Dei pouca atenção ao Congresso do PCP que ocorreu neste fim de semana, pois estive fora e depois , no feriado, decorreram as cerimónias do Dia do Selo.
Todavia houve ainda tempo para ouvir (em gravação de trabalho do meu "senhorio") o discurso final do Secretário Geral Jerónimo de Sousa.
Para além do que me pareceu ser o retorno à velha linha dura e crua do Partido A.C. (antes de Carvalhas), notei também que o discurso do Líder "regrediu" (ou evoluíu, depende dos pontos de vista...) para os famosos estereótipos do tempo da "cassete".
Uma frase sobretudo encheu-me as medidas, Foi quando Jerónimo de Sousa gritava sobre uma coisa chamada "Movimentismo Inorgânico". E nem percebi bem se era a favor ou contra "aquilo"...
O que seria o "Movimentismo Inorgânico"??!!
Depois de algumas horas de pesquisa aqui trago aos meus fiéis leitores - que já nem dormiriam descansados a matutar sobre a tirada magistral - o significado que consegui obter para o arrevezado impropério.
A investigação levou-me às origens: foi no Jornal "Renovação Comunista" e num Artigo de Cipriano Justo que encontrei as pistas para desvendar semelhante "boutade". Aqui vai a frase :
"As organizações partidárias que venham a constituir-se no rescaldo de movimentações inorgânicas dificilmente conseguirão enraízar as suas propostas e desenvolver uma identidade programática se escolherem a vida da federação de causas, porque o que separa a bondade das vontades é a escolha, o seu sentido e a sua abrangência: quais são as classes e os grupos sociais em causa, qual a natureza do modelo económico e o sistema de garantias sociais..."
Por outras palavras, Jerónimo gritava contra os movimentos de cidadãos "de boa vontade, com ideias no lugar certo" mas - pecado capital perante a ortodoxia - fugidos ao enquadramento rígido de um Partido Oficial ... Era um aviso às tentações dos Manuéis Alegres, e quejandos, alguns até dissidentes do próprio PCP...
Ora Amigo Jerónimo, o tempo dos Sovietes já passou. Tenha santa paciência e abra as portas e janelas do seu velho reduto para deixar entrar o ar fresco.
Isto, é claro, se a crise não der a estas ideias retrógradas um apoio de votos como não se via há muitos anos... E, a bem dizer, até eu receio estes efeitos colaterais que - para a esquerda e para a direita - são oportunidades para vingar a mais perfeita e descabida demagogia de Estado.
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