quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Cuidado com o Etíope! Ou a Invasão do Lagartame!

Vai ser difícil fazer este Post sem correr o risco de ser acusado de racismo, ou pior...

Eu explico. O dinamarquês  Paul Thomsen vai dedicar-se de corpo e alma (inteiros, supôe-se) ao caso da Grécia. Em  Portugal a "mão" do FMI na Troika ficará a cargo de um economista etíope, Abebe Aemro Selassie...

Não são boas notícias...

Por um lado, o Homem deve estar habituado à indigência extrema do corno de África, o que o fará desdenhar da austeridade lusa. Austeridade para ele será passar 2 semanas com meia banana e a casca...Por outro lado,  com este Selassie,  por muito que Portugal corra nunca mais o apanha... E se tentarmos fugir, o desgraçado do etíope dá conta do recado num instante.

Abebe? Pode ser que sim, mas o quê?  Vinho Verde? Laranjada? para nós era melhor se fosse tinto....

Selassié? Pois não sabes quem é agora,  mas não tarda ficas a saber.

Não há nesta terra perdida muita experiência de contato e relacionamento com a gente etíope, embora já Camões os referisse (Lusiadas, canto V):

Deixamos de Massília a estéril costa,
Onde seu gado os Azenegues pastam,
Gente que as frescas águas nunca gosta
Nem as ervas do campo bem lhe abastam:
A terra a nenhum fruto enfim disposta,
Onde as aves no ventre o ferro gastam,
Padecendo de tudo extrema inópia,
Que aparta a Barbaria de Etiópia.

Depois, lá para os anos sessenta, recebemos a visita de outro etíope. O Negus Hailé Selassié , mais conhecido por: "Sua Majestade Imperial, Imperador Haile Selassie, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá".

Este Hailé dos antigos (morto em 1975, imaginem!) era sportinguista até mais não poder ser, até tinha leões a comer lá por casa (não sei bem o quê e até tenho medo de me pôr a adivinhar...Numa terra de fome onde estariam as vacas? Só me vem à cabeça o  Bokassa!).

E uma dúvida me assalta:  o actual perito do FMI,  como também é  Selassié, não será ainda  parente do Negus? E  talvez sportinguista como ele....

À primeira vista o actual Selassié parece mais escuro (eu não disse preto!) do que o antigo, mas talvez fosse do Photoshop... O outro sempre era Imperador...

Não sei se estão a ver o buraco onde nos meteram? Para aí do tamanho do fosso dos leões lá para Sete Rios.




Nunca esperei dizer isto, mas ainda vamos ter saudades do Viking!

Volta Paul que a gente perdoa-te! (mas não te esqueças de trazer pilim...)

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Não dá a mecha para o sebo?

Não dar a mecha para o sebo é uma expressão idiomática portuguesa bem antiga. Significava  que , apesar de minusculo, o valor que se pagava por um  "fósforo" (mecha) não se justificaria  dado o pequeno tamanho do "coto da vela"  (do sebo) que se pretendia acender.

Mais tarde veio a significar que algo é insuficiente, que não vale a pena tomar medidas se as conclusões esperadas forem insignificantes. No fim de contas é uma expressão que relativiza o Investimento face aos Resultados previsíveis.

Por exemplo: Vale a pena investir na educação dos filhos se não vemos forma de os empregar mais tarde?

Não será preferível pôr os "meninos" a aprender numa oficina de mecânica e bata-chapa? Com a crise a avolumar-se é expectável que cada vez mais carros tenham de fazer 7, 8, mais de 10 anos ao serviço da mesma família, o que dará boas oportunidades para as oficinas...

Carpinteiros (já não digo marceneiros, que esses roçam a fasquia de artistas) e Eletricistas, Pedreiros e Estucadores, serão as profissões do nosso futuro.

Alguns rapazes e raparigas, os que tiverem mais sorte,  podem arranjar emprego na industria hoteleira, a servir à  mesa ou a trabalhar nas copas dos restaurantes e hotéis que sobreviverem.

As raparigas terão tendência a ficar cada vez mais em casa, como nos anos 50 e 60 do século passado, dado que a escassez de empregos para todos vai obrigar a diferenciar sexualmente a respetiva oferta... tal e qual como aconteceu na Europa e nos USA nos anos que se seguiram à guerra de 39\45.

Algumas das "meninas"  deviam aprender corte e costura.  Para os "arranjos" e "emendas" no vestuário da família remediada. Todas teriam de ter aulas de economia doméstica, lavores femininos e cozinha.

Lá mandaremos  às "hortas" ( Maria Teresa Horta) a "libertação da mulher"  e as "queimas de soutiens", tão em moda nos anos 70...

Claro que a alternativa número dois - e mais credível, já que não estou a ver mais de metade da população a remeter-se a atividades de "serralho" outra vez, depois de tantos anos - poderia ser os rapazes e raparigas deixarem de casar e  as famílias passarem a ser transumantes (tal como os rebanhos das ovelhas antigamente) : 6 meses em casa dos Pais do Noivo, os outros seis meses em casa da Mãe da Noiva. E assim noivariam para sempre, até ao cansaço de algum dos progenitores.

- "Lá tá o gajo a gozar!! " Dirão alguns leitores.

Olhem que não é tudo gozo. Antes fosse. Meio a sério ou  meio a brincar, qual o futuro de um "génio" que estuda ciência teórica nos dias de hoje, aqui em Portugal? Se for mesmo um "génio" só tem um futuro: Emigrar.

Onde vamos empregar as dezenas de milhares de gestores e economistas, historiadores e sociólogos, psicólogos e  arquitetos,  que todos os anos saem das nossas universidades? É que nem para o ensino liceal servem...

E os cursos ditos "Artísticos" ? Designers, Pintores? Só se os empregarmos (lá está) nas oficinas de bate-chapa, porque até na construção civil , na pintura de paredes e empenas, os dias estão a ficar negros...

