sexta-feira, novembro 29, 2013

Para Descansar a Vista

Ainda com os olhos e ouvidos cheios "de Brasil" aqui vos deixo Olavo Bilac e a sua conhecidíssima "Via Láctea":

Via Láctea
 

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…


E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”


E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


Olavo Bilac

Por cortesia de "e-biografias": Olavo Bilac (1865-1918) foi um poeta e jornalista brasileiro. Escreveu a letra do hino à Bandeira brasileira. É membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Foi um dos principais representantes do Movimento Parnasiano que valorizou o cuidado formal do poema, em busca de palavras raras, rimas ricas e rigidez das regras da composição poética.

O "Geofísico" em Coimbra

Pouca gente o conhece. Fazem-se algumas excursões de alunos das escolas, mas fora isso o velhinho Instituto Geofísico (com 150 anos) lá continua escondido e um pouco sozinho, por trás de uns muros altos, apoiado no "penedo da saudade".

O recinto envolvente é quase uma quinta no centro de Coimbra!  Tem uma vista magnífica para o Estádio do Euro ( e dos euros...) e em redor disso, para toda a cidade. E no interior os antigos aparelhos que fizeram a história do século XIX e XX: lunetas e pro-telescópios, medidores de oscilações sísmicas horizontais e verticais, cobres polidos à mostra e a fazer belo efeito, Livros antigos e especializados nestas áreas, constituindo um das melhores bibliotecas históricas sobre estes assuntos,  etc, etc...

Vale muito a pena visitar.

Tentaremos dar a conhecer a todos - através de uma emissão filatélica em 2914 - as 4 vertentes do Instituto: actividade sísmica, astronomia, metereologia e magnetismo.

Interessa a componente histórica, sem paralelo no nosso país, mas muito nos recomendaram também para não esquecermos a modernidade! A colaboração com a NASA e com a Agência Espacial Europeia.

quarta-feira, novembro 27, 2013

Semanas de eventos e de ausências


Terminamos o ano aqui nos CTT sem parar para respirar. Acabei de chegar de uma reunião com o Sr. Rui Nabeiro , em Campo Maior, para falarmos sobre o nosso próximo livro sobre o "Café - Ciência e Paixão" (por isso não passei por aqui)
 
De louvar a simpatia e a capacidade de trabalho do Sr. Comendador, que não quis deixar de nos receber pessoalmente (à Fátima Moura e a mim) e que muito se interessou sobre o projecto

Amanhã estarei em Coimbra para outra reunião no velhinho Instituto Geofísico de Coimbra - Primeiro observatório magnético português - e ainda o único. Primeiro barómetro absoluto na Península Ibérica; primeira estação sísmica portuguesa, em 1891; laboratório português reconhecido pela Agência Espacial Europeia, para a missão Mars Express, em 2003.
 
No Domingo - 1 de Dezembro -  é Dia do Selo, desta vez celebrado em Vila Nova de Gaia, com mesa redonda para a qual fui convidado. vamos lá a ver o que poderei dizer, tão próximo da entrada em Bolsa dos CTT e obrigado que sou como dirigente de 1ª linha a manter o silêncio legal sobre tudo o que diz respeito à operação...
 
Depois, a 4 de Dezembro, vai ser uma fona das antigas! De manhã no Porto para o lançamento do IP comemorativo dos "40 Anos do Semanário Expresso". De tarde na Bolsa de Lisboa, para igual evento dedicado à entrada dos CTT na Bolsa, o "toque do sino".
 
É de esperar alguma consequência no ritmo natural de publicação destes Posts.
 
Uma coisa é certa: assim que possa não deixarei de dar notícias destas "danças e contradanças"...

segunda-feira, novembro 25, 2013

Carnificina

A gastronomia do Brasil - país de dimensões continentais - é obviamente fecunda e abrangente, herdeira de tonalidades africanas, europeias e até caribenhas (estas também "filhas" e "netas" de outras latitudes).

Desde a Baía, que me parece ser o cume gastronómico do grande país, até às necessidades que aguçaram o engenho dos exploradores de Minas Gerais, como o célebre "feijão tropeiro" que a tradição mandava ser  comido em cima do dorso do cavalo. Passando pelas feijoadas completas, sinfonia gastronómica que por si só daria para incluir o Brasil no Livro de Ouro dos gourmands que também são gourmets.

