sexta-feira, janeiro 30, 2009

Para descansar a Vista


Tomem lá - se fizerem favor - um poema de Mia Couto.

Mia Couto nasceu na Cidade da Beira (Moçambique) em 1955 - belo ano de grandes "colheitas", se me permitem - filho de uma família de emigrantes portugueses. Publicou os primeiros poemas no "Notícias da Beira", com 14 anos. Em 1972, deixou a Beira e partiu para Lourenço Marques para estudar Medicina. A partir de 1974, começou a fazer jornalismo. Com a independência de Moçambique, tornou-se director da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Dirigiu também a revista semanal "Tempo" e o jornal "Notícias de Maputo".

Em 1999 foi vencedor do prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da obra, um dos mais conceituados prémios literários portugueses, que já premiou Maria Velho da Costa, Maria Judite de Carvalho e Eduardo Lourenço, entre outros. Em 2001, recebeu também o Prémio Literário Mário António (que distingue obras e autores dos países africanos lusófonos e de Timor-Leste) atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian por "O Último Voo do Flamingo" (2000).

(Biografia por cortesia de "Lugar das Palavras")

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

quinta-feira, janeiro 29, 2009

O nosso Zé não perdoa...

Estes tempos que atravessamos não estão "para netos"... O nosso Zé afinfa-lhes os dentes...E bem , na minha opinião.

"Dar tempo ao tempo, que a procissão ainda vai no adro, na novela Freeport, que veio mesmo a calhar, para se mudar de tema em tempo de Crise e os nossos Opinion Makers poderem dar curso à imaginação, porque para além disso, tenho muitas dúvidas, que se esclareça seja o que fôr.

Vai ser muita notícia, muitos pseudo factos ( cd´s, emails, conversas, desmentidos....) mas de concreto vai tudo dar em águas de bacalhau e a Justiça Portuguesa vai ficar mais opaca e mal na fotografia....

Quem me dera que assim não fosse, mas creio que vamos ver um filme déjá vue, mais umas cabalas, mais uns bodes expiatórios e vai continuar tudo como dantes no Quartel (Cartel) de Abrantes ou lá nas bandas da politiquice (Cartel) e o Zé Pagode a alombar com a Crise,que vai ser um ver se te avias, que vai servir de argumento e justificação para tudo (até para as maiores alarvidades, quem me dera estar enganado...

A Ivone Silva e o Camilo é que estão de novo na berra- Isto é que vai uma crise - para a esquerda, para a direita, pró centro . A ver vamos as cenas dos próximos capítulos e ver quem serão os coitadinhos desta Novela...Celeridade, Clareza e Coragem para que não restem Dúvidas....o seu a seu dono e quem não come alhos não cheira a eles, por isso, ESCLAREÇA-SE ATÉ AO LIMITE E DEPOIS RESPONSABILIZE-SE, doa a quem doer

.Este cinzentismo nebuloso é um cancro que urge estirpar, para bem do País, do Povão e da Confiança, tão necessária nestes Tempos. CLAREZA E RESPONSABILIZAÇÃO PRECISAM-SE neste e nos outras ocorrências recentes BCP,BPN,BPP e o que mais por aí virá?), se não, mais vale emigrar, mas para onde?

Valha-nos o OBAMA...."

E eu só acrescento: Valha-nos o Obama, por enquanto...

O Cerco aperta-se


Hoje todos os Meios de Comunicação Social (com a Visão e a Sábado à cabeça) falam dos últimos desenvolvimentos do caso Freeport, segundo os quais a Polícia Britânica considera José Sócrates um "suspeito" e terá (ainda sem confirmação) enviado uma carta rogatória ao Ministério Público de Portugal solicitando investigações às contas bancárias do 1º Ministro...

Como base desta argumentação está o conteúdo do célebre DVD em posse da mesma polícia e segundo o qual o Sr. Smith refere o nome de José Sócrates como eventual "facilitador" ou até "receptor" dos recebimento de luvas.

Já todos sabem que na lei portuguesa apenas escutas feitas com base em mandatos judiciais são admitidas em Tribunal, pelo que este DVD não serve para nada aqui no burgo...Nem que tivesse imagens de JS a receber um qualquer envelope recheado.

Por outro lado atente-se no que o faz "suspeito" perante a justiça inglesa: o facto do seu nome ter sido referenciado por terceiros.

Imaginem , aqui em Portugal, se eu no meu Blogue escrevesse que o Sr Presidente da República tem o hábito de convidar meninos pequenos lá para sua casa enquanto passa férias no Algarve.

Tudo mentira, obviamente...Apenas o escrevi porque, continuemos a supor, a segurança do actual PR não me deixou estacionar o carro onde eu queria a caminho da Praia ...

Isto seria caso para que o Sr Doutor Cavaco Silva fosse suspeito de pedofilia ou de outra coisa? A mim é que deveriam internar de imediato, no manicómio , até que confessasse o porquê desta atitude grotesca...

Agora continuemos a imaginar o Sr Smith "à rasca" porque não consegue dar contas aos Patrões dos milhões que roubou, ou desviou, para alegadamente favorecer o licenciamento do Freeport... Em desespero de causa alega o pagamento de "Luvas". E logo a um Ministro! Ideia excelente porque:
a) quem recebe "luvas" não costuma passar recibo, donde não haver forma alguma de PROVAR o pagamento, a não ser falando pessoalmente com o suposto corrupto...
b) E se o tal suposto corrupto for um Ministro como será possível chegar à fala com ele para confirmar? Ainda corriam o risco de ser presos...
Estão a ver a infâmia contida numa calúnia?

Eu, se fosse José Sócrates, abriria de imediato as minhas contas bancárias para verem o que entendessem. Não que isso resolvesse alguma coisa, pois no caso bem mais provável de nada ser descoberto não faltaria quem dissesse que "o tipo é esperto...deve ter tudo bem guardaddo nalgum off-shore..."

Entretanto o mal-estar em torno do carácter do actual 1º Ministro começa a instalar-se. As suas próprias "tropas" começam a dar sinais de inquietação, e no afâ de mostrarem obra positiva que contrarie estas notícias que todos os dias aparecem, acabam mesmo por "meter a pata na poça" e fazer mais mal do que bem, como se viu com o caso do suposto relatório da OCDE favorável às políticas de Educação do Governo e que foi achincalhado ontem na AR...

Já o tenho muitas vezes aqui perguntado, mas insisto: Quem ganha com esta situação??

A quem aproveita este "assassínio" político em vésperas do ciclo eleitoral de 2009??

A vingança é um prato que melhor nos sabe quando servido frio... E não é preciso ser nenhum "Einstein" para compreendermos que há muita gente à roda das mesas editoriais dos nossos MCS a esfregar as mãos de contentes por esta oportunidade que, se não foi criada por eles, pelo menos está a ser muito bem aproveitada para vender e para preparar a mudança do Poder.

O pior disto tudo é que o mal está feito e tal como ninguém acredita (na rua e nas praças deste Portugal) que Paulo Pedroso não esteja envolvido nos crimes de que foi absolvido, também será difícil alguém do Povão acreditar que José Sócrates está inocente (mesmo que o esteja, de facto).
O Povão costuma dizer que " não há fumo sem fogo" e imagino, à boca pequena para não estragar o verniz podre da hipocrisia de Estado, todos os principais leaders dos Partidos Políticos da Oposição a espalharem esse antigo ditado.

Mas não se esqueçam que o mesmo Povão também costuma dizer: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco..."

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Chover no molhado: A Hipocrisia do Politicamente Correcto


Num dos últimos albuns originais do Lucky Luke, imortal criação de Goscinny (o escritor) e Morris (o desenhador), o velho bêbedo da cidade está encostado à barra do Saloon , com um copo na mão, e não reconhece o liquído que está a beber... Tinha havido sabotagem dos "maus da fita" aos barris de Whiskey americano, substituindo o tão apreciado alcoól por...água. E o bêbedo, quando se apercebe pelas reacções dos companheiros que "aquilo é que é água", tem a seguinte tirada:

"- Água Hein? Nunca tinha provado, mas também não está nada mal..."

Sempre me desmanchei a rir com esta tirada, e por dois motivos : em primeiro lugar o espanto de algum ser humano nunca ter "provado água" - o que é cientificamente impossível, segundo me parece... Mas também a leitura que nos remete para outro facto anedótico (mas que já não sinto que seja assim tão inverosímel) . É que a partir de determinada altura do "consumo" já não interessa o que se coloca nos copos , desde que estes estejam sempre cheios...

Um familiar meu que foi "sommelier" num luxuoso Hotel do Estoril contava muitas vezes a história de como, nos anos 60 e 70, trazia discretamente aos jogadores do Dinamo de Kiev ou do Lokomotiv de Moscovo - normalmente eram estes os campeões russos que vinham a Lisboa defrontar o Benfica para a Taça dos Clubes Campeões Europeus - Vodka e Vinho do Porto (este para dar cor) em Bules de Chá com as respectivas chávenas, para enganar o "Controlador" do Partido que fazia a viagem com a Equipa...