Em conclusão: Pais e Mães reflitam bem . Se têm filhos e filhas em idade de escolher a profissão, das duas uma: Ou  notam tendência para as engenharias informáticas e eletrónicas ( o que ainda vai garantindo alguns empregos) e podem deixá-los seguir para o IST;  ou se notam que os rebentos são mais do tipo "Universidade Clássica" , comecem já a procurar nas redondezas trabalho manual onde possam começar a aprendizagem. Nem que tenham de pagar ao "mestre" , como se fazia na Idade Média, na entrada dos aprendizes para as grandes corporações de ofício...

E então os Médicos e Enfermeiros? O Sistema Nacional de Saúde? Os Cuidados  de Saúde na terceira idade ? 

Tudo isto parece ter sido chão que já deu uvas, na altura em que Portugal tinha idosos e dinheiro para os apoiar.... Hoje temos velhos que, de acordo com as novas teorias da miséria galopante, só atrapalham, porque contribuem para a insustentabilidade da Segurança Social e entopem os Centros de Saúde!

E não há volta a dar a isto?  Haver, há, mas não com a presente gestão do Cinema Europa...

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Conversas sobre vinhos

O último programa "Expresso da Meia Noite" foi dedicado aos Vinhos. Não sei se viram?  Na SIC Notícas?

Ricardo Costa, director do Expresso, Jorge Roquette, da Quinta do Crasto, João Álvares Ribeiro, da Quinta do Vallado, Catarina Vieira, da Herdade do Rocim, e Jaime Quendera, da Casa Ermelinda de Freitas faziam o programa.

Faço logo um protesto: falta o Dão carago! E a Bairrada pôrra! Então dois Douros (excelentes! Mas isso não vem ao caso!) um Palmela e um Alentejo?
Não seria mais eclético introduzir um Dão em vez do segundo Douro? Ainda por cima Crasto e Vallado fazem parte do mesmo grupo,  "Douro Boys"?
 
Álvaro de Castro, já ouviram falar? E Sidónio de Sousa?
 
Mas adiante que estas coisas enervam-me e depois tenho de tomar comprimidos.
No seguimento da conversa ouviu-se falar dos indíces Nielsen de consumo de vinhos em Portugal, tendo sido referidos estes dados:
 
Em Portugal e só "venda de prateleira" (super, hipers e garrafeiras)  , 80% das vendas dizem respeito a vinhos que custam menos de 2€ \garrafa, 19% são de vinhos entre 2€ e 5 € \ garrafa e,  finalmente, 1% das vendas dizem respeito a vinhos que custam mais de 5 €\garrafa também...
 
Não sei se ouvi bem, mas como gravei o programa é possível passar estas intervenções as vezes que entendermos até estarmos esclarecidos.
  Não haverá engano??!!

A ser verdade  parece que o dinheiro está no vinho vulgar (não direi menos bom, a qualidade mede-se dentro de cada estrato e ainda bem que se fazem cada vez mais bons vinhos baratos) e muito menos no vinho premium ou até apenas de gama média.
 
Tomemos um exemplo de uma casa produtora que tem de tudo, e de uma região (Douro), Sogrape Ferreirinha :
 Esteva (5€), Callabriga (16€), Quinta da Leda (32€), Reserva Especial (50€), Barca Velha (quando saíu talvez a 80€ , hoje a mais de 200€).
 
E de outra da mesma região, a Quinta do Crasto:
Crasto colheita tinto (9€); Crasto Superior (12€); Crasto Vinhas Velhas (22€); Crasto Maria Teresa (70€ quando existe, nas garrafeiras está actualmente a perto de 80€...).
 
A acreditar no que ouvimos, a Quinta do Crasto trabalha apenas para os tais 1% do nosso mercado! E a Sogrape apenas tem um vinho desenhado para 20% do mesmo mercado, o Esteva!
 
Bebo Crasto Colheita no dia-a dia. De vez em quando posso até ir por um Quinta da Leda ou Crasto Vinhas Velhas, quando há oportunidade para isso e se os comprei logo em primor... Mas de Barca Velha e Maria Teresa tenho em casa 3 garrafitas e apenas para os grandes momentos...
 
Por outro lado, devo também dizer em abono da verdade que é raro baixar em gama para os Estevas e outros abaixo dos 5€. A não ser algum Loureiro ou Tinto Verde comprados diretamente ao produtor.

Sou por isso um consumidor pouco característico e - em termos estatísticos - pouco "normal".

Bem como a maior parte dos amigos que tenho, e se calhar por causa disso é que são meus amigos...

Mas voltando ao tema: para que é que as grandes casas gastam neurónios, tempo e investimento duro em grandes vinhos que lhes não dão mais do que 1% de vendas?

Claro que temos que falar da Exportação, onde as marcas mais importantes resolvem os seus problemas...Parece que das 750 000 garrafas produzidas pela Quinta do Crasto, 600 000 vendem-se lá fora, por exemplo...

Em mercados como o Angolano, o Brasileiro e o Chinês vale tudo e quanto mais caro melhor...
Já nos USA e na velha Europa o clima será diferente. A relação qualidade \preço é muito mais valorizada.
 
Talvez pelo mesmo motivo que a Ferrari,  a Mercedes, a  Porsche e quejandos (Rolex e Pateks à mistura) têm todos salões de exposição em Shangai,  não deveriam os vinhos de Portugal alugar uma super-loja de luxo em Luanda, para venda e mostra do que têm de melhor? É só uma opinião...
 
Uma coisa é certa: se  é em função dos produtos "locomotivas" que o resto do comboio anda mais ou menos bem, devido à preponderância do deus Marketing nos nossos dias, então nenhuma marca de respeito deve deixar de ter  um ou dois produtos "estrela" na sua gama. Cuja rentabilidade não se meça apenas em termos diretos, mas sim pelo que de bem pode fazer às sinergias do grupo e dos restantes produtos.
 
