sexta-feira, julho 29, 2016

O Sr. Barroso no seu melhor



No destacado restaurante "Arcoense" de Braga há algum tempo que não tínhamos notícia do Sr. Barroso, proprietário, mas mais do que isso, autêntica alma forte do empreendimento.

Cozinheiro, comprador das matérias primas, cultivador da fruta e legumes ali servidos, criador dos porcos bísaros que ali também se apresentam, amigo dos clientes, e tudo o mais que lhe quiserem acrescentar em virtudes que tenham a ver com a excelência do serviço e da comidinha que se saboreia.

Questionámos as filhas (o Arcoense tem como empregados as duas filhas e acho que também os genros) que nos disseram que o Pai já só vinha aos fins de semana. Estava na quinta a descansar.

Desconfiados de algum problema de saúde lamentámos "para dentro", mas não foi por isso que deixámos de frequentar a casa. Agora é com satisfação redobrada que em duas visitas seguidas ( e não ao fim de semana) lá encontrámos de novo a jovialidade do Sr. Barroso!

Não há como ele para entender o que o cliente deseja, para lhe indicar a melhor opção daquele dia e para o ajudar na escolha final.

Sabedor da minha inclinação para cabeças de pescada logo que me viu entrar disse logo:
-" Tenho ali uma menina de Vigo com 8 quilinhos! A cabeça é para si! Aguenta-se?"
- " Oh Sr. Barroso, eu sou de Cascais! Se não me aguentasse com isso tinha que mudar de terra..."

Demorei quase duas horas e meia, mas só deixei o esqueleto.

Depois no fim ainda teve a lata de nos desafiar:
- "Amanhã ainda estão por cá? Tenho lá na quinta um lombo de bísaro mesmo bom para assarmos..."

Mas já não havia nem tempo, nem estômago... Ficará para a próxima vez!

Uma cabeçona daquele tamanho, com mais um linguado ovado de 1 kg (para o senhorio) , mais as entradas da praxe onde se incluiu "dobradinha", "sardinhas fritas" , pataniscas de bacalhau" e  "prato de enchidos de bísaro" , com um monumental melão apimentado e duas jarras de vinho branco da casa. Um épico almoço por 50 euros por cabeça.

Grande Sr. Barroso!  Muitos anos de boa vida!

terça-feira, julho 26, 2016

Volta a Portugal



Não gosto muito de ciclismos... Aprendi a andar de bicicleta e até me aventurei por trilhos mais ou menos campestres na minha adolescência, mas o certo é que rapidamente larguei a bicla e  me cheguei aos outros desportos de que gostava mais. E como no sítio onde morava e moro este meio de transporte não era prioritário (levo 8 minutos a pé para chegar à estação da CP), mais uma razão para não ter adoptado as duas rodas de tração animal.

Por isso vejo com algum distanciamento os "Jaquins Agostinhos" de Verão. Devo contudo dizer que reconheço os benefícios deste desporto, para a saúde e para a estética,  sendo sem dúvida por isso que esta moda pegou em todas as épocas do ano. Tenho até um amigo que é profissional de artes gráficas e não deixa de ser um exímio praticante de trial  - penso que será assim que se chama, mete bicicletas e longos percursos.

Desta forma a Volta a Portugal a que me refiro é a minha. Parto hoje para Braga e depois dou uma saltada a Viana.  Vou reunir para falar de selos e de livro sobre os notáveis Arcebispos de Braga. E gostaria de meter o nariz na Feira do Livro de Viana, onde temos um stand.

Posts vão estar de molho (tomara eu também) até sexta feira. Mas farei uns apontamentos sobre os secos e molhados dos locais onde parar.

quinta-feira, julho 21, 2016

Para Descansar a Vista



Neste final de semana faço uma "infiltração" na coluna. Mas das modernas, acho que se chama nucleólise de ozono , técnica não invasiva ( e de rápida recuperação) para minorar as consequências da inflamação no nervo ciático.

A qual já me incomodou mais, mas quando dá sinal de despertar não é flor que se cheire...E com uma horas de pé "a ver os aviões" com o PR piorou.

