terça-feira, maio 24, 2016

O preço das coisas



Já pouco me espanta. Mas algumas situações do dia-a-dia ainda provocam algum sobressalto.

O que me parece ser sinal que as sinapses ainda estão a funcionar. Nas minhas tarefas de "dono de casa", que cumpro com muita honra e gosto pessoal, dou por mim várias vezes a questionar o preço das coisas que vejo e depois adquiro.

Um exemplo para o lado positivo é o assombroso preço a que se podem comprar hoje vinhos de qualidade. A menos de 5 euros por garrafa  podemos beber muito bem (sem vírgula entre os dois adjectivos).
Nos brancos e sem preocupações de ser enciclopedista, temos: Adega de Pegões colheita seleccionada, Quinta de Pancas e Ana Vieira Pinto Regional Alentejano 2014.
E nos tintos: Cerqueiral Vinhão (Arcos de Valdevez), Porca de Murça Colheita, e Vinhas Boas Dão 2009 (Cancela de Abreu).

Outro exemplo mas desta vez para o lado negativo é o preço do kg do peixe de captura: Cherne a 28€, Pargo a 25€, Dourada a 23€, Robalo a 23€, Garoupa a 18€, Sargo a 15€.

Pescada grande, daquelas de 3kg? Está pelo preço do ouro e da  prata...

Quem queira trazer para casa peixe de mar para cozer e para 4 pessoas vai refugiar-se na corvina por uns 14€ o kg.  Terá de comprar um peixe com 2 kg. Fica cada posta (incluindo a cabeça) por 7€... são postas grandes. Mas mesmo assim...

O que nos deixa na obrigação de começarmos a "pesar" a questão da aquicultura.

Para quem, como eu, foi habituado a ver chegar à praia dos pescadores as traineiras com o pescado da noite , esta história de "peixe de estufa" custa-me a encarar.

Mas há quem jure e trejure que a má fama vem das antigas explorações intensivas, feitas sem método e sem supervisão, abusando dos antibióticos ilegais e quase não deixando o peixe mexer-se.

E que hoje, pelo contrário,  as modernas operações de aquicultura permitem que os peixes nadem e que a sua alimentação seja mais condigna com os preceitos de higiene e de sabor.

Faço minhas as palavras deste especialista (Manuel Meireles; Delegado Regional da DRAPLVT): A nossa aquicultura está instalada em locais abrigados, principalmente nos estuários e por essa razão sujeitas a limitações especiais: os produtores estão impedidos de os criar de forma intensiva, o que é bom para o ambiente e bom para a qualidade do pescado. Os peixes da aquicultura que consumimos são importados e produzidos de forma massiva. Serão mais baratos, mas têm o mesmo sabor?

Ou seja, até na aquicultura há que defender o que é nosso!

segunda-feira, maio 23, 2016

Tempo de Bruxas e de resumo da matéria dada



"A chover e a fazer sol, estão as bruxas no paiol, a cozer o pãozinho mole"

Este Maio vai assim estranho. Sexta de inferno, depois da chuva fora de época. Melhoria do tempo e subida das temperaturas  para ir outra vez chover já na 4ª feira, (Instituto do Mar e da Atmosfera  dixit).

Também foi uma época agourada para os meus amigos adeptos do FCP (felizmente tenho muitos). Futebóis à parte vai aqui um abraço para todos e a menção que a vida é como os alcatruzes da nora, uma vezes para para cima e outras para baixo.

Honra ao Braga que jogando sempre na melhor tradição do "catenaccio" milanês acabou por ser feliz.

O SCP esteve bem, lutou até ao final, talvez um pouco "palavroso de mais", mas a culpa não é dos jogadores nem dos adeptos.

E o meu Estoril-Praia por uma unha negra não foi este ano à Europa, por causa de uns desastres nas duas últimas jornadas, com auto-golos e coisas parecidas.

O "Glorioso" SLB sai em ombros pela porta grande. Mas depois da "sangria" dos seus melhores jogadores já ninguém aposta como será a próxima época. O dinheiro pesa...

Começa agora o Campeonato da Europa, para dar distracção ao povo, que bem precisa. A praia não está convidativa e o subsídio de férias já não é o que era...

Nesta zona de veraneio onde moro,  as esplanadas, bares e restaurantes preparam a grande faina da época alta, de Junho a Setembro. Que tenham sorte! Bons clientes que não acompanhem a refeição com água é o que lhes desejo.

Agosto é o mês de pagar o IRS... Até me doem as costas a pensar nisso.

E com esta me vou, que hoje há Médicos e Hospitais para visitar. Outra vez...

