quinta-feira, abril 29, 2010

Para Descansar a Vista

Amanhã de manhã não vou aqui estar. Antecipo assim o habitual poema das Sextas.















É do imortal Bardo, William Shakespeare, aqui traduzido superiormente por Carlos de Oliveira (nota bibliográfica deste já foi dada lá para trás)


Comparar-te a um dia de Verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um Maio em flor às mãos do furacão,
o foral do Verão que chega ao fim.

Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.

Mas juro-te que o teu humano Verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;

e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.


William Shakespeare, in "Sonetos"
Tradução de Carlos de Oliveira

E para ilustrar tal monstro sagrado das letras de qualquer Povo, nada melhor do que recorrer a outro monstro sagrado, Claude Monet e a sua composição "Verão".
 
Boa Praia! Cuidado com os caranguejos e nunca se esqueçam que a areia não foi feita para correr!

Mourinho na Final da Champions

Real Politik!! A eficácia do anti-jogo. A lição sobre como não perder.

Os fins justificam os meios?  Parece que sim... O jogo de ontem à noite foi das coisas mais esquisitas que já tive ocasião de ver , a este nível do supra-sumo rarefeito da Liga Milionária...

Mourinho foi ali ao Camp Nou com um único objectivo: estar na Final da Champions. Consegui-o  e Pronto!

Como dizia um comentador -"no dia em que dessem pontos no futebol pelas notas artísiticas,  acabava-se com estes espectáculos.... Mas na presente situação quem pode protestar?"

Mas o futebol de que eu gosto, o das grandes jogadas, remates e fintas e...golos, esse passou ao lado desta meia-final.

Os interesses em jogo são demasiado avultados para que os treinadores e as equipas se preocupem com outra coisa a não ser passar cada eliminatória. Compreendo. Mas não tenho de gostar...

O que diriam do Benfica se fosse a Anfield Row jogar com 3 defesas centrais, 2 liberos  e 4 laterais ( dois de cada lado)?  Podia ter vindo de lá com a eliminatória no papo, já que trazia vantagem da Luz?

Isso não sei. Mas dá para nos pôr a pensar... Críticas negativas,  nos jornais de hoje, só se for em catalão.

Como é com o Special One, está tudo bem quando acaba bem.  Tudo se permite a quem cai em graça...

Nota1: E do árbitro alguém fala? Olhem que perdoou um penaltyzito ao Inter...

Nota2: Que falta de desportivismo a ser verdade o que Mourinho relatou no final do jogo (fogo de artifício até às 4 da manhã da véspera do jogo,  à porta do Hotel do Inter, sarilhos com a curta viagem de autocarro até Camp Nou, Rega automática ligada durante os festejos do Inter, com toda a gente ainda em campo...)

quarta-feira, abril 28, 2010

Estamos mesmo Lixados?

A agência de rating Standard&Poor's voltou a baixar a notação da Dívida de Portugal e da Grécia. Portugal agora está no nível A- (o último dos ainda assim "aceitáveis" em termos de risco para o investidor) enquanto que a dívida grega atingiu o estatuto de "LIXO" . Sim, leram bem, o rating da dívida grega é agora de BB-  ,  um claro conselho aos investidores para...fugirem dos Títulos de Tesouro da Grécia a sete pés...

Leiam mais aqui sff:

http://www.nytimes.com/2010/04/28/business/global/28drachma.html?emc=na

A justificação da Agência para esta medida (falo do caso português) seria ( e cito) : " A estrutural fraqueza económica e orçamental de Portugal, que deixa o País em sérios problemas para conseguir estabilizar o relativamente alto nível do seu déficit"

Não é a dimensão da dívida ou do déficit reconhecido (cerca de 9,25% actualmente) que está em causa! Itália, Irlanda , até o Reino Unido e a Espanha , ou têm maior déficit ou para lá caminham alegremente! O busílis da questão é mesmo a desconfiança em que o País consiga sair deste desfiladeiro com as suas insuficiências conhecidas ao nível  de estrutura , do tecido industrial e etc...

Acredito que há "racismo anglo-saxónico" nas medidas da S&P's. Acredito que a baixa de cotação da dívida de qualquer país europeu será um paraíso para os especuladores, desejosos de ferrar o dente numa fatia (embora carunchosa) da velha Europa.  Noto, com desgosto, que a Soberania Nacional "vai aos anzóis" neste mundo da globalização.

Mas... a culpa de não termos construído uma Nação economicamente auto-suficiente e financeiramente mais estável não é dos "Gringos"...

Desculpem lá, mas temos de reconhecer que é nossa... De quem nos governou, mas também de quem os elegeu, e reelegeu,  e tornou a reeleger... desde Abril de 74. E só dois Partidos nos governaram de facto desde essa data (se esquecermos os arrobos das "flores de Abril").

Nos dias de hoje - qual quê! Desde o tempo da 1º República! - Portugal só sobrevive economicamente através da injecção de capital por parte dos investidores estrangeiros,  para financiar a nossa dívida pública estrutural.  Se estes investidores ameaçarem virarem-se para outros lados, Portugal vai ter de os aliciar,  pagando taxas de juro cada vez mais altas. É este o início de um círculo vicioso que só acabaria na Bancarrota do Estado...

Como impedir isto?

Tenho muita pena de o escrever, mas só vejo alternativa num ainda mais exigente Pacto de Estabilidade e de Crescimento. No nosso horizonte próximo  vejo muito aperto de cinto, congelamento de salários  e os inevitáveis aumentos de Impostos...

Isto, se PS e PSD se entenderem com a benção seráfica do Senhor PR.

Em caso contrário... Olhem, Marrocos é já ali ao virar a esquina, à esquerda de quem desce...

terça-feira, abril 27, 2010

Para onde vamos?

Abriu um novo Hotel em Sagres, na Praia do Martinhal, que deve ser muito recomendável. Está neste momento a fazer uma promoção especial de abertura.

Para quem - como eu - gostar deste Algarve (mar batido, brisa forte, peixe fresco do melhor do mundo) pode ser uma óptima ideia para um destes fins-de-semana de Maio, a manter-se o bom tempo que faz hoje...

E, se lá forem, não se esqueçam de fazer uma visita ao Carlos (Rua Comandante Matoso;  telefone-282 624228).  Peixe fresquíssimo garantido!!


Aqui fica a "dica" (sem qualquer intuito comercial):

http://www.martinhal.com/

Maigret dá achegas ao "Caso do Olegário"

Fazendo jus ao seu "nick" o nosso leitor Maigret pôs-se a investigar o "caso" do Árbitro Olegário Bem Querença e chegou às seguintes conclusões:

"Só duas achegas a esta questão da arbitragem de Olegário. O jornal desportivo catalão "Sport" publica no seu site uma curiosa investigação sobre as ligações entre Olegário e Mourinho, que passo a citar:

"INCLUSO PODRÍAN HABER SIDO SOCIOS DE UN RESTAURANTE EN LEIRIA

El árbitro y Mourinho son amigos desde hace diez años

Se conocieron cuando el técnico dirigía al equipo de la ciudad donde reside el colegiado y ya le ayudó en el 2004 en un clásico ante el Benfica

La designación de Olegario Benquerença para dirigir el Inter-Barça no puede oler peor. Tras comprobar su tendenciosa actuación a favor del conjunto italiano todos las piezas están encajando y aún es más incomprensible que se eligiera para arbitrar el choque a un amigo de José Mourinho.

La relación entre Olegario y Mourinho se inició diez años atrás. Ambos se conocieron en Leiria, donde el técnico iniciaba su carrera como primer entrenador y el colegiado reside. Incluso, COM Ràdio desveló en el programa ¿Què has dinat? que habían sido socios del restaurante ‘O Menino’.

En Portugal también aseguraban ayer que Olegario y Mourinho tenían costumbres parecidas. Era habitual que acudieran a los mismos restaurantes. ‘Mou’ mantenía en aquella época una relación con Elsa Sousa, según reveló ‘The Sun’, y la pareja acudía a los locales que también eran frecuentados por el árbitro.

Benquerença no se dedica de forma exclusiva al arbitraje, sino que también es vendedor de seguros. Su carrera se ha disparado gracias en buena parte a sus buenas conexiones con la FIFA. Sólo por sus influencias se puede entender que sea uno de los colegiados designados para el próximo Mundial de Sudáfrica.