Hoje os grandes chefes de cozinha estão um pouco por todo o lado, talvez até mais em S. Paulo do que no Rio ou em Brasília. S. Paulo tem até a fama de ser um dos locais do mundo onde a cozinha de fusão mais se agiganta. Mas mesmo sem irmos por aí , restaurantes japoneses, italianos e de expressão mais francesa pululam . Quase todos muito  bons e também caros. Helena Rizo, Alex Attala, são nomes hoje já bem conhecidos pelo mundo e não só no Brasil.

Mas quando se fala de forma mais plebeia em restaurante no Brasil é normal que se ligue o assunto  ao Churrasco.

No Rio de Janeiro a churrascaria mais "badalada" é o Porcão Rio's, no Aterro do Flamengo.
Tem uma maravilhosa vista em frente, sobre a Baía de Guanabara e o Pão de Açucar, está situado dentro de um "resort" primorosamente ajardinado e cuidado. Tem tudo para "encher o olho" de quem entra, até - e nada de pasmar - a variedade da oferta.

Esta começa por um bar de Sushi bem fornecido e com chefes à espera das nossas instruções. Segue por um buffet de saladas que inclui algum peixe e marisco também. E tem como apogeu o carrocel de carnes grelhadas. Uma autêntica "carnificina" que se desenrola à frente do pacato patrício, incitando qualquer "vegan" a "desarriscar-se" dessa confraria, abraçando in extremis os sucos , os sabores e o sangue da verdadeira carne.

Proeza de vulto será aguentar mais que três "voltas" dos espetos. E ter ainda estômago para as sobremesas (que poucos solicitam. Et pour cause...).

Sendo o Rio de Janeiro como é, cidade da praia e do culto do corpo - tanto para elas como para eles - é engraçado ver senhores industriais brasileiros convidarem para a orgia "gringos" de todo o lado, desde os USA até ao Japão, incitá-los a comer e ...acompanharem os ditos com duas incursões frugais ao sushi e às saladinhas... Apenas.

Com bebidas é de prever cerca de 250 reais por cabeça. Aproximadamente 80 euros. Muito caro para o Brasil e também já um bocado "puxadote" para o tuga às voltas com a crise...

Mas tal como o Carnaval só passa uma vez por ano, ir ao Rio e não entrar uma vez nesta desbunda completa seria como ir a Roma sem cumprimentar (salvo o devido respeito) o Papa Chico.
 







sexta-feira, novembro 22, 2013

Para descansar a vista

Um dos nossos leitores envia com frequência poemas. Deixo aqui um dos últimos, com vénia para o Leitor - Sr. Américo Oliveira - e ao nosso grande Miguel Torga:


BRASIL

Pátria de imigração.
É num poema que te posso ter...
A terra - possessiva inspiração;
E os rios - como versos a correr.

Achada na longínqua meninice,
Perdida na perdida juventude,
Guardei-te como podia:
na doce quietude
Da força represada da poesia.

E assim consigo ver-te
Como te sinto:
Na doirada moldura de lembrança,
O retrato da pura imensidade
A que dei a possível semelhança
Com palavras e rimas de saudade.

[Miguel Torga]

Brasiliana 2013

Esta Exposição Mundial fez-se para comemorar os 350 anos da criação do Correio do Brasil e os 170 anos do lançamento do famoso "Olho de Boi", primeiro selo do Brasil e um dos primeiros do mundo, logo após o penny black de 1840.

As minhas primeiras impressões foram positivas, belo local (Pier Mauá), bela decoração, boa promoção do evento.

Envolvimento expressivo da ECT Brasil e dos filatelistas (claro!!).

Ponto menos positivo foi a escolha do Hotel oficial, muito distante do local da exposição, o que aliado às obras públicas de vulto que assolam a "cidade maravilhosa" dá garantia de 2 horas de trajecto de cada vez que alguém deseje ir ou vir para a Brasiliana de manhã e à noite...