Vivam por isso os Barcas Velhas, os Marias Teresas, os Batutas, os Novais Nacionais, os Carrosséis do Dão, os Esporões Private Selections e outros que tais...
 
E se algum recado posso dar aos produtores será este: diferenciem o preço como fazem os franceses aos Grand Crus. Aqui em Portugal, em primor, não levantem  muito a garimpa... Depois lá em Shangai ou em Luanda estejam à vontade para abusar...
 
E que lhes faça bom proveito!

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Para descansar a Vista

S. Pedro chateou-se com os indígenas. Se calhar por causa do meu gozo com a seca aqui publicado há semanas atrás. S. Pedro analisa sempre com cuidado este Blog e  quando lê algo que o tire do sério estamos bem lixados...também foi capaz de ter sido um bocado foleiro da minha parte estar assim a confundir Tintol e Briol com a águazinha...

Bom, viremo-nos então para outros Oragos... Para o povo sioux (grandes peritos em danças da chuva) ou até para o nosso velho conhecido, o  Curandeiro Tradicional  Kisibi Sumu, ("aka" Raimundo Veloso Vaz)  da  Comunidade de São João do Tupé - Manaus.

Não é que lá para o Mato Grosso, Pantanal ou quejandos falte muito a chuva... Mas podíamos sempre negociar uma espécie de "transvases espirituais". Está claro que para que o Pajé atenda e faça a pajelança é preciso dar-lhe uma gorgeta... Vem-me à cabeça, assim de repente, um lugarzito no Conselho de Administração da REN. O que acham? Sem chuva para que servem as Barragens? E estando a EDP já tomada ( e bem) falta a REN.

Mas adiante. Poema de chuva, portanto. Aqui vai ele:

Chove ? Nenhuma Chuva Cai...

Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?

Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...

E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuro, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...

Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia

Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...

Fernando Pessoa (Cancioneiro)

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

História de ontem e de hoje: O Chanceler Álvaro Pais

Esta coisa de ser Chanceler, nos tempos de antigamente, tinha que se lhe diga... Ora vejam:

"De entre os conselheiros régios destaca-se o Chanceler-Mor, considerado, na senda das «Partidas» de Afonso X, o Sábio, o medianeiro entre o Rei e os homens, junto do qual se encontra o Capelão-Mor, o medianeiro entre o Rei e Deus.
No reinado de Afonso Henriques, o ofício do Chanceler-Mor já era conhecido e, de acordo com o seu regimento, constante das Ordenações Afonsinas, a indigitação deve recair sobre quem «seja bem razoado, de boõs costumes, de bôa memória e saiba bem leer e escreever», que goste do seu Rei e «saiba conhecer ho erro», devendo, ainda, recair sobre quem seja de boa linhagem porque se o for terá «sempre vergonça de fazer cousa, que lhe estê mal» (Ordenações Afonsinas, LivroI, Título2).

O velho ( velho ao tempo da Revolução de 1383\1385) Álvaro Pais  foi chanceler-mor de D. Pedro I e de D. Fernando. Comandou a população na revolução que rebentou em 1383, em Lisboa, em defesa do Mestre de Avis. Era membro de uma nova classe, a burguesia, que mobilizava a população e intervinha no rumo a seguir pela nação.

O que faria um Chanceler-Mor?  Era um dos mais altos funcionários da Coroa de Portugal. O seu cargo foi criado ainda antes da independência e extinto em 1833. A sua função principal era a de guardião do selo real. Por extensão, era responsável por examinar os despachos, decisões ou sentenças reais e selar os mais importantes documentos do Estado.  Vejam aqui sff:

" A função do Chanceler-Mor circunscreve-se à redacção e/ou autenticação dos documentos régios, sendo esta última empreendida por meio da aposição do «selo do Rei», tornado condição de eficácia dos actos régios. Sem o referido selo, os actos régios não podem executar-se.
Ao autenticar os actos que «dizem» o direito, colocando o selo régio, o Chanceler-Mor fornece ao povo a prova da legitimidade em que se funda o poder neles vertido – atesta que tais actos foram praticados pela pessoa do Rei (legitimidade do título) – e, através do controlo que exerce sobre a juridicidade desses actos – «e nom asselle as Cartas de Justiça, salvo se forem em forma direita…» (Ordenações Afonsinas, LivroI, Título1, 1)– certifica a sua conformidade ao direito tendo em conta o processo devido (legitimidade do exercício). Verificando-se discrepância entre a carta e o direito, os diplomas voltavam ao monarca, para que então correctamente se lavrassem e selassem, o mais tardar no dia seguinte «ataa ora de jantar».

(Fonte: História da legislação portuguesa  - Supremo Tribunal de Justiça).

Pois este Álvaro Pais,  estando o País completamente de tanga  e sujeito a uma intervenção externa que lhe retiraria a independência (não é novidade de hoje  amigos. Já D. Fernando tinha deixado o tesouro real na bancarrota...) assumiu as funções de Ministro das Finanças (antes de as passar ao novo Chanceler João das Regras de quem era Padrasto)  e andou por montes e vales à procura "del contado" que permitisse sustentar a guerra do Mestre de Avis e a Independência de Portugal. O qual "el contado" (as lecas)  veio a aparecer doado pelos bons burgueses de Lisboa, do Porto e de outras Cidades. Que não os Nobres, cuja maior parte andava já "fugidia" lá para o lado dos invasores castelhanos. Mas se não "doaram" de uma maneira, "doaram" de outra...

Nessas exéquias salvou-se o reino à custa do Santo Condestável  - o gajo das "porradas" -  e dos dois Chanceleres - Álvaro Pais e João das Regras , - os dois gajos, digamos assim, das "queijadas" (para rimar).

Obviamente que muito aproveitou ao Real Tesouro umas "mãos baixas" que se tiveram que fazer (é a vida) às nobres casas que bazaram para o inimigo...

