quarta-feira, dezembro 31, 2008

Janus 2009


Janus é o deus romano dos portões e portas (ianua), dos começos e dos finais, geralmente representado com uma cabeça de duas faces, cada uma olhando em direcções opostas.

Dizem que Júpiter lhe outorgou o poder de ver tanto o futuro como o passado, daí ser representado olhando em sentidos opostos.

Foi venerado no início das colheitas, nos casamentos e nascimentos, e em todos os outros tipos de origens, especialmente no início de eventos importantes na vida de uma pessoa.

Janus também representa – por analogia - a transição entre a vida primitiva e civilização, entre o campo e a cidade, a paz e a guerra, e está ligado ao crescimento dos Jovens e às transições da Infância para a Adolescência e desta para a idade adulta.

Do seu nome deriva o mês de Janeiro , o 1º de cada ano.

A Janus ofereçemos as preces neste início de ano. Para que – ao contrário do que os arautos da desgraça anunciam - este ano de 2009 traga bons prognósticos para Portugal e para o Mundo e ainda para que – na nossa vida privada – todos as acções que resolvermos iniciar sejam bem fadadas e protegidas.

Ergamos então a taça nesta noite onde começa o ano numa libação romana a Janus por tudo , mas sobretudo pelas “nossas inclinações”. Que ele nos seja propício nos amores e nas ocupações profissionais.

Ave Janus!

O Trabalho não mata, mas "mói"...


O nosso vizinho Ti Zé da Justina (por alcunha “o coça p'ra dentro”, vá-se lá a saber porquê…) e já falecido – por isso é que trago estas histórias à liça – não tinha estudado senão até à 4ª classe antiga, mas sabia mais de trafulhices e de vigarices que muitos Doutores de Coimbra ou de Lisboa Administradores do BPN…

É uma personagem hoje célebre aqui na aldeia e de quem se diz que disse e fez muita coisa – e se calhar nem tudo é verdade – mas de todas as formas são assim que nascem as lendas locais…

Lembro-me ainda de falar com ele sobre a vida de outros tempos, comparando-a com estas “larguezas” que Abril não deixou de trazer – e bem - a estas terras perdidas.

Eram tempos em que o pobre não tinha outro apoio que não fosse a caridade de algum pastor ou lavrador, que lhe dava umas côdeas de pão negro a comer e para beber o que restava nas gamelas depois de espremidos os requeijões.

Nesse tempo quem tinha terras tinha que as cultivar para comer e dar de comer à família, e por isso empregava “à jorna” homens e mulheres, a quem pagava alguma coisa, pouca, mas com a obrigação de lhes dar de comer. E tal era a fome, que alguns trabalhavam só pela comida, para eles e para levar para os filhos que tinham em casa.

O trabalho era de sol a sol, nunca menos de 7 horas, e nesse período de tempo – pelo menos aqui na Beira - eram devidas pelo Patrão 3 refeições: Antes de pegarem ao trabalho, a meio da manhã e o lanche lá pelas 17.00H.

À medida que a Revolução foi acontecendo cada vez mais era difícil arranjar pessoal para trabalhar as terras, pelo que muitos destes pequenos “patrões” ou as trabalhavam eles mesmos , ou as deixavam baldias, ou então tinham de inventar artimanhas para “cativar” os trabalhadores.

A brincar, a brincar passou-se da ditadura do capital para a ditadura do proletariado camponês! Só vinha trabalhar quem era bem tratado , e a quem – para além de pagarem – dessem os “patrões” boa comida e em abundância.

Ora “um caso se deu lá para o fim dos 70’s ” que passo a contar:
O Ti Zé da Justina tinha umas leiras para amanhar e foi aos cafés ajustar gente para esse trabalho. Como não tinha tido sorte nenhuma no 1º dia – para além de ter fama de vigarista sabiam todos que a sua “patroa” não era conhecida pela generosidade das doses nem pela mão de tacho – pôs-se a pensar durante a noite e ao 2º dia irrompeu pelos mesmos cafés a dizer:
“Já encomendei uns leitões na Mealhada para o pessoal que lá queira ir trabalhar. Ficaram de mos entregar ao meio dia de Sábado. É claro que só vai quem quer…!”

Leitão assado era naquele tempo prato de casamento. Ouviram todos aquilo e não houve homem válido que não declarasse imediatamente “que podia o Ti Zé contar com ele no Sábado”.

O Sábado amanheceu, os Homens apareceram, beberam o café da manhã com grossas fatias de pão com chouriça ou queijo e começaram a trabalhar.

Lá pelas 12,00H o Ti Zé deu ordem de parar e disse alto para a Mulher:
“ – Oh Zefa, vai por favor lá abaixo ao cruzeiro para ver se já chegou a carrinha dos leitões!”

Passou-se o tempo, e o mesmo Ti Zé lá foi avisando o pessoal :
“ - Amigos, se calhar houve um atraso, o melhor é irem comendo daqui desta panela de feijão com pé de porco que o leitão há-de aparecer, se não for para o almoço virá para a merenda!”

Bateram as 5 da tarde no relógio da Igreja e nem o leitão, nem a mulher do Ti Zé apareciam. E os Homens começavam já a murmurar entre eles. O “Patrão” imediatamente os sossegou:
“ – A minha Zefa deve ter ido telefonar ao Posto para ver se aconteceu alguma coisa, mas vocemecês não hão-de ir daqui sem merendar! Ora provem lá deste bacalhau desfiado com broa de milho e , agora que já acabaram, bebam-lhe um ou dois canjirões de tinto por cima!”

Toda a gente começou a ver a desfeita e alguns protestaram em voz alta. O Ti Zé não deixou de lhes responder:
“ – Foi azar , houve engano na combinação, mas o Trabalho nunca matou ninguém senhores!”

O pior foi que alguns dos “trabalhadores” levaram a mal e logo ali lhe deram tantas arrochadas no pêlo que o Ti Zé já uivava…

E quando, muitos dias mais tarde, apareceu outra vez lá pelos cafés, já tinha uma história à espera dele:

“ Oh Zé “coça”! O trabalho matar não mata, mas há dias em que “mói” a gente não é?”

terça-feira, dezembro 30, 2008

O que fazer com o Tempo


Acho que sou naturalmente ansioso e muitas vezes penso que o tempo passa depressa demais, sobretudo se estou à secretária, lá na Casal Ribeiro. E aí, quando começo a procurar coisas para fazer, é sinal de que o trabalho do dia está mais ou menos feito e há que inventar ocupação até à hora de saída. O que é sempre fácil numa Direcção como a nossa, onde os problemas para resolver e os “bicos de obra” para tratar de imediato “nascem” do chão alcatifado como se fossem aquelas ervas daninhas que nunca param de crescer…

Aqui na Serra, pelo contrário, é precisa alguma imaginação para ocupar o tempo que temos livre. Ou venho para aqui matraquear nas teclas do PC e sujeitar os leitores a alguma indigestão palavrosa ou então ponho a leitura em dia.

Tenho cá em cima alguns dos livros de bolso que gosto de reler, entre eles a excelente ficção erótica e um pouco SM da Anne Rice (célebre autora de ficção e fantasia, lembram-se da série de livros sobre o Vampiro Lestat que deu origem ao filme “Entrevista com o Vampiro”?). Claro que para este tipo de literatura Anne Rice utiliza pseudónimos - Anne Rampling e A.N. Roquelaure. Ficção de primeira, sempre para ler no original.