Outro ponto a repensar para futuros eventos é a necessidade de uma articulação mais cuidada entre a Fazenda Federal e a Alfândega, por um lado, e a organização do evento, por outro lado. No dia da inauguração e no dia seguinte , muitos comerciantes e Operadores Postais ainda esperavam pelos seus materiais retidos na alfândega.

E quanto a taxas (impostos) é muito pouco aliciante ter de pagar à entrada no Brasil 100% de imposto sobre o PVP do material entrado... Para ganhar alguma coisa com a deslocação terá de se vender por mais do dobro do valor facial? Ridículo...

Fora isso  ( e são esses detalhes que muitas vezes fazem que o evento seja ou não um sucesso) devo dizer que gostei do trabalho efectuado, sobretudo ao nível do impacto visual dentro do Centro de Exposições e à envolvente da Juventude.

Parabéns à minha querida Lourdes e aos restantes colegas da ECT, que se mais não fizeram foi porque  a burocracia do país-irmão não deixou.
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sexta-feira, novembro 15, 2013

Blogger na Inauguração da Brasiliana

Parto para o Rio de Janeiro na Segunda feira e só regresso a estas lides na próxima Sexta Feira.

Passem bem e esperem pela volta, com comentários sobre a maior exposição filatélica das Américas em 2013.

E não deixem o País naufragar enquanto eu aqui não estiver!

Para Descansar a Vista

Nesta Sexta feira fria de Novembro já sabem bem as castanhas assadas...

Venha de lá um poeta do Norte para aconchegar o espírito. Do enorme Torga aqui vos deixo um poema de Amor (quase)...

Quase um Poema de Amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! 

A nossa natureza Lusitana 
Tem essa humana Graça Feiticeira 
De tornar de cristal 
A mais sentimental 
E baça Bebedeira. 

Mas ou seja que vou envelhecendo 
E ninguém me deseje apaixonado, 
Ou que a antiga paixão 
Me mantenha calado 
O coração 
Num íntimo pudor, 

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor.

Miguel Torga

 

quinta-feira, novembro 14, 2013

Grandes Egos, Pequenos Poderes

Helena Garrido, a excelente jornalista de temas  económicos, subscreve um artigo no Jornal de Negócios de hoje onde alerta para a necessidade imperiosa de "nos entendermos todos, esquerda e direita, sob pena de ser o país que vai sofrer , e com ele, os portugueses mais desamparados".

E classifica muitos dos actuais lideres políticos como sendo aqueles "senhores dos grandes egos e pequenos poderes".

Admirável sentido de estado teria um PS (só para falar neste, que assinou o acordo com a Troika e tem no seu ADN o gene pró-europeu) caso decidisse dar uma mãozinha ao Governo neste final de ciclo, aceitando rubricar um acordo horizontal para os próximos anos, onde linhas gerais de "bom comportamento económico e financeiro" fossem estabelecidas, quase que como um "mapa de estrada" para o futuro próximo.

Admirável sentido de estado teria tido o PSD se se tivesse lembrado disso mais cedo, quando assumiu o poder, em vez de ter passado 2 anos a antagonizar o dito PS. Como ainda o faz hoje, dia sim , dia não, dependendo do que comeu de véspera o Dr. Pedro Passos Coelho.

E às voltas com a falta destes "admiráveis sentidos de estado" fica o povão, à rasca para pagar as dívidas ao banco, à escola, à mercearia e à Autoridade Tributária...

Venham as eleições já para quê?  Para que os pólos se invertam e seja o PS a "apelar ao sentido de estado do PSD\CDS" e estes a fazerem-se de surdos, esfregando as mãozinhas com a vontade da pequenina vingança?

Pequeno país, pequenos políticos, pequenos poderes e grandes Egos. Tem razão Helena Garrido!

Venha de lá o Zé Povinho e mande-os todos "passear" (porque aqui não devo escrever outra coisa...)

quarta-feira, novembro 13, 2013

Maleitas

Por azar tenho tido que acompanhar um familiar bem chegado, lá do ramo beirão, com problemas graves de saúde.

Mesmo com um sobrinho médico - e sem malícia de  boas vontades aqui implícitas-  o que se tem passado no SNS é complicado. Ressonâncias urgentes que são marcadas para daqui a 30 dias, falta de meios no Hospital local para intervenções de pequena ou média dificuldade, tendência dos seus administradores em "não largar" o doente apesar da ineficácia, para garantir que a unidade de saúde se mantém aberta, e por aí fora.