Mas, como era do Sporting, só lhes fazia este favor depois do jogo, não fossem os homens perder a "coragem" e jogar mal contra o grande rival vermelho...

E os jogadores e treinador agradeciam-lhe com grandes latas de Caviar, motivo pelo qual eu próprio - não sendo filho de nenhum Banqueiro - desde miúdo me habituei a comer "daquilo"... E o problema é que, contrariamente às expectativas de Tios e Pais, logo gostei...

Os hábitos alcoólicos que por vezes começamos socialmente, para entreter as horas numa noite de diversão, podem-se tornar perigosos se não houver algum cuidado e "tento na bola".

Hoje em dia já não é apenas a figura do GNR a controlar o hálito à saída dos bares da 24 Julho ou das Docas que nos deve fazer reflectir, mas sobretudo a constatação que a bebida cria hábito.

Para nos sentirmos com aquela sensação de euforia dos dois ou três copos nas primeiras noites, já será necessário emborcar 5 ou 6 nas semanas seguintes... E por aí fora.

Tudo isto vem a propósito da dificuldade que existe hoje em "traçar a fronteira" , em estabelecer a diferença, entre aqueles e aquelas que consomem (tanto pode ser alcoól como cocaína ou marijuana) casualmente porque as circunstâncias socias o permitem e\ou o impelem e os outros, aqueles que já não podem passar sem esses estímulos artificiais que destróem os neurónios e ostracizam socialmente.

E há tanta hipocrisia por aí, começando na Publicidade e no Product Placement (vejam-se os filmes de James Bond, por exemplo, ou as séries de culto americanas como Dirt ou Californication) e acabando com as reportagens da TV mesmo aqui em Portugal sobre as festas das várias "saisons" onde impera o consumo desses "estimulantes" . Para já não falar da célebre entrevista de Miguel Esteves Cardoso , segundo a qual o "Indy" de saudosa memória só saía todas as Sextas Feiras à conta de muito Gin, Whisky, anfetaminas e cocaína...

Consta que Lucky Luke era o único "cowboy" mais rápido a "sacar" do que a própria sombra. Batia nos maus , e para além disso, fumava e bebia. Até tomava sempre banho com a "artilharia" à cintura...Tudo hábitos hoje em dia politicamente incorrectos... Porventura os seus livros seriam proíbidos às crianças nestes dias de todos os extremismos...

Será que os censores "fariseus" tomariam estas decisões à mesa , entre dois cognacs e um charuto??

Ora Bolas!

Comentário de enrubescer o Blogger...

Uma Leitora teve a amabilidade de nos mandar o seguinte comentário, que muito agradecemos, divulgando desde já a sua nova incursão nestes caminhos do "Blogverso":

Já há algum tempo que sou leitora do seu blog, o qual me foi dado a conhecer por uma amiga comum.
Tomei a liberdade de lhe escrever, para me dar a conhecer e dizer-lhe que também eu estou a iniciar um blog e gostaria de o convidar a fazer parte dos visitantes e seguidores do mesmo.

Eis o endereço: http://isamag.blogspot.com

Não sei se gosta de fotografia, pois o meu blog tem como objectivo ultimo, divulgar alguns trabalhos que faço com fotografia digital.

Quando fizer a visita ao blog, ficará a saber qual a amiga comum que referi. (Não cabe aqui dizer nomes.)Espero que aprecie, e... claro... que divulgue (ah! ah!)

Quanto ao seu blog, tenho que lhe dar os parabéns e também agradecer pelas coisas bonitas:o caso da poesia às sextas f.; pelas informações que dá e, claro,pela forma como escreve.Quanto á gastronomia de que fala tantas vezes e dá conselhos, receitas etc. uhmmmmm... posso dizer-lhe que fico com água na boca...!

Quando digo água, é literalmente isso que quero dizer.. pois quando fala daquele vinho delicioso de saboreou em Almancil (bela terra, onde tenho familiares) peguei na minha garrafinha de Penacova (água mineral) e dei um golo bem guloso... (imaginando saborear esse tal de vinho branco. Mas, que de semelhante só tem mesmo o vocábulo "branco"...ah! ah!

Quanto às restantes iguarias de que tem falado. Bom... aí não só fico com água na boca como também a salivar e a engolir, em seco...A propósito, são quase 8.30, logo, hora de jantar. Não... não vou comer ostras... vou comer um bacalhauzinho à minhota. Também não está mal...pois não?

terça-feira, janeiro 27, 2009

Paixanito virou "Paixa"...Em Vale do Lobo.


Exactamente. O velho paradouro dos amantes dos petiscos, situado em Loulé, na Estrada de Querença, mudou de local e encontra-se agora à disposição do passante na bem cuidada paisagem de Vale do Lobo, Almancil.

Aguentará Vale do Lobo mais este paradouro gastronómico, quando já tem 16 Restaurantes em serviço?

Pure· Café Royal· Amore· La Place· Teahouse Oriental· Spikes Restaurant· Spikes Brasserie· Memories of China· Sandbanks· Monty's· La Terrazza· Papagaio· La Crêperie· Beach Club· Tennis Café

Mas este Paixa tem atrás de si a magnífica reputação gastronómica do seu ilustre antecessor e, como se verá, não a deixou ficar pela estrada que liga Querença a esta nova localização.

Vamos a informação mais práticas:

O telefone passou a ser este : 289 394 699 mas se utilizarem o antigo também tem desvio de chamadas para este novo.

Boas notícias: o ambiente moderno, escorreito, quase japonês na bem "minimalista" decoração da sala. Esta luminosa que baste, com largas janelas abertas aos relvados. Casas de banho pós-modernas, onde impera o aço e o vidro espelhado. Bom toque, boa fibra . Talvez um pouco "dondoca" de mais se pensarmos na antiga decoração da casa-mãe, com os brinquedos de lata e madeira que eram do tempo dos nossos avós...

Continuação das boas notícias: o Chef de cozinha é o mesmo. Existe um Menu de almoços mais desenhado para Metrosexuais e Barbies desejosas de parecer a Calista Flockart, com as calorias controladas e o tamanho das doses e preços em proporção com esses desejos de manter a linha a pensar na Praia (que saudades, Chiça!)... Mas o menu dos jantares - que também pode ser usufruído ao almoço - é o mesmo da antiga morada, com mais de 40 variações de petiscos...Prato do dia naquela Sexta feira, quando lá fomos, a Feijoada.

A clientela, era de esperar, muito mais atrevida em número e em aspecto, com muitas "tias e tios" de Vale de Lobo a não dispensar o almoçinho naquele lugar de culto... Mesas tão bem "ataviadas" em dia de semana que o vosso Blogger, apesar de bem acompanhado , não dispensou o olhar maroto pelo enorme espelho que estava à sua frente... Sim Senhor, temos decoração "móvel "a complementar a decoração imóvel, esta já de si afiambrada, como disse.

E em relação aos "finalmentes"? Vieram flutes de Mumm Cordon Rouge e uma garrafa de Foz do Arouce Branco de 2003 (está soberbo!). E depois, em rápida sucessão: Ostras cruas sobre gelo (magníficas!), Salada de chocos com a sua tinta, carapaus alimados, Xerém com ameijoas e camarão, foie gras, croquetes de rabo de boi, pataniscas de bacalhau, ovos de codorniz com chouriço, cogumelos recheados...

Tudo muito bem feito e em quantidade suficiente para a prova ser cabal para três cristãos e não passar a fronteira para a "alarvice".

Não havia espaço, nem disposição, para "postres", pelo que se pediu o café e a conta... 3 pessoas, bem comidas e bem bebidas por cerca de 100€.

Boas Vindas ao Paixa (que raio de nome...só me vêm à cabeça badalhoquices) e que saudades já temos do bom e velho "Paixanito" , nem que fosse por duplicar esta espantosa oferta algarvia de comes e bebes a preço manso.

Mas há notícias de que o fecho do Paixanito está ainda a ser reconsiderado em função da "crise".

Por aí é que não apostemos muito, mas logo se verá...

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Para descansar a Vista


Porque estive afastado na Sexta feira do V. convívio aqui fica, um pouco atrasado, o habitual momento de poesia do nosso Blogue, desta vez dedicado à Mãe do "Equador" - salvo seja e que me perdoe a grande Sophia!

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.

Sophia de Mello Breyner

Correcção ao Post do FreePort

Amigos Leitores avisaram-me que o engº José Sócrates não reconheceu ter tido um encontro em 2001\2002 com o tal engº inglês Smith, mas sim com uma delegação dos promotores do FreePort onde poderia estar (ou não) essa personagem.

Já ontem à noite o próprio Mr. Smith declarou à RTP e SIC que "desconhece José Sócrates, embora tenha estado numa reunião alargada no Ministério do Ambiente ".

Aqui fica a ressalva e ...vamos esperar para ver onde nos leva esta "estória".

sábado, janeiro 24, 2009

FreePort: O Tio, o Smith, o Sobrinho e o que nos resta...


José Sócrates reconheceu ontem à noite, publicamente e em comunicado pessoal, que se tinha encontrado com um tal Mr. Smith em 2002, quando era Ministro do Ambiente, para discutir com esse Senhor as questões relacionadas com o licenciamento do Outlet FreePort em Alcochete, em plena Reserva Protegida do estuário do Sado.