Uma dor nunca vem só.

quinta-feira, maio 19, 2016

A caminho de Viseu



Lá vou andando, para as comemorações dos 500 anos da Misericórdia de Viseu.

Ir e vir rapidamente, Por causa da "santa". Agora que está melhor pensa que é a Naide Gomes ou a Rosa Mota e já lhe foge outra vez o pé para a brincadeira...

Se não andamos de olho nela basa imediatamente porta fora para ir ter com as amigas. Um perigo!

Almoço num local novo - O cantinho do Tito - e depois digo como foi.

terça-feira, maio 17, 2016

Sovinas e outros Invejosos



Acordei a pensar num amigo infelizmente já falecido e com o qual "contracenei" vários anos nas minhas funções. Ele, e mais alguns de que não darei nomes (obviamente), eram peritos na nobre arte de passar por entre os pingos da chuva no acto do pagamento.

Provavelmente a "câmara lenta" teria sido inventada quando alguém reparou no tempo que cada um destes senhores ( e senhoras) levava a tirar a carteira do bolso do casaco ou da mala.

Estes profissionais da poupança tinham esquemas admiráveis. Um dos que presenciei consistia em , chegados ao restaurante, pedirem um vinho dos caros que não havia na carta.  Perante o lamento do funcionário que os atendia a resposta era rápida:
"- Era isto que me estava a apetecer...Se não há,  olhe, dê-me uma imperial. Mas sff traga-me só o copo quando chegar o prato de comida à mesa! Não aprecio beber sem acompanhamento!".

Era uma espécie de  gente que telefonava para quem os convidava para um acontecimento público, como um concerto, e dizia com uma "lata" grandiosa:
-"Boa tarde! Venho confirmar a minha presença no concerto. Tenho um pequeno problema que decerto me vai resolver. Em minha casa jantam hoje comigo dois amigos. Sff mande-me bilhetes também para eles."

Quando começámos a fazer apresentações públicas dos nossos livros existia uma lista de individualidades a quem dávamos os livros porque tinham colaborado com a edição, oferecido imagens, etc...

Os tais "muletas negras" das borlas pareciam os abutres do Lucky Luke à espera do cadáver.
Logo que percebiam que havia livros oferecidos e outros vendidos não hesitavam.  Dirigiam-se à "banca" e apresentavam-se, Depois continuavam a conversa dizendo que tinham colaborado activamente na divulgação do livro. Se não fossem eles nem fulano nem sicrano teriam tido conhecimento do assunto. E acabavam exigindo um exemplar.

A frase mais utilizada por tais criaturas é sempre: -"Hoje paga você. Mas para a próxima sou eu! Está combinado!"

A "próxima vez" calhava sempre a 30 de Fevereiro...

Uma vez fizemos a folha a um destes sovinas. Tratava-se de uma daquelas reuniões com centenas de colegas, num hotel da zona centro onde dormíamos de seguida.

Perante a conhecida mania do "encostanço às notas dos outros" de um colega, achámos que estava na altura de lhe dar uma lição de boas maneiras. Conseguimos saber o número do quarto dele e a partir daí todas as bebidas consumidas por nós  no bar iam para aquele quarto!

Na altura da saída - e estamos a falar da época dos "contos", onde um whisky à noite depois da reunião de trabalho não parecia nada mal, e custava uns 200 escudos - o "homem" chegou-se ao balcão e pediram-lhe 17 contos de consumo de bar!

Os uivos ouviram-se no hotel todo...Bem feito!

A inveja , tal como a sovinice, também é uma coisa feia...

Eu tinha por norma basar sempre na altura dos jantares dessas reuniões magnas de trabalho com centenas de participantes.  Ia comer onde bem me apetecia, escolhendo os melhores restaurantes da zona onde era a reunião.

O Presidente dos CTT na altura - que gostava de comer bem e de beber ainda melhor, tal como eu - ficava furioso quando percebia que o "Je" já ia a caminho do leitãozinho do Mugasa, com um ou dois colegas, deixando para trás a reles carne assada da comunidade...

Então (invejoso do caraças!) colocou as minhas colegas das Relações Públicas à espreita do (s) impetrante (s) que se baldavam ao jantar comunitário. Estava eu a sair do estacionamento do hotel e lá vinham a correr as colegas:
-"Oh Doutor! Olhe que o Dr. Pilar já anda a perguntar por si! Tem de se sentar à mesa dele!"

E lá ia eu, porque o respeitinho era de mote com uma "criatura" daquelas...

