sexta-feira, julho 06, 2012

Para Descansar a Vista

Acordei hoje a pensar em Pablo Neruda. Nem sei muito bem porquê. O inconsciente trabalha de forma independente e nem sempre devidamente controlada...

Ainda bem.

Pois então , de Pablo Neruda aqui vai poema:

Saudade

Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...

Saudade...

Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage

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