Querendo tirar desta história gloriosa exemplos para  a nossa situação vemo-nos um bocado aflitos, pois  nem Vitor Gaspar  tem ar de  João das Regras, nem muito menos Catroga (seu "padrasto")  seria Álvaro Pais... Se o fossem (mesmo só parecidos) talvez que os casos BPN e que tais se tivessem resolvido de outra maneira. À maneira de D. Nuno Álvares Pereira (à "porrada").

O tempo não volta para trás... E às vezes faz pena.

Nota: Estátua de Álvaro Pais por Martins Correia. Tipo: Escultura. Local: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Tutela: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Criador: Joaquim Martins Correia (1910-1999). Construção: 1981.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Brincar ao Carnaval? Mas que ganda caldeirada!!

Passámos parte da Segunda Feira e a Terça Feira do Entrudo com amigos, entretendo o tempo a cozinhar e a conversar , tarefas que não são ( e ainda bem) mutuamente exclusivas.

Porque ainda há algum frio e estávamos já um pouco fartos das propostas carnívoras, fizémos  para o almoço da Terça Feira gorda uma valentíssima caldeirada à Fragateira. Daquelas que tem poder suficiente para mandar passear a Marrocos não uma, mas duas ou três Troikas e mais a tropa fandanga de indígenas lusos que as bajula.

Já se sabe que fazer isto tudo com peixe fresco da nossa costa não é para malta "assustadiça"...Mas se soubermos onde comprar, e o que vamos trazer para casa, podemos resolver o assunto por cerca de 80€ \90€ para 6 pessoas. Fora os vinhos...

Ingredientes para 6\7 pessoas:  Peixes variados com cerca de 4 kg no total. No caso em apreço foram: pargo, cação, safio em posta aberta, tamboril, miolo de mexilhões, ameijoa com casca, 500 g de camarão de Moçambique 60\70 inteiro, e lulas. Tudo fresco com exceção do camarão e do miolo de mexilhão.

6 cebolas médias; 6 dentes de alho;  6 tomates maduros;  1 ramo de coentros; 1 ramo de salsa; 2 folhas de louro; 250 ml de azeite; 150 ml de vinho moscatel ou Madeira. Sal, Pimenta preta e Malagueta ( a gosto).
8\9 fatias de pão frito (tipo Mafra).

Como fazer: Limpamos os peixes e cortamos as cabeças.  A vantagem de comerem seis pessoas (ou mais) é que podemos comprar alguns peixes inteiros. cação, pargo e tamboril vinham "encornados". Safio é que não, pois a criatura era de peso considerável e foi comprada à posta (4 postas grandes do meio, "esbandalhadas").

Cozinhamos as cabeças em água temperada com sal, salsa, louro,  uma cebola migada, um ramo de coentros, um fiozinho de azeite, i cálice de vinho moscatel e pimenta preta ou malagueta. Podemos aqui também meter as cabeças de camarão , caso aproveitemos só o corpo para a caldeirada.

Deixamos ferver as cabeças durante cerca de 30 minutos e passamos a mistura pelo passador (coamos grosseiramente).

Noutra panela, maior e de fundo bem grosso,  começamos por deitar no fundo o azeite, os dentes de alho esmagados, os tomates cortados e as cebolas restantes em rodelas grossas.

Deixamos  refogar um pouco e adicionamos a água onde cozeram as cabeças.

Quando levantar fervura pomos o peixe às postas, com o mais delicado por cima. Neste caso entrou primeiro a ameijoa com a casca, depois o tamboril , a seguir o safio e as lulas, por cima o pargo  e o miolo do mexilhão.

Podem decorar com os camarões inteiros ou, se tiverem posto as cabeças na cozedura referida atrás, tenham um pouco mais de paciência, dêem uma entaladela ao camarão à parte e removam a casca . Depois juntem ao tacho.

Deixamos apurar cerca de 20 minutos e Serve-se em pratos de sopa grandes , despejando a caldeirada sobre as fatias de pão frito.

Para beber com este "monumento":
Duas hipóteses estiveram na mesa - um Dão Quinta da Falorca Tinto, Colheita especial de 2005, tão elegante ainda! E um Branco Duas Quintas Douro  (Ramos Pinto) de 2010. Ambos a cerca de 8,5€.  E, digo eu que provei dos dois, talvez o Dão fosse aqui mais harmonioso.

Nota: Deram pela falta da batata? Eu também não!! Fragateira é mesmo assim!

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

A Ementa da Terça feira de Carnaval

Carne e Carnaval são palavras com a mesma etimologia. Já qui falámos disso noutros Posts mais antigos em que nos debruçámos sobre os antecedentes (bem antigos) da "quadra" .

Para os que não trabalham nesta Terça feira ( e ainda serão alguns, protegidos por AE - como no caso dos CTT - ou simplesmente trabalhando em autarquias que deram a tolerância) aqui vai uma sugestão  barata, a condizer com os tempos que atravessamos.

Jardineira de Vitela à minha moda (leva cerca de 2 horas a fazer)

Ingredientes para 4 pessoas:

1,2 Kg de vitela ou vaca jovem, aos cubos.3 cenouras respeitáveis. Uma embalagem de ervilhas congeladas. Meio kg de feijão verde limpo, cortado aos bocados. 10 Batatas velhas de boa qualidade, médias,  também cortadas aos cubos (ou 8 grandes).  3 cebolas médias também velhas (ou 2 grandes). 8 dentes de alhos migados finos. Um pedaço de toucinho entremeado cortado aos bocadinhos pequenos. Uma metade de chouriço do bom,   ao qual se tira a pele e também se miga em troços pequenos.

Sal, louro picado, pimenta preta, duas colheres de sopa de tomate pelado ou de massa de pimentão. Azeite extra virgem que baste. Um cálice de vinho moscatel.