Mas também o soberbo “A Staircase in Surrey” de J.I.M. Stewart (também ele um grande autor escocês, talvez mais conhecido pelas dezenas de livros policiais que escreveu como Michael Innes) . Este é um conjunto de 5 livros (quase 2000 páginas) que lida com a vida académica em Oxford, a propósito de um convite que é feito a um antigo aluno para jantar no seu velho colégio, 20 anos depois de ter de lá saído. Começa com “The Gaudy” e acaba, muito naturalmente, com “Full Term”. Também absolutamente recomendável. Sobretudo para quem gosta, ou se recorda com gosto , da sua vida na Universidade.

E assim me vou entretendo , entre os tachos e os livros, com algumas divagações aqui pelo PC , e outras a fingir que escrevo alguns versos…

E tentando pôr em ordem o pensamento, que o vadio desde que chegou não pára quieto, indo para muitos lados excepto para aquele onde agora estou.

E o pior é que também eu queria ir à boleia com ele…

Já falta pouco.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

O que foi e o que por aí virá...


2008
A actividade económica mais falada em 2008 foi a bancária, e pelos piores motivos.

Quase ninguém já se deve lembrar do que se passou na Economia do país e do mundo, nos primeiros terços do ano, mas não deve haver quem se não lembre da Crise do Sub-Prime, da falência em cadeia de uma série de bancos mundiais, dos “calotes” do Madoff e por aí fora. E, cá mais perto de nós , do BPN e do BPP…

É a Crise. Vem aí a Crise. A Crise está a bater à nossa porta…Mas só entrará mesmo em 2009

Na Política nacional o mais importante deve ter sido esta guerra dos Professores em finca-pé com o Governo, num caso onde já não se sabe bem onde pára a razão – se é que esta esteve alguma vez só de um lado, o que duvido. É verdade que a Esquerda anda à procura de um D. Sebastião salvador e que a direita idem. É verdade que algum PS estará farto da arrogância de José Sócrates “y sus Muxaxos” (embora não tenha alternativas) enquanto que o PSD estará sempre com medo de que a Drª Manuela F. Leite abra demais a sua boca e mantenha a tendência de queda do Partido, mas quando contabilizarmos os “finalmente” vai ser decerto esta oposição dos Professores ao ME o facto político mais saliente do ano.

O SLB (glorioso!) acaba 2008 como campeão de Inverno (e roubado, digo eu!) coisa que não acontecia há não sei quantos anos. Nelson Évora e Vanessa Fernandes salvaram uma apagada presença de Portugal nas Olimpíadas. E a nossa Selecção de Rugby - “Os Lobos” - mostrou ao País que nem só de futebol vive o Desporto Nacional.

Barak Obama é o Presidente Eleito dos USA! Sem dúvida o mais importante acontecimento mundial de 2008. Como e de que forma nos vai afectar essa eleição saberemos dentro de momentos…

2009

As Eleições em Portugal vão ser o prato forte deste ano. Temos 3 eleições – Europeias, para o Parlamento europeu, em Junho. Legislativas e Autárquicas , ainda sem sabermos bem quando (entre Setembro e Outubro), e se serão ou não no mesmo dia… - E a pergunta mais importante do ano é: Vai o PS de Sócrates aguentar-se à bronca ou não? Ganhará ? Com maioria absoluta ou não? E daqui decorrerão todas as análises subsequentes para PSD, PCP, BE e CDS.

Até às Eleições como vai evoluir a “Entente Cordiale” entre Belém e S. Bento? Agravam-se as cisões - Orçamento de 2009, Estatuto dos Açores, etc.. – ou haverá uma reviravolta neste relacionamento?

A dimensão da crise económica e a forma como vai impactar a economia real em Portugal, as PME’s e as famílias, serão decerto variáveis extremamente importantes para condicionar toda a política nacional, e obviamente as Eleições. E não se sabe ainda muito bem se um aumento das dificuldades económicas será favorável – ou não – ao actual “establishment” político, embora muita teoria já tenha sido escrita sobre a matéria, e com posições a favor e outras contra… Leia-se sobre este assunto o excelente artigo do Expresso de 27 de Dezembro, com comentários de António Costa Pinto, Pedro Magalhães e Rui Oliveira e Costa.

Numa palavra, é esta uma ocasião de ouro para os politólogos exercitarem a sua “arte” (reparem como evito chamar-lhe “ciência”, embora tenha um deles lá em casa). O que li e que me pareceu mais certo foi a frase : “ A Crise adia a opção de voto e aumenta o número de indecisos”.

No jogo destas eleições será a qualidade das campanhas políticas do momento que vai resolver a inclinação do voto dos PS’s cansados de Sócrates e descontentes com o rumo do País e dos PSD’s cansados do Partido e das suas “não-posições”.

A única certeza que tenho – tomem nota – é a de que o SLB será campeão nacional em 2009. Daqui não me movo, nem que venham as gruas da "Mota-Engil" .

E se me enganar? Perguntarão os amigos que tenho no SCP e no FCP…

Nesse caso, e imitando o grande Voltaire na desenvoltura com que assumia os seus erros, apenas me resta transportar essa previsão para 2010. Ou 2011..Ou..

Não interessa! Mais cedo ou mais tarde havemos de ser outra vez Campeões.

E sim senhor, já conheço a anedota em que o próprio Deus garante a Luis Filipe Vieira que “Benfica campeão? Não digo que não meu filho, mas já não será no meu tempo…”

domingo, dezembro 28, 2008

A vista da nossa varanda


Vejam lá o que se via da varanda ontem às 16.00H. Estava escuro que parecia noite ...
E hoje para além da chuva temos o vento que não parou a noite toda e arrefeceu a temperatura do ar até aos -4º , que é o que o termómetro marca agora, perto das 7.00H.
Belo dia para a lareira e para não sair de casa...
Mas é dia da Missa e lá vamos a caminho do Convento de Gouveia.

A Gripe ataca na Serra


Sogra e Cunhado sucumbiram aos efeitos perniciosos deste Inverno descarado. Gripe, com as habituais sequelas de febre, mal estar geral e dores de cabeça, tosse por vezes feroz e peito completamente apanhado…

Reunido o Gabinete de Crise – constituído pelo meu Senhorio e eu – rapidamente se decidiu que urgia definir quem deveria ficar de serviço aos quartos e quem deveria assegurar os trabalhos da cozinha.

Não tendo sido possível encontrar solução para esta matéria dentro do Gabinete de Crise, foi por unanimidade convocado o Conselho de Ministros para a Crise, desta vez constituído por mim e pelo meu Senhorio.

Ao fim de várias divagações pôs-se à votação a afectação dos dois aos serviços mais prementes, tendo, por maioria qualificada de um para um (sendo que o primeiro “um” – que sou eu - tinha mais peso do que o segundo “um”- que era ele) ficado definido que eu tomaria conta dos fogões e ele do serviço aos doentes.

Reforços devem chegar pela tarde de amanhã, mas até essa altura está nas nossas capazes mãos fazer face ao imprevisto insólito.

Ainda quis tentar o Hospital de Seia, mas desisti ao ver os noticiários da TV e o que se passava, de um modo geral, com as urgências nesta quadra…

Perante isto decidimos falar com o farmacêutico da terra – homem muito entendido em todas as coisas, qualquer dia candidata-se a um lugar num conselho de administração de uma qualquer empresa pública – e de lá trouxemos bons conselhos ("avinhem-se, abafem-se e abifem-se") e os remédios para casa.