Olegario es famoso en su país por ser especialmente polémico y, de forma especial, haber liado uno de los mayores líos que se recuerdan en los últimos tiempos en un clásico entre el Benfica y el Oporto. Fue en el 2004, y el trencilla no concedió un gol a los lisboetas en un error de Vitor Baía cuando la pelota había superado la línea. Curiosamente, Mourinho era el técnico del Oporto, que salió beneficiado de su decisión. A raíz de esta decisión y otras de parecidas, a Benquerença se le conoce en su país como ‘O Larápio’, que significa ladrón en portugués.

Todas estas circunstancias no fueron atendidas por la UEFA cuando decidió que era el árbitro ideal para dirigir el encuentro entre italianos y catalanes. La presencia en el Mourinho iba a levantar suspicacias, pero las sospechas se acrecentaron después de que su actuación fuera tan adversa hacia el Barça."

Não sei se é verdade, mas não deixa de levantar algumas interrogações.

Finalmente, na Catalunha também descobriram o "tesourinho deprimente" dos Gato Fedorento em que Olegário aparece, num priograma antigo da RTP, a tocar acordeão, imitando Quim Barreiros, e a dizer, quase no final, que era italianao... de Milão!!! Sem mais comentários."

segunda-feira, abril 26, 2010

Chapelada Davídica: A Importância do Tacho

Meu Mestre David Lopes Ramos escreveu artigo de antologia na Revista Pública deste Domingo. Em causa a coisinha pequena e modesta do...Tacho!

Não o Tacho-Tacho à la mode dos Boys and Girls dos Partidos de Governo... nem o Tacho-Tacho dos Autarcas e seus sicofantes...

Mas o Verdadeiramente Verdadeiro Tacho! Aquele que se pôe ao Lume. O que refoga, guiza, estufa e "cocotta" (sem maus pensamentos!!); aquele que  era (e ainda deveria ser)  posto em cima da mesa,  para que os arrozes continuassem a abrir em frente aos convivas, para que umas favas ensopadas no bom  molho do apuro lento pudessem continuar a rescender, para que as caldeiradas mantivessem aquela sapidez vital durante mais algum tempo, deixando os fígados de tamboril e as cartilagens dos patas-rôxas e das raias abeberarem em cima da boa batata da terra...

Desaparecem os Tachos de muitas mesas restaurativas do nosso Portugal. Por estarem fora de moda, por preocupações estéticas e quiçá higiénicas, pelo simples facto da dimensão actual das doses tender para o Infimo ( o mínimo dos mínimos) , mas , sobretudo, porque a filosofia de trabalho da maioria das casas de comer que por aí vai abrindo é geneticamente avessa ao "Tacho" e às suas implicações: provincianas, tradicionais, de farta-brutidão, "tabernático-pastorais", e quejandas...

Parece que estamos já a ouvir alguns dos jovens Chefs: 

-"O meu Bistrot nunca poderá ser confundido com uma Casa de Pasto!!! Isso é que era Bom!!! Prefiro fechar ao fim de 6 meses sem pagar aos empregados nem aos fornecedores..."

Já anteriormente tinha sido feito pelo mesmo Iniciado um alerta de semelhante teor, alvitrando algum cuidado na proliferação dos restaurantes de "Autor" onde os pratos chegam à mesa como obras de arte da composição estética, mas que têm uma tendência perigosa para...abrirem e fecharem com alguma rapidez, deixando os Chefs  e seus investidores a pensar para com os seus botões se não  deveriam antes ter aberto uma alfaiataria especializada em consertos e renovações (Cozer por coser, estão a perceber?)

Não me interpretem mal! A  - como lhe hei-de chamar?? Livra que é difícil!!. Vou tentar:    "A Nouvelle Cuisine portuga de base, de ingredientes autênticos,  tipo menu de arte do Chef candidato a Adriá com traços de Joan Roca "     terá o seu lugar, obviamente.

Talvez não com tamanha implantação no País ( e aqui o País pouco mais será do que Lisboa e Porto) como agora por aí se vê, mas há de facto lugar para esse tipo de cozinha.

Agora, não nos estraguem o prazer de comer os nossos pratos tradicionais , ditos   ( e muitíssimo bem!) De Tacho,  dentro do fiel Tacho!!

Não se esqueçam os nossos gurus actuais , aqueles que estabelecem as regras , os "árbitros das elegâncias" Petrónios das Avenidas Novas, que a matriz da Cozinha Tradicional deste país resistiu centenas de anos a investidas de muito lado (Mouros, Celtas, Franceses....) com eles aprendeu, reinventou-se e ainda aqui está, humilde e prazenteira, para fazer brilhar os olhos de ricos e pobres, aldeões ( se é que ainda os há) e citadinos,  por muitos mais anos...

Peço desculpa por perguntar: quantas centenas de anos durará esta moda das "espumas" , das "reduções" e das "aspersões"?

Ao menos Favas com Entrecosto estou convencido que hão-de comê-las os meus descendentes enquanto houver Favas, Coentros  ( e, já agora) Entrecosto de porquinho alentejano...

Homessa!

domingo, abril 25, 2010

25 ABRIL Para Sempre

Nunca como agora precisámos tanto da Esperança, que foi a mais bela filha da Liberdade conquistada em 1974.

-"As Revoluções passaram de moda",  ouve-se dizer...

As das armas e dos tanques de guerra , pode ser que sim. Mas falta fazermos  as outras revoluções - as dos sentidos, as dos sentimentos, as dos actos. Aquelas que juntem ao bouquet da vida boa e preenchida as flores da sustentabilidade, do cuidado com a ecologia, do respeito pelas ideias dos outros e, finalmente, da solidariedade perante a miséria e a fome....

Por isso Amigos: 25 de Abril para sempre!

sexta-feira, abril 23, 2010

Para descansar a Vista

"Caracol, caracol , pôe os pauzinhos ao Sol"

Mas qual Sol cambada??!!  Isto aqui na nossa Praia está cada vez mais parecido com a tal cidade de Rawalpindi, que nos meus tempos de Liceu era conhecida como tendo o maior índice pluviométrico do Mundo... a tal onde "até os cavalos se espantavam quando viam alguém a passar sem guarda-chuva"
Lembram-se?

Para esquecer estas agruras aqui vai Poema da Sexta, desta vez de João Nabais, o Médico -  Pediatra e Pedopsiquiatra - que muito tem dado às nossas letras. Vejam lá se gostam destas duas reflexões em verso :

Sono limiar

O dia ainda não terminou
para mim
apesar da amante noite
cobrir-me
o olhar nublado
no trajecto das palavras
desalinhadas
ao longo da pena

e uma vaga de mar
invade o sono
limiar
logo desperta
uma zoada invisível
no jardim do lago
com as cigarras
timbaladas
a cantar
um ritual secreto
igual
à vibração dos búzios
num espelho de água

o espírito
cada vez mais distante
alienado
a lembrar o primeiro sonho de amor

Plátano

Arco voluptuoso
membro viril
corpo livre
monte negro polido
qual plátano centenário
descoberto o sexo
na maciez da pele
boca a boca

o afago entre dois seios
descobertos
alisando os dedos
num desejo inconsciente
de aconchego

inaudita a voz ecoa ávida de luz
antes da grande maré
invisível

Nota: Biografia por cortesia de "Projectos Verciais"

João-Maria Nabais, Licenciatura em Medicina e Cirurgia, Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa 1974; Grau de Assistente Hospitalar de Pediatria Médica dos H.C.L.-1985; admitido no Colégio das Especialidades de Pediatria Médica, da Ordem dos Médicos – 1995; Actualmente, exerce as funções de Assistente Hospitalar Graduado de Pediatria Médica na Sub-região de Saúde de Setúbal e no S.A.M.S.; Integra o Núcleo de Pedopsiquiatria; Grupo de Fundadores da revista literária SOL XXI e da Direcção da Associação Cultural SOL XXI. Escreve há vários anos regularmente para várias revistas e jornais. Tem sido distinguido por mais de uma vez – Prémio Moldarte Pintura / 87; Prémios António Patrício de Poesia / 96 e 02, com os livros Poemas e Sons de Urbanidade, ambos pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos; Medalha de Mérito Cultural da Associação de Escritores Médicos e Jornalistas de Bucareste – Roménia / 04.

Tem mais de uma centena de artigos e ensaios publicados nas áreas das Ciências da Saúde; História da Medicina; Escritores Médicos e Literatura.

quinta-feira, abril 22, 2010

Um Olhar Português

O Olegário Bem Querença foi mal-tratado até dizer chega na imprensa espanhola desportiva ( e não só) depois do jogo Inter-Barcelona onde os "mourinhos" deram 3 a 1 ao Barça.