Como ainda por cima tenho para a semana trabalho em Braga e Viana do Castelo, com muitos km para fazer de carro, mais vale prevenir.

De todas as formas fico na sexta feira "esticado". Pelo que  vai já hoje o poema das sextas antecipado.

Do grande mestre Herberto Hélder aqui ficam variações sobre um poema:

Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne. 

Herberto Hélder


quarta-feira, julho 20, 2016

Tintos de Verão?

Um conhecido escanção francês,  quando questionado sobre os melhores vinhos tintos para beber no Verão, a temperaturas ambiente perto dos 30 graus ( e mais) respondeu de forma clara:

-"Qualquer um dos grandes vinhos . O verdadeiro conhecedor bebe  em ambientes refrigerados com ar condicionado".

Pondo de lado o imperialismo da resposta - Oh miserável, vai mas é comprar à Sanyo o Ar Condicionado antes de fazeres a garrafeira no T2 onde pernoitas! - devemos saber que existem vinhos tintos  mais indicados para o Inverno e outros para o Verão.

Mesmo que  a temperatura de serviço seja a mesma em qualquer mês do ano, o certo é que os 17º da garrafa em Agosto e os mesmos 17º em Novembro nos "parecem" bem diferentes.

Direi que não só nos parecem, como também nos sabem a diferente. Para já não dizer que, em plena canícula agostiniana, muito rapidamente os 17º do vinho na  garrafita chegam aos 25º nos copos, se não bebermos depressa...

Variáveis como a idade, estrutura, casta, acidez e até a cor do vinho, podem pesar na balança da decisão sobre o que será um tinto mais adequado para as temperaturas elevadas.

De facto, são os taninos, corpo, acidez e grau álcool que normalmente vêm de mãos dadas com potencial de envelhecimento e fazem a base do que se convencionou chamar "Grandes Vinhos".

Mas nem só dos Petrus, Cheval Blanc e Barcas Velhas vive o enófilo.  E há vinhos tintos muito bons para todas as ocasiões, mesmo que seja em pleno Verão.

À beira da praia, perante um almoço de peixe grelhado, penso que apenas um empedernido apoiante do velho ditado "vinho é tintobranco é refresco"  continuaria a refugiar-se no tinto.

Mas admitindo que a noite já caiu e que estamos perante a hipótese de um jantar elaborado, onde a ementa, embora mais aligeirada, tem pratos de carne, porque não apostar num tinto jovem e mais leve?

Os antigos lavradores diziam que,  no Dão,  o branco era para o Inverno e o tinto para o Verão.  Há alguma verdade nisto, sobretudo se tivermos na mesa os brancos velhos de encruzado e os tintos mais novos de alfrocheiro ou de touriga.

Um destes tintos novos de grau álcool mais contido acompanha magnificamente pratos ditos "de verão" onde a carne predomina (ou não). Lembro-me por exemplo da família dos tártaros e carpaccios, não esquecendo os souflés e até alguns fricassés de aves.

E para não estar sempre a falar do Engº Álvaro de Castro aqui vai outra proposta: Vinha Paz (António Canto Moniz). Por cerca de 8 euros o Vinha Paz colheita de 2014 é uma proposta excelente para as noites de verão, se a comida ajudar. Tem 13º  e é um vinho macio com  fruta silvestre, fresco, pouco encorpado e elegante, com um final longo e persistente.

Claro que entre brancos e tintos aparecem os rosés... 

Algo vilipendiados pelo Macho Luso, acusados de serem "vinhos para damas". 

Todavia serão das propostas mais adequadas aos meses de muito calor e têm (os melhores) aptidões gastronómicas evidentes. Para além de serem daqueles que mais aguentam o inimigo número um do vinho: o vinagre . Do qual por vezes se abusa nos pratos mais veraneantes (escabeches frios e mayonaises vêm logo à memória).

Mas essa será uma história para discutirmos mais tarde.

terça-feira, julho 19, 2016

Espreitando pela fechadura

Estava um destes dias a almoçar no Pedro da Horta dos Brunos quando entram mais dois hoteleiros pela porta. O Sr. Evaristo com a Dona Graça (do Solar dos Presuntos) e ainda o Sr. Angelino Fernandes (Nora do Zé da Curva, em Guimarães) também acompanhado pela esposa. Este último tinha trazido dois melões de casca de carvalho bem maduros, daqueles que só se encontram no Minho. E que bons estavam!

