Chegada a "idade média" da humanidade (homem aparentemente mais tarde, pelos 50's, e a da mulher talvez mais cedo, em redor dos 45's) é muito comum assumirem-se comportamentos de maior risco social, uma especie de "libertação" das mentes até então preocupadas com as três fundamentais vertentes que fazem mexer ambos : o poder, o estômago e o sexo (para o Homem); o poder, a aparência e o amor (para a Mulher).
É a altura de muito divórcio, de muita mudança de vida, de muito olhar para dentro e verificar que, afinal, as esperanças da juventude tinham ficado na gaveta enquanto que o corpo fazia pela vida da forma mais prática e possível.
Do ponto de vista da malta endinheirada, pelos 50's há homens que compram o mítico 911, enquanto que muitas das mulheres esperam pelos tais 45's para a primeira "recauchutagem". Ambos talvez em busca da juventude perdida, agarrando-se por unhas e dentes ao sonho daquilo que já foi.
D. Camilo José Cela tinha já brilhantemente escrito sobre esssa matéria. A excelente banda desenhada "La course d'un rat" de Gérad Lauzier (Dargaud) também é paradigmática destas emoções um pouco burguesas. E que bem as retrata!
Mas se o ponto de vista for o da gente pobre e remediada, notar-se -á que é bem mais difícil estereotipar este tipo de comportamentos da "meia idade". Tais divagações são coisas de élites com pouco que fazer - lá está, a não ser os jogos de poder, escolher onde vão almoçar ou quem lhes deve tratar da "fachada", e com quem lhes estará a apetecer "dar uma cambalhota".
Os remediados poderão sentir que o tempo também lhes está a passar ao lado, mas com as preocupações da hipoteca da casa, da prestação do carrito, do corte nos subsídios, e com os filhos desempregados, não deve haver libido que resista.
Uma ou outra noite de sonhos de grandeza, se tiverem sorte, podem ser "ersatz" para mascarar as insuficiências do dia-a-dia. E se bater bem forte este trauma da andropausa ou menopausa psicológica, é bem possível que o escape real desta humanidade mais na penúria seja aquele que mais barato se torna: a infidelidade conjugal, ou dito no linguarejar típico da classe em causa, "a facadinha no matrimónio" para os casados, ou o "mudar de parceiro" para os outros solteiros, viúvos ou separados.
A sardinha não substitui a lagosta, mas às vezes (para mim quase sempre) apetece bem mais do que aquela. Uma garrafa de Salon Millésimé é uma dádiva divina , mas muita satisfação sensorial também se retira de uma taça de vinhão diretamente do pipo, lá no Alto Minho.
Já aqui disse que não seria capaz de comer todos os dias no Tavares, embora admire muito o trabalho de Mestre Aimé Barroyer. E quanto ao Barca Velha, quem não o enjoaria depois de um mês ou dois a bebê-lo continuamente?
De tudo se cansa o homem e a mulher. Quanto mais um do outro...
Leiam muito (que ainda é mais barato do que os anti-depressivos e ansiolíticos). Pelos livros segue à noitinha a nossa imaginação. E assim se evitam despesas e sobressaltos.
Nota: Não estou a dizer com isto que pelo facto da leitora ter acabado de ler "O Monte dos Vendavais", a roncadora criatura que dorme ao seu lado se transformará no Brad Pitt... Mas com as luzes apagadas (e se ele não disser nada) pode ser que disfarce... E meta-lhe água de colónia para cima do coiro, que também ajuda à transformação.