Logo que me via o Presidente mandava logo a bojarda:
- " Queria comer bem não? E Beber melhor? Pois eu também! Sente-se aqui e aguente porque eu faço o mesmo! Era o que faltava! Você no bem bom e eu aqui a comer m***!

Bons tempos malta!

sexta-feira, maio 13, 2016

Para Descansar a Vista



Lá continuo com as férias "atípicas"... Ontem fui a Lisboa para a reunião da Comissão de Honra da AHRESP e ficou o "senhorio" a tomar conta do forte. Do forte não! Da castelã... Que vai bem melhor das dificuldades físicas. O problema é a cabecita. Não será a única...
Hoje dou um salto aos serviços de manhã e regresso logo a seguir.

No Domingo haverá a mudança de nome do velho aeroporto da Portela para aeroporto "General Humberto Delgado" e lá estarei com a "caixa" dos carimbos de prata.
Será também a 1ª "carimbadela do atual 1º ministro. O Prof. Marcelo já manipulou a "ferramenta" na Gulbenkian, para os "75 anos da Liga Portuguesa Contra o Cancro".

Sai então o habitual poema das sextas feiras, hoje dedicado ao Verão. O qual deve estar como a minha "santa", Esquecidinho de todo!

Aqui vai Fernando Pessoa, no seu disfarce de Alberto Caeiro:

No entardecer dos dias de Verão, às vezes, 
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece 
Que passa, um momento, uma leve brisa... 
Mas as árvores permanecem imóveis 
Em todas as folhas das suas folhas 
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão, 
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria... 
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem! 
Fôssemos nós como devíamos ser 
E não haveria em nós necessidade de ilusão ... 
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida 
E nem repararmos para que há sentidos ... 
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo 
Porque a imperfeição é uma cousa, 
E haver gente que erra é original, 
E haver gente doente torna o Mundo engraçado. 
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos, 
E deve haver muita cousa 
Para termos muito que ver e ouvir ... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI" 


quarta-feira, maio 11, 2016

O saber de experiência feito: recuperando o Velho do Restelo?



Embora todos saibam que a frase do titulo é dos Lusíadas, talvez nem todos se lembrem quem é o personagem que a diz. É o "Velho do Restelo", no canto IV, oitava 94:

Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito


Habituámo-nos a dar valor à frase, mas sabendo que quem a disse foi o "Velho do Restelo", a quem toda a vida considerámos retrógrado e defensor do passado,  um inimigo do progresso, como ficamos?

Há quem julgue que este "Velho" tem de ser reabilitado. Eu próprio, não sei se por estar já a entrar nos "60's" , sou daqueles que - em parte - compartilham essa opinião. 

Se nos lembrarmos bem da saga dos Descobrimentos veremos que começou bem (mais ou menos) mas acabou mal:

"O Velho do Restelo representa a voz da razão num momento de euforia e deslumbramento, a voz da experiência perante a irreverência. Em certa parte, os seus conselhos acabaram por se revelar proféticos, pois a prosperidade das Descobertas cedo se revelou fugaz, seguindo-se a decadência económica e territorial, que acabou na perda da independência".

Se ponderássemos tudo o que se deveria fazer com a tal "voz da razão" não tínhamos ido à Lua? Se calhar não... Mas porventura também não teríamos tido as grandes guerras e outras grandes tormentas. Neste balancear entre a "razão" e a "aventura da emoção"  pesamos o progresso da civilização.

Segundo Popper, "no âmbito da investigação científica, o pensamento crítico sempre procede de modo contra-indutivo; isto é, gerando novas teorias aparentemente sem bases ortodoxas que possam testar-se experimentalmente e derrubar as antigas".

Para que essas novas teorias sejam geradas é fundamental existir imaginação criadora.  E por causa disso é que continuo a discordar do "Velho do Restelo". Quem pensa dentro da caixa e avança seguro pelas estrada de alcatrão raramente encontra os novos caminhos.

Alguns desses novos caminhos foram dar a Hiroshima, é verdade. Mas também abriram portas para que a  esperança de vida à nascença em Portugal seja hoje de 80 anos...

Peixe ou carne? Ao invés de gritarmos "muito",  como fazia o esfomeado da anedota, manda a atual conjuntura que se diga "ambos, na proporção adequada".

E aqui é que a porca (com vossa licença) torce o rabo. Somos uma raça de extremos.

terça-feira, maio 10, 2016

Férias em Maio



Ouvi dizer que o caos no trânsito de Lisboa, provocado pela epidemia das obras autárquicas, terá levado alguns "clientes" habituais a meterem férias mais cedo.

De pouco lhes vale. Aparentemente a situação em que nos meteram - sobretudo no chamado "eixo central" do Marquês até ao Campo Grande - vai durar até 2017.