E em contraste temos o atendimento numa unidade privada de excelência, o Centro Médico da Fundação  Champalimaud, em Belém. Desde a simpatia e a eficiência do atendimento até à qualidade que emana das instalações, passando pelos grandes profissionais que lá atendem. A 1ª consulta custa 50 euros, e as seguintes são a 40 euros. Nem acho excessivo. O problema será depois continuar naquele local as quimios, ou as radioterapias, a implantação das próteses necessárias para evitar o envenenamento do sangue através da vesícula ou do fígado, ou outras destas coisas.

Uma ressonância no sector privado custa 300 euros "por órgão". Se for abdominal, estômago e fígado irá para 600 euros, ou mais, depende dos órgãos que apanhar. Como pode um pobre lá chegar?

Existem na Fundação Champalimaud contratos ou convenções com vários sistemas de saúde privados, mas não com o SNS...

Por muito que nos custe admitir o futuro em Portugal - se não se arrepia caminho - será cada vez mais parecido com o sistema de saúde norte-americano: muito bom para os ricos e muito mau para os pobres...

Mais uma facada no 25 de Abril. Já são tantas que nem dá para as contar...



terça-feira, novembro 12, 2013

Um Monumental Cozido à Portuguesa , em casa, está claro!

No Sábado passado tomámos o rumo de Abrantes. Levávamos na bagagem 2 garrafas de Ravasqueira Flavours 2008 (Petit Verdot alentejano); 2 garrafas de Quinda da Pellada 2008 (o clássico Dão de mestre Álvaro de Castro) e ainda uma Magnum de Quinta do Crasto Vinhas Velhas de 2008, um Douro de excepção. Na minha conhecida (porque muito velhinha) mala frigorífica vinham 6 garrafitas de espumante rosé de 2011, da Quinta da Mata Fidalga, com o único objectivo de "limpar o palato", lavar os dentes antes das coisas mais sérias.

E a coisa mais séria deste encontro de amigos foi o monumental cozido à portuguesa que o Sr. Álvaro Alves tinha à nossa espera. O que torna um "Cozido à Portuguesa" monumental? Tudo, claro! Desde a companhia (que não podia ser melhor) até aos ingredientes. E nestes apostou forte o Tio Álvaro, fazendo questão de só utilizar materiais artesanais, lá daquela zona onde a Beira Baixa e o Alto Alentejo se encontram.

As morcelas tradicionais da Sertã fizeram companhia aos salpicões e chouriços do Gavião, as farinheiras de Portalegre e Estremoz ajudaram à "liça",  as "extremidades" do porco preto criado em casa (bem, na quinta...) foram cozidas para se apresentarem em orelha, focinho, chispe e entremeada. O bom chambão de carne de vaca era também ele de talho local conhecido por só vender produtos da região.

Até as couves eram caseiras, bem assim como as batatas e as cenouras! Admirável Cozido!

Como resultado estivemos "entretidos" entre as 13h e as 18h (brutinhos...) altura em que a grande equipa bazou para ir ver o jogo da Taça de Portugal de boa ou má  memória, dependendo das cores clubísticas.

Mas como a mim até "calhou bem" o fim de noite, só tenho a dizer que venham mais destas tardes compridas, em boa companhia e com petiscos semelhantes...

Bibó Glorioso! Honra aos Vencidos. E que tenham paciência...

segunda-feira, novembro 11, 2013

Mal empregada Ginja que bebesteis!


 
A conhecida injunção do Tio Jerónimo depois de uma reunião ministerial em Alcobaça, veio-me à memória depois de  mais um deslize do Sr. Dr. Rui Machete, desta vez na Índia.

 Não entendo se o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros francamente imagina que, por falar lá de fora,  esses sons não chegam a Portugal – mesmo que a sua idade seja  a dar para o ancião juro que na juventude dele já haveria transmissões radiofónicas – ou se pelo contrário a sua forma de estar na política implica dar estas cacetadas na “gramática” de vez em quando, não vá a opinião pública esquecer que ele existe.