Essa reunião teria sido realizado a pedido do Tio do Engº José Sócrates, empresário ligado ao ramo da Construção Civil.

Quem era (e é, penso que está vivo por enquanto) esse tal Mr Smith? Um dos sócios da Empresa de advogados que os Promotores ingleses do Outlet nomearam para fazer Lobby em Portugal de forma a que o FreePort pudesse ser construído.

Porque é que esta situação parece ser peculiar (ou mesmo duvidosa)?

a) O FreePort tinha sido previamente chumbado por duas avaliações de Impacto Ambiental realizadas pelo Ministério do Ambiente, mas acabou por ser aprovado pela terceira avaliação, realizada depois desta conversa de José Sócrates com o Sr Smith. Até aqui nada a dizer, até pode ter acontecido que os planos iniciais de engenharia e implantação se alterassem de forma a fazer aprovar o Investimento.

b) Depois, há as conversas gravadas em DVD ( mas a que ninguém ainda teve acesso, uma vez que está na posse da polícia britânica) segundo as quais os Promotores do FreePort "disponibilizaram" 4 ou 5 milhões de Euros a terceiros relacionados com o Governo Português da altura , para "facilitar" a título de suborno esta operação.

c) Finalmente, porque não se conhecendo ainda quem são realmente os "terceiros" beneficiados pelo suborno, (e aqui não chega só dizer, insinuar ou apontar o dedo, há que provar mesmo!!) aparece a figura do tal Tio de José Sócrates que, não se sabe bem como, estará hipoteticamente envolvido nesta trapalhada. Mas a que título?
1 - Apenas porque apresentou o Sobrinho ao Sr Smith? Se assim foi e mesmo que tenha recebido "luvas" por essa apresentação , o problema é dele e do Sr Smith ( e envolverá a Justiça portuguesa se não declarou esses dinheiros ao fisco)... Nada tem a ver com José Sócrates.
2 - Agora imagine-se ( e imaginar não custa assim tanto neste ano de todas as eleições) que o Tio fez mais do que isso e serviu de "receptáculo" para dinheiros sujos destinados ao Sobrinho Ministro? Mas como se prova uma coisa destas? Se o dinheiro não chegou às contas em nome de José Sócrates, mesmo que tenha sido ele o "instigador" da aleivosia nada se provará... Será o Tio o novo "Bibi" desta nova tramóia... a não ser que o tal DVD prove e mostre o Engº Sócrates a exigir dinheiro pela aprovação... Alguém acredita nisso? Todos estas negociatas se fazem por interpostas pessoas...

Em Conclusão: acho estranho tudo isto ter vindo a lume através do Jornal Sol (comprado por capitais angolanos ) e nas vésperas do ciclo eleitoral. Mas o Engº Sócrates não se livra deste manto de suspeição...Mesmo que tenha sido enganado pelo Tio - o que pode verdadeiramente ter acontecido - enquanto as autoridades (sobretudo as britânicas) não levarem esta investigação a fundo e demonstrarem a quem foram entregues os Euros, está criado um ambiente de suspeição que afectará as eleições.

Não era isso que muitos desejavam? Era sim...Por isso, repito, acho este caso estranho demais...

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Talibans destroem escolas no Afeganistão


Parece que já são mais de 170 escolas que são propositadamente dinamitadas no Afeganistão pelos extremistas muçulmanos, na ânsia odiosa de garantirem que nenhuma mulher entrará num desses locais...

O Corão inspirou - e só falo aqui de Portugal, seguindo a lição do nosso Amigo, colaborador e grande arabista que é o Dr. Adalberto Alves (Prémio Unesco) - poetas, matemáticos, prosadores, geógrafos e engenheiros. Como seria possível tal coisa se os extremistas do seu tempo tivessem incendiado as escolas??!!

"Lenda e Memória que bebe, pela taça da imaginação, o escorrente material do tempo. Lisboa a das sete colinas é também a das mil estórias e mitos. Misteriosa quando lhe percorremos as ruas, mal sonhamos a rede tecida pelas civilizações desaparecidas que nossos pés calcam com o pó"

Assim começa Adalberto Alves o livro que escreveu para nós "A nossa Lisboa Árabe" obra crepuscular e poética onde ficamos a saber que devemos talvez mais em termos genéticos (e falo tanto da biologia como da história) aos muçulmanos e judeus que por aqui passaram do que propriamente aos celtas que apregoamos como Pais ancestrais...

Nasceram, viveram e estudaram nas madrastas de Portugal os eruditos: Al-Mutâmide (o rei-poeta de Sevilha, nascido em Beja); Os filósofos Ibn Mossam e Ibn Sara (de Santarém); Ibn Ammar ou Ibn Assid (Algarvios, escritores); o grande místico de Mértola Al-Mertuli; Ibn Muqâna, o grande poeta de Alcabideche... E por aí fora.

Sabemos que nem sempre de humanismo, sabedoria e miscigenação viveu o Islão primitivo.

Esse Islão inicial (642 AD) tinha a má fama queimar Livros. Vem à memória o auto-de-fé livresco executado em Alexandria pelo Califa Omar - e de cuja veracidade muitos historiadores duvidam - com a conhecida justificação: "Se os escritos dos gregos concordam com as Sagradas escrituras não são necessários. Se não concordam são nocivos e devem ser destruídos"

Essa horrivel tradição não a engeitamos.

Mas quem se lembra daquilo que fez a Igreja Católica primitiva para "calar as bocas" de algumas heresias? Santo Ireneu, o "reescritor\censor" das Sagradas Escrituras, já em 180 AD tinha proclamado uma epístola "contra as heresias" a qual levou a terríveis "progroms" contra os gnósticos...

E por aí fora, mesmo até aos finais do Sec XI onde no Limousin e Languedoc foi desfeita em sangue e lágrimas e com a morte pelo fogo de milhares de crentes, a doutrina dos Cátaros?

Todas as Religiões têm e tiveram os seus "deuses e demónios".

O importante é que, com o passar dos tempos, melhore sempre a clarividência que nos vem do estudo honesto, do conhecimento cientìfico e técnico, e que tal qualidade nos permita exercer cada vez mais e melhor as grande virtudes do humanismo e da tolerância.

200 anos antes de Jesus Cristo o dramaturgo Terêncio (Publius Terentius) já escrevia em Roma: "Homo sum, humani nil a me alienum puto" - Sou Homem e nada do que é humano me pode parecer estranho.

Agora...Dinamitar escolas para impedir as meninas de lá entrar?? Que mundo quer esta gente construir?

Nota:
Como exemplo da grande arte de caligrafia àrabe do período clássico escolhi para ilustrar este Post as palavras "Ansiedade e Medo", segundo a obra de Lassaad Metoui "The signs of the sand"

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Porcos mortos a tiro em Beja:Mulder and Scully investigam


Chega-nos da Freguesia da Salvada (Beja) e por cortesia do suplemento Local do Público-Lisboa, a seguinte notícia:

Um criador de Porcos Ibéricos queixou-se à GNR de que lhe tinham desaparecido 100 desses animais. Uns 20 foram já recuperados mas ...mortos a tiro.

O Proprietário acusa o seu vizinho da Herdade do lado de estar a abater os seus porcos...

Notícia estranha e caricata , dirão alguns...

Que raio de motivo poderá ter estado na base desta "matança"?

Desaguizados entre vizinhos? Porcos que invadiram (sem licença) os terrenos do Vizinho e lhe comeram o milho ou centeio, ou trigo, ou lá o que existe em Janeiro na terra? É que nos Lameiros da Beira ainda há couves nesta altura.. Mas nas terras alentejanas de sequeiro??!!

E depois, para quê matar logo 20 (por enquanto...)? Como aviso não se poderiam mandar uns tiritos para o ar e - pronto, vá lá - partir um presunto a dois ou três Ibéricos?

Ou devemos procurar explicações mais rebuscadas, à moda dos saudosos X Files e das teorias da Conspiração?

Por exemplo:

1) O famoso "Chupa-Cabras" mexicano terá incarnado em Beja. Adoptando os costumes locais de calma, calminha e vamos devagar, em vez de andar a correr atrás dos porcos para os exsanguinar à dentada ( o que deve dar uma trabalhêra se falarmos de 100 porcos) comprou uma Winchester e fez o gosto ao dedo à distância...

2) O Vizinho abusou do bagaço de Borba , passou-se dos carretos, entrou em delirium tremens, começou a ver coisas e, em vez de porcos, convenceu-se que os animais que lhe tinham entrado pelos campos eram Aliens a fugir da Sigourney Weaver... Logo, como bom samaritano português e a ver se lhe caberia alguma coisa do belo corpinho da Sigourney, imediatamente se dispôs a ajudar a pequena e daí a fusilaria...

3) Alguém da família do Vizinho terá sucumbido a uma estranha bactéria contida num Pata Negra de Jabugo comido em Salamanca , quando lá tinha ido ver uma tourada... O Vizinho imediatamento jurou uma Jihad contra os Porcos Ibéricos... esta explicação é a que mais me atemoriza, pois significa que estamos perante um serial killer motivado...