Nada a dizer dado que se conhece a habitual "Fúria" espanhola e ainda por cima "Barcelonática" quanto aos futebóis, Eu, que vi o Jogo, não me lembro do desgraçado do árbitro ter assim tanto influenciado o desenlace, mas ...

Já quando o nosso Figo  (o actual Tagus Park, como é conhecido na gíria) bazou para o Real Madrid, como eu tive o azar de estar em Barcelona na mesma altura, levei tanto nos ouvidos que ainda hoje - quando me lembro - tenho de levar o dedo ao túnel da cera , em reflexo automático...

Pesetero!!  Foi  a coisa mais educada que lhe chamaram...  E mesmo no Bota-Fumeiro, meu paradeiro habitual em Barcelona, restaurante e cervejaria à moda da Catalunha, famoso e de bom trato, dono de uma invejável Barra, "quase " tão boa como a nossa do Gambrinus, fui pela primeira vez "expulso" da Barra e convidado a sentar-me numa mesa. Oficialmente porque os lugares da Barra estavam "reservados", mas de facto por ser português na altura do Figo ter "traído" a Catalanidad (acho eu).

Também me vinguei porque tendo pedido Vega Sicíla datado (já não me lembro do ano) como  não tinham fiz um escarcéu tão grande (mas educadamente, está claro!) que me vieram pedir desculpa à mesa e me devolveram o  lugar na Barra.  Que já não aceitei, of course...

 O futebol pôe as pessoas doidas... Cá e Lá.

Nota: Bota Fumeiro na realidade é o nome que se dá ao gigante turíbulo de Latão utilizado em Santiago de Compostela ( e outros lados), para encharcar os fiéis de incenso, durante as cerimónias religiosas.

quarta-feira, abril 21, 2010

Ainda a famigerada "Nuvem"

O vulcão de nome impronunciável   (Eyjafjallajokull ) causou bué de chatices, todos o sabemos. Agora que os céus da Europa começam a abrir-se recordo uma história que me foi contada em primeira mão por uma colega que estava comigo em Berna na passada Quarta-Feira e que teve o azar de ter de se deslocar nesse mesmo dia (recordo que foi exactamente há uma semana atrás) para Dublin para acompanhar o nosso Presidente numa conferência de CEO dos Correios de toda a Europa... Claro que a conferência já não se realizou... E a minha colega chegou a casa...ontem à noite... Mas leiam sff que vale a pena (com muitos pedidos de licença à "vítima" por esta transcrição):

"Regressei hoje de uma aventura que nunca vou esquecer... na passada 4ª feira voei de Berna para Dublin  para acompanhar o Sr Presidente numa reunião de CEO's. Escusado será dizer que já não consegui sair da Irlanda... Estive até Sábado em Dublin sem conseguir sair e então decidi pôr-me ao caminho. Cheguei hoje depois de três dias de deslocações em que viajei de barco, táxi, autocarro e combóio... estive quase 36 horas sem dormir e não sei como arranjei forças para continuar até Lisboa."


Ora toma que é Democrata! Quer queiram quer não - e só aqui para os meus botões - acho que vou ter de pensar seriamente nestas viagens da Espanha "para cima" enquanto que alguém não me consiga garantir que o tal de  "Aí Já Fala o Jaculo"  ou lá o que é que aquilo se chama,  está outra vez a fazer ó-ó...
 
Aventuras são para os que têm menos de 30 anos e, já agora, menos 30 kg que o "Je-Moi"...A mim, se não me garantirem a  santa trindade do  "bacio, cama e duche" , águas correntes quentes e frias,   já não me convidem para estas exéquias...
 
Sinal de Velhice, Acomodamento, Aburguesamento e o mais que vexas entenderem... Certo, mas o corpinho é Meu, e, tal como está, deu-me demasiado trabalho a construir para estar agora a pôr-lhe em causa as fundações.
 
E, a bem dizer, mal por mal fico em casa onde - se o Mundo acabar num destes dias - ainda receberei o Armaggedon feliz da vida e de olhinhos a brilhar com o "fuel" dos Barca Velha, Pintas, Vale Meão e outros que por lá tenho arrumados para (exactamente) alturas extremas de crise...

terça-feira, abril 20, 2010

O Peixe em Lisboa

Lá estive , com o meu Senhorio... No dia da Homenagem ao nosso David, está claro!

Esta proposta era interessante: 15 euros pagos à entrada, (nós não pagámos. Oferta do David!)  depois a compra  por 3 euros apenas de um copo muito decente com a  possibilidade de provar "à borla" um conjunto muito significativo de vinhos portugueses nos corredores da entrada e em seguida a "piéce de résistance":   por módicas senhas de 4 euros e de 8 euros (para as comidas) e de também 4 euros (se a memória não me falha) para as bebidas,  nos dois halls da restauração, a hipótese de provar criações dos mais conceituados criadores da nossa praça - desde o Eleven ao Tavares, passando pela Dª Justa do Nobre, pelo RibaMar , pelo Ramiro do marisco,  pelo Panorama do Sheraton, e por aí fora... Mercado de Santa Clara, Fortaleza do Guincho, etc, etc...

Algumas notas : pratos e talheres de plástico, como seria natural num figurino de self-service ao balcão. Os balcões de vinhos "a pagar" eram todos da J.Maria da Fonseca, o que limitava um tanto a escolha ... Por 4 euros tínhamos os da gama baixa (brancos e tintos) por 8 euros já se podia navegar até ao Verdelho ou outras Reservas particulares dos proprietários, como o soberbo Tinto  FSF 2005 ou Domini Plus.

Os mesmos copos davam para tudo. Havia a possibilidade de os enxaguarmos, o que já não era nada mau. Os amáveis senhores  (e senhoras) do balcão da JMF por vezes não vazavam ao gosto dos convivas ( que seria até às bordas, já que o pagavam...) e isso trouxe alguns amargos de boca e troca de palavras menos simpáticas... Por mim apostaria na média: nem até às bordas ( como nunca vi servir) , mas também nem sempre a 1\3 da capacidade, e esta "medida" vi-a muitas vezes utilizar... 1\3 pode ser elegante para quem compra a garrafita no restaurante, mas não é adequado para quem compra vinho ao copo...

Para a próxima sugiro que os copos tragam já a capacidade aconselhada marcada no vidro. Evitava problemas e discussões...

Quanto às Comidas destaco: Exuberante a proposta do Eleven,  de Risotto com Vieiras e aspersão de Cacau, Muito Bom o Caldo de Sardinha da mesma proveniência . Excelente como sempre a Sopa de Santola da Dª Justa. Muito adaptado a esta filosofia de "levar para a mesa" a cozinha Japonesa do Mestre  Paulo Morais, que veio apresentar o seu novo restaurante UMAI. ... onde os Sushi e Sahhimi parecem feitos à medida.

Terminámos em beleza com duas capiroskas de sabores (gengibre, kiwi, morangos).

Quando olhei para a carteira apercebi-me que tinha gasto...100 euritos!! Aos 4 e 8 euros de cada vez, está claro!

Os pratinhos são baratos, mas são exactamente isso- pratinhos... Idem, Idem para os copitos de branco, tinto ou Moscatel...E quem se atreve a vir para estes locais elegantes com um  "Senhorio"  de 105 quilinhos atrás já sabe que se sujeita a ter de lhe encher a "mula"...  O que vale é que o "panito" era oferecido (tanto quanto me pareceu).

segunda-feira, abril 19, 2010

PR veio de carro....

Uma anedota que se contava nalguma blogosfera, sobre a imprevista deslocação do nosso PR e comitiva de Praga para Barcelona "à la Patte", ou melhor dito "à La Pneu", tinha a ver com a qualidade das áreas de serviço, nas auto-estradas por onde passavam.

Houve quem dissesse que se notava bem demais a diferença entre as situadas na Alemanha e as Francesas...

E alguns homens da comitiva , ao experimentarem os "mijódromos"  gauleses, até teriam dito para as esposas:

- "Oh Filha! Vê-se logo que já saímos da Europa!"

Ao que algumas interpeladas retorquiram:

- "Deixa lá isso que ao menos aqui não tiveste  de baixar as calças mesmo à frente do Rotweiller da Bundespolizei...Ficaste encolhido que nem uma  minhoca no inverno...Só espero que isso passe."

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso...