Como fazer: espalham-se as cebolas migadas pelo fundo do tacho (que convém ser de ferro ou alumínio fundido, ou barro). Acrescenta-se o alho, as colheres de tomate pelado, o louro picado , uma mão cheia de sal grosso. Coloca-se logo em cima o toucinho e o chouriço, bem assim como as rodelas de cenoura. Deita-se azeite do melhor e puxa-se em lume baixo. Ao fim de 10 minutos a fervilhar lentamente refresca-se com o cálice de moscatel e deixa-se de novo esturgir mais um pouco até à cebola ficar transparente, mas não castanha. Deita-se a pimenta preta.

Feita a puxadinha leve podemos deitar a carne e as batatas , alternando ambas para misturar bem. Depois no final as ervilhas ( sem descongelar) e o feijão verde.

Nota: Se a carne for mais rija,  valendo pela gelatina que desprende, então devemos fritá-la uns minutos na "puxada" antes de introduzir as batatas.

Sempre em lume médio\baixo deixa-se apurar no mínimo uma  hora . Vamos provando e retificando de sal e pimenta. De vez quando abanamos o tacho para não pegar. Em caso de necessidade acrescentamos água morna em concha, pouco a pouco.

Muito importante: O tacho deve ser suficientemente grande para que o conteúdo se misture bem sem "apertos"...

Foi o nosso almoço de Domingo passado. E bem bom!

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Para Descansar a Vista

Tema para este Post só poderia ser o "Carnaval".

Se não estamos muito virados para brincadeiras -  porque os tempos não o permitem, porque não há tolerância de ponto, porque não há (estamos a meio do mês ) lecas para o pitrol, porque não há vontade nenhuma de gozar aos carnavais já que a vida de todos os dias quase que se tornou num autêntico carnaval -  mesmo assim, e sendo tudo isso verdade, ainda mais força tem esta minha injunção para que se divirtam!

As tardes de Sábado e os Domingos (por enquanto) ainda nos pertencem. Vamos  ver o que se pode fazer,  gastando pouco.  Há bons filmes a estrear, há sol para passear, há o mar sempre ali a chamar por nós, e, se o mundo fosse perfeito, devia também  haver uma  mão que a nossa pudesse procurar devagarinho, dedo a dedo, para espantar a solidão e aquecer a alma durante estes dias.

Também o grande Vinicius, "capitão do mato, o branco mais preto do Brasil", sentia esta quadra na corda bamba entre o "bem" e o "mal". Ora leiam sff este maravilhoso soneto de desencontros:

Soneto de carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.


Vinicius de Morais (Poemas, sonetos e baladas)

Mas apesar da amargura, este mesmo Vinicius também escreveu noutra ocasião ,e na altura obviamente preso de mais um grande amor:

"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval"

Nesse sentido, um grande Carnaval para todos os leitores!

teto ou tecto?

No "Mostrengo" um leitor amigo brinca com "teto" e tecto" ...
Vejam no comentário a esse Post...
É caso para dizer que "quem mais chora mais mama"...no teto... (nalguma estalactite, tendo muita sede).

Emenda

O Palácio de Mafra não está, nem deverá vir a estar, na dependência da "Parques de Sintra - Monte da Lua".

Obrigado a quem me alertou para este erro!

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Ir a Monserrate

Amanhã não devo passar por aqui.  Vou diretamente a Monserrate, discutir com a administração da "Parques de Sintra"  a emissão filatélica que dedicaremos brevemente  aos 5 Palácios Nacionais.

Estão (ou estarão brevemente) na dependência da "Parques de Sintra"- Montes da Lua ,  os Palácios  Nacionais da Pena, da Vila, de Queluz e de Mafra.

De fora fica apenas o da Ajuda, onde pontifica a grande diretora Isabel Silveira Godinho.

O Mostrengo

Todos nos recordamos ainda da "Mensagem" , e do célebre poema "Mostrengo"? Colocado exactamente ao meio do Livro? 21 poemas antes deste e 21 poemas a seguir a ele?

Aqui vai para ajudar a memória:

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes
Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.

«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que minha alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»


Fernando Pessoa (Mensagem)

No dia em que a inefável Troika nos "visita" de novo, sou só eu que noto alguma similitude entre este "Mostrengo" pessoano e o que nos está a acontecer?

Com relevo para a repetição do "3"?

Fernando Pessoa era, como sabem, um iniciado no sentido vernáculo do termo, entendido nas (digamos) "ciências" ou pseudo-ciências, paralelas, como a Astrologia e a Adivinhação... Será que teve aqui um prenúncio do que nos poderia vir a acontecer?

Os nossos problemas terão começado em 1990 , há 21 anos , e pelos vistos  teremos de esperar mais 21 anos até que passem? (Pôrra! com vossa licença...).

"Mostrengo" Monstrego mesmo foi o alemão crítico do Finantial Times,Wolfgang Münchau, que ontem escreveu o seguinte:

"A aprovação do Parlamento grego ao novo pacote de austeridade, que permitirá ao país receber um novo resgate e assim evitar um default (incumprimento) não irá salvar o país. Alguns dizem que seria melhor forçar imediatamente a Grécia a sair da zona euro e usar os fundos para salvar Portugal. Eu discordo!

Para o jornalista alemão, os líderes europeus deveriam reconhecer o “estado desolado” em que se encontram os dois países e deixar ambos entrar em default dentro da união monetária. Seria depois necessário usar o fundo de resgate do euro – suficientemente reforçado – para ajudar esses dois países e, ao mesmo tempo, criar uma barreira de protecção para os restantes, de modo a impedir o risco de contágio.

“Tudo isto será muito caro. Mas ignorar a realidade durante os próximos dois anos será ruinoso”, avisa."

Nestes apertos em que estamos uma pergunta se coloca: Onde está o D. João II do século XXI?

Não está, pois não?  Estamos bem lixados....