Gosto muito de ver os oficiais do mesmo ofício a frequentarem os colegas.  É saudável e parece sempre bem. E se quisermos procurar desígnios mais "obscuros",  tem ainda a vantagem de assim se poder "espiar" a concorrência sem ter que espreitar pelo buraco da fechadura.

O que, obviamente e pelas pessoas referidas, nunca, (mas nunca mesmo !)  estaria em causa naquele dia do almoço citado.

O Pedro tinha recebido de Tondela  dois cabritos daqueles de comer e chorar por mais. E foi o que se comeu. Com um tinto argentino  assinado  Rui Reguinga, feito com  Malbec e Touriga Nacional. Um pouco estranho mas muito gastronómico.

Esta situação lembrou-me a velha Cascais da Rua das Flores (rua da lota) , lá para os anos 80 do século passado, onde os proprietários dos restaurantes se davam todos bem mas não desdenhavam espreitar pelo canto do olho o que se passava nas casas "do lado". Sobretudo quando o negócio ia mais fraco.

Nessas alturas era usual mandarem um empregado dos mais novos ir até à Rua Direita e voltar devagar, tomando mentalmente notas para depois fazer o relatório à chegada. Assim que os outros davam pelo "passeio" começavam logo a chamar coisas feias ao desgraçado. E a mandá-lo trabalhar ou, ainda pior, a "regressar à barraca"!

Nós clientes gozávamos como uns perdidos com estas cenas. Muitas vezes trazíamos as contas, que tínhamos pago numa casa , para a outra e tentávamos fazer negócio com as ditas cujas:
- Oh Sr. Américo (do Sagres)  troco esta conta do Beira Mar por um whisky velho! 
 - Ai não quer? Não faz mal que vou vendê-la ao Sr. Pinheiro! (Do Pimentão). 

Claro que era tudo na brincadeira. O meu amigo Manuel Moreira (infelizmente já desaparecido) fazia um cozido à portuguesa descomunal no Pipas, nas quartas feiras de Inverno. Eu era cliente, já se sabe.

Parece-me até que com o Luís Corte-Real e mais uns parceiros (onde o Paulinho Mendonça do Beira Mar às vezes se incluía) demos cabo do stock do Tinto de Borba rótulo de cortiça de 1964, uma pinga de cair para o lado... Quando vieram as últimas garrafas para a mesa o Manuel Moreira disse logo que aquelas não se vendiam. Era oferecidas.

 O sucesso espalhou-se. Começou a soar a história do "cozido das quartas feiras " e de como o grupo do "cozido" , que tinha começado com 4  mânfios por minha instigação, já ia em 9 ou 10.

Pelo que alguns dos colegas dos outros restaurantes pensaram logo na imitação. Quem se adiantou foi o Sr. Américo.

 E logo convidou o grupo numa quinta feira para o cozido dele. Lá fomos. Era também muito bom. Estávamos no tempo em que a  esposa ainda tomava conta da cozinha no Sagres, a Dª Maria da Luz. E ela sabia cozinhar magnificamente.

Ficámos assim com um problema. Onde ir? É que comer cozido às quartas e às quintas pode fazer-se por uns tempos, mas tende para o enjoo, como percebem.

Quem ganhou esta contenda foi o Borba de 1964. Ou seja, o Manuel Moreira do Pipas, que sempre tinha tido faro para abastecer a garrafeira quando lhe cheirava que o vinho poderia aguentar-se bem.

E lá nos íamos distraindo com estas exéquias. Bons tempos em que eram estas as preocupações. Brincar com os amigos entre garfadas e copos de muita qualidade.

sexta-feira, julho 15, 2016

Não há palavras



Há histórias que nos dão um punho no estômago logo pela madrugada, como foi a do atentado em Nice de ontem à noite.

Aqui sentados à sombra das palmeiras da nossa marginal já estávamos incomodados quando soubemos que  a marinha italiana retirara na quarta-feira mais 500 cadáveres do mar. Náufragos da fuga a caminho da Europa.