Para sossegar a minha “santa cá de cima” não deixámos também de ouvir a Dona Gertrudes (nome inventado mesmo agora não vá o Diabo tecê-las), nossa vizinha e mulher sábia e muito entendida em desmanchos, alcovitices, quebrantos, despachos e coisas ruins. Segundo ela teria sido “bicho que lhes passou pelas ventas”. Esse “bicho” aparentemente tem duas naturezas, a boa e a má (quem diria?).

Se passou com a “natureza boa” tudo se resolveria em poucos dias e não vale a pena tomarem os comprimidos. Se passou com a “natureza má” têm que amargar umas semanas e também não valeria a pena tomarem os medicamentos (não sei o que é que o farmacêutico lhe fez, porventura alguma concorrência para o remédio dos porcos...).

Agradecemos os conselhos e aqui estamos prontos para o que der e vier, enfrentando bravamente as baixas temperaturas e as arremetidas dos “bichos” com tais quantidades de álcool, sobretudo à noite, que a mais ruim das “alimárias” cairia para o lado com os vapores do bafo se se atrevesse a passar-nos pelo focinho ( e em qualquer das suas “naturezas”).

sábado, dezembro 27, 2008

Poesia à moda da Serra

Ora vejam lá se gostam deste soneto de pé quebrado que escrevi porque me fez lembrar - não sei bem porquê - os velhos Padres do mestre Aquilino Ribeiro, ou até o grande Torga.

Soneto caprichoso sobre como o Amor ataca por vezes os Ascetas…

Tem Amor um jeito súbito de surpreender
Quem o evita petulante e cumpridor
E com uma mão leve, esvoaçante
Tolda num instante a mente do gozador

O eremita bem se concentra na pedra dura
Onde exausto repousa a cabeça
Mas o mesmo Amor sem lhe dar cobertura
Não lhe permite a fuga para essa fortaleza

De estranhas ideias lhe enche o pensamento
Turvando com alarido a séria mente
De quem às Musas pedia outro sentimento

E é de tal forma que, empinando-lhe o calção
O corpo do pobre asceta o atraiçoa
Mesmo ali, em cima daquele mísero colchão…

Na Serra - o início


4 graus às 12.00H de hoje. Foi esta a costumada cena de boas vindas aqui do Maciço Central, onde não só o frio mas sobretudo o vento dá uns arrepios que só nos apetece enfiar a cabeça dentro das lareiras...

O costumeiro almoço da chegada será a Feijoca à Pastor da Serra, com aquele feijão branco grado que embebe em guizado especioso as carnes de porco - pés e canelas - e de vaca - chambão.

Para dar gosto meio chouriço da matança do ano passado e refogado apurado em azeite aqui de cima do melhor que tirarmos do alambique. O resto é tempo de cozedura sempre em lume lento - mais de 3 horas - e obviamente sabedoria de quem sabe com rigor quando está na altura de tirar as carnes e de juntar a feijoca.
O Tinto ainda é o da casa, da extraordinária vindima de 2004.

Para esta noite estou já a planear cozer a cabeça de cherne - magnífica , com 4,5 kg - que trouxe do El Corte Inglês sem nunca ter visto gelo. Com umas couves aqui da quinta, tenras de se desfazerem na boca e daquelas que são tão doces quando cozidas que há que as salgar um pouco mais para equilibrar o gosto.

Não se vê ninguém na rua, com excepção dos vizinhos que andam na apanha da azeitona, o que torna ainda mais estranha esta paisagem de serra com vento polar e adivinhando neve nos locais mais altos.

Já hoje nevou na Covilhã e fecharam as estradas de acesso à Torre. Aqui na quinta - situada num Vale abrigado - não há memória de ter nevado, mas decerto que a temperatura há-de baixar para os negativos logo à noite.

Momentos propícios para nos pormos a trocar recordações à volta da lareira e com um belo Lagavullin a servir de corta-palavra.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

O outro lado das Festas


As Festas com “aquelas santas”

“Viúvo com filho único procura , desesperadamente, lugar onde passar o Natal e Ano Novo sossegado”

Ainda pensei em colocar o anúncio atrás citado nalgum jornal nacional, mas o que me impediu à última hora foi o peso da minha consciência… Ou melhor, foi sobretudo o peso, sim, mas o da minha conta no banco, que era capaz de ficar um bocado mais leve se eu bazasse sem dar cavaco à “santa” de cá de baixo…

Por isso cá estou de novo enchendo-me de paciência para aturar estes 6 ou 7 dias entre o 24 de Dezembro e o 2 de Janeiro…

A ”lida” começou logo às 7.00H da manhã da véspera de Natal, com correrias para cima e para baixo nas escadas e mil perguntas:
- “O Diogo já se levantou?”
- “Já compraste tudo?”
- “Olha que a fila na Garret deve estar já à porta do Saloio!”
- “Mas nesta casa ninguém se levanta!?”

Eu bem dizia que a Garret abre às 8.00H e que eu tinha encomendado tudo, não era preciso ficar na fila e que sff me deixasse tomar banho em paz…

Saí meia hora mais cedo só para deixar de a ouvir.

Quando regressei, lá pelas 10.00H , a guerra era com o neto… “Levanta-te se fazes favor!!” e “Quando é que arrumo o quarto?”

Lá consegui convencê-la que nos despachávamos mais depressa se nos deixasse sozinhos por algum tempo…Mas levou a mal e desandou ofendida para casa dela.

São 11.00 da manhã do dia 24 e ainda agora começaram estas exéquias…

Em casa da Isabel (outra desgraçada de uma filha única, como eu) o panorama não era melhor. A progenitora também já não a largava desde ontem…

JURÁMOS OS DOIS QUE UM DIA HAVERÍAMOS DE SER LIVRES! (mas quando!!??)

Não sei se aguento até ao fim deste dia – sem falar na semana angustiosa que me espera - sem ir à Farmácia…

É Prozac ou Lorenin? Nunca me lembro bem… Olhe, dê-me dos dois se faz favor. Não tem embalagens maiores?

terça-feira, dezembro 23, 2008

Preparar a Consoada


Bacalhau com as couves ainda admito na noite de Natal, mas o cheiro a fritos na cozinha - para as filhoses, os sonhos, as fatias douradas, etc.. - isso é que me custa a suportar nesta noite mais importante do ano para quem vive bem a quadra .

Se forem como eu aqui deixo alguns conselhos para fazer desta noite uma reunião familiar civilizada que não se estrague com a canseira dos preparativos de última hora ou com o dito cheiro a óleo de fritar pelo apartamento dentro...

Quem conseguir escapar umas horas mais cedo do emprego, no dia 24, bem pode adiantar um Bacalhau à Gomes de Sá, com a grande vantagem de ir trabalhando o prato durante a tarde e apenas ser necessário levar ao forno antes de jantar.

Ora vejam esta "imitação" de Bacalhau à Gomes de Sá que é rápida e resulta bem:
Cozam (apenas um leve entalanço) o bacalhau, escorram bem e desfaçam em lascas, retirando a pele e as espinhas. Façam o mesmo às batatas em rodelas grossas tendo o cuidado de as deixar inteiras. Depois é só cortar uma ou duas boas cebolas às rodelas finas e puxá-la em bom azeite, com bastante alho e louro.
Tudo isto pode ser feito com antecedência...
Meia Hora antes de comerem deitem num Prato fundo de ir ao forno camadas de batatas, cebola, e bacalhau começando com cebola e terminando também com a cebola. Deitem por cima um fio de Azeite extra Virgem, com carinho mas sem excessos , levem ao forno quente durante 15 a 20 minutos e decorem com azeitonas pretas descaroçadas, salsa e ovo cozido finamente picado.