Nota 1: Para se cultivarem com a faceta iniciática de Fernando Pessoa e com aquilo que a Mensagem pode representar no universo das leituras menos ortodoxas  que ultrapassam a mera apreciação estética dos poemas, leiam aqui sff:

http://www.umfernandopessoa.com/livros/as-mensagens-da-mensagem-2010.pdf

Nota 2: Mostrengo ou Monstrengo?

O Ciberdúvidas esclarece:O Dicionário Eletrônico Houaiss regista as duas palavras: mostrengo («monstro sob a f[orma] rad[ical] mostr- (com desnasalização) + -engo; c[om]p[are] monstrengo») e monstrengo («monstro + -engo»). Diz, no entanto, que mostrengo é a palavra preferível. Considera mostrengo, por um lado, como «indivíduo sem destino e sem ocupação, que ger[almente] anda a esmo, perambula; indivíduo errante, vagabundo» e, por outro, «ser inumano monstruoso; monstro» ou «indivíduo disforme ou simplesmente muito feio; monstro»; trata-se ainda de «indivíduo desajeitado, sem jeito, cujo corpo parece não obedecer a qualquer comando; estafermo, estorvo»; «qualquer coisa que seja disforme, descomunal, qualquer coisa cuja natureza seja contrária à normalidade; monstro»; e de «coisa sem serventia, sem préstimo, inútil».

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, acolhe só mostrengo, enquanto monstrengo nem merece registo.
Assim, a forma usual (e preferível) é mostrengo, embora monstrengo também seja vocábulo correcto.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Pelo nosso Alentejo

Aljustrel é uma localidade muito interessante, limpíssima como só o Alentejo pode ser (já o dizia o Eça!) e com uma população culta e interessada nas "suas" coisas.

Para a cerimónia em que evocámos Brito Camacho, ali nascido ao lado, a estação de Correios foi pequena. Mais de 30 pessoas lá se juntaram, com o Presidente da Câmara à cabeça, e incluindo muitos "jovens" que  não direi que privaram com o famoso médico, jornalista e político,  mas pelo menos acompanharam o seu caixão à última morada, ali no cemitério local.

E um deles, do alto dos seus 85 aninhos,  pediu licença e à moda de António Aleixo botou poema!

Depois  foi a ida a Évora, ao Sr Oliveira e Dª Carolina, para o almocinho dos anos da "santa".

Oitenta e três! Bem conservados e ainda cheia de combustível para falar muito e alto (o que às vezes era evitável...). Bem, pelo menos não anda ainda de bengala...O que agradeço aos poderes superiores, por causa das costas. Das minhas...

Dª Carolina justifica cada vez que lá vou o epíteto universal de ter as mãos mais mimosas de todas as cozinheiras transtaganas. Mais uma vez ontem assim ficou provado.

Se apenas comêssemos as incomparáveis  Pataniscas de bacalhau e a Perdiz de escabeche ( a melhor do mundo!) já daríamos a deslocação por bem empregue! Mas depois disso há muito mais delícias a espreitar nos seus singelos pratinhos: casco de sapateira, costeletas de vitela panadas, quiche de alho francês, carapau "pilim" frito, o doce de melão com requeijão de Serpa, cogumelos em alho, ovos de codorniz com paio, etc, etc...

Borrego assado e Pézinhos de porco de coentrada  (excelentes!) Fizeram a figura de pratos principais, embora - aqui para nós - já não servissem para grande coisa depois da sinfonia das entradas magistrais.

Preço não digo.  Então o almoço de anos da "santa"? Ainda me fulminava se soubesse quanto custou...

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Ausência

Na próxima Segunda feira estarei em Aljustrel, para fazer o lançamento do selo comemorativo dos 150 anos do nascimento do médico, militar,  político, jornalista e escritor Brito Camacho, figura importante da 1ª Republica, ali nascido bem perto.

Já se sabe que almoçarei por ali e depois darei contas do que tiver provado.

Para Descansar a Vista

Algumas boas notícias inundam o "éter" nesta sexta feira:

Gregos e "troianos" parece que estarão próximo do acordo que vai permitir adiar (por quanto tempo?) mais uma ameaça de bancarrota naquele país.

Vitor Gaspar, cognome "o Pausado", terá ouvido da boca do seu homólogo alemão Wolfgang Schaeuble, cognome "o Abafador", que a Alemanha estaria disposta  a dar uma ajudinha a Portugal para reestruturar a nossa dívida.

Aimar assinou com o Benfica por mais um ano (esta, se calhar , deveria ter sido a primeira boa  notícia).

Fernando Rosas ainda tem uma Tia viva.  Durante o debate de ontem no programa "Prova dos 9", Santana Lopes perdeu a calma e respondeu torto a Fernando Rosas depois deste o ter comparado a Salazar: "Salazar é a sua tia!" 

A EDP Comercial, empresa do grupo para o mercado liberalizado, vai oferecer a partir de 1 de janeiro de 2013 uma única tarifa para fornecimento de gás e eletricidade no âmbito da liberalização do mercado. (Bem, esta espero que seja boa notícia....).

Por fim, em piscar de olhos ao S. Valentim: Existe um site chamado "Loving Places" que revela os melhores locais para fazer amor em espaços públicos. Ao todo são milhares de propostas, e em Portugal existem 450 opções! Com o frio que está recomendo alguns cuidados para não congelarem o "coiso"...Pensando melhor, "aquilo" congelado deve ficar hirto...Podem praticar à vontade!

Desta forma embalados pelo azul do céu, pela crispação do frio e por estas boas notícas, vamos dar poemas de Amor que antecipem o Dia dos Namorados.

De Vinicius de Morais e de Camões duas propostas, dois grandes sonetos,  que  se repararem bem  têm semelhanças.

Soneto do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da vida eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

O "Marreco" dá sorte?

"Marreco" pode ser ( e é) o nome que nalguns locais do país chamam ao "Pato".

