Cruz e Sousa (1861-1898) foi um mestre do simbolismo no Brasil. Um negro numa sociedade ainda marcada pelo estigma da escravatura, não só participou do movimento abolicionista, proferindo palestras e escrevendo sempre em jornais e panfletos, como ao mesmo tempo prosseguia uma atividade poética de grande envergadura, que o colocou ao lado de Mallarmé, Rimbaud e Verlaine. Este “cisne negro” (como era conhecido nos meios literários) morreu pobre e pouco conhecido do público em geral, embora já devidamente apreciado pelos círculos intelectuais mais liberais do Rio de Janeiro.
Cavador do Infinito
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.
Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.
E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...
Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
Cruz e Sousa
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