O Fórum da UPU sobre selos sem denominação de Franquia em Numerais

Nesta Primavera o Fórum da UPU a que presidi foi sobre aquilo que se designa na nomenclatura anglo-saxónica "Forever Stamp"; ou seja, os selos que não têm valor afixado de franquia em numerais ( apenas com letras ou mesmo sem nada) e que por isso mesmo podem ser utilizados sempre, independentemente das alterações das Taxas Postais.

São produtos de interesse filatélico relativamente reduzido - pela indefinição das Tiragens - normalmente associados a emissões base , mas que têm as suas excepções .

Por exemplo, em Portugal fizeram-se algumas destas emissões comemorativas em períodos de indefinição de tarifas,  em 2005, 2006 e 2007, com tiragens limitadas. Correio Escolar (por 2 vezes); A Chegada da família Real ao Brasil; Clubes de Futebol Centenários, etc...

Hoje em dia e por norma reservamos os Selos Sem taxa para as emissões base de selos Auto-Adesivos,  sob a forma de carteiras.
Quem gosta deste tipo de selos são obviamente os Balcões dos Correios, pela facilidade da venda sem necessidade de saber a tarifa. Mas também - segundo pesquisas feitas nos USA  - os próprios Clientes dos correios, que os utilizam como forma de "poupança"  na altura do previsional aumento das tarifas...

As quantidade de que estamos a falar são incomparáveis: em Portugal nas Emissões comemorativas podemos fazer 250,000. Nos USA qualquer Emissão deste tipo de selos atinge os Milhares de milhões de exs...

Como dizia o meu Colega David Failor (Director de Filatelia USA) "Goste-se mais ou menos,  estes selos são hoje um dado adquirido para os Operadores Postais que os utilizam, facilitando as transições de tarifa e sobretudo os abastecimentos, simplificando o trabalho dos balcões e, mais do que isso, dando aos Clientes um produto de que gostam e ao qual têm  sempre acesso (estações abastecidas)"

De facto, se aqui em Portugal, com cerca de 1000 Balcões, já aconteceu no passado termos falta de selos nalguns, exactamente nos períodos do início do ano, imaginem nos USA, onde o tráfego diário é de 590 milhões de objectos postais (cerca de 10% são selados)  e existem cerca de 58,000 Estações e Postos de Correio que vendem selos...

A logística destes abastecimentos deve ser de cair para o lado. Compreende-se por isso a grande importância do Forever Stamp nesta conjuntura.

o 1º selo sem taxa português é de 1985. O 1º Forever Stamp do USPS apenas foi emitido em 2007...

sábado, abril 17, 2010

Desde Berna, a pirar-me da NUVEM

Na Quinta feira, depois do almoço, já se ouvia falar na sede da UPU, lá em Berna, que alguns colegas estavam aflitos para encontrarem o caminho de casa... Tinha havido um problema qualquer num vulcão Islandês, e por causa disso lá se tinha encerrado o espaço aéreo de muiitos países do norte da Europa.

Sou do Sul! (dizia eu para os meus botões) . Não há crise (a não ser a verdadeira) ,  o Povo é sereno!

Então não haveriam de haver aviões para o sulzinho, para a Praia? Da Praia para a "civilização" talvez não, mas o caminho inverso deveria estar aberto...

Ia-me lixando ia... Devo ter apanhado um dos últimos aeroplanos a sair de Zurique, já na tarde de Sexta Feira passada... E como o Avião da TAP que fazia a carreira da volta não havia meio de chegar, ainda apanhei dois ou três  arrepios na espinha...

Era o maldito do controlo do aeroporto a mudar a prostit... da Porta de saída (mudou-a 3 vezes) e os expectantes portugas, já mais que conhecedores do forrobodó que por essa Europa toda se passava , a dizerem mal dos seus pecados.

Mas lá viemos. E, como disse, fomos dos últimos a sair de Zurique. Pouco depois encerrava o aeroporto.

São coisas como estas que nos pôem no nosso lugar, de quando em vez... Um vulcanito qualquer constipa-se e espirra, lá para o Norte.... e tem como consequências parar 77% do tráfego aéreo da Europa... Mais de 2 milhões de passageiros afectados, perdas diárias  de aprox.  150 milhões de euros para as companhias de aviação...

E atenção! Porque dizem os entendidos que quando este "miúdo" se "constipa", os "espirros" costumam durar mais de um ano... E então o que poderá acontecer quando se "constipar" o Pai ou a Mãe dele, que também moram lá para os mesmos lados??!!

De facto a Natureza ainda nos vai dando lições. E se calhar bem precisamos delas...

quarta-feira, abril 14, 2010

Para Descansar a vista

E como não estou cá na Sexta Feira, aqui ficam dois poemas curtos do grande Torga:

Viagem

É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...

Miguel Torga, in 'Diário XII'



Esperança

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco...
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

Nota: Fotografia do diamante "Hope" por cortesia do Smithsonian Institute. O "Hope" é o maior diamante azul do mundo (45,5 carats) e tem a má fama de estar "amaldiçoado"... bem, amaldiçoado por amaldiçoado acho que preferia , mesmo assim, essa Esperança azul no banco do que tantas outras que por aí aparecem  nos discursos dos políticos. É que um "irmão pequeno " do Hope, também azul, foi vendido em 2008 num leilão da Christie's por 25 milhões de USD... Se fosse o Hope ponham lá o dobro mais ou menos. Mas que bela Esperança!

Ausência

Blogger vai para Berna, para a Assembleia geral da WADP. Regresso aqui ao vosso convívio na próxima Segunda feira.

terça-feira, abril 13, 2010

Justíssima Homenagem

David Lopes Ramos, meu Mestre e Amigo,  é hoje justamente homenageado no âmbito do Festival  "PEIXE em LISBOA" a decorrer no Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, entre 10 e 18 deste mês.

Vejam aqui mais sff:

http://www.peixemlisboa.com/

Ninguém apresenta o David . Sobretudo a pessoas ligadas ao meio gastronómico, Seria (salvo seja) como apresentar o imortal Tex Avery num Festival de Banda Desenhada...

Se ainda não o leram tenho pena. Por vocês, está claro, que perderam uma das mais esclarecidas, conhecedoras e saborosas "penas" da nossa literatura  e não me restrinjo apenas à literatura gastronómica!

Em traços largos aqui fica o David: Sabedoria enciclopédica, Homem muito lido e relido (mas nunca treslido) ,  um saber estar de antanho, mais próprio das antigas tertúlias do que destes tempos conturbados onde não há espaço para o lazer  (não confundir com o "laser"). Riso pronto e à flor da pele. Bom companheiro e melhor Amigo.

Parabéns David!

As Restrições do (s) PEC (s)

Apertar o cintinho Amigos!  Os tempos não estão de modas. Ou melhor, a existirem "modas" nestes tempos serão as da anorexia artificialmente induzida, da dieta obrigatória para a maioria dos Portugueses...

Mesmo assim parece que a Senhora Comissão não está satisfeita com a "dieta" aprovada aqui na Praia e duvida (mas quem não duvidaria?) que essa contenção seja suficiente para conter o Déficit (esse gande C....que não nos larga desde o tempo do Eça) .

Num Blog como este, onde se faz a apologia de uma certa "joie de vivre" ligada aos prazeres da mesa e da convivialidade , lidamos menos bem com estas exéquias.

Os 95% dos indígenas que vivem e trabalham por conta de outrém - onde se incluem os funcionários públicos - têm já complicações que sobrem para ter (ainda mais) de continuar a apertar o maldito do cinto, que de tão esburacado mais parece um passador "chinês"...

Nos tempos do "vale tudo bancário" compraram casa e carro  com empréstimos. Depois tornaram a pedir emprestado para as mobílias, os electrodomésticos, os Home cinemas, os DVD's, os Plasmas e LCD's  e as viagens de férias. A seguir para renovar os guarda roupas. No final de tudo mesmo para ...pagarem os outros empréstimos que já tinham. E foi aqui que os bancos começaram a torcer o nariz. Foi aqui quando devia ter sido bem mais lá atrás, logo depois do empréstimo para o carro, ou até antes dele.

Conheço famílias que no dia 11 de cada mês, descontados dos parcos vencimentos todas as "prestações", já não podem teoricamente comer. Comem, obviamente, porque os Pais ou os Avós ajudam. Mas comem cada vez menos.