Se acharem bem podemos anteceder este Bacalhau por uma entrada de ovos mexidos com tomate e chouriço alentejano. Muito fácil! Apenas tenham o cuidado de juntar para a tijela onde batem os ovos (dois por pessoa) dois ou três tomates maduros partidos aos bocados bem pequenos e limpos de pele e sementes mas reservando os seus sucos naturais. E ainda um pouco de Leite meio gordo para os tornar mais fofos. Temperem como de costume, com sal e pimenta, e batam juntamente com o chouriço partido aos bocados pequenos. Prevejam no mínimo 100 golpes do garfo para que a mistura se consolide e os ovos fiquem bem macios. Fritem apenas em azeite. Já se sabe que apenas ficam bem ovos batidos à temperatura ambiente... tirem-nos do frigorífico com antecedência!

Para entreter até abrirem os presentes comprem fora as broas de mel ou castelares e enfeitem a mesa com o Bolo de Natal feito com especiarias e frutos secos e coberto com capa de açucar branco (na Garret do Estoril arranjam tudo isto).

Antes disso limpem bem e cortem aos pedaços um Ananás bem maduro - na falta deste um abacaxi - e coloquem num prato meio fundo . Juntem-lhe natas batidas ao vosso gosto (com ou sem açúcar) e rematem assim a Ceia de Natal.

Para o Bacalhau aconselho um Dão tinto novo, o Quinta da Pellada 2004 Touriga é excelente, mas puxadote, aí pelos 32€. Mas também muito bom é o Pelllada 2005 , a menos uns 10 euritos. Uma alternativa mais económica mas que fica bem com o "Gomes de Sá "- honrado Comerciante de secos e molhados da ilustre cidade do Porto - é o Vallado Douro tinto, colheita de 2006, pelos 9 euros.

Com o Ananás podem sempre tentar um Madeira Sercial e para fazer horas até que chegue o Pai Natal proponho que - por uma noite - abandonem o whisky e ousem abrir uma boa garrafa de Porto Vintage. Tentem o Fonseca Guimaraens Vintage 2004 ou o Quinta do Vesúvio também Vintage do mesmo ano.

Caso não tenham paciência para um jogo de Monopólio em família há sempre a hipótese de vermos um filme que agrade a todos e que tenha a ver com a Quadra ...


Uma sugestão seria alugarem o "Scrooged" com o impagável Bill Murray a ter de lidar com os fantasmas dos Natais passado e futuro , ou então o clássico "The Muppet Christmas Carrol" com os Marretas a contracenarem com o grande actor Michael Caine.


Feliz Natal para todos!

segunda-feira, dezembro 22, 2008

O Natal e o Ano Novo


Mais uma vez o vosso Blogger ruma à Beira Alta dentro de uns dias para só regressar a 5 de Janeiro.

Farei Posts lá de cima, do Maciço Central, mas não prometo que seja todos os dias...vai depender não só da vontade mas sobretudo da minha ocupação sazonal nesta quadra, que é - como sabem - estar sempre de serviço aos fogões e aos tachos...

Gostaria de deixar uma mensagem de Esperança aos nossos fiéis leitores neste fim de ano e quando sobre todos já se parecem abater as nuvens infaustas da crise .

Todos nos avisam para nos prepararmos para o pior - a começar pelo Primeiro Ministro - e de facto é crível que as grandes consequências da "chafurdagem" que muitos "banqueiros " fizeram nas nossas costas só apareçam realmente na economia real lá para o meio do ano que vem.

Mais racionalidade nos gastos, menos ostentação e mais juizo nas decisões de compra, são desejos que manifesto a todos para 2009. E sempre, mesmo sempre, com a saúde à frente de tudo!

Mas não se esqueçam também de alimentar o sonho. Ainda não custa dinheiro sonharmos com dias melhores e fazermos desses sonhos aquilo que nos permite encarar o dia-a-dia com sorrisos nos lábios.

Um dos meus propósitos para 2009 é exactamente investir naquilo que depende de nós e não custa assim tanto dinheiro - se é que custa mesmo algum : na Amizade, no Amor e no reforço das boas relações entre todos, na família e no emprego.

Dêem largos passeios junto ao mar com o vosso "significant other" , de preferência com as mãos dadas. Aproveitem a falta de dinheiro para sair, e reinventem os serões em família, nem que seja para discutirem a "situação" e dizerem mal de tudo e de todos.

Comam e bebam bem, sem exageros. Tornem-se criativos na cozinha e à volta dos Tachos e Panelas. Verão como sabe bem e é fonte de alegria familiar ocuparem-se todos do planeamento e da realização das refeições, sobretudo das dos fins de semana...

Leiam muito. Emprestem sempre os livros uns aos outros e comentem aquilo que leram.

E não vivam sem amar...o tempo é demasiado curto para perdermos essa oportunidade!

Administração de CHC de novo nos Jornais pelas piores razões


A imprensa tem trazido nos últimos dias mais desenvolvimentos sobre os Processos que as diversas Inspecções - do MOPTC, das Finanças - e que o próprio Ministério Público levantaram à gestão de CHC aqui nos CTT entre 2003 e 2005.

Para além do caso já célebre do imóvel de Coimbra que se "auto-reavaliou" em algumas horas , depois de vendido duas vezes (e no mesmo Notário!) , fala-se agora do Contrato de renovação da Frota feito com uma Empresa do Grupo BPN (ai, ai...) em condições mais desvantajosas do que as apresentadas por outro consórcio e depois de pareceres contrários expressos pelos gestores dos CTT...

A minha posição sobre esta matéria é conhecida: Investigue-se fundo e nada se deixe por esclarecer, doa a quem doer. A empresa tem mais de 500 anos de actividade e não pode (nem deve) andar nas "bocas do mundo" por estas trapalhadas...

E, só desejo que aqui as coisas não se passem como no Processo da Casa Pia, onde está encontrado o "grande satã" na figura patética e bacoca do BiBi...

Não queria acordar um destes dias e descobrir nos jornais que - afinal - o grande culpado dos desvarios nos CTT já cá não está neste mundo...

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Refeições de Emergência


Quem é que já não passou pela situação algo desagradável de estar em casa, lá pelas 19.00H a antecipar um chá com torradas para a noite , quando lhe entram pela porta dentro 3 ou 4 amigos ou familiares da provincia que não se podem mandar "retirar" ?

E há que dar-lhes jantar, pois na "santa terrinha" a malta alimenta-se 4 vezes por dia e chá com torradas nem servirá para os doentes, quanto mais para os sãos de corpo...

Tenham sempre em casa algumas coisas com que acautelar um problema destes:

Batatas Primor (daquelas que se comem com a casca depois de bem lavadas). Para 4 pessoas 1,5 kg
Ventrescas de Atum em Azeite (é a carne da barriga do atum em conserva. Comprem das do Continente - marca branca , são um pouco mais caras do que o atum em lata normal, mas verão que valem a pena). Uma lata por cabeça.
Pasta de azeitona preta ou verde, 3 latas
Mostarda de Dijon à antiga , meio frasco
Uma lata de grão de bico já cozido, das grandes.

Misturem bem a mostarda de Dijon e a pasta de azeitona em quantidade suficiente para encher uma chávena almoçadeira, normalmente meio frasco de mostarda para 3 latas de pasta de azeitona das pequenas. Ponham num "Pirex" de ir ao forno as ventrescas de atum previamente escorridas, esfareladas à mão e misturadas nas batatas Primor e no grão. Cubram ( melhor dizendo, envolvam) na pasta que fizeram .