4) A tomada de posse de BaraK Obama transtornou de tal modo o Vizinho - doente de Racismo primário - que este se põs logo a matar pretos. Porcos pretos (com vossa licença)... estaríamos, portanto , perante um "crime de ódio"...

5) Finalmente, e aqui a minha experiência de investigador forense sente que pode estar a verdadeira verdade - "The truth is out there" - pode muito provavelmente ter acontecido que o Vizinho seja inocente desta trama. Foi alvo de uma montagem ("framed", em americano, ou então "set up" que também fica bem) do próprio proprietário dos Porcos, farto até à medula de ter de os criar, alimentar, pastorear, antibioticar, etc... só para ver os espanhóis irem lá comprá-los a 100 Euros cada carcaça (com dois presuntos e mais duas pás, fora os lombos) e depois venderem-lhe a ele e aos outros portugueses como nós , cada presuntito Jamón por 350 Euros...
Desta forma decidiu inteligentemente - à boa maneira portuguesa - eliminar uns quantos porcos para fazer subir, pela raridade, o preço das carcaças...

Trata-se, pois , de um crime económico. Onde está a ASAE quando é precisa??!!

terça-feira, janeiro 20, 2009

A Burrice tem Pai?


As características genéticas de uma pessoa são moldadas pelos seus ascendentes, frase "notabilíssima" que ouvi ontem à noite referir por um também "notável" nacional na TV.

Esta "frase lapidar", uma verdade do Sr de La Palisse, bem poderia ter sido posta nos lábios do famoso Conselheiro Acácio - figura notável que Eça criou para nós em protótipo do "burrocrata" de salão que enche hoje em dia muitas páginas de jornais e minutos das TV's generalistas.

O "Conselheiro Acácio" dedicou-se, em pleno século XXI português, à Política. Aliás, como o vinha fazendo desde o século XIX...

De facto, orgulhoso dos seus pergaminhos familiares, filho ou neto de Autarcas ou de Deputados , tirado o curso de Direito ao fim de 8 anos e sem emprego à vista - que isto das cunhas em momentos de crise esbate-se muito - o que há-de fazer o candidato a burocrata? Entrar na Política , pois então!

Desde novo que o paizinho o aconselhava : "- Filho, dedica-te à Juventude XPTO (qualquer delas serve, desde que o Partido seja "de Poder") ; Vai colar os cartazes à noite, oferece-te para segurança do Secretário Geral nos Comícios, Vai fazer campanha nas "Marianas"... Deixa lá a escola que este é que é o teu futuro..."

Ao fim de 14 anos de bons e leais serviços está o candidato a burocrata pronto para colher os benefícios de tanto esforço adolescente: tem agora 28 anos de idade, concluíu finalmente a licenciatura na privada (para grande alívio dos tristes professores) e deseja casar - ou melhor, procriar - mas não sabe bem ainda com quem...
Arranjem-lhe lá um lugar elegível nas Listas. Para além disso, o Pai dele, lá na província onde a família tem o feudo, ainda tem algum peso no voto local...

E temos Deputado da Nação!!

O que fará durante as sessões do hemiciclo? Mistério...

Pensamos que terá algumas lições secetas de compostura:

-"não pôes os dedos no nariz em frente à TV Parlamento. Não coças entre-pernas durante os debates; Aplaudes sempre quando os nossos falam! Os nossos são os que estão ao teu lado Imbecil!"

E continuarão:

-"Dizes muito bem e aprovado de vez em quando, em voz alta, quando fala o Chefe! Não te enganes nisso que és logo corrido!"

E, finalmente:

-" Não faltas quando há votação! Votas carregando no botão. Só votas como eu te disser! Treina lá isso algumas horas. Olha lá bem que isto é complicado, porque há dois botões! ...Não é nesse botão desgraçado!!"

E toma lá os euritos ao fim do mês, e mais uma pomada para as hemorróidas, que nisto de ser Deputado devem ser consideradas "doença ocupacional" para os ilustres, cansados de tanto tempo estarem sentados...

Burro afinal foi o meu Paizinho, que me obrigou a estudar e a tirar boas notas em vez de me dar uma educação moderna e compatível com estas funções de "tribuno"...

Mas tenho a minha vingança...
Filho, quando fores Ministro não te esqueças do teu Pai (eu próprio!) Olha que não sou esquisito, qualquer Presidência de Empresa de capitais públicos me serve...
Ou então uma Comissão na Caixa Geral de Depósitos...Isso é que era...

A esperança tem cor

A tomada de posse de Barak Obama, hoje às 17.00H de Lisboa, pode ser uma vela de esperança para todos os individuos com boa vontade , estejam lá onde estiverem e pertençam a não interessa qual país.

Temo que tanta esperança em momentos de crise , tanta vontade de ver fazer e de ver acontecer , só possa causar desgostos futuros, quando as tremendas expectativas que se criaram forem caindo, a pouco e pouco, com base nas realidades concretas da governação de hoje em dia, feita de compromissos e de cedências, hora a hora...

Mas neste momento de alegria para o povo norte-americano de todas as cores e feitios deixa-se aqui uma mensagem de fraternidade aos americanos e de boas vindas dos USA ao clube dos Estados civilizados e defensores do Humanismo, de onde andavam arredados desde o consulado do inefável G.W.Bush.

Barak, acaba lá com a lepra de Guantanamo e coisas parecidas, dá um sinal ao mundo de que não és apenas mais um burocrata de Chicago com uma mulher atraente, que foi eleito pelo "cool look" e pela "Conspiração de Silicone Valley"...

Nós aqui nos confins da Europa, onde a Terra acaba e o Mar começa, de frente para a tua costa ocidental, gostávamos muito que começásses assim.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Pobretes e cada vez menos Alegretes


"Estamos cada vez mais pobres"

Li esta frase, que hoje em dia deve ser lugar comum em muita conversa de café , num comentário de jornal ao caso do Freeport, segundo esse comentário os poderes constituídos no tempo do Governo de António Guterres, nomeadamente um Ministro desse Governo, teriam recebido "luvas" dos Promotores do complexo Freeport em Alcochete para deixar construir em local que era Reserva Ecológica Nacional (ou coisa parecida...). Fala-se até do valor dessas "luvas": 5 milhões de euros depositados em off-shores .

O "estarmos cada vez mais pobres" referia-se então a duas coisas: ao facto do nosso Património ecológico estar a ser "trocado" por euros em prol do "bâtiment" e do lobby do betão, com a agravante que os Promotores deste enorme "bâtiment" - tido como o maior outlet da Europa - nem serem portugueses. Mas também "mais pobres" porque - e generalizando - quem pode porque é rico ou é Administrador de bancos ou até "Sr Ministro" foge com os capitais para o off -shore e deixa de pagar os Impostos devidos em Portugal ; e, quem não pode, aguenta com a crise sem que o Estado disponha de dinheiro (dos Impostos ) em cofre para minorar os seus efeitos...

Quando é que a Comunidade Internacional decidirá, uma vez por todas, acabar com a "praga" dos off-shores, na maioria dos casos - e salvo as excepções honradas - um coio de contrabandistas de Armas ou Diamantes, Traficantes de droga e de Corruptos??!!

Leia-se a inspirada intervenção de João Cravinho em Cascais, neste fim de semana, sobre estas situações ... E mesmo que não se concorde ideologicamente com o Homem que não conseguiu (com a maioria do seu Partido) fazer aprovar a lei sobre a corrupção, admitemos todos nós que as suas ideias só não são postas em prática porque "apertam os calos" a muitos e grandes senhores, das Praças financeiras de todo o mundo...

As ligações entre o fenómeno da multiplicação dos off-shores e a actual crise estão ainda para ser estudadas, mas que existem, lá isso existem... E as consequências, essas estão à vista de todos...

Esperam-se - informação do Banco de Portugal - 50,000 novos desempregados em 2009\2010. Admite-se (isto dizem os analistas económicos) que o País se atrase dois a três anos por efeito directo desta crise em termos de endividamento externo, ultrapassando por essa via o plafond mítico dos 3% de déficit.

Como pano de fundo o Processo eleitoral triplo, os Congressos dos Partidos, as "promessas" que se têm de fazer para garantir os votos da classe média...

Como se podem fazer promessas em tempos de crise? Jogando com as coisas de pouca monta financeira mas mediaticamente fortes e ideologicamente fracturantes - como o casamento de pessoas do mesmo sexo e a respectiva autorização para adoptar.

Ou então fazendo promessas perigosas, de cujo efeito levaremos muito tempo a recuperar, como ... baixar Impostos aliviando a carga dos trabalhadores por conta de outrém.

Para estimular o consumo começa a ser tudo permitido... E é mau! Nesta política do vale tudo para que as pessoas gastem, onde fica o apelo à poupança e aos bons hábitos do "pagar sempre a pronto " e do "fugir do crédito como o diabo foge da cruz"?

Caminhamos por uma estreita vereda com precipícios de ambos os lados, onde se transmitem mensagens contraditórias ao cidadão: por um lado deve gastar para estimular a economia e por outro lado deve poupar para que não se afunde a sua vida familiar...

