sexta-feira, dezembro 12, 2008

O despertar do sentimento

O sentimento desperta também nas tardes da nossa existência, sem o alarido juvenil que empolga todos os sentidos, numa algazarra de gaivotas antecipando o festim, mas com a sorrateira investida de um gato que - sem darmos conta e vindo não sabemos de onde - está já enroscado aos nossos pés. E que difícil é tirá-lo de lá...

Penélope

Mais do que sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço melhores dias
do nosso amor.

David Mourão-Ferreira

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