O meu caso não foi esse. Por causa das férias de quem nos apoia em casa com a minha mãe fui também obrigado a "feriar" nesta altura.  Das obras actuais fujo pela 2ª circular. Quando esta se alinhar com as restantes irmãs rodoviárias e começar a abrir os inevitáveis buracos, chegarei ao Parque das Nações pela CREL.

O tempo está óptimo,  como se vê . Óptimo para o agrião da ribeira, que até se pode vir a colher junto das bermas dos passeios, se a chuva continuar.

Que isso não atemorize o feriante! (Não confundir com o "feirante"!). Em casa, de volta dos livros e de algumas boas séries, com o frigorífico apetrechado e a adega provida, estaremos prontos a fazer face a estas contrariedades.

"Penny Dreadful" recomeçou ontem. "Game of  Thrones" está por aí. "House of Cards" continua soberba!  Infelizmente ontem comprei o novo StarWars , corri para casa para o pôr a rodar no B-Ray e foi uma decepção... Nem sempre se pode ganhar.

Recomendo o livro "Paraíso" de Tatiana Salem Levy, uma brasileira que escreve lindamente sobre o seu passado colorido que baste, com maldições à mistura e fantasmas de permeio. Editado pela Tinta da China.
Para quem gosta de rumos alternativos temos já à venda "ReinosDesaparecidos", uma “história alternativa” da Europa da autoria do historiador Norman Davis (Edições 70). 
E nos CTT está mesmomesmo a sair: "Jesuítas, Construtores da Globalização", uma obra notável de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais. Bem na mouche agora que  temos finalmente um papa daquela persuasão.

Quanto a comidas vou-me entretendo em casa. Ontem com uma tortilha de pimentos italianos (doces), hoje com um cozido magro, aproveitando o que posso desta invernia fora de época. Para Domingo  vou assar um galo lá da quinta.  A ideia é  dar algum balanço até às 5 da tarde, quando todos os jogos deste Campeonato memorável da 1ª Liga começarem ao mesmo tempo.

Depois falaremos... Mas nem sonhem que me apanham no Marquês! Sou republicano!

segunda-feira, maio 09, 2016

Os Prémios da AHRESP 2016



Tenho a honra de, pela segunda vez, fazer parte da Comissão de Honra que vai escolher os "Grandes Prémios" da AHRESP de 2016, dedicados às personalidades consideradas mais marcantes da vida gastronómica nacional.

A votação para eleição do vencedor em cada categoria é feita exclusivamente online, no website www.premiosahresp.pt, com exceção dos prémios “Portugueses Lá Fora”, “Personalidade do Ano”, “Prémio Carreira” e “Prémio Excelência”, que serão eleitos exclusivamente pela Comissão de Honra.

No ano passado tivemos a oportunidade de distinguir José Quitério como "Prémio Carreira" e o Sr. Comendador Manuel Nabeiro como "Prémio Excelência". A "Personalidade do Ano" foi o CEO da Sana Hotéis. E o que considerámos o "Melhor Português Lá Fora foi o "Ferreira Café"  de Carlos Ferreira (O famoso café e restaurante português de Montreal).

Nos prémios técnicos destacaram-se:

Conceito / Marca
Time Out Mercado da Ribeira

Contributo para Defesa da Gastronomia como Património Nacional
Portugal APTECE

Produto ou Serviço do Ano / Parceiro do Ano
TOMI “The city’s best friend”

Programa de Divulgação de Oferta Turística
SIC – Portugal em Festa

Projecto de Solidariedade
Cozinha com Alma

Jovem Empresário / Empreendedor do Ano
Choco Real – Tiago Henriques

Entidade Regional de Turismo
Turismo do Alentejo e do Ribatejo

Sustentabilidade Ambiental
Corinthia Hotel Lisbon – Energy Efficient Hotel Project

Vamos ver o que se vai tirar do chapéu na sessão deste ano 
(aprazada para 12 de Maio).
 Uma coisa é certa: Naquele fórum tudo se discute, 
tudo se analisa mas nada sai cá para fora. 
A não ser a listinha dos Prémios. 
E esta, no final dos trabalhos é sempre 
aprovada por unanimidade. 
Nem que demore o dia todo! (o que nunca acontece).
E é assim que deve ser.

sexta-feira, maio 06, 2016

Para Descansar a Vista, com Barca Velha de 64...

Tivemos o privilégio de receber outra vez em Portugal o Sr. Ralf Weinman, o profundo conhecedor de vinhos que é provador e gestor das adegas das mais altas personalidades, da Suiça até à China..