Por todos os motivos não admira que (como dizia o anúncio de há alguns anos atrás) " as Mulheres portuguesas estejam a ficar cada vez mais bonitas".  Eu acrescento: As Mulheres, os Homens as Crianças e os Velhos! Está tudo "mais bonito" no sentido actual do termo, em que "bonito" e "saudável" é igual a "magreza"...Só que esta "magreza" é a da fome, e não a das "starlettes" de Hollywood desesperadas por, aos 25 anos, já  não terem umas nádegas de aço como quando tinham 13...

Esperamos - e a esperança fica sempre no fundo da Caixa (Geral dos Depósitos)  - que nas Nações Unidas nos permitam aumentar a área da Plataforma Oceânica sob nosso controlo. E, depois disso, esperamos que se descubra Petróleo ao largo dos Açores e outras coisas que encham o miserável saco das receitas do Estado. Parece que metais "raros" já lá teriam sido detectados...

Tal como no passado, com o volfrâmio,  pode ser que a nossa "sina" seja a de abastecer a industria dos Países mais desenvolvidos com as matérias primas "raras" que seriam hoje  necessárias para fazer telemóveis, computadores e etc...

Esta é a nossa esperança. Parece ser "curta" para tamanho buraco onde estamos atolados...

Mas também pode ser que eu me engane... Não percam a Esperança se fizerem favor!

Nota: "Requiem por uma Anorexia" é uma pintura de João Carita.

segunda-feira, abril 12, 2010

Feijoada à Minha Moda

Antes que o Verão por aí aparecesse, mesmo que mais visto nas altas temperaturas e menos no calendário, lembrei-me de aproveitar a noite de Sábado passado e ir adiantando uma Feijoada para o Almoço do Domingo.

Feijoca da Beira Alta de molho desde a véspera. Para 4 pessoas - Entrecosto de Porco Preto (1 embalagem) , entremeada (idem) e chispes  ( 2 pés), temperados de véspera, arrepiados de  Sal, marinados em vinho branco, alho, louro e massa de pimentão.

Contem com uma mão cheia de feijão por cada conviva. E, como diz o folklore do Brasil, mais duas mão cheias  no final das contas em sinal de hospitalidade! Se formos 4 seriam então 6 mãos de feijão. Coze-se de seguida com uma mão pequena de sal. Reservem a água da cozedura.

No tacho ( de preferência de ferro ou de alumínio fundido) façam uma puxadinha em azeite do melhor.  Tudo cortada miudamente: duas cebolas grandes, 1 ou  2 cabeças de alho (8 dentes grandes), malagueta cortada em pedaços pequenos, 3 tomates maduros sem pele nem sementes,  uma colher de sopa de sal grosso. Não ponham muito sal porque a feijoca já vem cozida com ele e depois ainda se junta o sal das carnes e dos enchidos.

Quando a puxada estiver já bem "lançada" juntem um copo pequeno de...Moscatel de Setúbal (truque da minha lavra).

E quando  a cebola estiver bem loura introduzam as carnes frescas que retiraram da marinada e deixem apurar uns minutos. De seguida a feijoca. Cortem entretanto um chouriço de sangue e um chouriço de carne e juntem os pedaços ao conteúdo do tacho..

O segredo está em não deixar faltar o molho, nem este ser demasiado abundante. Por isso tenham sempre à mão a água da cozedura do feijão, que podem misturar ao guizado do tacho se começar a faltar molho, de concha a concha, com cuidado. O lume deve estar bem baixo para guizar lentamente e apurar. Só o aumentem no momento da introdução das Carnes e durante esses primeiros minutos, para as passar bem.

Depois de uma hora e  meia (mais ou menos) deve estar pronto a servir. Uma meia hora antes ponham uma farinheira (eu gosto das biológicas da Montanheira) inteira por cima do conteúdo do tacho, Quando estiver cozida retirem-na, cortem em troços e juntem ao guizado. Este tacho assim como está, depois de tudo feito,  aguenta perfeitamente de um dia para o outro ( e há quem diga que até melhora...)

Agora a vantagem: se dedicarem parte da noite de Sábado a esta tarefa ( e obviamente deixarem de molho o feijão e as carnes frescas na Sexta) chega o Domingo e podem perfeitamente tratar das V. obrigações (civis , militares ou religiosas) durante toda a manhã.

Depois cheguem a casa, borrifem o conteúdo do tacho de azeite e vinho branco,  ponham no forno meia horita.

Enquanto aquece  façam um arroz solto com cenoura aos troços para acompanhamento da feijoada .

Ponham coentros frescos cortados por cima do tacho e... para a mesa!

Servi-a com um Tinto de 2004 da Bairrada  - Quinta da Dona.  A natural adstringência da Baga cortou na maravilha  a gordura natural  da feijoada. E que boa que estava!

domingo, abril 11, 2010

Rescaldo do Congresso do PSD

Na apoteose de Pedro Passos Coelho - o primeiro dos "jotas" a quem eu dava há alguns meses encorajamento, o 2º é António José Seguro, todos os Amigos o sabem - alguns recados interessantes:

Revisão Constitucional - a "Vaca Sagrada" - para resolver os problemas na Justiça ( e não só).
Ir ao encontro das Pessoas, Ouvi-las e sobretudo deixá-las falar.
 Necessidade do Governo apoiar as Empresas com viabilidade, se possível substituindo os subsidios de Desemprego por esses apoios.
 Muita força no apoio às ONG de solidariedade social.
 Trabalho comunitário obrigatório para os "apoiados" do Governo sem trabalho.

Alguma Demagogia. também.  Repare-se na intervenção de Miguel Frasquilho: Diminuição dos Salários na Função Pública como única forma de resolver os problemas da economia sem aumentar Impostos...

E, se me permitem, como responderia a isto Bettencourt Picanço, o todo-poderoso "patrão" dos sindicalistas quadros da Função Pública, agora "recompensado" pela sua constante luta conta o Governo PS com um lugarzito  no Conselho Nacional do PSD, de quem é militante assumidíssimo?

Não sabiam? Ficam a saber.

Ficamos à espera dos actos práticos. Sem dúvida que o PS tem que se preocupar mais com este novo PSD.  Para ir seguindo com atenção.

sexta-feira, abril 09, 2010

Para Descansar a Vista

É Sexta Feira. Para esquecer os últimos dias, tristes, tristonhos, aqui vai um Poema mais alegre para nos preparar para um fim de semana que pode ser já o primeiro da época balnear. Um autêntico hino à Vida e de  Resistência contra as contrariedades da mesma, da Srª Fernanda de Castro.

Se estiver bom tempo Amigos, vão para a Praia! Mas não corram muito por lá (et pour cause...)

ALEGRIA

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusões,
de pequenas traições
que achei no meu caminho...,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nódoa escura
duma nova amargura...

De cada crueldade
que pôs de luto a minha mocidade...

De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte...

De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas heróica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.

Doido prazer
de respirar!

Volúpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.

Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa à raíz.

Volúpia de sentir na minha mão,
a côdea do meu pão.

Volúpia de sentir-me ágil e forte
e de saber enfim que só a morte
é triste e sem remédio.
Prazer de renegar e de destruir
o tédio,

Esse estranho cilício,
e de entregar-me à vida como a
um vício.

Alegria!
Alegria!
Volúpia de sentir-me em cada dia
mais cansada, mais triste, mais dorida
mas cada vez mais agarrada à Vida!

Fernanda de Castro, in "D'Aquém e D'Além Alma"

Nota: Biografia por cortesia de Maria Luisa Paiva Boléo
Fernanda de Castro - Romancista, poeta e conferencista portuguesa, conhecida pelo seu nome de solteira, com vasta e diversificada obra, escreveu poesia, literatura infantil, romance e memórias. Filha de um oficial da Marinha ficou órfã de mãe aos doze anos. Estudou em Portimão, Figueira da Foz e Lisboa, tendo frequentado, nesta cidade, os Liceus D. Maria Pia e Passos Manuel. Começou por escrever livros infantis com sucesso nomeadamente "Mariazinha em África", 1926; "A Princesa dos Sete Castelos" e "As Novas Aventuras de Mariazinha", 1935. Conheceu África que transmitiu com talento nos seus livros. Casada com António Ferro, jornalista e homem forte do regime de Salazar, promoveu a cultura no país e estrangeiro em importantes exposições. Criou e desenvolveu, nos anos trinta, a Associação Nacional dos Parques Infantis, dadas as suas excelentes relações com as mais altas instâncias governamentais. A sua poesia é francamente inspirada e está de novo a ser divulgada. Destacam-se "Asa no Espaço", 1955; "Poesia I e II", 1969, "Urgente", 1989. David Mourão-Ferreira elogia vivamente a sensualidade feminina dessa poesia. Fernanda de Castro recebeu, em 1969 o Prémio Nacional de Poesia e recebera em 1945 o Prémio Ricardo Malheiros pelo romance "Maria da Lua". Escreveu até praticamente ao fim da vida, embora nos últimos anos a doença a retivesse na cama. Foi avó da escritora Rita Ferro. Escreveu “Ao Fim da Memória: Memórias (1906-1986)”, 1986.