Homens , mulheres e crianças,  a quem prometeram o paraíso para depois  serem roubados e deixados à deriva por meliantes.  E digo apenas "incomodados" porque era "gente" longínqua, das Sírias e dos Iraques.  E talvez também porque são tantos estes náufragos mortos que a nossa sensibilidade já está a ficar embotada com a repetição destas notícias..

Mas quando morrem 80 pessoas em Nice, europeus como nós, porque um tresloucado usou um camião como arma de guerra, o incómodo passou de repente a ultraje, uma sensação de aviltamento que nos dá vontade de fazer qualquer coisa.

Pelo menos compreender a atitude do jovem português Mário Nunes, que desertou da FA para ir combater o Daesh de armas na mão, tendo morrido em combate.

Parece que a "táctica" do terrorismo estará agora a apostar na actuação do chamado "lone wolf" - o militante sozinho que se infiltra para depois fazer uma barbaridade daquelas, utilizando instrumentos de trabalho  em vez de armas sofisticadas ou explosivos.

São mais difíceis de detectar e causam tantos estragos, ou até mais do que o terrorista "convencional", o "bombista".

Quem se deve estar a rir por dentro com estes ataques são os partidos de extrema direita, cada vez mais a verem reforçadas as suas ideias xenófobas nos mais diversos extractos da sociedade.

E é isso que as Daesh's deste mundo pretendem.  A extrema direita no poder é terreno fértil para recrutamento de simpatizantes. Admiro-me como ainda há quem não perceba isto no ocidente e vá jogar direitinho  com as mesmas regras dos terroristas.

quarta-feira, julho 13, 2016

Não ouvir



Estou há alguns dias sem ouvir quase nada do lado direito. O meu colega dos Salesianos e agora  Otorrino em Cascais não me atende o telefone. Deve estar de férias.

Não me parece que tenha sido das emoções da grande final. Se fosse rouquidão talvez. E não atino com o motivo, embora o médico já várias vezes me tenha dito que tenho o canal auditivo muito apertado, perguntando-me se fazia surf...

Parece que é a água fria do mar que pode provocar estes "apertos" do canal. Mas Surf eu não fazia. E o mais que praticava  - no mar - era o tradicional e honrado desporto de boiar.

Agora, boiar dentro de água fria deve ser ainda pior que surfar,  dado que o surfista nem sempre está com  a orelha na água. Mas isso serão detalhes.

O mais importante é que deixei mesmo de ouvir daquele lado e passo a vida a pedir aos interlocutores que se coloquem à minha esquerda.

Muito me tenho lembrado  do Engº Emílio Rosa e dos seus problemas sociais devidos à surdez.

Uma vez estava o presidente da Federação Europeia de Filatelia do lado "mau" dele à mesa (era Emílio Rosa Presidente dos Correios) e não se conteve depois do jantar. Chamou-me de lado e disse-me que se tratava da pessoa mais mal educada com quem se tinha sentado a uma mesa! Nem lhe respondia!

Pudera...O Engenheiro não ouvia nada daquele ouvido. Nada mesmo! E tive que me rir ao mesmo tempo que explicava.

À volta cá te espero! E é bem certo.

Há coisas que não tenho pena de deixar de ouvir.  Mas o mundo não está feito de forma que as coisas boas venham da esquerda e as coisas más nos cheguem do lado direito. É pena mas é a vida...

Por isso abalo daqui a pouco para a CUF para que me façam uma ou duas mangueiradas de desentupimento.

segunda-feira, julho 11, 2016

Noite de Redenção



Nascemos para sofrer, como escreveu Jean-Jacques Rousseau. Que era francês...

Mas que bela noite cheia de peripécias que fazem empalidecer um filme de mestre do suspense.

Depois de ter visto a obra prima (classificação 10\10 do IMDb pela primeira vez na história) que foi o episódio 10 da sexta série de "Game Of Thrones", continuámos a noite com os 120 minutos mais longos de qualquer jogo de futebol a que tenha assistido.

Teve tudo: A "morte" do artista principal, o longo período de sofrimento e de perda iminente e o final feliz concretizado pelo "patinho feio" da selecção. Que nunca tinha sido utilizado ainda na fase final.

