O Tio Santidade, personagem conhecido na aldeia da Serra e já aqui chamado várias vezes por causa da sua sabedoria popular, andava normalmente embriagado. Não digo que fosse todos os dias, mas de certeza todas as tardes. Digamos que desde as 18 h até se ir deitar.
Podia-se conversar com ele da parte da manhã. Depois do almoço é que se tornava mais difícil porque estava na altura em que começava a trabalhar para o "encabamento da machada". Esta encontrava-se completamente "encabada" (por vezes até demais) lá pelas 22h de cada noite.
Vivia da reforma da "empresa" e de um rebanho de 10 ou 12 cabras com o respectivo bode . Davam leite e cabritos. Era viúvo com filhas que não lhe ligavam muito, a não ser no dia do mês em que recebia a reforma. Nesse dia não saíam lá de casa e brigavam para ver quem é que ia com o velho à Caixa levantar o dinheiro.
Lembro-me de o ver com uma samarra lãzuda a passear as cabras ( sim, porque os pastores a sério diziam que ele "passeava o gado") mesmo que chovessem canivetes.
Quando inquirido da razão porque não se abrigava da chuva forte, costumava dizer que assim poupava na água da companhia. Ele para se lavar e as cabras para beberem.
Tinha algum ódio à água da torneira, convencido que os taberneiros abusavam da mesma para temperar os copitos de tinto, quando o viam já meio tombado. No que tinha muita razão.
Quando casou uma neta foi obrigado a pôr um fato. Antes disso terá tomado um duche (ou três...). Mas veio cá para fora para o adro da igreja a dizer em voz alta:
-"Desta vez teve que ser. Mas não se habituem!".
Lembrei-me desta história verídica para reflectir até que ponto os acordos pré-formação de governo entre os nossos "três da esquerda" não serão um pouco como o duche do Tio Santidade. Válidos apenas de casamento em casamento... Mas entre casamentos, lá voltava o velho a apanhar chuva no toutiço...
Só que a alternativa de direita também não parece ser planta que tenha actualmente espaço para crescer...
Moral da história: Quando o Tio Santidade já nem via pela violência da "tosga", quem se lixavam eram as cabras...Ficavam toda a noite sem ser mungidas por muito que berrassem.
E assim pode também ficar o povo aqui no rectângulo.
Nunca pensei ser comparado com uma cabra...Antes ser bode, que marra bem e não dá leite.
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