ZON - Resolução

Começo por agradecer muito a um nosso Leitor, editor de um Fórum sobre clientes da ZON, o qual se prontificou de imediato a resolver o problema da "Caixa Negra"...

Felizmente , um dia depois da publicação do Post "Pequenos Incómodos" , recebi um telefonema da ZON pedindo-me que descarregasse uma nova versão de software que resolveria o assunto...

Foi o que fiz.

Não sei se devo agradecer a esse nosso Leitor alguma intervenção do tipo Deus Ex Machina , ou se me devo congratular por este Blog ser mais lido do que pensava...

De uma maneira ou de outra, Obrigado às Potestades!

Au Revoir Cathy!

Ontem não passei por aqui. Fui-me despedir de uma querida amiga, Catherine Schurman Wolf.

55 anos, maratonista, todo o cuidado possível ( e imaginário) com a alimentação... Morreu num cadeirão, com um livro no regaço, no Domingo de Páscoa. Paragem cardíaca.

Dá-nos que pensar...

Missa de corpo presente na Igreja da Graça, com Puccini, Gounod e Bach convocados para a despedida, tendo alguns  dos intérpretes vindo de França expressamente para o acontecimento.

Cathy, uma protectora e apreciadora das Artes, Mecenas das boas causas (AMI, etc...) grande Amiga dos animais (não podia ver cão nem gato a sofrer na rua, leváva-os logo lá para  casa). Sobretudo uma boa Amiga com quem compartilhei excelentes momentos , em sua casa, ouvindo (sempre) Charles Aznavour e charlando muito sobre os males do mundo que este casal gostava de tentar resolver, desde a protecção aos mamíferos marinhos, até às grandes preocupações com a desflorestação da selva amazónica.

Em Portugal desde 1974, Clientes dos CTT desde 1982, meus Amigos desde que os conheci , os dois.

Um grande Abraço, de muita Amizade, ao Andreas! Até um dia Cathy!

quarta-feira, abril 07, 2010

Incómodos pequenos

Penso que todos conhecem a frase  "Thank God for small favors" . É uma expressão que utilizamos quando as coisas pequenas do dia-a-dia nos correm bem. Por exemplo:

Chegar a algum local e ter espaço para estacionar. Descobrir uma moeda de 2 euros no fundo do bolso, a tempo de pagarmos 2 cafés sem ter de trocar uma nota de 20. Encontrarmos um amigo que não vemos há algum tempo e nos oferece o último livro que escreveu; etc... Coisas pequenas mas que nos dispôem bem para o resto do dia. De facto Pequenos Favores das Potestades.

O que me traz hoje ao vosso convívio não são essas "pedras brancas" nos caminhos do nosso  quotidiano, mas, ao contrário, os acontecimentos de sinal inverso: os pequenos incómodos que, não servindo para arruínar a vida de ninguém em proporções "cósmicas", acabam, mesmo assim, por estragar uma ocasião e ensombrar o dia em que nos acontecem:

Ter uma reunião importante depois do almoço e reparar minutos antes que temos uma nódoa na gravata. Sair da pastelaria e  pisar uma bosta de cão. Tropeçar num passeio, esticar-se ao comprido e romper as calças no joelho. Procurar o carro depois da ida ao dentista e reparar que foi rebocado pela EMEL...
















Tenho dificuldade em dar um nome a estes "escolhos". Ainda pensei em chamar-lhes "prendas de Belzebu" , mas a invocação do "Impuro" sempre me fez um bocado de espécie  (fruto dos longos anos passados nos Salesianos) . E que tal "pedras nos sapatos", ou ainda "unhas encravadas" ou, talvez a melhor escolha,  "pequenas Mer... que nos acontecem".

Ora um caso se deu, na minha ausência Pascal, que foi uma autêntica coisa dessas. Como não tenho acesso aos canais codificados lá na Serra deixei aqui em baixo, no aparelho da ZON a que chamam ZON Box  HD+DVR (vá-se lá saber porquê) um largo conjunto de séries e filmes  programados para gravação.

Quando cheguei encontrei gravado Nikles, Batatóides, Niente, Zero e Olé!

Arrisquei o contacto com aquele buraco preto da moderna comunicação que são os Call Centers. Do lado de lá a delicada ( e educada) menina disse-me que:

"- Sim senhor, tem toda a razão, foi detectado há uns meses um erro na programação das Box digitais com gravador, esse erro leva a que as gravações se "desprogramem" de tempos a tempos. Estamos a trabalhar para resolver esse erro. Entretanto faça isto e aquilo e vai ver que pode gravar outra vez"

" - Mas como é que recupero os programas cuja gravação não se fez?"

"- Não pode recuperar. Muito obrigado por nos ter contactado. Há mais alguma coisa em que o possa ajudar?"

" Sim. Como recupero os programas que deviam ter ficado gravados?"

"Muito Obrigado por nos ter contactado. Há mais alguma coisa em que o possa ajudar?"

E pronto! Assim ficámos: a ZON vende ou aluga um objecto (Caixa Digital com Gravação, ZON BOX HD+DVR)) que tem defeito. Não avisa os Clientes desse defeito. Está a trabalhar para corrigir o defeito (muito obrigado) sem previsão do tempo de conclusão. E o Zé Pagante...Paga e cala-se...

Lembra-me a Toyota nos USA, quando mandou recolher os carros por causa do defeito nos cabos dos aceleradores. Como o Governo Norte-Americano achou que o deviam ter feito mais rapidamente "pregou-lhes" com uma multazita de  16,4 Milhões de dólares...

Aqui em Portugal ni hablar! Coitados da ZON... Quantas famílias dependem da Empresa... E sempre estão a trabalhar para corrigir... E etc...

Há sempre a concorrência dir-me-ão... É verdade, mas diz-me quem sabe e é Cliente da MEO que esta ainda é pior...

Os incómodos podem ser pequenos, sem dúvida que preferíveis a cair e partir uma perna,  mas quem se sente bem "pequeno" no meio desta engrenagem acabam por ser os consumidores.

terça-feira, abril 06, 2010

Correr na Praia...

Sempre que o tempo dá ares de Primavera a adivinhar o Verão muitos amigos e amigas minhas começam a preocupar-se com a "imagem". Intensificam as sessões no ginásio, tomam mais cuidado com a alimentação, procuram preços das "quintas de bronzeamento artificial" e por aí fora.

Ontem , ao chegar a casa, lá tive de ouvir a minha "santa" de cá de baixo:

"-  Estás gordo! Porque é que não vais correr para a praia? Está um tempo tâo bonito!"

O problema não é o de eu estar mais ou menos gordo... Durante a Páscoa, Natal, etc...é normal ganhar 2 quilitos...Mas não acreditem que foi essa a motivação da "carinhosa" observação! Nada disso!

 Como a Senhora nunca vai   passar a Páscoa lá na quinta, tinha de arranjar forma de demonstrar o seu desagrado aos "outros" que foram e, pior do que isso, tinham regressado com (infâmia absoluta) ar de quem tinha gostado desses dias!!

Então não querem lá ver? Mas alguém da família se poderá divertir sem a sua presença??!!

A minha Mãe nunca vai lá para cima porque não quer... (e todos agradecemos, mas isso é outra história...). Os motivos são confusos:


Umas vezes diz  que "não se sente lá bem", de outras vezes é porque "lá em cima nunca se sai da cozinha ou da adega " (bem, aqui não está longe da verdade...)

São motivações psico-somáticas que deixarei aos especialistas nestas matérias.

Agora "Correr na Praia"?  Mas a Praia é lá sítio onde se corra? 

Tomar banhos de Sol e de Mar , sim, sem dúvida.  Contar os minutos para ir lentamente andando para a esplanada da Praia, para ler o "Fugas" e o Expresso" e  beber o campari soda da ordem, isso também. Andar pela areia (molhada! Atenção!) como quem faz exercício, mas de facto apenas para "lavar os olhos" com o que se vê à beira-mar,  também faz parte do meu desporto estival.