"Marreco" também já foi, em tempos idos, um insulto forte que se fazia em alta voz, publicamente, ou, atualmente, um insulto fraquinho lançado ao ar quando a prudência o aconselha:

"-Oh Marreco pôe lá a M*** do filme a andar!"
(isto quando a projeção de cinema era ao ar livre)
" - Aquele Árbitro é um ganda Marreco!"
(injunção de um adepto nacionalista para o Sr. Proença , estando na presença da Autoridade)
" -Ah Seu  Filho de uma ganda P*** e de um Pai todos os dias  C*****!!"
(a mesma coisa fora do alcance dos ouvidos da Autoridade)

 "Marreco" , em português do Brasil, significa um simples, um pobre diabo, alguém desprovido de inteligência e que  - por causa disso - se torna no bobo da corte para amigos e conhecidos.

Utilizar "Marreco"  como sinónimo de "Corcunda"  ( indivíduo que tem defeito na coluna vertebral do qual resulta uma protuberância disforme nas costas, causada por qualquer afecção que deforme os ossos da parte superior da mesma coluna) é feio, imoral e pouco cristão...

Mas apesar  disso (ou por causa disso) essa aplicação é  muito utilizada, sobretudo no linguarejar de rua, nas cidades e nos campos.

Todavia, o que traz hoje aqui a condição de corcunda que em calão pode ser indevidamente chamada "marreca" , é que havia em Cascais um cauteleiro com córcova (portanto com corcunda)  a que  chamavam impropriamente  "o marreco", que fazia o melhor negócio de todos os colegas a vender  a "sorte grande" porque muita gente acreditava que a "marreca" dava sorte...

O meu pai comprava-lhe cautelas (nunca lhe saíu nada, mas isso também não é para aqui chamado) e muitos dos nossos amigos faziam o mesmo. Alguns - lembro-me bem disso e de ter questionado o porquê da coisa - depois de lhe comprar o jogo despediam-se com um apalpão nas costas (na "marreca")  do homem. Segundo parece, tocar na "marreca" também era um gesto que "dava sorte".

Nota 1: Imaginem que a tradição em vez da "marreca" tinha ditado que fossem , por exemplo, os traseiros  das mulheres alheias a terem de ser tocados para "dar sorte"...Sobretudo se fossem peixeiras lá na Praça de Cascais, ou no Bulhão, ou por esses lados...  Havia de ser bonito.. Mas adiante que divago.

Intrigado com aquela história, descobri depois mais detalhes sobre o antiquíssimo costume e não menos antiga crendice. Segundo parece,  já alguns povos antigos também acreditavam que passar a mão na corcova de um corcunda era considerado bom presságio.

O insuspeito "Oxford Dictionary of Folklore " diz sobre este tema:
"For the first half of the 20th century, at least, it was considered lucky to touch the hump of a humpbacked person. The first known reference is in The People (11 June 1899, quoted in N&Q 9s: 3 (1899), 486), but here it is implied that the belief is much older. Two other 20th-century references in Opie and Tatem make it clear that people disabled in this way could play on the superstition by charging money for the service at race-meetings and the like."

A superstição em causa deve ser muito mais antiga. Os romanos contratavam corcundas como servos  para atrair sorte. E os egípcios tinham um deus corcunda, patrono dos lares e protetor das crianças e famílias,  chamado Bes.

Nota 2: Bes , não BES! E esse deus corcunda egipcio aparentemente não era só corcunda, mas tinha mais uma data de defeitos físicos, a raiar a malformação crónica . O  Bes, não o BES, ouviram?

Agora que penso nisso, o Sr Saavedra, meu cauteleiro habitual da porta da Versailles, e "crava" de um cafézinho sempre que me vê,  marreco não parece ser, mas tem uma perna mais curta do que a outra e coxeia que se farta...

Também é verdade que o máximo que me deu (para aí uma vez de 3 em 3 meses) foi a terminação da cautelazita...

Se isto fosse caça, o   meu cauteleiro  seria conhecido pelo "pombo-mocho" (o caçador  mais que nabo que disparando para um bando de pombos mata um desgraçado de um mocho a dormir em cima de uma árvore).

E - sem querer ofender,  mas abandonando o politicamente correto e impropriamente falando - se o  saca** do "coxo" fosse "marreco"?   Não seria de o alugar ao Dr Passos Coelho?

Ganhava eu (poupava no mínimo 10€ por semana) e ganhava o país.

Podemos sempre sonhar...

Jamor a verde e preto

O Sporting - aqui para nós com algumas "ajudazinhas" - conseguiu obter o tão desejado passaporte para a final do Jamor...

O suspiro de alívio do Paciência ouviu-se em todo o país, mesmo naquelas casas que não tinham a TV ligada nem o radio...

Teremos pois uma Final a Verde e Preto.

"Já comi melhor", (dirão alguns leitores) ... Mas não neste Restaurante! (digo eu)

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

A Briosa outra vez no Jamor!

A Académica de Coimbra, a velha Briosa, regressa ao Jamor depois de 43 anos de ausência.

A última vez que lá esteve na final da Taça de Portugal foi em pleno luto académico por causa dos dislates cometidos contra os Estudantes da  Universidade . Leiam aqui sff os detalhes destas jornadas gloriosas de resistência, onde sobressaem alguns nomes que hoje - para o bem e para o mal - ainda andam por aí...

http://210coimbra.blogs.sapo.pt/1383.html

A Final histórica da Taça de Portugal foi a 22 de Junho de 1969. Assisti com o meu pai, tinha eu 13 anos, e nunca mais me esqueci.

Primeiro, por causa da imensidão de capas negras presentes, depois pelos comunicados que distribuíam por todos os participantes. De seguida pela presença impressionante também da Polícia. E finalmente pelo próprio jogo, um dos primeiros a que assisti ao vivo.

A Académica, por todos os motivos, teria merecido ganhar a Taça, mas...esqueceram-se de avisar o Eusébio...