Vai ao forno quente durante uma hora para assar bem as batatas. Retirem e decorem com azeitonas pretas descaroçadas e com ovo cozido aos gomos.

Acompanhem com um Rosé de qualidade - por exemplo o Ázeo de João Brito e Cunha, do Douro. É um tipo de vinho que aguenta melhor a acidez da mostarda.

Vão ver que todos gostam.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A Deflacção estará a chegar?

Muitos pensam que a baixa generalizada dos preços é uma boa coisa para o consumidor individual e, por isso, se interrogam porque "carga de água" os economistas tanto temem que a "inflacção" - o aumento dos preços - se transforme em "deflacção" , que é o seu oposto.

O problema não está tanto nesse decréscimo de preços, mas sim naquilo que o ocasionou.

Normalmente só se baixam os preços quando o mercado já não absorve os bens e serviços aos preços tabelados . É, por esse motivo, a deflacção um sintoma preocupante de uma economia estagnada onde o comércio abdica das suas margens legítimas para "não perder tudo". Sinais exteriores deste fenómeno , que se evidencia pela dificuldade em escoar stocks de mercadorias, são os Saldos a toda a hora, os Descontos Antes do Natal, os pagamentos a prestações sem juros... E por aí fora.

Por norma estas situações de "deflacção" estão também relacionadas com o aumento do Desemprego e respectivas consequências para a economia em geral, com relevo para a baixa de consumo que provocam, já que as economias familiares das famílias atingidas têm de se concentrar no essencial e deixar de se preocupar com o supérfluo.

O reerguer da Economia tem de passar pelas Empresas, pela sua saúde financeira e económica, permitindo-lhes pagar bem e empregar melhor, injectando assim na economia real o dinheiro para o consumo que tanta falta já faz...Mas para que isto aconteça é urgente o apoio dos bancos Comerciais, sobretudo ao nível do crédito a conceder.

Nos USA o Dólar já é "dado" no mercado primário, isto é, o Banco central já empresta aos bancos Comerciais a juro praticamente nulo e aqui na Europa este "preço do dinheiro para os bancos" andará ainda pelos 2,5%, mas a tendência no futuro será a mesma.

Mas então porque é que os Bancos comerciais não se apressam a emprestar eles próprios o dinheiro a baixos custos às PME's e Famílias?

Por causa dos riscos que estas situações de crise trazem consigo. Em economias em depressão o risco do incumprimento por parte de quem pede emprestado é bastante maior do que em economias estáveis. Daí as cautelas e os vários pares de luvas que o sistema bancário utiliza para analisar os pedidos de crédito, individuais ou de PME's.

Parece esta situação uma "pescadinha de rabo na boca"? Pois parece, e o complicado é encontrar uma ferramenta económica que quebre este círculo vicioso para o transformar em círculo "virtuoso"...

Não há "receitas de cozinha" para resolver isto, mas as possíveis soluções passam - na sua maioria - pelo Investimento Público na economia, à laia de "empurrão" inicial que quebre a inércia da economia estagnada e traga confiança ao mercado.

Já cá nos tardam as obras de regime... Não transformem isto noutro Alqueva sff...

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Um Soneto de Outono

Uma incursão do vosso Blogger pelos atalhos da poesia onde por vezes se perde...


Tem o fim deste Outono tão pouco encanto
Ao vê-lo assim de neve , chuva e espanto
Sem bem que se colha do céu cinzento,
Que muito bem passaria por Inverno de pranto

E porém numa destas tardes frias de Dezembro
Um cheiro de Agosto certos lábios acharam
Debaixo do teu pulso fino e pequeno

Para onde outros lábios os mandaram

E sem que se pudesse prever tal
O inebriante rumor do teu sangue

Tornou-se mar, e ondas e sal

Enganando assim os olhos fechados
De quem nem sabia que Amor colhia
Ao beijar-te docemente, nesse final de dia.



Vem aí outra vez o Santana!!


Dizem que quando Júlio César regressava a Roma depois das suas conquistas não tardava muito que esse regresso fosse anunciado em comunicados anónimos espetados no Fórum, da seguinte forma:

"Fechem as Vossas Mulheres! Está de volta o velho libertino!"

Não será agora bem o caso (enfim...) mas o certo é que o "menino-soldado", o do "colinho" e outras coisas mais , vem por aí fora fazer guerra eleitoral à maioria que, com o PS à frente, tem vindo a gerir os destinos da Capital do Império (perdão, da Nação).

Manuela Ferreira Leite escolheu bem? Porventura escolheu o que lhe parecia o menor dos males tendo em vista o reforço da tão necessária coesão do seu Partido...

É muito interessante - um autêntico paraíso para os especialistas em Sondagens - tentar adivinhar agora o que se vai passar, num momento como o actual onde ainda pouco ou nada se sabe da forma como as forças antagónicas se vão apresentar ao voto popular alfacinha.

Irá Santana contar com o apoio expresso e inequívoco do Paulinho das Feiras , ele que ( vade retro Belzebu!) enfrenta agora uma inóspita revolta das suas hostes, correndo mesmo o risco de passar a quarta força parlamentar (os tempos do Partido do Taxi...)?

E António Costa? Como se vai apresentar? Sózinho? Numa coligação que inclua PC e Verdes? De que forma os resultados do congresso da esquerda não alinhada e as declarações de Manuel Alegre poderão pesar no voto dos lisboetas?

E, mais importante que isto tudo, os resultados de Lisboa anteciparão os resultados da votação para a Assembeia da República?

O Populismo de Santana, que já sabemos que ganha votos, vai-se opor a um Racionalismo revestido de seriedade, que é o posicionamento habitual de António Costa.

A sobriedade de estilo do segundo chegará para ganhar? Ou, pelo contrário, teremos Lisboa nas mãos da demagogia delirante por mais uns anos?

Alea jacta est!
Nota: Caricatura por cortesia de Sapo.Fotos.

terça-feira, dezembro 16, 2008

O Madoff


Agora descobriu-se que tinha andado por aí - nos USA - um Sr. Madoff que até foi Presidente do NASDAQ e que geria um Fundozito de Investimentos com alguns problemas...

Tantos quantos 50 mil milhões de dólares de problemas, para ser mais concreto...

O Fundo não tinha era "fundilhos" e lá se foram as poupanças de mais não sei quantas criaturas para o esgoto. Entre elas - e é o que mais nos custa - as de algumas associações de beneficência.

Moral da História? Um mal nunca vem só e quando o mar bate na rocha quem se lixa é sempre o mexilhão...
O Madoff - que tinha fama de ter a mais bem "ornamentada" agenda de moradas e telefones de New York - está preso e não é crível que os seus muitos amigos multimilionários ou do jet set o vão visitar. Nem também os dirigentes das associações que levou à falência, mesmo as de caridade judaica que era a sua fé particular...
Terá sempre a alternativa de escrever as memórias e de as vender seguidamente para guião de algum filme... Isto se o deixarem muito tempo vivo, lá na prisa onde o vão meter. O dinheiro costuma ter um braço ainda mais longo do que o da lei...

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Os Donos das Coisas


Vem esta crónica a propósito do simpósio da esquerda "não alinhada" do último fim de semana e da forma como a "outra esquerda", mais ortodoxa, reagiu.

O Tio Jerónimo, visivelmente incomodado, falava de "casamentos e de baptizados e do convite que não fora feito"... E que "teriam para lá umas ideias, mas que não chegava".