Desta vez o encontro foi no Beira Mar, em redor de umas "bruxas" da nossa costa e de uma cabeça de garoupa estalada no forno.  Provaram-se grandes vinhos da época moderna, sem dúvida. O "Pellada" de 2010 foi bastante elogiado, por exemplo.

Mas aquele que ficou no palato e mereceu mais elogios ao Sr. Weinman foi o Barca Velha de 1964.

Foi decantado e , por "ordem" do Ralf, bebido quase imediatamente, para não perder no ambiente os preciosos aromas.

No início apareceram os aromas terciários, como o couro, mas o vinho demonstrava desde logo que  apesar da provecta idade  certamente não estava morto. 
Apresentou nas papilas gustativas sinais de fruta, a lembrar os primeiros tempos onde todo ele devia ser exuberância,  Ginjas e morangos maduros apareciam quase por magia. Um grande senhor dos vinhos que mostrou saber envelhecer com extrema elegância.

Um portento ainda, apesar dos mais de 50 anos de vida! Um daqueles vinhos que nos faz lamentar não ter sido ainda inventada a máquina de filmar ou de fotografar sensações, tal a impressão que nos causou a todos.

Ficará na memória sensorial, bem sei, mas por quanto tempo?

Em louvor desse momento intemporal e em homenagem ao Douro,  aqui deixo um grande poema de Eugénio de Andrade, um libelo "contra a poluição e o nuclear" que afligem cada vez mais a nossa terra, de nós todos. Que tais flagelos nunca cheguem ao Douro nem  às nossas vinhas!!

(…) A poesia de Eugénio de Andrade sabe-(nos) à vitória , passo a passo, da plenitude e da esperança. Vitória conseguida de modo conscientemente precário sobre todo o negativo, mas conseguida (…)” –  As palavras são do grande mestre Óscar Lopes, um dos seus maiores estudiosos.

Para o meu Filho

Vais crescendo, meu filho, com a difícil
luz do mundo.  
Não foi um paraíso,

que não é medida humana, o que para ti
sonhei. 


Só quis que a terra fosse limpa,
nela pudesses respirar desperto
e aprender que todo homem, todo,
tem direito a sê-lo inteiramente
até ao fim. 


Terra de sol maduro,
redonda terra de cavalos e maçãs,
terra generosa, agora atormentada
no próprio coração; terra onde teu pai
e tua mãe amaram para que fosses
o pulsar da vida, tornada inferno
vivo onde nos vão encurralando
o medo, a ambição, a estupidez.


Se não for demência apenas a razão;
terra inocente, terra atraiçoada,
em que nem sequer é já possível
pousar num rio os olhos de alegria,
e partilhar o pão, ou a palavra;
terra onde o ódio é tanto e tão vil...


Besta fardada é tudo o que nos resta;
abutres e chacais que do saber fizeram
comércio tão contrário à natureza
que só crimes e crimes e crimes pariam.


Que faremos nós, filho, para que a vida
seja mais que a cegueira e cobardia?


Eugénio de Andrade


terça-feira, maio 03, 2016

O Rescaldo

E lá se passou a XXII LUBRAPEX, a Lubrapex dos 50 anos, dedicada à divulgação da filatelia de expressão portuguesa.

Este o motivo de tão grande ausência destes posts aqui no Blog.  Fui compensando com "vistas" no facebook.

À laia de rescaldo aqui ficam as impressões: 1200 faces de quadros com grandes coleções, significativa presença de público, stands de vendas com colegas do Brasil, Guiné-Bissau e Macau. Realizado o Congresso da Federação Europeia de Filatelia.

Do ponto de vista institucional correu muito bem. Impecável o acompanhamento da autarquia de Viana do Castelo, com o Sr. Presidente sempre presente nos actos oficiais.

Do ponto de vista gastronómico acho que podemos dizer que foi a "Lubrapex do bacalhau"...

Não havia jantar ou almoço de referência que não metesse o "fiel amigo"...

Por mim não fazia mal, mas admito que houve outros a quem a presença do nobre gaudídeo nos pratos já dava um certo enjoo...

No último jantar (o do Palmarés, onde foram entregue os prémios) na minha mesa os alemães já mal lhe tocaram.

Como pontos mais altos desta vertente mais plebeia que tem a ver com a comidinha, relevo a visita ao Arcoense, na vizinha cidade de Braga.  E mesmo em Viana penso que o jantar no tradicional "Laranjeira" não correu mal. Apesar ( ou por causa) do prato de bacalhau. Outra vez...

Próxima LUBRAPEX será no Rio de Janeiro, em 2019.