 Um amigo meu diz que o problema será ele ansiar pela posição majestática  do Dr. Mário Soares, que diga o que disser, onde e quando o disser, já ninguém acha estranho. Pelo contrário, se estiver calado é que o vão logo espetar com um alfinete a pensar que se deixou adormecer, coisa que fazia com frequência em reuniões de todo o género, mesmo quando era 1º Ministro.

 Mas de um Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros espera-se algum comedimento verbal. Tal como ninguém sonharia vê-lo a descer do avião, em Bombaim, de bermudas e larga camisa havaiana, também não é aceitável ouvi-lo a disparatar sempre que abre a boca depois de algum voo mais longo.

 Pode ser ( e não me tinha lembrado disso) que a diarreia verbal seja um daqueles sintomas de bebedeira aérea,  pois segundo os médicos uma dose de álcool nas alturas equivale a três. E apesar de o consumo ter o efeito triplicado, a sua eliminação é mais lenta, o que acentua a embriaguez e pior: pode causar euforia, náuseas, tonturas e enjoos.

 Haverá  então que recomendar alguma prudência ao idoso Senhor Doutor com o cognac a bordo…

 Afinal de contas razão tinha o Tio (Jerónimo)…
Drunk Airplane Bar None dregs
 
 

sexta-feira, novembro 08, 2013

Descansar a Vista com O'Neill

Depois do Passado existe o Presente e logo de seguida o Futuro. Tão logo de seguida que há quem pense que não existe Presente.

Matematicamente não está mal pensado… O Presente é tal e qual um ponto na infinidade dos pontos que existem num segmento de recta, que apesar de ser mensurável, ter início quando nascemos e fim com a nossa morte, não permite que se saiba quantos pontos nele se perfilam.

Cantor , um dos criadores da teoria matemática do transfinito, chamava a esse número (infinito levantado à potência de outro infinito)  um Aleph de 1ª grandeza, e não sei se foi daí que retirou meu Mestre Borges o título da sua obra homónima notável.

Costuma ser nesse Presente que o Futuro nos assombra. Digo “assombra” porque infelizmente, nos tempos que correm, é de fantasmas e de outras assombrações nefastas que os portugueses enchem as suas visões do Futuro.

Venha de lá então um iconoclasta dos maiores que houve em Portugal, um espírito livre e mordaz, crítico maior da nossa sociedade e dos nossos costumes, para dar uma “pantufada” amistosa nessa lúgubre filosofia com que hoje acordei.

Avante Amigo Alexandre!

E, já agora,  Avante tu também grande Álvaro, que em 10 de Novembro, próximo Domingo, fará 100 anos que nasceste!

Aos Vindouros, se os Houver...

Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;


que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;


computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;


que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.


Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço'


 

quinta-feira, novembro 07, 2013

O Ensino Inferior em Portugal

 
 Por iniciativa do Conselho Geral da Universidade do Minho, hoje e amanhã a Reitoria da  mesma Universidade acolherá o I Encontro de Presidentes dos Conselhos Gerais das Universidades Portuguesas. Este fórum é considerado de importância estratégica para o ensino superior e reúne-se pela primeira vez seis anos após o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES) ter implementado este órgão colegial máximo de governo nas universidades.
 