E, no meio dessa vereda, onde está a alegria de viver?

Se o Benfica ganhasse o campeonato outro galo cantaria...

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Honra ao Sacrifício do Herói!



Chavez, "O Grande" acaba de transmitir ao seu Parlamento o desejo de continuar à frente dos destinos do país por mais uns 10 anitos pelo menos - embora (pensamos nós...) - sempre à custa de enorme sacrifício pessoal, dele e da família...

O Parlamento - lavado em lágrimas pela dimensão do sacrifíco do herói - - imediatamente fez aprovar uma Emenda à Constituição no âmbito da qual os cargos públicos na Venezuela não seriam limitados no tempo. Poder Vitalício!

Pena não existirem mais Leaders como este, amantes do seu Povo ao ponto de ignorarem as suas preferências pessoais e entregarem-se a uma vida de quasi sacerdócio em prol da comunidade.

É um Dom, uma Vocação que só alguns têm..

Eu, por exemplo, confesso que por vezes também me sinto tentado a abandonar tudo para recomeçar o resto da vida que me resta como Ditador Vitalício de algum Emirato, mesmo tendo que aturar a pesada carga de gerir o meu rendimento pessoal de mais de 40% da receita bruta do petróleo desse País, convivendo a custo e pesarosamente com 12 ou 15 odaliscas, e usufruindo dos 6 ou 7 Palácios , revestidos a mármore e cobertos a telha de ouro que por lá constituíriam a minha residência oficial...

Infelizmente falta-me a coragem para assumir estas convicções, pelo que aqui continuo a trabalhar em Portugal, deixando a outros espíritos superiores , abnegados, mais dotados de todas as qualidades, o percurso desta via dolorosa que não pode deixar de constituir a Governação ditatorial.

Obrigado Companheiro Chavez, espelho de todas as virtudes cívicas, pela tua grande lição !

Quando teremos coragem para seguir aqui no burgo um tal exemplo?

Nota: Olhem que já vi isso mais longe...

Para Descansar a Vista


Para o canto de poesia de Sexta Feira uma contribuição de Manuel Luar:

Depois da Solidão
Meço no quarto passo a passo
A solidão que me resta
A angústia depois da festa
Quando o corpo dela não está

Meço os minutos traço a traço
No velho relógio da sala
Percorrendo aquele espaço
Na solidão que me resta

Dos momentos de ternura
Nem a voz, nem a memória
De ontem, do passado
Substituem o cheiro a mar
Daquele corpo suado

Passa este sombrio tormento
Quando ela, solta, despenteada
Pela porta que se abre ao vento
Entra correndo, apressada

E logo, na cama fria
Deita-se ainda vestida
E recorda-me, nesse dia
Uma história nunca lida
Onde reinava a fantasia

Deseja-me, de paixões perdida
E inclino a boca para a sua
Despindo-a , deixando-a nua
Antecipando a doce orgia
Que dos dois resultaria

Mãos no centro, suor nas palmas
Fundindo-se as duas almas
Enquando os corpos se tocavam
Entregando-se num arfar de dor
Que já não era senão Amor

Manuel Luar
Manuel Luar nasceu em Lisboa em 1955.
Este Grande Poeta (130Kg) algo desconhecido do grande público (embora nem tanto dos donos de alguns bons restaurantes) felizmente continua entre nós ( chega pr'a lá essa boca, pôrra!!) e tem protegido de forma intransigente a sua privacidade, não se lhe conhecendo fotografia publicada.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

A falta de dinheiro


A Crise aperta e vai-se notando que as Organizações Internacionais - no caso presente falo da União Postal Universal - vão retraindo os seus auxílios e os seus programas de desenvolvimento e formação...

Para este período de 2009 a 2012 a Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia tinha programado fazer acções de formação em África, América Central e do Sul, nos Países Eslavos e na Ásia.

Com o síndroma desta Crise financeira a bater de perto, todos já compreendemos que este programa vai ter de "encolher"...

Como o sabemos? Primeiro porque de Berna já veio a sugestão de que fossem os Operadores Postais onde trabalham os peritos a assumir parte (senão todos) os custos das deslocações e estadias destes...

Depois, porque mesmo em relação aos formandos - de cujas despesas a UPU comparticipava - também já há rumores de que terão de viajar e de se albergar à sua custa...

É uma situação que não augura nada de bom para a Filatelia Mundial. Em cima das decisões unilaterais de muitos Operadores Postais no sentido de deixarem de apoiar a 100% os Programas Exposicionais dos seus Países, levanta-se agora esta sombra de que a própria WADP terá de olhar para o seu próprio umbigo e decidir se vai gerir um conjunto de acções mais limitado no espaço e na abrangência, ou mais geral e sujeito ao fracasso por não adesão de participantes.

De facto, hoje em dia nem os Operadores Postais da Europa e dos USA e Japão se consideram "obrigados" a pagar pelas deslocações intercontinentais dos seus especialistas , a não ser que as mesmas tenham a ver com o negócio, nem - por outro lado - será possível considerar "pobres" países receptores de formação, como Angola ou a Nigéria, ou os Países do Golfo, onde o Operador Postal se confunde com o próprio Estado...

A solução? Não a conheço. Para já vamos navegando "à vista da costa" e trabalhando de acordo com o que nos for permitido fazer , mês a mês, dia a dia.

De uma coisa estou certo: Quando começar a faltar o dinheiro para a mercearia ou para a farmácia não será nos Selos Postais que se vai procurar um valor de "refúgio"...

E quando a Receita filatélica se começar a retrair qual será o "apetite" dos poderes instituídos para continuar a apoiar "pro bono" todas estas acções?

Até lá vamos vivendo , com um "olho no burro do negócio e outro na cadela da crise", esperando que nem o primeiro nos pregue um par de coices, nem a segunda nos morda nos calcanhares...

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Um conto à moda de Philipe Marlowe


O Último Robalo de Mar
(história disfarçada em ficção policial, à moda de um”film noir”)

Há mais de 3 anos que eu não frequentava o famoso restaurante “A Enseada de Santa Ana”. Falta de dinheiro, obviamente. Por isso e por estar intrigado com a sugestão da Cliente para nos encontrarmos para almoçar em casa tão conhecida da “linha”, acabei por aceitar.

Quando a vi percebi logo… A “Enseada” – um dos poisos mais caros do País - devia servir-lhe de cantina… Via-se à distância que destilava classe. No tailleur Dior preto a mostrar-lhe o vale dos seios, no discreto Patek em ouro branco ou platina, na fila de pérolas que lhe adornava o pescoço, mas sobretudo na pose. Mais de um metro e setenta, treino de bailarina evidente na forma como movia as pernas e o tronco ao aproximar-se de mim, timing perfeito, incluindo os 10 minutos de atraso que fazem parte dos hábitos das mulheres deste tipo.

Pediu um Vodka Tónico enquanto esperava pela ementa , fazendo companhia ao meu “marlowniano” Jack Daniels. Começou com ares de intriga: -“ Ainda bem que conseguiu vir. Podemos falar do assunto enquanto tomarmos o café? Gosto de apreciar a comida sem a estragar com conversa de negócios”.

Concordei, no fim de contas eu recebia ao dia, 250€ por dia mais as despesas, e era ela que pagava…Por enquanto.

O empregado trouxe-nos o “último robalo de mar “ que estava disponível nesse dia. A minha companheira de mesa nem pestanejou. Naquela casa nunca entrava peixe que não fosse selvagem, pescado em alto mar, pelo que achei insidiosa a afirmação. Algum código só para os ouvidos dela?

Já com os cafés nas mãos, chegou finalmente o motivo do convite: O marido andava “muito estranho” ultimamente. Esquecia-se de tudo, nem falava aos filhos, trabalhava fora de horas duas ou três vezes por semana e - para cúmulo – não lhe tinha dado explicação satisfatória para uma ausência de 4 dias em Viena… "Negócios inadiáveis", foi o que lhe conseguira arrancar…

-“É só isso? “ Perguntei-lhe eu. - “Sim, só isso e já não é pouco..”

Nunca é “só isso”. Por norma todas as mulheres, mesmo ainda sem o saber, começam traídas na cama. Falta de atenção do “hubbie” nos cuidados mais íntimos, mero cansaço, pois então, ou desculpas com o ritmo do trabalho. Mas nenhuma está à vontade para o confessar, pelo menos num primeiro encontro deste tipo.

- “Onde trabalha o seu marido? Tem alguma fotografia recente? Ele tem
hábitos de rotina? Vai sempre ao mesmo Restaurante? Frequenta o mesmo Bar?”
As perguntas da praxe que qualquer sherlock de algibeira tem de fazer.

