A senhora sargenta cá de baixo sentiu este fim de semana "desejos de peixe".
Depois de se servir duas vezes (tem 83 anos!) do arroz de galinha da quinta, depois de ter feito notar que "naquela casa só se faz comida de forno!" (isso é verdade), depois de ter dito que "em casa da sobrinha só se come peixe!" (o que é uma rematada mentira) , a mensagem lá passou.
Terei de me deitar a "pescar" para o fim de semana que vem.
Já percebi que não pode ser algum pargo, imperador, goraz ou robalo no forno, porque o toque tinha sido dado em relação a "fornos" e desta vez com razão.
O homem solitário gosta de cozinhar no forno porque não suja tanta louça e porque o forno tem porta que se fecha e o esconde de alguma "imperfeição" deixada pela limpeza mais "sintética" que lhe apraz fazer, ficando assim com mais tempo disponível para a indispensável "sesta do sossego da tarde".
Nota: Não confundir a "sesta do sossego da tarde" com a "sesta do sossego da noite" , nem sequer com a "sesta do sossego entre as 11h e as 13h". Esta última também é admirável, e executa-se ao final da manhã, enquanto o forno está a trabalhar para a gente. Outra grande vantagem do dito.
Todas estas sestas de fim de semana são mais que respeitáveis e fundamentais para robustecer as defesas naturais de alguns organismos. Eu, por exemplo, desde que tenho estes cuidados comigo próprio nunca estou doente, embora passe muito tempo deitado na cama, para treinar...
Mas divago.
Teremos peixe para o almoço de Sábado. Será cozido com bróculos e batatas lá da quinta . A quinta é boa mas ainda não "dá" garoupa... Por isso há que ir ao peixe.
Antigamente, quando acompanhava meu Pai e meu Tio Joaquim à praça do peixe era uma festa! Certo e sabido que havia forróbódó.
As peixeiras eram conhecidas e tinham uma língua de metro e meio. O meu Tio, sobretudo, fazia o que podia para as "estragar" com a conversa... E o "resultado" era mesmo de escondermos as crianças pequenas com medo que fossem lá para casa repetir algumas coisas que por ali se diziam.
Quando chegava a discussão do preço é que era bonito:
-"Quanto queres por isto?"
-"50 escudos o kg, Sr. Joaquim"
- "Deves estar é maluca! Um peixe de anteontem! E está a ficar castanho nas pontas!"
-" Castanho nas pontas está mas é o seu C****!"
- Malcriadona! Deixa-me cheirar o pilim (carapau pequeno)...Este pilim cheira mal!
-" Se callhar Cag**** Não? Fo*** para o freguês!! "
-"Mau, mau... Não pago tanto já disse!"
-"Pagas e tornas a pagar se quiseres levar! Deixe aí o dinheiro todo seu muleta negra (sinónimo de forreta na praça)"
- O Dinheiro? Já o deixei hoje de manhã na mesa de cabeceira quando saí de tua casa!"
- "Ai o seco do ganda C*** **de um filho de uma ganda P*****"
E continuava por aí acima (ou abaixo)...
Que saudades desses tempos!
Agora vou ao El Corte Inglês e é tudo muito mais civilizado e com menos graça:
-"Deseja assim? Deseja assado? Não recomendamos esse... Aquele pode levar à confiança. Caso não lhe agrade traga que de imediato devolvemos o dinheiro! Ora essa! O Cliente tem sempre razão!"
Que coisa sensaborona...
Portanto, para Sábado, peixinho cozido... Ainda por cima a sargenta não me deixa comer a cabeça porque "lhe faz impressão ver aqueles olhos no prato"
Podia ser pior...Mas pouco...
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