Estão presentes figuras incontornáveis da nossa cultura: os presidentes Emílio Rui Vilar, da Universidade de Coimbra; Alfredo de Sousa, da Universidade do Porto; Leonor Beleza, da Universidade de Lisboa; Eduardo Arantes e Oliveira, da Universidade Nova de Lisboa; Alexandre Soares dos Santos, da Universidade de Aveiro; Armindo Monteiro, da Universidade de Évora; Ricardo Madruga da Costa, da Universidade dos Açores; Luís Magalhães, da Universidade do Algarve; José Silva Peneda, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; José Manuel Paquete de Oliveira, da Universidade da Beira Interior; Francisco Costa, da Universidade da Madeira; Dionísio Mendes, da Universidade Aberta; Carlos Lopes, do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, para além de Laborinho Lúcio, da Universidade do Minho, na qualidade de anfitrião.
Uma figura insuspeita como é Laborinho Lúcio (ministro de Cavaco Silva) afirmou hoje na TSF:
“Se a política de cortes se mantiver é inevitável que se perca alguma da qualidade conquistada nos últimos anos e que as universidades não podem fazer navegação à vista e constantemente na dúvida do que será o dia seguinte.
Laborinho Lúcio diz ainda que os alunos carenciados não podem perder os apoios sociais, se não corremos o risco de o ensino superior ficar vedado aos mais pobres.”
Como enquadramento desta reunião e destas opiniões fica aqui também a notícia do “Público “ de hoje, segundo a qual o Governo quer reorganizar o ensino superior já para o próximo ano lectivo, através de fusões entre as instituições já existentes.
E, para “compor a pintura” deixamos ainda as declarações do Sr. Secretário de Estado, também proferidas hoje:  
O secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, admitiu nesta quinta-feira que as transferências de dinheiro para universidades e politécnicos podem vir a ter mais cortes do que os previstos. José Ferreira Gomes acrescentou ainda que “o ensino superior terá de ser um pouco mais magro do que era no passado”. Mais magro, ressalvou, “nos recursos financeiros e nos recursos humanos”, mas não na qualidade.
“As instituições têm de se adaptar, mas estou convicto de que é possível fazê-lo e manter, ou até melhorar, a qualidade do ensino prestado”, afirmou. Organizar as “instituições de uma forma um “bocadinho diferente” é uma das soluções apontadas pelo secretário de Estado.”
 
Conclusão: O Ensino Superior está cada vez mais “inferior”… salve-se quem puder daqui para fora, parece ser a palavra de ordem.
Aqui para nós, falta-nos ainda ver e ouvir (hoje na TVI, às 20h) o “Picareta Bocejante” aka António José Seguro sobre estas e outras matérias. Não se esperam grandes coisas, mas há falta de melhor programa ( e não me falem de futebol!) bem podemos fazer o sacrifício.
 
Nota: “Picareta Bocejante” é um termo cunhado por João Miguel Tavares.
 
 

 

 

 

 

quarta-feira, novembro 06, 2013

Louvando os Marmelos


“Marmelos” é palavra que pode significar muitas coisas nesta língua lixada para a brincadeira que é o nosso “português”… Mas tirando para fora da carroça os significados mais vernáculos – que me escuso de concretizar -  fica a árvore (Cydonia oblonga). E se  igualmente retirarmos à árvore o famoso “pau de marmeleiro”, eficaz em mais do que uma ocasião embora ultimamente caído em algum esquecimento, o que nos fica depois destes “cortes” é o fruto. O Marmelo.

E é por aí que vamos.

Marmelo (fruto, fruto mesmo) em definição do Centro Vegetariano, rubricada pelo Dr. Ernest Schneider (médico):

“A árvore do marmelo advém do Sudoeste Asiático de clima moderado e é conhecida há cerca de 4 mil anos. Os gregos consagravam estas “maçãs de ouro” à deusa Afrodite e na Croácia são símbolos de fertilidade e vida.
Em Portugal é colhido no Outono, geralmente transformado em marmelada, visto que a maioria das variedades é amarga e dura demais para consumo cru. Também se consome assado, grelhado, estufado, como complemento a recheio de tarte de maçã e em pudim.”

Um dos segredos gastronómicos da nossa Lisboa é o Marmelo Assado que o Sr. Emílio, do alto da sua juventude de 93 anos quase feitos, nos apresenta nesta altura do ano no seu ( e nosso ) restaurante Tia Matilde.

Antes de avançar devemos primeiro que tudo curvar a cerviz respeitadoramente perante a grande figura que é o Sr. Emílio Andrade, que com aquela idade lá está todos os dias no restaurante, comandando as tropas, levantando as mesas, cumprimentando os fregueses e deixando sempre cair a famosa frase no final da refeição: “Então e hoje como é que nós estivemos?”

Nos dias frios e chuvosos de Novembro recomendo uma ida à Tia Matilde. Um almoço de Terça Feira tem o cozido à portuguesa, um dos melhores de Lisboa, talvez o melhor mesmo. Mas quem não aprecie pode sempre escolher a Canja de Cherne ou Garoupa com ameijoas e espinafres (de cair para o lado!), a Sopa rica de peixes, o Pato corado no forno, o Cordeiro assado no forno, o Coelho também ele assado, e os Bacalhaus. Fora de Novembro, daqui a pouco, a Lampreia (excelente também) e o Sável.