E - digo eu - com isto arrogava-se a posse da Esquerda verdadeiramente de esquerda.

Do lado do PS lá veio o comentador de serviço, o Tio Santos Silva, dizer que "sim, tinha ouvido falar da reuniãozinha deste fds, mas que o lugar do Manuel Alegre naturalmente seria no PS e quanto ao resto, pois haveriam por lá algumas ideias e mais nada..."

Outro que se acha dono da verdadeira Esquerda

Quanto ao Congresso , Simpósio, ou lá o que foi, pouco tenho a dizer, excepto que me pareceu ler nas entrelinhas dos seus proponentes uma certa arrogância quanto à ideologia que defendem: Eles seriam os únicos mortais que - em Portugal, quiçá no Mundo - podem vir a público falar de Esquerda e de programas de Esquerda. A esquerda é deles e de mais ninguém! O resto é ortodoxia soviética , anarquismo fora de prazo ou ainda social democracia capitalista encapotada.
O Tio "Sabe Tudo" Rebelo de Sousa, esfregava as mãos de contente e contava já os votos que Alegre y sus muchaxos retirariam ao PS em 2009: "podem ser 7% ou mesmo 8%, se assim for o PSD tem hipóteses de discutir a eleição com José Sócrates! Terá é de fazer uma convenção agora na Primavera para unir as Hostes!"

E nestas afirmações todos também reconhecemos uma certa arrogância de quem pensa que é o único dono da verdade, de toda a verdade...

Esta coisa dos Homens (e Mulheres) pensarem que são donos de coisas mais ou menos intangíveis deve ter começado na infância e na adolescência, e depois - por falta de cuidados dedicados do foro psicanalítico - assim se viram projectadas para a Idade Adulta certas ilusões de grandeza que melhor seria terem para sempre ficado fechadas no baú dos brinquedos.

E não estou apenas a falar de política! Numa Empresa é comum existirem debates sérios sobre quem será, de facto, o "dono do Cliente" ... Ou sobre quem é o "dono do Produto" ... E por aí fora.
Responsabilidade , que é um tema conexo mas que afastam destas discussões a 7 pés, é que nunca ou raramente é debatida... Dono da Empresa para receber a parte dos Lucros todos gostaríamos de ser, mas dono da mesma Empresa para arcar com a responsabilidade social da falência ou dos prejuízos?? Dono para gastar em carros de luxo? OK!! Dono para pagar do seu bolso os ordenados em atraso? Bem, está na altura de bazar...

Neste enquadramento gritar que se é "dono" da esquerda" faz tanto sentido como afirmar-se que somos "donos" da chuva ou do bom tempo... Teremos alguma responsabilidade colectivamente - e cada vez maior - na origem das alterações climáticas que fazem chover ou fazer sol, mas daí a afirmarmos que somos - pessoalmente - responsáveis por ter chovido "pra burro" no fds passado vai uma grande diferença...

Ninguém é dono de uma ideologia, nem mesmo aquele que a criou como sistema político ou filosófico, pois da interpretação e colocação em prática das teorias resultam novos desenvolvimentos, avanços em veredas não previstas pelo ideólogo e não sonhadas pelo Politólogo que as comenta ex-post, de serviço às radios, jornais e TV's

E termino perguntando: nestas circunstâncias quem será o "Dono do Voto político"? O Povão que vota, o Comentador que o orienta ou o Político que é eleito??

Na prática acho que todos julgam - com sinceridade e cada um à sua maneira - que são eles os verdadeiros "donos"...

Mas nenhum será, com verdade, "Dono" dos votos dos outros. Apenas do seu próprio e único voto. O Voto é singular e da consciência do votante, não uma coisa plural que possa ser comprada ou vendida.
Na intimidade do "santo dos santos" da democracia, dentro da secção de votos, deve estar apenas o cidadão , uma esferográfica e um boletim de voto.
Esperemos que para sempre.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

O despertar do sentimento

O sentimento desperta também nas tardes da nossa existência, sem o alarido juvenil que empolga todos os sentidos, numa algazarra de gaivotas antecipando o festim, mas com a sorrateira investida de um gato que - sem darmos conta e vindo não sabemos de onde - está já enroscado aos nossos pés. E que difícil é tirá-lo de lá...

Penélope

Mais do que sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço melhores dias
do nosso amor.

David Mourão-Ferreira

terça-feira, dezembro 09, 2008

Blogger no Porto


Para assistir e participar no lançamento do Postal Inteiro Comemorativo dos 60 Anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, uma organização do Museu de Imprensa do Porto, à qual os CTT se associaram.


Novo Post na Sexta Feira.

Em torno do que se lê - Alçada Baptista


Aos 81 anos Mestre Alçada Baptista deixou-nos este fim de semana. Digo deixou-nos porque a morte deste grande personagem das letras portuguesas foi assim uma coisa mansa e digna, própria de um homem que - sendo crente no interior de si - dizia que não temia a morte, embora a achasse "...uma chatice, que nos tira da apreciação das coisas boas que a vida tem".

Era formado em ...Direito (quem diria!!??) e levou uma vida inteira a pugnar pelas coisas em que acreditava. Fundou a "Moraes" e a revista "O Tempo e o Modo"; diz quem melhor o conheceu que tal era a sua dedicação àquilo que fazia que ficou cheio de dívidas para que estes seus "filhos do intelecto" continuassem a laborar.

Lidei com ele na altura em que nos escreveu - em 1989 - "Um Passeio por Lisboa" para o Clube do Coleccionador dos CTT, livro com fotografia (extraordinária) de Luis Filipe Cândido.

Um Senhor das letras, obviamente, uma extraordinária pose de alfacinha convicto e militante que amava esta sua Lisboa como poucos embora tivesse nascido na Covilhã.

Jornalista, assessor de Veiga Simão no Ministério da Educação caetanista, opositor ao regime de Salazar às claras, criador do Instituto Português do Livro, era no fim de contas e como muito bem conta o Livro que lhe foi feito em homenagem sentida, um "Amigo de todos Nós" :

"António Alçada Baptista. Tempo afectuoso – Homenagem ao escritor amigo de todos nós», volume de textos publicado em 2007 em sua homenagem, onde 45 personalidades, de familiares a escritores, catedráticos e políticos, escreveram sobre a importância da obra de Alçada Baptista e o que a sua figura inspirou.
De ente eles: Eduardo Lourenço, Mário de Carvalho, Teolinda Gersão, Dinis Machado, António Ramos Rosa, Mário Soares, Pedro Roseta e Edgar Morin.

Adeus Mestre e até ao próximo encontro por aí nalguma tertúlia celestial dedicada à literatura.
Nota: "Cacilheiro na Praça do Comércio" é uma tela de Ana Sofia Santos.

domingo, dezembro 07, 2008

Board da FIP fiscaliza andamento da PORTUGAL 2010

Neste fim de semana prolongado a Federação Portuguesa de Filatelia e os CTT receberam aqui em Lisboa o Board da Federação Mundial de Filatelia, 8 membros que vieram ver o andamento do trabalho para a realização da PORTUGAL 2010.

Ficaram hospedados no Hotel Oficial da exposição no Parque das Nações, e não deixaram de analisar também as instalações da Feira Internacional de Lisboa, mesmo ali ao lado, onde a Expo se vai realizar.

Ontem as reuniões foram na Direcção de Filatelia, na sala reservada para o Secretariado da PORTUGAL 2010.