Podem lá pôr também outras actividades de algum esforço físico: Boiar e balançar-me nas ondas , Ler (o esforço para segurar o livro de forma a tapar o Sol...), e, talvez o mais exigente em termos físicos, exercitar os músculos do baixo ventre, apertar a bexiga para não poluir o oceano (nem sempre conseguido com êxito, devo confessar...)

Correr pela Praia deve fazer mal à saúde. A começar porque não se pode ver onde pomos os pés, e depois cansa...Chiça, cansa que se farta... Digo isto não por experiência própria (va de retro) mas porque tenho visto alguns infelizes depois deste sacrifício, a suar que nem porcos (salvo seja) e a arfar que nem touros no meio do Campo Pequeno   (que, lembrei-me agora,  também tem areia...)

E esta hein? Mas eu só algum touro para andar a correr pela areia ou quê?

domingo, abril 04, 2010

Os Bandoleiros das Beiras nos idos de Oitocentos

A Beira (Alta e Baixa) sempre foi um território onde a confusão “central” lá de Lisboa, com o enfraquecimento do poder Real e depois, do Republicano, deu origem ao nascimento de baronias do cacete quase tão convincentes nas suas formas de influenciar as populações como o terão sido, noutros tempos, os grandes Senhores Feudais, de Pendão e Caldeira, administradores da justiça e cobradores de impostos, que apenas a El-Rei deviam preito de menagem. E de quando em quando…

Os nossos mais conhecidos Bandoleiros, produtos quase todos das guerras liberais-absolutistas foram: João Brandão, nas Beiras (à frente retratado), o Remexido, nos Algarves, o Zé do Telhado no Marão, Custódio, o Boca Negra, também nas duas Beiras, o Marçal de Foz Côa ou ainda o António da Costa Macário, por alcunha “o Caca”, sempre nas Beiras.

Estes caciques de Oitocentos, autênticos bandidos como existiam no Farwest Americano ou como eram os canganceiros do Nordeste brasileiro, deixaram uma estranha auréola , meio de Bandidos meio de Santos, que ainda hoje perdura nalgumas terras portuguesas.

O fenómeno não é só lusitano. Virgulino Ferreira da Silva , o Lampião (salvo seja!) , o Rei do Cangaço, quando foi morto pelo exército brasileiro, em 1938, terá deixado tantos crentes pesarosos com o acontecimento como familias das vítimas felizes por o verem morto…

Todos eles tiveram grandes protecções dos governos (consoante a cor deste) e altas autoridades, servindo o poder volátil como angariadores de votos e “mixordeiros” de eleições locais, a troco de vista grossa a todas as tropelias que faziam, e que foram mesmo muitas, desde roubos e assassinatos até a raptos com extorsão. Os crimes eram de extrema violência, sobretudo se disfarçados de “luta política”.

Por exemplo, o Caca, miguelista convicto que odiava os Padres liberais, entrou com a quadrilha pela igreja de Matança, Fornos de Algodres, tirou o Abade (Liberal) cá para fora do altar onde dizia a missa, e obrigou-o a andar de joelhos para cima e para baixo, no adro da igreja, cortando-lhe à vez as orelhas, o nariz e todos os dedos. Até que o mataram abrindo-lhe o peito e retirando o coração ainda a bater… Tudo isto se passou em 1843, algum tempo antes do próprio Caca ser morto a tiro pelos seus inimigos liberais, numa emboscada à casa onde se escondia que durou vários dias.

Imaginem o que Billy the Kid teria que aprender com esta tropa fandanga…

Neste ponto da matéria dada,  uma pergunta tem que se fazer: Porque motivo esta “gente” apareceu mais nas Beiras?

Não vou pelos historiadores e outros cientistas sociais, mas eles aqui estão, para quem lhes queira pegar: “Eleições e Caciquismo no Portugal Oitocentista”, de Pedro Tavares de Almeida. Ou ainda , de Brian Juan O’Neill , “Banditismo e Política: João Brandão no seu contexto político e social”

Para mim, que não sou perito nestas matérias, as razões deveriam ter a ver com aquilo que existe aqui em cima e em mais lado nenhum…

Ou seja: Vinho do Dão, Queijo da Serra, Aguardente de Zimbro. Mas disso tenho (graças a Deus) sido bem servido ao longo dos anos sem que – tanto quanto sei – me tenham dado esses ataques de loucura assassina…

Ah! Já me esquecia… Aqui existe também  Radão radioactivo (um descendente do Urânio que Salazar vendia indiferentemente a ingleses ou a alemães). Está ali (infelizmente) bem presente nas casas da Urgeiriça e de Canas de Senhorim ou perto de Mangualde, na Mina da Cunha Baixa (Na foto)!

Os jazigos de urânio tidos como mais importantes em Portugal, estão localizados na sua região central (Província das Beiras) dispostos na parte ocidental do Maciço Hespérico abrangendo a Cordilheira Central ( Serra da Estrela, Lousã, S. Pedro de Açor, Gardunha) e estendendo-se para a parte poente até às Serras do Buçaco, Caramulo e Montemuro.


(In Boletim da Sociedade Portuguesa de Protecção contra as Radiações)

Oh Diabo! Querem lá ver que o caciquismo\banditismo é provocado pelas radiações? Seria uma espécie de Mutação à moda da Beira… Os Bandoleiros, coitados, não seriam mais do que Hulks (salvo seja!) infectados pela radiação.

Fico em dúvida - porque a tanto não me chega a ciência geográfica - se lá para o lado da “outra” Beira, para a Covilhã , haverá Radão ou um seu sucedâneo… Isso explicaria algumas coisas, algumas mutações, cujas consequências são visíveis por todo o País…

Aqui deixo esta ideia aos investigadores sem pedir nada em troca.

Páscoa da Ressurreição : Cabrito no Forno à Serrana

É fatal como o destino... Almoço de Domingo de Páscoa tem de ser o Cabrito no Forno à moda aqui da Beira Alta.

Aqui vai uma das receitas que sempre seguimos cá em casa:

Cabrito Assado no Forno à moda da Beira Alta

De véspera tempera-se o cabrito. Utiliza-se um tabuleiro de bom tamanho, onde caiba o cabrito cortado em quartos. No fundo do tabuleiro deitamos duas  colheres de sopa de sal fino, uma colher de sopa de massa de pimentão, salsa picada grossa (uma mão meia) , duas cabeças de alho picadas finas, uma meia cebola picada fina, uma malagueta desfeita das pequenas. Deita-se por cima  um bom golpe de azeite, e um copo pequeno de vinho branco, mistura-se tudo com uma colher  e molham-se os quartos do cabrito nesse tempero, deixando estar de um dia para o outro.

O segredo é deixar que o Cabrito asse mesmo, e não coza no molho se este for demasiado abundante. Por isso , parcimónia com as cebolas, com o vinho  e com o azeite!

Se o tempero tiver demasiado liquído, no dia seguinte escorram um pouco para que o Cabrito não vá a nadar...

No Domingo  acende-se o forno nos 250º , Quando estiver à temperatura (termóstato apagado) introduz-se o tabuleiro do cabrito ao meio do forno.

Vamos virando os quartos, com cuidado, de meia em  meia hora, até que o cabrito esteja bem tostado por cima e por baixo. Provem o molho para testar o sal. Provavelmente necessitaria de mais uma colherzita de sobremesa de sal fino lá para o meio da assadura. Ou não, seria ao gosto do artista.

Para acompanhamento é costume assar também as batatas no forno. O problema é que cá em cima nós os 5 damos bem cabo de um cabritinho de 5 kg, pelo que as batatas não cabem no mesmo tabuleiro. Desta forma tem de se fazer mais um tabuleiro, exactamente com o mesmo tempero do do cabrito, onde enfiamos as batatas da terra partidas aos quartos, ou, para quem as tiver, as batatinhas novas pequenas.

E não se esqueçam de uma boa salada de agriões e cebola, sempre agradável.

A maior complicação - se assarmos as batatas em tabuleiro separado -  é que teremos de ir trocando os tabuleiros de posicionamento no forno para que acabem batatas e cabrito assados ao memso tempo.

Em alternativa podem sempre  fazer batatas fritas...Mas não é a mesma coisa.

Dependendo se gostam do Cabrito mais ou menos bem assado (há gostos para tudo) pode este demorar a assar de hora e meia a duas horas.