De todas as formas,  e indo lá agora, é crime saírem sem comer o “Marmelo Assado”.

Delícia sazonal que se derrete na boca, de tão tenro. Com o sabor agridoce que não se parece com mais nada, é um ponto final condigno para os sólidos do almoço, pedindo algum tempo para filosofar agarrados a um cálice de Lagavullin agradecendo aos deuses estarmos vivos e com papilas gustativas a funcionar bem.

O meu Amigo David Lopes Ramos amava o Sr. Emílio. Todos os anos tento lá ir nesta época do ano, “ao Marmelo” (como dizemos na brincadeira),  com meu mestre Quitério, para lembrar quem partiu e saudar quem, felizmente, ainda lá está rijo que nem um pau de marmeleiro!

 

terça-feira, novembro 05, 2013

Pioneiros do Ar


Uma visita ao Estado Maior da Força Aérea é pretexto para algumas linhas sobre os pioneiros da aviação em Portugal.

O 1º voo militar em Portugal realizou-se em 17 Julho 2016, em Vila Nova da Rainha.

Teve lugar num monoplano Deperdussin Tipo B, de 8,5 metros de envergadura e equipado com um motor Gnome de 50 CV. Foi piloto o Tenente Santos Leite.

Será (pode ser) acontecimento suficientemente importante para justificar  uma emissão de selos em 2016.

Antes disso a 1ª aeronave a voar no burgo teria sido em 1911. Ora leiam o que sobre o assunto existe no Blogue “EX-OGMA”:

“O primeiro voo a sério (em Portugal) foi então realizado pelo francês Julien Mamet em 27 de Abril do mesmo ano, … “que depois de descrever um largo círculo a 50 metros de altura, no seu Blériot XI, sobrevoou a Casa Pia e passando sobre o Tejo, regressou ao ponto de partida, onde a multidão entusiasmada lhe dispensou uma calorosa manifestação", como descreveu o Boletim do Aero Clube de Portugal, editado em 1911.”

Herói  com “H” grande, daqueles iguais aos antigos façanhudos cavaleiros e marinheiros dos montantes e caravelas, também já teve a Força Aérea. Foi Oscar Monteiro Torres, aqui lembrado no blogue “Histórias dos nossos Tempos”:

Depois de tirar o brevet em Inglaterra, este oficial de Cavalaria foi um dos aviadores do Corpo Expedicionário Português enviados para França durante a Primeira Guerra Mundial. Integrado na Esquadrilha SPA 65, ou Esquadrilha das Cegonhas, equipada com aviões SPAD VII e, com base em Soissons, o capitão Óscar Monteiro Torres acabou por ser abatido a 19 de Novembro de 1917 depois de ter travado um combate aéreo em circunstâncias de extrema desigualdade de forças: o piloto português ainda conseguiu abater dois Halberstadt alemães mas a seguir já nada pôde fazer contra a esquadrilha de Fokker que o atingiu.

Acabou por falecer no dia seguinte, a 20 de Novembro de 1917, no Hospital de Militar de Laon, no norte de França. Inicialmente sepultado pelos alemães, com honras militares, no cemitério de Laon, teve depois funeral nacional a 22 de Junho de 1930.

Até hoje, foi o primeiro, e único, aviador português a morrer em combate.”





segunda-feira, novembro 04, 2013

Ir ganhando o céu...


Do fim de semana passado ficou a missa do dia de Fiéis Defuntos, no cemitério da Galiza apinhado, comigo ( fiel motorista, não ainda fiel defunto) a tentar descortinar a minha “santa” cá de baixo e a irmã, octagenárias que eu julgava perdidas no meio da multidão, quando afinal o que estavam a fazer era a dar à língua com as amigas e a pôr as coscuvilhices em dia… Meia hora de missa e uma horita de mexeriquices. Tá certo.

Tinha deixado o bacalhauzinho a guisar lentamente e bem tiveram que me ouvir porque na espera, lá à porta do jardim das flores murchas,  foi o molho ensopando.

