas esses tráfegos não só são raros actualmente (ao contrário do que dizem) como também deverão continuar a ser raros, como se nota pela evolução da internacionalização do comércio português, que se faz cada vez mais para a Ibéria e não para mais longe. E mais: esses tráfegos sofrem da tal diluição do efeito de AV (portuguesa) ao tratarmos de grandes distâncias. Serão então (apenas) flores, frutas e legume frescos, material farmacêutico? E serão em quantidade suficiente (teremos, por exemplo, 750 toneladas diárias para transportar – o que perfaz UM comboio diário) para suportar os sobrecustos acima explanados? Terão esses produtos uma margem nas venda capaz de suportar os sobrecustos? O leitor dirá...
(continua...)
Maurício Levy
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