Separámo-nos com um pedido estranho: -“Por favor pague o Senhor o almoço que eu reembolso-o ali no carro. Fico sem jeito a puxar pela carteira neste local…” Por acaso teve sorte. O meu cartão de crédito estava – como sempre - “tapado”, mas o banco autorizava-me um descoberto todos os meses (agradecimento do gerente por um trabalhito que lhe fiz e me saíu bem) e foi por causa disso que pude pagar os 170€ de dois almocitos…

À saída não pude deixar de reparar na mesa do canto. Lá estava um colega da minha profissão, ainda "verde" como a relva, a tentar esconder por detrás do Diário de Notícias a máquina digital.
Fui atrás dela até ao Mercedes CLK descapotável e já estava à espera do que se seguiu . Depois de me pagar, com um braço puxou-me para ela e deu-me um xôxo dos antigos, daqueles que se viam nos filmes do Visconti e a que chamávamos “beijo à cinéfilo”. Demorou o tempo suficiente para ser fotografada à vontade. Eu fui deixando, mas no final sempre lhe disse:

-“ Olhe, se queria encenar uma coisa destas só para fazer ciúmes ao parvo do seu marido podia ter dito logo, porque eu ficaria pelo beijo e pelo almocito. Assim vai ter de me pagar também os 250 euritos deste dia estragado!”

“-Com todo o prazer…Mas só se me beijar outra vez…”

Um gajo não é de ferro.

Mais tarde vim a saber que o marido era suspeito no escândalo do BPP e que estava ausente em parte incerta. Nunca mais a vi , pessoalmente, mas dizem-me que teve de vender o apartamento na Lapa e a casa de férias na Granja. Parece que os filhos , já adultos, tiveram de se fazer à vida e que ela hoje habita um monte, perto de Beja, a única coisa que lhe ficou de uma vida de luxo absoluto.

Não sei porquê deu-me uma vontade súbita de ir a Beja… Logo que ponha as pastilhas novas no meu Volvo “vintage” (acho que com mais de 20 anos já é “vintage”) vou até lá…

No fim de contas num "monte" deve haver cavalos e eu sempre gostei desses animais...
E um beijo daqueles não é fácil de esquecer.
Quem sabe, pode ser que a vida comece aos cinquenta (e três).

terça-feira, janeiro 13, 2009

O Português é mesmo "estranho"...


Voltou a chuva. mas antes tivémos uns dias de "griso" como há muito tempo não se sentia...Pois se até na nossa quinta de S. Martinho, abrigada num vale das faldas da Estrela, nevou na semana passada!!

O meu amigo de infância Paulo Gil, hoje Comandante da Protecção Civil, foi acusado de não ter , como deveria, feito face ao mau tempo e ao problema dos automobilistas encerrados em estradas fechadas ao trânsito por causa do gelo e da neve.
Todos ouvimos as queixas desses automobilistas , alguns eram profissionais, motoristas de longo curso, a queixarem-se - à boa maneira queiroziana - da "choldra" que era este País...

-"E que tinham passado, na Alemanha por estradas onde a neve cobria as rodas do TIR e a estrada continuava aberta!!"

Não duvido que em Portugal a Protecção Civil não estivesse preparada para estes dias e noites atípicos, mas quem quer comparar uma região como a Alemanha - onde estas situações são comuns todos os Invernos, com Portugal, estará decerto a "fazer mal as contas" ...

E que dizer dos imbecis que, furando os bloqueios das estradas cortadas e desobedecendo aos avisos de Bombeiros e da Protecção Civil, avançavam por onde não deviam e contribuíam para os problemas??!!

- "Vamos indo devagarinho só para ir ver a neve que as crianças nunca a viram..."

Pois... Somos mesmo estranhos...Lembra-me aquela cena fantasmagórica da Praia de Caxias encerrada por causa dos coliformes fecais na água- durante os anos 80 - e da reportagem que por lá fez a TV. Quando perguntava aos casais com filhos porque é que teimavam em utilizar aquela Praia perigosa para a saúde, ouvia "pérolas" como esta , que eu nunca mais consegui esquecer:

- "Olhe, nós nem fomos à água, só deixámos ir os pequenitos lavar os pés e molhar a cabeça por causa do Sol..."

Mudou alguma coisa em quase 30 anos? Que "Choldra" ...

Cri -Cri Ganhou!


É oficial. Cristiano Ronaldo (o Cri-Cri para as miúdas) foi ontem considerado o melhor jogador do mundo pela FIFA: Troféu Bota de Ouro!

Independentemente das colagens meio patéticas - do grego Pathos, apelo à emoção, paixão no discurso , demagogia oratória ( vejam como isto por aqui está hoje...) - de Alberto João "o único", e até dos PR e 1º Ministro da República, honras são devidas am quem as merece.

Parabéns Ronaldo e só te desejo uma coisa: que brilhes como o ouro ao serviço da Selecção como brilhaste nos jogos do ManUnited na época passada... É que na Selecção não se tem muito visto o Cristiano "Bota de Ouro", mas antes o Cristiano "pé de chumbo" ... Com V. licença...

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Para Descansar a Vista


Está bom este tempo para ficar em casa, ao quente da lareira ou dos aquecedores, perto da janela, com um bom livro na mão.

E aqui têm hoje, de Edmundo de Bettencourt,
poeta funchalense desaparecido em 1973, a:

“Leitura

Havia luz em uns instantes surgidos
na minha vida,
que a mesma vida apagava.
E a pobre realidade
era uma cinza......
já nada me recordava se,
de entre ela, uma faúlha
não me queimasse os sentidos.

O fogo das queimaduras
é dor que nunca me passa!
E é esta que me ressurge
um pouco dessa luz-alma
de tantos momentos idos...

A inquieta luz, sempre de agora,
que ao mundo nada desvenda,
a mim diz certa verdade,
a chã naturalidade
nas coisas vãs da legenda.

Talvez ninguém me acredite,
e se ria,
quando grave eu me recite.

Mas recitar-me, cantar,
mesmo cansada a memória,
teria de acontecer:é comigo,
bem viva enquanto eu viver,
a minha inútil história.”

Edmundo de Bettencourt

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Última Ceia no VírGula

Conheci Pedro Rodrigues desde os meus tempos do ISCTE. Era meu colega Assistente.
Depois soube que ele tinha enveredado por uma vida dedicada à Restauração, abrindo, gerindo e fazendo do seu Restaurante algarvio "O Tradicional" um exemplo de como em Portugal também podíamos fazer cozinha de autor numa altura em que este conceito era sobretudo lido e comentado, mas ainda não praticado pelos "indígenas"...

Muito mais tarde vim a encontrá-lo em sociedades que geriam Restaurantes de Lisboa, lembro-me do "Faz Figura" e sobretudo do "VírGula" ali mesmo em frente ao rio Tejo, por detrás da estação de comboio da CP do Cais do Sodré.

Hoje será o último dia em que o estimado chefe Bertílio Gomes nos presenteará com a sua arte neste "VírGula" que já nos é de boa memória.

De facto o Restaurante vai encerrar. Falta de Clientes? Talvez apareçam agora menos do que noutros tempos - é a crise insidiosamente a atravessar-se no caminho - mas sobretudo a rigidez de procedimentos da Administração do Porto de Lisboa, senhorio de Pedro Rodrigues, que não terá levado em conta, nos negócios que fez com a sociedade do "VírGula", a necessidade desta ter de levantar e construir quase do nada um espaço acolhedor e moderno onde se pudesse exercer alta cozinha.

Pedro Rodrigues recebeu da AGPL um barracão em ruínas e infecto, cheio de ratos , e fez dele um dos espaços mais atraentes da frente ribeirinha...

E para quê? Para o devolver agora tal como o recuperou , ao senhorio, por falta de pagamento das rendas.

Hoje é o dia do último jantar do Chefe Bertílio no VírGula. Vamos lá todos dar um abraço amigo
à equipa do VírGula , desejando-lhe que encontre rapidamente outro espaço onde possa exercer o seu mister, para gáudio e prazer de todos os que apreciam a gastronomia.

Ementa "Bertílio Gomes" do VírGula

Entradas: Terrina de foie gras com queijo de figo em carpaccio e azeite de chocolate; Caldo de rabo de boi com raiz de basílico e quinoa, rolinhos de legumes; Camarão grelhado com geleia de erva limão e azevias de castanhas e funcho; Dome invertido de bacalhau, espuma de batata e azeite de chouriço; Queijo da ilha D.O.P. assado com pão alentejano, molho virgem e maçã bravo de esmolfe com cogumelos com espargos, ovo trufado e pata negra.

Peixe: Asa de Raia com vinagrete morno de vinho tinto, batatas salteadas com espargos; Robalo de mar e salicornia ao vapor, arroz basmati; Peixe-galo corado, ravioli de tomate e lingueirão, molho de açafrão;Bacalhau fresco, guisado de ervilhas e ovo escalfado; Cantaril assado com risotto de amêijoas à Bulhão Pato e legumes secos;Lavagante com pack choi salteada e molho de tangerina.

Carne: Lombo de veado, mosaico de batata-doce, feijão verde; Entrecote de novilho, milho frito e esparregado; Carré de borrego assado, batata com queijo de Serpa e acelgas; Bochecha de vaca estufada em vinho tinto, boletus e espargos verdes; Costela de leitão e puré de castanhas, aipo e abóbora;Capão na púcara com aromas do virgula.