Fruto da crise o mestre cozinheiro (moi) está em “multitasking”, servindo também de “chauffeur”  e de “factotum” genérico das velh***, digo, das idosas. Ele é levá-las às compras, levá-las à costureira (onde ficam tempos infindos), levá-las à missinha, cozinhar para ambas e para o senhorio, e por aí fora…

Diz o meu senhorio que se faço tudo isto é bom sinal. Sinal que somos todos ainda vivos e estamos a mexer. Eu e elas.

Concordo. Mas se assim for porque é que o gajo não começa também já a treinar para me fazer o mesmo a mim daqui a uns anos, em vez de imperialmente manter os corn** na palha quase até à hora do almoço todos os Sábados?

Mistérios? Não amigos leitores, a explicação é simples e já foi dada há muito tempo pelos meus amigos pastores lá da Beira: Em qualquer rebanho  há cabras que nascem com a sina de estarem sempre a trabalhar e há cabras que nascem com a sina de nada fazerem e comerem tanto ou mais do que as primeiras. E ainda por cima, de refilarem quando o “pasto” não lhes cheira…

E lá em casa, neste momento, o resultado é de 3 a 1.  

Três cabras  para um cabr***. E viúvo! Não acho bem.

Bacalhau guisado com pimentos

Cozemos uma boa posta de bacalhau por pessoa, despinhamos e tiramos as peles.
Num  tacho de fundo bem grosso deitamos 2 ou 3 cebolas grandes às rodelas, uma colher de massa de pimentão, 2 pimentos em tiras bem limpas de sementes, mas com a pele, 5 dentes de alho picados finos, uma meia mão de sal grosso (cuidado com o salgadiço do bacalhau). Depois, rodelas grossas de batata. Por cima das batatas as lascas de bacalhau. Terminamos com outra camada de rodelas de batatas. Por cima de tudo mais tiras de pimento, um raminho de salsa e um cálice de moscatel. Aromatizamos com pimenta preta (ou com malagueta, a gosto).

Deixamos ao lume médio durante cerca de uma hora, abanando de vez em quando o tacho. Provamos e corrigimos de sal se necessário.

Em estando as batatas cozidas vai directo para a mesa.

Bebam a acompanhar um tinto do Douro de 2011, caso o tenham já em casa. Não é preciso exageros. Um Vallado colheita, um Crasto colheita, servem perfeitamente.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Para Descansar a Vista

Espero que ontem à noite as bruxas os tenham deixado dormir. A não ser que tenha sido a (o)  bruxa(o) que se deita ao vosso lado, o que para quase todos os efeitos é desejável e louvável… Acho eu que sou um optimista!

Neste Verão de S. Martinho ligeiramente antecipado louve-se  o País onde vivemos, que permite – em Novembro – passeatas pela praia e excursões pelas florestas em busca de cogumelos debaixo das copas das grandes árvores (não se enganem!).

De Andre Breton (1896 ; 1966) , pai do Surrealismo em França, aqui fica « Écoute au Coquillage» :
Je n'avais pas commencé à te voir tu étais aube
Rien n'était dévoilé
Toutes les barques se berçaient sur le rivage
Dénouant les faveurs (tu sais) de ces boites de dragées
Roses et blanches entre lesquelles ambule une navette
d'argent
Et moi je t'ai nommée
Aube en tremblant
Dix ans après
Je te retrouve dans la fleur tropicale
Qui s'ouvre à minuit
Un seul cristal de neige qui déborderait la coupe de
tes deux mains
On l'appelle à la
Martinique la fleur du bal
Elle et toi vous vous partagez le mystère de l'existence
Le premier grain de rosée devançant de loin tous les
autres follement irisé contenant tout
Je vois ce qui m'est caché à tout jamais
Quand tu dors dans la clairière de ton bras sous les papillons de tes cheveux
Et quand tu renais du phénix de ta source
Dans la menthe de la mémoire
De la moire énigmatique de la ressemblance dans un
miroir sans fond
Tirant l'épingle de ce qu'on ne verra qu'une fois
Dans mon cœur toutes les ailes du milkweed
Frètent ce que tu me dis
Tu portes une robe d'été que tu ne te connais pas
Presque immatérielle elle est constellée en tous sens
d'aimants en fer à cheval d'un beau rouge minium
à pieds bleus
Sur mer, 1946.