Partem todos amanhã, mas para já as impressões recolhidas da viagem foram muito boas.

Óptima opinião sobre o Hotel, à distância de um pequeno passeio dos Pavilhões da Feira Internacional, e também sobre Lisboa.

Nesta ocasião não deixou o vosso Blogger de lhes dar também a conhecer algo da gastronomia Portuguesa.

Para um grupo tão heterogéneo, que incluía várias etnias e idades, a decisão foi levá-los ao

Tertúlia do Paço
Rua Fernando Lopes Graça 13 A
1600-067 LISBOA
Telefone - 217 581 456
Casa relativamente nova, em Telheiras , bairro novo e onde já encontrávamos o "Jacinto" de bom acolhimento.

Este A Tertúlia tem também um acolhimento de 1ª classe e matéria prima - sobretudo peixes e mariscos - acima de qualquer suspeita.

Durante os almoços são típicos pratos de Lisboa que se oferecem aos manducantes, desde a dobrada ao cozido à portuguesa, passando pelos bacalhaus ( tem um simples bacalhau cozido com grão que é de se lhe tirar o chapéu pela qualidade da múmia pisciforme empregada).
Sempre à mão a saborosa canilha ou as ameijoas cristãs de excelso sabor e textura.
Naquele Jantar que oferecemos ao Board da FIP começámos com petiscos da casa: Ameijoas à Bulhão Pato, pratinhos de pata negra cortado à mão, cogumelos com gambas, gambas com alho, requeijão com doce de abóbora. Para estas entradas um branco de Estremoz: Quinta do Carmo de 2006.

Depois Robalos em crosta de sal, o que parecia mais inócuo (obviamente que dentro do muito bom que podíamos oferecer) para tanta gente diferente. Resultou e com palmas!

Um Tinto da Quinta da Fata , Dão novo a bom preço e de boa qualidade, acompanhou este peixe.
Sobremesas conventuais variadas e fruta em travessas, cafés e chás...

Preço médio não chegou a 60 euros por cabeça. E comeram mesmo muito bem!

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Para Descansar a Vista

No habitual recanto de poesia das Sextas feiras uma pequena jóia de Ângelo de Lima, poeta um pouco esquecido do nosso património cultural, mas que li e reli numa escolha avisada de Eugénio de Andrade para a sua "Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa"..

EU ONTEM VI-TE…

Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse,
Fulgor assim.

Ângelo de Lima
1872 – 1921

quinta-feira, dezembro 04, 2008

O que é e para que serve um SmartPhone?


O consumismo desvairado e as estratégias de MKT descobriram novas necessidades de comunicação para o cidadão. Ninguém sonha já com um tempo em que o mais simples dos portugueses não estivesse comunicável, sempre, e à simples distância de um bolso de casaco ou de uma mala de senhora levada ao ombro.

E, no entanto, mais de metade dos portugueses nasceu, cresceu e viveu nesse mundo dos telefones de "baquelite", onde a comunicação pessoal necessitava suporte físico imóvel e\ou a figura do carteiro para intermediar o relacionamento.

Neste momento em que, por efeitos da crise, as grandes operadoras de rede móvel assumem que pela primeira vez estão a vender menos telemóveis, embora a cobertura do país com esses objectos seja pouco menos do que estarrecedora, diverti-me a passear os olhos pelos catálogos Premium de Natal das mesmas Operadoras, onde encontrei ( era fatal) a figura relativamente recente do SmartPhone.

Um SmartPhone é assim uma espécie de um cruzamento entre um telemóvel e um Computador Portátil levado ao limite inferior no que diz respeito ao adjectivo "portátil". Podemos discutir se o IPhone representado na imagem é de facto um SmartPhone ou outra coisa qualquer (mais "coisa" talvez...) mas para os efeitos do desenvolvimento do raciocínio não tem relevância.

Têm estes aparelhos SmartPhones grosseiramente a dimensão de um TMóvel, mas executam ligações aos "e-mail account services" do cidadão, permitindo a recepção e envio (em tempo real) de mensagens e ainda o "passseio" pela InterNet. Para além disto estão carregados com o Windows Mobile ou outros sistemas operativos proprietários (como o da BlackBerry) o que permite gerir agendas, executar cálculos em Excel, receber e ler documentos ou apresentações em Power Point, e por aí fora.

Imaginem a reacção de um cidadão dos meados do século XX a quem fosse dito: "Olhe, está aqui um aparelho que lhe vai permitir trabalhar 24h por dia, em casa ou no emprego, nas férias ou em trabalho, durante a noite ou durante o dia. Em Portugal ou no Estrangeiro. E a Empresa ofereçe-lho com o maior gosto!"

Provavelmente esse cidadão não ficaria muito satisfeito com a ideia ... Éramos nessa altura - penso eu - mais ciosos da nossa independência e do nosso "espaço privado", o qual não se confundia com o "espaço público onde ganhávamos a vida."

Mas hoje em dia aqueles profissionais quadros médios ou superiores (poucos) que não recebem estes aparelhos do "dono", correm para os comprar a título individual - a pronto ou a crédito - como se fossem para uma padaria a comprar pão quente à noite para acalmar a ressaca...

Tornaram-se estas maquinetas símbolos de status, tal como os automóveis ou as roupas de marca, e competem com os relógios de qualidade na corrida ao pódium masculino das vaidades da "season".

Sejam os inevitáveis IPhones para a malta das artes e profissões liberais, o BlackBerry para os executivos que não dispensam o "push mail" estejam onde estiverem, os HTC para investigadores e cientistas, ou os Nokia da série 9 para os... "nokios" (são aqueles portugueses que não conseguem fazer uma simples chamada sem ser num Nokia, quanto mais algum trabalho mais pesado...)

E serão mesmo estes aparelhos necessários? Fará parte do novo paradigma da gestão de empresas ou de carreiras andar com um computador no bolso do casaco (se calhar daqui a algum tempo no bolso da camisa, ou mesmo dentro do fato de banho)?

A Pergunta é obviamente sem nexo. Nesta época em que vivemos a "necessidade" inventa-se e complica-se a cada dia que passa. O "supérfluo" passa por imprescindível e a "aparência" conta mais do que a realidade. Pelo menos nestas camadas sociais onde nos movimentamos...

Até quando?

quarta-feira, dezembro 03, 2008

O Movimentismo Inorgânico


Dei pouca atenção ao Congresso do PCP que ocorreu neste fim de semana, pois estive fora e depois , no feriado, decorreram as cerimónias do Dia do Selo.

Todavia houve ainda tempo para ouvir (em gravação de trabalho do meu "senhorio") o discurso final do Secretário Geral Jerónimo de Sousa.

Para além do que me pareceu ser o retorno à velha linha dura e crua do Partido A.C. (antes de Carvalhas), notei também que o discurso do Líder "regrediu" (ou evoluíu, depende dos pontos de vista...) para os famosos estereótipos do tempo da "cassete".

Uma frase sobretudo encheu-me as medidas, Foi quando Jerónimo de Sousa gritava sobre uma coisa chamada "Movimentismo Inorgânico". E nem percebi bem se era a favor ou contra "aquilo"...

O que seria o "Movimentismo Inorgânico"??!!

Depois de algumas horas de pesquisa aqui trago aos meus fiéis leitores - que já nem dormiriam descansados a matutar sobre a tirada magistral - o significado que consegui obter para o arrevezado impropério.

