Diz-nos o circunspecto Instituto Camões que a frase do título significa :"Termos de acelerar o nosso desempenho para cumprir uma determinada tarefa o mais rapidamente possível."
Quem sou eu para discordar? Mas no vernáculo também se utiliza a frase em causa como sinónimo de "desbunda", "fartar vilanagem", expressões que pretendem designar uma pressa excessiva ou um ultrapassar dos limites em circunstâncias do dia-a-dia, e que são muito utilizadas no contexto político.
Fui almoçar à Cervejaria Ramiro, instituição quase "sagrada" da nossa restauração situada na Av. Almirante Reis, um dia destes em que tinha obrigações de formador ali perto, na Rua da Palma.
A expressão "Ver se te avias" veio à baila pela forma de atender a malta que espera mesa à porta do dito poiso.
Bem sei que a filosofia da famosa casa é exactamente esta: serviço rápido, boa qualidade da matéria prima, "desimpeçam a mesa que há mais à espera lá fora". E foi coisa que não me incomodava quando era mais novo. Virava duas ou três bejecas, descascava o pratinho (agora caçoila) das gambas do Algarve, pedia um prego no pão , café e a conta. Em 20 minutos estava livre da incumbência.
Mas hoje, no virar dos 60? Aprecio outros mimos. Pano no guardanapo, simpatia, acolhimento e tempo. Sobretudo tempo para apreciar. Não gosto de ter que me levantar para dar acesso à mesa encostada à parede. E levantar-me outra vez para dar passagem à saída.
Tenho pejo em ouvir as conversas todas por falta de espaço e intimidade, olho com reprovação os restos da mariscada no chão ou em cima das mesas. Vejo com antipatia o casaco a arrastar-se pelo chão pela falta de altura das cadeiras. E se almoço com ele vestido passo a vida a cotovelar o vizinho do lado.
Ouço com algum horror que o bife do lombo não tem acompanhamentos (vem a carne e pronto). Tremo de enjoo ao ver as torradas de papo seco com manteiga a chegarem às mesas em corrida, substituindo o "couvert".
A pressa com que tudo é feito traz algumas consequências. No meu caso as gambas vinham mal cozidas. A carne é boa, mas quem aguenta comer um bife inteiro sem batatas, arroz, salada, ovo a cavalo, qualquer coisa? "Peça pão" foi a resposta...
Amigos que idolatram o local e a quem me queixei (baixinho), disseram:
-"Quem te manda lá ir almoçar? Aquilo é para petiscos!"
Uma coisa é certa: está sempre a abarrotar, cheinho de estrangeiros que afanosamente usam o dicionário no IPad para traduzir "percebes" ou "santola". Os preços são baixos, a relação qualidade do marisco (e da carne) face ao preço é excelente. Por 25 euros comem bife do lombo, gambas frescas, 3 imperiais e café.
E como diziam os pais do MKT: "produto bom é aquele que se vende!" Ou seja, devo dar corda aos sapatos para outro lado e desimpedir o caminho para quem aprecia aquela filosofia.
Recordo com saudade as horas passadas à volta do marisco excelente do velho Lusíadas ou da Marisqueira (ambos em Matosinhos). Que diferença. Com o pormenor (ou "pormaior") que em vez de 25 euros pagaria 125... Não há milagres.
É a idade. Juro que deve ser da idade. Estou a ficar aburguesado com certeza. Mas ali não devo voltar mais. Pelo menos à hora das refeições principais...