E pronto, nada mais fácil.

Ah, já me esquecia, para que isto resulte mesmo bem, o melhor é termos comprado um Cabrito daqueles que andam aos pulos em local onde os vemos todos os dias... Isso é que pode ser mais difícil lá para Lisboa.

E a "outra" Seia?

Um Leitor comenta a estranha colagem do Blogger aos tachos e panelas:

O seu fervor culinário, peço desculpa, ou não só isso, também a informação local, retiram-lhe alguns complementos do que é hoje Seia.



Algum dia visitou o CISE, o Museu do Brinquedo, estão aí pertinho de si, visite e vai ver que são encantadores.

Comentário ao Comentário: Tem toda a razão... Para um próximo recenseamento lá iremos. Não posso é almoçar fora de casa sob pena da minha "santa" me encher os ouvidos.

sábado, abril 03, 2010

Crónicas da Serra

Na Sexta Feira Santa ninguém anda pelos campos nem se visitam os Amigos. São tradições antigas que ficaram nos hábitos das gentes , mesmo depois do fervor religioso não ser já o que era.

É curioso que assim seja… As missas dominicais cada vez trazem menos gente, os homens e as mulheres só se aproximam do Sagrado por alturas do casamento, baptizado dos filhos ou mortes… Todavia estes antigos costumes de contenção e frugalidade, quer na mesa quer nos actos, ainda se mantêm.

Claro que não estamos já na altura em só se saía de casa neste dia havendo necessidade imperiosa. Mas mesmo assim os velhos hábitos custam a perder.

Os Amigos só esperam pela passagem da meia noite desta Sexta Feira Maior para cá virem a casa cumprimentar os recém-chegados, trocar novidades e…provar o Branco e o Tinto da vindima de 2009, ainda em depósito, mas já possibilitando ir bebendo umas cântaras dele.

Recordo-me que esta ida ao depósito um pouco temporâ não era passsatempo muito do agrado do meu Sogro, com medo que o “seu” vinho apanhasse ar e se estragasse com tanta mexida…

Mas os herdeiros actuais estão-se nas tintas para isso.

Do ponto de vista mais técnico, também estou de acordo com eles. O vinho prova-se pela espicha, pequena torneira na base dos depósitos, sendo negligenciável a quantidade de ar que entraria para dentro por essa pequena abertura.

Mas ainda há quem discorde…

Se o Tinto de 2009 está um Vinhão (como seria de esperar depois da análise ) havia que testar o Branco, feito de Malvasia, Encruzado e Borrada das Moscas, que me parece ser o nome que aqui dão à Bical.

Faz-lhe ainda falta um pouco mais de tempo no depósito, mas está já limpído, de sabor levemente ácido, limonado. E , nesta altura do ano em que na Adega estão 7º, nem precisa de frigorífico!

Esta “excursão” Pascal aos depósitos, na altura em que o meu sogro estava vivo e de boa saúde, há cerca de 15 anos atrás, tinha foros de aventura quase épica.
Tínhamos todos um certo respeito pelo Homem, que embora pequeno de estatura tinha um feitiozinho de alto lá com ele…

 Costumava dizer: “- Quando tiver o vinho em condições de ser engarrafado tomem até banho nele que é para o lado em que durmo melhor! Mas assim à espicha Não! “

Sem o querer desfeitear havia que, mesmo assim, tratar de dar o eterno descanso a umas 6 garrafitas ( 3 de tinto e outras tantas de branco era o mínimo, para 4 amigos e mais o presunto, queijo e broa do Sabugueiro).
O problema é que a “fera” já sabia ao que íamos e punha logo à disposição dos malfeitores 2 garrafões do vinho do ano passado, fechando a porta da adega do vinho novo à chave.

A questão tinha de ser tratada com diplomacia e utilizando o velho aforismo: “ Daquilo que não souberes, nunca te podes vir a queixar”.
Ou seja, em linguagem mais chã e popular, havia que planear um roubo. Na linguagem do meu cunhado, nem tanto um roubo, mas sim “uma distribuição dos despojos pelos herdeiros, antes da abertura do testamento”.

Antes de chegarmos à Beira Alta já a conspiração estava em rumo.

Munido da chave original o “herdeiro” que vivia lá em casa tinha já ido a Gouveia mandar fazer um duplicado, pois em Seia era o “velho” muito conhecido e ainda podia haver falatório às quartas feiras, quando fosse à Cooperativa Agríciola e à Caixa (Geral dos Depósitos)...

Pela noite de Sexta-feira Santa abriamos a Adega, cometíamos o delito e escondíamos as garrafitas.

No Sábado de Aleluia, pela tardinha, chegavam os amigos. Improvisavámos uma cesta de piquenique, com tudo a que tínhamos direito no capítulo dos “secos”, e, depois de retirados os “molhados” do seu esconderijo , íamos todos juntos para um local retirado e sossegado, onde pudéssemos repousar até que as legítimas mulheres (por mor da tirania inescapável dos telemóveis, a pior patifaria que se inventou para pôr em perigo estas “escapadelas” e que davam nessa altura os primeiros passos) fossem à nossa procura com cara de caso, lá pelas 21.30h, mais coisa, menos coisa.

Este era o Plano.

Problema maior da sua concretização era o facto (bem conhecido) do meu sogro adorar estas pândegas e estar sempre à espera de ser convidado para o “entreacto”. Mas, como não conduzia, tinha de ser mesmo convidado para ir connosco. Não o convidávamos e pronto!

Ao princípio amuava. Mas ao fim de dois anos ou três com as mesmas exéquias , todos aqueles Sábados antes da Páscoa, começou a desconfiar…

Num certo ano deixou-nos “bazar” à vontade, mas de combinação com o compadre taxista (por acaso também dono da pequena venda que era o único Posto de Correio da aldeia) encetou de imediato uma perseguição digna do “Need for Speed”…

Ao chegarmos à arrecadação (tipo “palheiro”) onde costumávamos cometer o delito (numa outra quinta do “enganado”, a cerca de 5 km de nossa casa) mal sonhávamos que o duo do reumático vinha na nossa peugada, puxando ao máximo os 75 HP do tísico Peujeot 404 a diesel , único carro “ de praça” da aldeia.

“-Há lugar para mais dois, meus Senhores?”

Isto perguntaram, esgrimindo um Queijo da Serra com uns 2 kg, passaporte considerado suficiente para permitir a entrada na paródia.

O silêncio sepulcral que se seguiu foi tomado por aquiescência. Entraram e sentaram-se.

“-Belo Vinho! De quem é?” Perguntava o “impetrante” meu sogro, ao beber do seu próprio néctar, sem saber…

“-Foi aqui o Jorge que o trouxe, é do Pai dele” Respondeu o meu cunhado, com a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

“-Pois, vê-se logo que foste à espicha do vinho do teu Pai, Jorge! Este é vinho novo e do bom! Mas não se deve tirar o vinho dessa maneira! Estraga o resto que fica no depósito!”

E o meu Sogro, num lampejo de lucidez repentino, acrescentou:

“-Mas o teu Pai não é advogado em Seia? Também faz vinho?”

O amigo Jorge teve uma das melhores tiradas da sua vida de estudante em Coimbra (sendo a palavra “estudante” algo exagerada para descrever aquilo que , de facto, o ocupava na “lusa Atenas”) :

“ – Oh Senhor Horácio, foi um Cliente que lhe deu o Depósito em paga de uma causa que ele ganhou.”

“- Olha, vou falar com o teu Pai. É capaz de ser muito vinho para a vossa casa. Se ele não quiser ficar com o depósito todo, eu compro-o. Belo Vinho!”

O frio que se fazia sentir no “Palheiro” desceu para aí uns 10 grauzitos, no mínimo. Valeu-nos, mais uma vez, o “estudante” de Coimbra:

“- Deixe-se disso Sr Horácio que 5 litros por dia não lhe chegam!”

“-Tá boa! Homessa! Quem diria Hein?? Um Homem de Leis...”

E lá saímos da aventura chamuscados mas não queimados… mas parece que quer o Taxista quer o meu Sogro nunca mais utilizaram os préstimos do Pai do Jorge nas suas muitas demandas, típicas daqueles tempos sem testamentos, de heranças mal enjorcadas e de primos e irmãos desavindos, que davam o sustento a tanto advogado serrano…

O Pai do Jorge (de quem não me recordo o nome) é que nunca percebeu o porquê da desfeita… e quem sabia também nunca lhe disse.

Et pour cause…