A investigação levou-me às origens: foi no Jornal "Renovação Comunista" e num Artigo de Cipriano Justo que encontrei as pistas para desvendar semelhante "boutade". Aqui vai a frase :

"As organizações partidárias que venham a constituir-se no rescaldo de movimentações inorgânicas dificilmente conseguirão enraízar as suas propostas e desenvolver uma identidade programática se escolherem a vida da federação de causas, porque o que separa a bondade das vontades é a escolha, o seu sentido e a sua abrangência: quais são as classes e os grupos sociais em causa, qual a natureza do modelo económico e o sistema de garantias sociais..."

Por outras palavras, Jerónimo gritava contra os movimentos de cidadãos "de boa vontade, com ideias no lugar certo" mas - pecado capital perante a ortodoxia - fugidos ao enquadramento rígido de um Partido Oficial ... Era um aviso às tentações dos Manuéis Alegres, e quejandos, alguns até dissidentes do próprio PCP...

Ora Amigo Jerónimo, o tempo dos Sovietes já passou. Tenha santa paciência e abra as portas e janelas do seu velho reduto para deixar entrar o ar fresco.

Isto, é claro, se a crise não der a estas ideias retrógradas um apoio de votos como não se via há muitos anos... E, a bem dizer, até eu receio estes efeitos colaterais que - para a esquerda e para a direita - são oportunidades para vingar a mais perfeita e descabida demagogia de Estado.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Um Fim de Semana em boa Companhia


O pretexto para estar com os amigos é sempre aquilo que quisermos. Desta vez foi o "funeral" às últimas garrafas de Barca Velha 1999 que me sobraram .

Rumo à progessiva Vila de Cabeça das Mós, ao local onde o Amigo Álvaro passeia a sua retirada antecipada das lides da grande cidade.

Cabrito assado no forno, Queijo da Serra e fumeiro alentejano de Porco Preto fizeram as honras do almoço.

Para começar as hostes vínicas o novíssimo Espumante Rosé de 2005 da Sogrape (Quinta dos Carvalhais). Tal como o anterior está excelente, de bolha fina e persistente e de grande amplitude olfativa.

Seguiu-se um Branco de qualidade, o Douro Quinta da Casa Amarela de 2007. Pêssegos divinos a encher a boca, num vinho muito equilibrado e com um toque de madeira adequado.

As três senhoras Barca Velha estiveram sublimes. Não sei se foi da companhia, ou se o tempo gélido e quase que permanentemente chuvoso teve também alguma coisa a ver com o assunto, mas o certo é que nunca este magnífico vinho nos soube tão bem. Corpo ainda para durar, frutos vermelhos, framboesas e morangos silvestres, bouquet de aquecer a alma.

Para fazer comparação abriu-se ainda uma relíquia de 1995 da mesma "estrebaria" mas, infelizmente, este Barca Velha irmão mais velho do primeiro, perdeu em tudo para o "caçula".

O tempo não perdoa...

Quando é que devo abrir as (poucas) garrafitas que comprei de 2000? A vontade será não esperar tanto como com as de 1999 e fazer já uma avançada no ano que vem...

Entretanto já encomendei também o Quinta do Crasto Vinhas Velhas de 2005 que foi considerado pela Wine Spectator , o 3º vinho de mesa melhor do mundo em 2008. Vamos lá a ver duas coisas:

a) Quando encomendei ainda não tinha saído o prémio, e se me subirem o preço à conta disso vou berrar como um camelo com sede...

b)Pior ainda do que isso será dizerem-me que já não o arranjam, pois estará a ser armazenado pelos especuladores...

A ver vamos e quando o provar aqui deixarei também o meu testemunho.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Mensagem do Dia do Selo




Esta a mensagem que dediquei ao Dia do Selo 2008:

A utilização dos selos postais nas correspondências, em cumprimento da missão para que foram criados há mais de 150 anos, e que era testemunharem como recibo o valor do transporte postal dos objectos, é cada vez mais rara.

Para esta situação contribui, em muito, a alteração do paradigma da manipulação em grande escala de objectos postais. De facto, e para falar só de Portugal, mais de 6 milhões de correspondências entram diariamente na Rede dos CTT Correios de Portugal, sendo fundamental que o respectivo tratamento, transporte e distribuição ocorram no mais curto espaço de tempo possível de forma a serem cumpridas as normas de qualidade acordadas a nível nacional e internacional.

As máquinas altamente sofisticadas que hoje em dia - nos nossos Centros de Tratamento - lêem automaticamente os códigos postais de destino, a uma velocidade de muitas dezenas de milhares de cartas por hora, foram construídas para ler e imprimir códigos de barras e não para obliterar ou carimbar os selos postais.

Também nas Estações de Correio de todo o mundo são bem mais morosas e ineficazes - em termos de produtividade - as tarefas de vender selos, recortando-os das folhas em que estão impressos, ou de aceitar as cartas com selos colados e que devem ser obrigatoriamente carimbadas, de preferência com carimbos bem visíveis e limpos.

Nestas condições, falando meramente de organização industrial, o selo postal estará a tornar-se um atavismo, uma fonte de problemas para os peritos em Organização e Métodos dos Operadores Postais de todo o mundo…

E, contudo, aqui estamos a celebrar mais um Dia do Selo Postal com o apoio integral dos CTT, Operador Postal incumbente de Portugal…

Não existe contradição, se formos mais fundo na análise da questão.

O “velho” Selo Postal pode ser – e é – um abencerragem, uma glória antiga de uma civilização mais calma que, aparentemente, só atrapalha a produtividade dos tempos modernos, mas ao mesmo tempo não deixa também de ser a característica mais marcante da actividade postal em todo o mundo, das únicas, para não dizer a única, que ainda permite diferenciar verdadeiramente o Correio dos outros operadores postais seus concorrentes.

E, como tal, a sua importância enquanto “contribuinte liquido” para o valor de marca CTT é inestimável. Isso mesmo perceberam todos os Colegas de Correios estrangeiros já a viver em situação de concorrência – Nova Zelândia e Suécia, por exemplo – fazendo da Filatelia e da emissão de selo postal um dos factores mais marcantes da diferença entre eles e os concorrentes: os concorrentes emitem “Rótulos” mas apenas o Correio “verdadeiro” está autorizado a emitir “Selos”.

Desta forma, e de uma maneira muito clara, foi a própria “modernidade”, que teria aparentemente condenado à extinção o selo postal, a mesma que trouxe dentro de si, com a liberalização generalizada da prestação de serviços postais, os argumentos para – ao contrário – fazer do herdeiro do ”Dª Maria” a bandeira do Operador Postal CTT neste início do 21º século. E por muitos anos ainda.

Raul Moreira
Dia do Selo
1 de Dezembro de 2008

Dia da Independência Nacional e do Selo de 2008

O tempo passa rapidamente, parece que foi ontem que aqui escrevi sobre a Independência Nacional, as tendências iberistas de alguns notáveis e sobre o Dia do Selo, celebrado naquele ano de 2007 em Estremoz.

Hoje é aqui em Lisboa que se comemoram, em festividades organizadas pelo Secção Filatélica do Sporting Clube de Portugal na sala VIP do Estádio de Alvalade e integrando a Exposição Filatélica Comemorativa do 5º Aniversário do Estádio de Alvalade XXI, a FILAPEX.

Um Abraço ao João Paulo Jorge pelo trabalho que teve em organizar um programa completo deste evento e logo em Alvalade!

Lá terá este benfiquista confesso de ir à cerimónia no campo do "adversário"...mas é por bem e a bem da Filatelia em Portugal. E honra ao Sporting por ter esta actividade no seu portfolio desportivo!