sexta-feira, novembro 02, 2007

Dia de Finados


Nunca liguei muito ao "culto dos mortos" embora na minha família, católica e tradicionalista, estas mitologias do enterro, do "nojo" como se dizia antigamente, e da observação dos preceitos religiosos ligados à quadra que atravessamos esteja bem enraízada.

As flores nas campas dos familiares são renovadas no cemitério do Estoril todos os 15 dias , enquanto minha Mãe puder, pois esta é uma das incumbências que lhe ficou adstrita pelas irmãs, não sei se em reunião familiar onde tal sinecura lhe terá sido imposta, se por vontade sua expressa.


Hoje em dia também não é importante saber o porquê pois a minha Mãe executa a tarefa há anos e com aparente gosto.

Temos, eu e o meu Filho, familiares nos dois cemitérios, Estoril e em S. Martinho de Seia. Cá em baixo meu Pai, Avós e Tios, lá em cima minha Mulher. Da campa de minha Mulher ( e dos outros familiares que lhe são chegados) trata a minha Sogra que, tal como aqui a minha Mãe, assumiu a nomeação de "sacerdotiza" para este culto de saudade.

Muitas vezes os familiares mais preocupados dos dois ramos da família têm pensado no que vai acontecer quando as duas "Vestais" morrerem...

"Compramos flores de plástico? Fazemos um arranjo com plantas que não necessitem de cuidados?"

Em família (Chiça!!) já se fala do local onde eu quero ser enterrado, se no Estoril ou se em Seia.

Juro que esta discussão tem alimentado as conversas ao serão das minhas Tias e Mãe nos intervalos das novelas. E até mesmo ao telefone é assunto importante para as trocas de ideias de minha Mãe e de minha Sogra (que se odeiam cordialmente).

Ora se a mais nova destas santas criaturas tem já 76 anos, ainda estarão à espera de me enterrarem??!! Olha que pôrra!! Tenham santa paciência e enxerguem-se ao espelho que bem precisam suas velhas caquéticas!

Se me perguntarem, em primeiro lugar não vejo qualquer necessidade em morrer, estou muito bem assim, e depois eu não quero ser enterrado em lugar nenhum!

Quero viver até aos 150 anos e morrer (se for mesmo obrigatório) descansadamente depois de copiosa refeição com netos e bisnetos à minha volta (isto se, entretanto, o meu Filho e Senhorio ultrapassar a sua reconhecida incompetência nesta matéria).

E depois de morto bem morto (atenção que tenho horror a acordar no caixão) fazem o favor de me cremar...

Quanto ao frasco com as cinzas, das duas uma: ou deitam-nas ao Mar (também com tanta poluição não se daria por nada) ou então misturem-nas com o Barca Velha que estiver bom nessa altura e bebam à minha saúde na "outra vida" que sem dúvida começarei!

"Do que este se foi lembrar hoje" - devem estar V. a dizer... "Se calhar ainda está na ressaca do Lagavullin de ontem..."

É Mentira porque apanhei entretanto uma gripe (a 1ª do ano) que nem ontem me deixou gozar a noite ...

E tenho de a curar no Cemitério de S. Martinho , que é frio como a M (perdão) como a Sibéria, por que é minha obrigação!

Curar a Gripe e não a "Perua"! Antes fosse...




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