Tivemos connosco a estrelinha da sorte. Não há dúvida que sim. Mas fizemos por a merecer.

Audaces fortuna juvat.

E, já agora, espero que se lembrem daquele que era grande crente na "estrela da sorte"? Esse mesmo, Napoleão Bonaparte. Não era também ele  francês? ... Que me perdoem os corsos.

sexta-feira, julho 08, 2016

Com vista para a Esperança do Título



Haja unhas em condições de morder, haja alma e coração. Domingo às 22h logo saberemos quem leva a taça. Ou mais tarde se for tudo a penaltis.

Aconselho amêndoas torradas e um "refresco" a condizer. Evitem cognacs e armagnacs.

Há uns Portos mesmo a calhar para esta aventura: O Porto Branco Seco, quando servido com água tónica, gelo e uma rodela de limão num copo alto, o chamado “PORTONIC”, é um fantástico aperitivo! 

De todas as formas e para dar coragem impôe-se um poema de esperança.

Do velho Filinto Elísio (se fosse vivo faria 283 anos em Fevereiro) o padre poeta, mestre da Marquesa de Alorna, aqui vai um exemplo do seu "neoclassicismo".

Não aprecio muito a forma, mas adequa-se ao tema do fim de semana...

Ode à Esperança

Vem, vem, doce Esperança, único alívio
    Desta alma lastimada;
Mostra, na c'roa, a flor da Amendoeira,
    Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
    Na escravidão pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
    Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,

Por ti veleja o pano da tormenta
    O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
    (Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.

Tu consolas no leito o lasso enfermo,
    C'os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
    Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria. 

Eu já fui de teus dons também mimoso;
    A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortúnios
    A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.

Mas agora, que Márcia vive ausente;
    Que não me alenta esquiva
C'o brando mimo dum de seus agrados,
    Que farei infelice,
Se tu, meiga Esperança, não me acodes?

Ai! que um de seus agrados é mais doce
    Que o néctar saboroso;
É mais doce que os beijos requintados
    Da namorada Vénus,
A que o Grego põe preço tão subido.

Vem, vem, doce Esperança, que eu prometo
    Ornar os teus altares
Co'a viçosa verbena, que te agrada,
    Co'a linda flor, que agora,
Enfeita os troncos, que te são sagrados. 

Filinto Elísio - "Odes"

quarta-feira, julho 06, 2016

Gales, o adversário amigável



O País de Gales tem por tradição ser a pátria do arco longo que ganhou as batalhas de Crécy,  Poitiers e Agincourt (Guerra dos 100 anos). Os melhores archeiros do mundo eram ali criados e treinados. Não era por acaso que os franceses, naquela altura da "pancadaria",  imediatamente cortavam os polegares a todos os prisioneiros galeses que apanhavam ... Sem polegares acabava a extensão do arco.

Tem o País de Gales ainda a fama e o proveito de ter uma "língua" ainda mais esquisita do que o nórdico da Dinamarca , que é considerado pelos próprios não tanto como um dialecto mas mais como uma doença da garganta...

Para exemplo, um local (aldeia) no País de Gales tem o seguinte nome:  Llanfair­pwllgwyngyll­gogery­chwyrn­drobwll­llan­tysilio­gogo­goch

Já acabaram de pronunciar? É obra... E significa o quê? Aqui vai em inglês normal: Saint Mary's Church in a hollow of white hazel near the swirling whirlpool of the church of Saint Tysilio with a red cave.

Do ponto de vista gastronómico Gales é sinónimo do melhor cordeiro do Reino Unido. As pastagens magníficas em montanha originam das melhores carnes de borrego do mundo. O problema estará (para o nosso gosto) na maneira como o preparam.

A forma tradicional de assar o borrego é deixando-o rosado , a adivinhar-se o sangue... Segue imagem para apreciarem a coisa.

Mas esta noite o problema não é borrego, língua de trapos ou arco e flechas. É bola na relva e chuto para a frente.

Amigos de Gales, desejo-vos o melhor do mundo em tudo. Nem me ralo que tenham votado a favor do Brexit. Mas percam o joguinho se fizerem favor...