Sobremesas:Fofo de chocolate amargo com maçã caramelizada e gelado de café; Tarte fina de maçã com molho de gengibre e gelado de baunilha do Tahiti; Parfait de maracujá sobre crocante de avelã e molhos tropicais; Pastel de Lamego com tempura de pêra e sorvete de tangerina; Cinco chocolates; Tarte de figos macerados e amêndoa com gelado de alfarroba; Creme brûlée de abóbora c/ gelado de nozes;

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Para alegrar as hostes


No meio de tanta incerteza e depois de ouvirmos ontem o Governador do Banco de Portugal e os comentários dos Partidos da Oposição, acho que nos fará bem a todos "limpar" a mente com um assunto menos, digamos assim porque está na moda, "fracturante"...

Tenho passado por alguns percalços meio anedóticos nesta minha vida de "vagabundo" ao serviço da Filatelia dos Correios de Portugal. Corri meio mundo a vender e a ensinar filatelia, nestes quase 20 anos que levo do negócio, e ultimamente, como será do conhecimento de quem mais acompanha esta coluna , sou Presidente da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia - um Grupo especializado da União Postal Universal (a ONU dos Correios) - desde 2005 e até 2012.

No âmbito destas funções recordo-me bem de uma viagem a um País que não mencionarei e onde me aconteceu o seguinte episódio:

Logo que cheguei fui recebido no Aeroporto pelos Colegas dos Correios locais (pensava eu que eram da Filatelia...) e fui de imediato levado ao hotel, tendo sido combinada uma reunião para o início da manhã seguinte , na sede do Correio.

Eu falo Francês, Inglês, Espanhol e Italiano (quero dizer, algumas destas línguas falo mesmo, e em outras faço-me entender, o que não é bem a mesma coisa...) mas não domino nem de perto nem de longe, as linguas eslavas. Desta forma estava sempre presente uma tradutora nas minhas reuniões, a qual traduzia de inglês para o idioma do País em causa e vice versa.

Passei quase 12 horas (em 3 dias) a falar da filatelia, dos cuidados a ter para evitar as Emissões Fraudulentas ou Abusivas, do MKT da Filatelia, de como a Cultura de um Povo podia ser utilizada como tema dos selos e ainda de como estes mesmos selos podiam ser também utilizados para divulgar uma boa imagem do país e das suas gentes, usos e costumes. Deixei muito material escrito em inglês , e utilizei vários Power Points para ilustrar o que dizia.

Quando regressei a Lisboa recebi - uns dias depois - um mail escrito num inglês terrível mas onde percebi que estava escrita uma mensagem do meu colega director da filatelia do país onde eu estivera, a pedir se não lhe podia enviar a ele o material que ... lá tinha deixado.

Não entendi. Utilizando o nº de telefone apenso ao mail consegui chegar à fala com ele e o que me disse foi de estarrecer: Quem me tinha recebido e a quem dei aquelas palestras foram altas chefias da Direcção Geral dos Correios, que nada tinham a ver com a Filatelia.

Esses "Chefes" não só impediram que os especialistas em filatelia me ouvissem como ainda por cima recusavam-se a dar os elementos que eu lá tinha deixado ao desgraçado do meu colega local, com medo que este os ultrapassassse na hierarquia da Empresa!

Dá para acreditar!!??
Como se observa no cartoon anexo, a Inveja acompanha-nos até à morte...

Mais um comentário ao que disse JS

Mais um dos nossos Leitores comenta - e bem - a entrevista do 1º Ministro:

Em boa verdade as televisões, nestes eventos, já nos habituaram a questionar e não a entrevistar, e pior do que isso, é quando ao interlocutor questionado se retira a palavra, com outra questão, ou se interrompe a emissão para compromissos publicitários.

Não há quem aguente, e há Gente que aguenta tudo isto. Quanto às duas "novidades" só o serão para quem não repara nos cigarros fumados à porta das lojas de comércio desertificadas,pelos empregados das mesmas, já que não podem ou não devem roer as unhas, e no consumo exagerado dos diazepams, hoje mais que nunca, que moram nas malinhas e nas algibeiras dos contratados a prazo deste país.

Quanto ao convite ao colega partidário para "figurar" nas listas a elaborar é óbvio que se trata de "fazer figura" como manda a boa etiqueta, ou o "protocolo" que ainda está na "gaveta" que um Secretário Geral um dia lá meteu, segundo, dizem as más linguas.

De resto, nada que não saibamos, a não ser a advertência, para nos dirigirmos à loja do china mais próximo e adquirir um impermeável para a recessão, pois como nos furacões, o penultimo grau da crise vai tomar o nome de recessão.

O último, Deus nos livre de o invocar.....

terça-feira, janeiro 06, 2009

Um Leitor Comenta a Entrevista

O nosso leitor Manuel comenta o Post sobre a Entrevista de José Sócrates e sobre a inconveniência dos entrevistadores:

Ricardinho é mal educado. Sobretudo desde que percebeu que assim (se) vende melhor. Aliás, a maioria dos jornalistas "de referência" entendem o seu papel como o de porta-vozes, com amplificador ligado, dos descontentamentos. É ainda possível ouvir uma entrevista nestas condições? É cada vez mais difícil...

E eu dou-lhe razão.

Sócrates e a Nação


Todos estiveram decerto atentos à SIC de ontem à noite? Falava o Sr 1º Ministro... Não lhes diz nada? Foram, se calhar, alguns dos milhões de Portugueses que preferiram seguir a novela na TVI?

Não faz mal. Estamos já habituados a que sejam outros a tomar as decisões por nós, e assim vamos vivendo, mal informados mas sempre com uma opinião sobre tudo aquilo que acontece, seja na Bola (Ai, Ai que jurei que nunca mais falava disto até ao fim do campeonato...) ou na Política, ou até sobre os últimos amores e desamores do esquálido Jet Set nacional...

Como já dizia Caius Julius Cesar, que por aqui andou há mais de 1000 anos: "Gente estranha aquela que habita para os confins da Iberia... Uma peculiaridade os distingue dos outros: é que não se governam nem se deixam governar!"

E não esqueçamos uma das principais conclusões - que atribuo a Pedro Magalhães se não me engano - do grande estudo do ICS sobre as eleições legislativas de 2002, e que nos deve fazer pensar:

Os portugueses são geralmente democratas, insatisfeitos e desafectos. Isto é, os portugueses suportam numa altíssima percentagem o regime democrático, mas estão descontentes com o modo como funciona, com a economia e com a actuação dos governos e numa enorme percentagem desinteressam-se pela política...

Por isso podem os meus leitores estar tranquilos que aqui vos trago um Digest (sintetizado) do que foi ontem o 1º encontro de José Sócrates com o País neste "ano de todos os perigos".


Em primeiro lugar, novidades só me lembro de ouvir duas: a) "Que Portugal não escapará à Recessão económica" - assunto já aqui debatido e em relação ao qual apenas o Governo ainda não se tinha assumido. E b) "Convidarei Manuel Alegre para as Listas de Deputados do PS".

Fora estas novidades o discurso foi o que se esperaria de um 1º Ministro a ter que lidar com uma Crise de tamanho e contornos ainda mal definidos e em relação à qual - como muito bem dizia António Peres Metelo na TSF - "ainda não se sabe concretamente de que forma e em que grau afectará a vida de todos os Portugueses"

Também disse JS que caso o Tribunal Constitucional decidisse pela inconstitucionalidade do novo Estatuto da Região Autónoma dos Açores - ponto de maior fricção com o PR desde a presente legislatura - o Governo aceitaria de bom grado essa interpretação...

Pediu também Sócrates, claramente e pela primeira vez a Maioria Absoluta para as eleições Legislativas de Setembro\Outubro - como lhe competia, digo eu. E manifestou a sua discordância sobre a hipótese de estas Eleições se virem a realizar no mesmo dia do que as Autárquicas.

E porquê? Oficialmente a razão do 1º Ministro tem a ver com minimizar as hipóteses de confusão do eleitor (o que se compreende) mas daqui também não podemos deixar de retirar outra "razão" - a de que será nas Autárquicas que o PS tem de subir face ao PSD, enquanto que nas Legislativas basta-lhe manter a sua posição.

E ainda, porque nas Autárquicas fala sempre mais alto o poder dos compadrios e o peso das "figuras locais" (para não lhes chamar "caciques" ) enquanto que nas Legislativas o Voto é muito mais influenciado pela conjuntura nacional e pela análise do desempenho do Governo em funções. Ora em relação ao 1º caso estará o PSD ( e o PCP na sua área de influência específica, tal como o BE) mais bem servidos de figuras "carismáticas" do que o PS...

Sobre esta matéria convém elaborar ainda mais um pouco:
1 - Quem marca o dia das Legislativas é o Sr Presidente da República.
2 - Quem marca o dia das Autárquicas é o Governo da República.

Ora já se sabendo que o Governo não deseja sobreposição destas datas, a pergunta que teremos de fazer é :
Quem vai marcar primeiro?


O PR tem de marcar as Legislativas com um prazo mínimo de 60 dias, e sempre entre 14 de Setembro e 14 de Outubro. O Governo tem de marcar as Autárquicas num prazo mínimo de 80 dias, mas agora entre 22 de Setembro e 14 de Outubro...

