Lee Yacocca foi um génio da industria automóvel, estando na lista dos 20 melhores CEO de sempre nos USA. Tem actualmente 91 anos e continua a estar activo em fóruns e discussões sobre as políticas de gestão.
Aqui em Portugal é talvez mais conhecido por ter sido durante a sua gestão na Ford que foi desenvolvido o mítico Ford Mustang , do que propriamente pelo grande trabalho da sua vida, que foi pegar numa empresa falida ( a Chrysler) e fazer dela uma companhia que dava lucro e que era invejada, ao ponto de ter sido comprada pela Daimler-Benz em 1998 (hoje pertence ao grupo FIAT).
Um dos assuntos que Lee gostava de analisar com os seus directores tinha a ver com a confusão que às vezes se estabelecia em gestão entre "
o gajo que tinha razão, antes de tempo" e "
o gajo que não antecipava o futuro, mas que geria bem o presente".
Ambas as tarefas são necessárias numa empresa, como todos sabemos. O problema está quando o visionário faz a gestão corrente, em vez de estar num gabinete a pensar a estratégia; enquanto que o bom gestor do dia-a-dia é usado para "pensar o futuro".
Nestas posições invertidas estava ( segundo Yacocca) uma das principais causas do falhanço das organizações. Pôr o metódico e competente contabilista a fazer cenários de estratégia, e o gestor estratégico a fazer a contabilidade? Desastre certo e sabido.
Segundo lee Yacocca, o gestor que é apenas visionário deveria ter na sua pedra tumular a seguinte frase gravada:
"Este gajo tinha razão. Mas lixou-se porque ignorou o seu mercado real".
Na actual situação política aqui em Portugal esta verdade da ciência de gestão é mais do que evidente. Há o "mercado real" (o sistema complexo de condicionantes que hoje existe) e há o "mercado potencial" (onde desejamos estar dentro de alguns anos).
Uma coisa é a situação actual, o país que temos, as restrições existentes da política financeira subordinada aos mercados, aos nossos credores, às obrigações que tivemos de assumir desde a altura da intervenção da troika, etc...
Outra coisa é o futuro que queremos. Não só o que será possível mas também aquele que é desejado. Com pleno emprego , com bons serviços sociais, e sobretudo com esperança que permita aos novos casar e ter filhos.
Um dos receios que tenho é que na presente avaliação sobre "
quem deve governar, e como?" alguém se esqueça destas diferenças.
Soluções perfeitamente constitucionais para o futuro governo de Portugal haverá muitas: PSD e CDS apoiados pelo PS. PS sozinho apoiado pela esquerda. PS, PCP, Verdes e BE e ainda o PAN formando um governo de coligação multicolor... E mais ainda.
Todas são legalíssimas, pese embora a alguns.
Mas onde estão as soluções de governo real que assegurem o presente e não comprometam o futuro?
Aquelas que garantam 4 anos de estabilidade governativa , a fazer leis e a gerir bem?
Aqui
"faz mister proposição de mais funda presa" como escrevia nas suas demonstrações de teoremas das matemáticas o grande Aureliano Mira Fernandes.
Que eu saiba não somos profetas, nem astrólogos, nem videntes, nem "tarólogos" (quanto muito um pouco "tarados").
O caminho deve ser traçado de um presente ainda muito cinzento (vide o relatório da OCDE hoje tornado público) para um futuro mais risonho? Sem dúvida.
O problema é saber como. Se tomamos um atalho ou se devemos ir pela estrada nacional. Se vamos andando a pé, de bicicleta ou de automóvel.
Para esse trajecto como escolher entre o Ford Mustang e a bicicleta? Depende da distância, claro, mas sobretudo depende da existência de postos de gasolina no caminho... E de dinheiro na carteira para a comprar.
Eu, como conheço mais ou menos bem o país , lembro o velho ditado
"Mais vale burro que me carregue do que cavalo que me derrube".
Sem querer chamar "burro", muito menos "cavalo", a certos senhores que andam por aí disfarçados de políticos. Embora às vezes a vontade seja grande.