Estão a ver que com a actual Lei Eleitoral possui vantagem a Presidência... Irá o Professor Cavaco Silva utilizar esta sua prerrogativa de marcar DEPOIS do Governo para escolher o mesmo dia? Ou não??

Interessante, não acham?

Uma última nota sobre a - pelo menos assim me pareceu - demasiada "assertividade" dos entrevistadores, com realce para Ricardo Costa... Houve alturas em que chegou a roçar a "má educação"... Seria para não ser acusado de ligações ao PS na figura do seu irmão António? Talvez subconscientemente isso tenha acontecido, mas o certo é que ambos quase que não deixaram o "Homem" acabar um raciocínio...

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Chapelada a João Paulo Martins


No seu artigo do Expresso de 3 de Janeiro JPM faz a apologia de uma nova parceria que fará Vinhos no Douro , João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco, o chefe dos enólogos do Barca Velha - Duorum é o seu primeiro cartão de visita.

Mas, aproveitando esta oportunidade, JPM manifesta o seu desencanto pela uniformidade espantosa em que se pode vir a transformar o panorama (também nacional) mas sobretudo mundial dos vinhos de mesa devido à presença imponente e influenciadora dos gurus "Parkers" , o próprio e os seus seguidores.

Esses "vinhos à Parker" - negros retintos, achocolatados, alcoólicos qb, espremidos até mais não darem as pobres videiras - constituem de tal forma o paradigma no MKT actual da enologia mundial que se torna muito difícil, para um qualquer produtor, ter êxito fazendo diferente, melhor dizendo, ousando ser diferente.

JPM chama-lhes os "vinhos peppermint" e "arreia-lhes duramente" no citado artigo... E que nunca as mãos lhe doam, é o meu comentário!

Já aqui no nosso Blog tivemos muitas vezes o mesmo discurso, contestando que - dentro de alguns anos - já ninguém sabe como um Bairrada se distingue de um Dão ou de um Alentejo, ou de como uma quinta de S. João da Pesqueira faria vinhos diferentes de outra em Portalegre.

Notem que eu próprio sei - até pela formação e pelo que faço na vida - que o MKT é rei e senhor, manda nas decisões de plantio das castas e de tratamento dos mostos na Adega, de forma a que os vinhos se possam escoar bem e a preços condizentes. Ninguém que esteja neste mercado - em seu perfeito juízo - poderá ignorar estas tendências, sobretudo se destinar parte da sua produção à exportação.

Mas aprendam com os melhores - é este o meu conselho. Façam como a Sogrape que aproveitou o êxito do seu produto estrela "Mateus Rosé " - um produto apropriado ao seu mercado e desenhado para agradar a um enorme target de consumidores - para investir parte desses ganhos na feitura de vinhos tão espantosos como o Barca Velha de novo perfil (o de 2000) ou os da Quinta da Leda (Vinha do Pombal sobretudo).

O saudoso Dr. Chambel - Fórum Prior do Crato - afirmava que no dia em que não se conseguisse distinguir o perfil de um vinho regional de outro , estaria Portugal condenado a ser um País produtor de Chardonnais e de Cabernets para alimentar o estrato médio baixo dos consumidores mundiais.

E acho que ninguém aqui neste "jardim" deseja isso.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

1º COMENTÁRIO DO ANO

Comentando o Post sobre Janus diz o Amigo Peninha:

Apelemos então ao "Jansenismo" e esperemos que tudo corra bem.
Peninha

Como se devem recordar esta doutrina de influência calvinista baseava-se no pressuposto de que o Homem foi corrompido pelo Pecado original, e desde aí tem tendências naturais para o Mal - a bem dizer, e vendo o que se passa por este mundo neste 1º de Janeiro, até aqui não está até mal pensado...

O pior é o resto: A vida seria então uma luta perpétua entre a "concupiscência maligna" e a "graça divina"... Mas pior do que isso, em parte esta doutrina está ligada à Predestinação, pois segundo ela existem apenas duas possibilidades para qualquer Homem: nascer com a Graça, pelo que só pode fazer boas obras, ou nascer sem ela, o que o leva apenas a fazer sempre o mal... Não há lugar para a redenção ou para o aperfeiçoamento pessoal. Nascemos A ou B e acabou-se. Está escrito.

O Almoço do 1º Dia do Ano


Tanto pode ser Cabrito Assado no Forno como Cozido à Portuguesa, tudo depende da vontade das “partes” e do que se comeu anteriormente.

Neste ano ganhou a votação o “Cozido à Portuguesa”. Mas à moda da Beira, está claro, relativamente magro, sem Galinha nem Toucinho…

Há duas formas de o fazer, conforme estejamos com mais ou com menos tempo , haja mais ou menos paciência junto aos tachos e panelas…

A forma tradicional, mais antiga e requintada manda fazer o seguinte:
Na Véspera - Temperar as carnes frescas – chambão de vaca, pé de porco, costela e entremeada de porco - com vinho branco, umas folhas de louro, um ramo de salsa, pimenta e sal. Retirar os enchidos dos plásticos de origem – ou das salgadeiras - lavar bem em água fria e deixar ao ar. Demolhar feijão branco e vermelho qb para o nº de pessoas que vão comer.
No próprio dia - Escorrer as carnes frescas bem antes de cozer.
a) Começar por cozer num panelão apropriado - mais de meio com água e uma mão cheia de sal - todas as carnes frescas juntamente com os enchidos “rijos” – chouriços de carne, paios, orelha, coto fumado de canela de porco, barriga de porco fumada, morcela de sangue e chouriço de cebola negro. Deixar apenas de fora as farinheiras e os chouriços de sangue e vinagre frescos. A única excepção é uma farinheira pequena que têm de cozer antes para desfazer no arroz.
b) Depois de bem cozidos (hora e meia) os enchidos fumados e as carnes transferem-se para um ou dois Pirex ainda sem cortar. Resguardam-se na estufa do fogão, ou, se este não tiver estufa, põem-se por cima do mesmo panelão onde se vão agora cozer os legumes.
c) Aproveita-se a água da panela onde cozeram as carnes em três partes – retira-se uma chávena para fazer o arroz de forno; Outra parte da água para cozer batatas e nabo com cenoura, numa panela nova. O que resta da mesma água deixa-se na panela original onde se vai cozer a couve portuguesa. Acrescentam-se as duas panelas com água da torneira se necessário até cobrir os legumes. Deitem algum sal mas com cuidado que a água das carnes já está salgada.
d) Aproveitem agora para cozer o feijão branco e\ou vermelho num tacho à parte..
e) Ao fim de cerca de 1 hora (depende das couves) colocam-se por cima das couves quase cozidas as farinheiras espetadas por dois palitos bem assim como os chouriços de sangue e vinagre frescos.
f) Enquanto se espera pelo final da cozedura faz-se o arroz – meia cebola pequena picadinha, um golpe de azeite, um refogado ligeiro. Mistura-se o arroz (de preferência estufado) frita-se por um momento e deita-se a água das carnes (e outra qb) numa proporção de duas doses para uma de arroz. Antes de pôr no forno para secar é costume desfiar-lhe uma farinheira dentro.
g) Em estando tudo cozido cortam-se as carnes, empratam-se estas com os enchidos fumados e frescos num tabuleiro meio fundo de dimensão apropriada e, noutra travessa mais funda, colocam-se as batatas, os nabos e as couves. O feijão vai à parte.


Este Cozido tradicional leva cerca de 3 -3,5 horas a fazer. É muito bom, mas dá muito trabalho.

Eu “inventei” em casa outra modalidade que se faz em metade do tempo:
A preparação pode ser como no Cozido Tradicional – temperar as carnes, de véspera, lavar os enchidos, etc…

Chegados ao dia ponham no fogão 3 panelas com água e sal . Estou a supor que couves e batatas não cabem todas na mesma panela... Numa panela coloquem as carnes frescas de vaca e porco, na outra as couves e mais um chouriço ou pedaço de bacon ou toucinho magro fumado, na terceira coloquem as batatas, os nabos e as cenouras também juntamente com outro chouriço ou pedaço grosso de bacon fumado magro.

Os chouriços rijos e outros fumados (orelha, coto, barriga) que sobrarem vão fazer companhia às carnes na 1ª panela.

Coze tudo ao mesmo tempo.

Ao fim de 1 hora “roubem” uma ou duas chávenas de água à panela das carnes e façam o arroz como descrevi atrás. Introduzam as farinheiras – excepto a que vai a desfazer no arroz, que tem de ser metida logo de início para cozer antes – e os chouriços de sangue e vinagre por cima das couves, esperem mais 15 minutos e cortem as carnes enquanto o arroz apura.

Comprem feijão de lata previamente cozido, vermelho ou branco e aqueçam (5 minutos) para juntar ao cozido.

Fazemos tudo em apenas hora e meia e o gosto não se distingue muito do “outro” Cozido feito pelo método tradicional. Vão por mim que já fiz os dois. A grande diferença está mais na qualidade dos enchidos e da carne que se emprega…

Mas é claro que hoje tenho de penar e fazer tudo à moda antiga…