A grande equipa da Briosa tinha Quinito, Rui Rodrigues, Gervásio, Alhinho, Artur Jorge...No Glorioso alinhavam  José Henriques, Humberto Coelho, Mário Coluna, José Torres, Simões, Néné, Jaime Graça , Raul Águas e o inevitável "King".

O Benfica ganhou por 2-1 , com um golo de Eusébio já no prolongamento.

O Américo "corta-fitas", com medo da Académica sair vitoriosa e de ter de entregar a Taça ao seu capitão,  não apareceu n o Jamor, pela primeira e ( tanto quanto sei) única vez na história da competição. 

Esta  Final também não foi transmitida pela TV...Se calhar para não filmarem os cartazes que apareciam em todo o lado.

Para mim foi um deslumbramento! O meu Benfica tinha ganho!  De política nada sabia naquele tempo...Mas no comboio de volta a casa o  meu Pai lá me foi baixinho dizendo algumas coisas...

Nota Final: O meu pai - que trabalhava no Ministério das Obras Públicas, mesmo em frente à estátua do D. José - contava-me que quando a Briosa vinha a Lisboa para jogos grados a malta das repúblicas saía em Santa Apolónia, caminhava  até ao Terreiro do Paço com fardos de palha às costas que  punham por baixo do cavalo do D. José e faziam discursos apropriados à "conjuntura".
Se hoje em dia se reatasse esta rábula era capaz de ser engraçado... Mas em vez dos fardos de palha se calhar traziam apenas uma embalagem de palhinhas chupa-chupa... É a crise.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Assada ou sobreassada?

Um leitor pergunta se posso explicar  a diferença entre os termos "Assado\Assada" e "Sobreasada\Sobreassada".

Pelo que recordo, "sobreasada" será um enchido, um tipo de salpicão,  aqui dos irmãos do lado... Fui a um site espanhol ver a definição:

"La sobrasada (del catalán sobrassada) es un embutido crudo curado, elaborado a partir de carnes seleccionadas del cerdo, condimentadas con sal, pimentón y pimienta negra. Se embute en tripa y presenta una lenta maduración.
Este producto es tradicional de las Islas Baleares, y está protegido con el sello de Indicación Geográfica. En la cocina mallorquina tradicional, la sobrasada se consume de diversas maneras: tostada en invierno, o untada en pan y cruda en verano. Aunque pueden durar varios años en un lugar seco, lo habitual es consumir la longaniza durante el primer invierno, la sobrasada en verano, y las más grandes cuando se hace la matanza del año siguiente".

E já agora aproveito terem mencionado a palavra "assada" para me deter uns minutos nas classificações tradicionais das formas de cozinhar alimentos.

Começo por dizer que eu pouco percebo de organização e técnica culinária, para além daquilo que faço e do que vou lendo. Mas aqui vai em jeito de auxílio, e o Paulo e a Eduarda poderão emendar do alto das suas cátedras lá na Escola de Hotelaria:

"Assar" é uma das cinco grandes formas de preparar os alimentos, consiste em cozinhar algo em calor "seco" , seja no forno ou em cima da grelha. 

Desta forma se entende que "grelhar" será uma das maneiras de "assar", e não exatamente uma forma autónoma de cozinhar... Enfim, nem discuto, mas são estes pormenores que os entendidos adoram.

As outras formas fundamentais de preparar alimentos serão "Fritar","Cozer", "Guisar" e "Estufar". Fritar e Cozer todos sabemos o que é. O que  distingue um guisado de um estufado parece ser a existência (ou não) de refogado inicial. Quando se refoga estamos a "guisar", quando se faz tudo em crú, estaremos a "estufar".

Hoje em dia muito se utiliza na cozinha "queque" a palavra "confitar". "Confitar"  será assar ou guisar  muito lentamente os alimentos nos seus próprios sucos.

Mas depois tudo se baralha nestas classificações aparentemente tão bem construídas ...

Por exemplo, uma Caldeirada tanto pode ser guisada como estufada? Um "ganso" de vitela que alouramos primeiro em azeite e alho no bico do  fogão em lume forte, para selar os conteúdos, e só depois deixamos cozinhar lentamente, na mesma panela de ferro, será "assado" , "guisado" ou "estufado"? Guisado não deve ser, porque não leva cebola...  E um Rosbife? É estufado?

E nem falámos das "sopas" Serão todas "cozidas"?... Um Gaspacho, crú,  será o quê?... E uma sopa seca de perdiz?

Por isso é que gosto de cozinhar. A cozinha é um Mundo malta!

(e não me venham dizer que o cuzinho também o é, porque levam logo com a frigideira de ferro das bifanas pela espinha abaixo!)

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Começou a época da Bicha

Bicha Lampreia, amigos, está claro!

Neste fds lá estive em Abrantes na preparação da primeira lampreia do ano. Estão a 25 euros cada uma, pagas ali mesmo aos pescadores nas localidades ribeirinhas do nosso Ribatejo. Não se pode é escolher o sexo à vontade... (Embora haja quem diga que se comprarmos duas, ou mais, já parece ser possível que  uma ou outra seja ovada).

O amigo Álvaro tratou do chato da coisa (preparar a lampreia, limpá-la,etc..). Depois fazer o tempero. Aquele que usamos é sempre o mesmo: o próprio sangue, está claro, vinho verde tinto, sal, pimenta preta, salsa, alho picadinho, um tudo nada de cravinho. E assim fica de um dia para o outro.  Quando cheguei foi só fazer um esturgidozinho muito simples, pô-la já cortada aos pedaços uns 15 minutos nesse esturgido  a que devagarinho se acrescenta o molho do tempero. Depois voltar a põr no tacho, reduzir o lume e ficar a estufar em lume brando por uma hora , mais ou menos.

Como era a primeira do ano não acrescentei arroz (gulosos!!). Comemos assim mesmo, retirando os pedaços para cima de uma fatia de bom pão artesanal da zona, torrado ou não, conforme os gostos.
 E, embora algo magra ainda, estava bem boa! (também podia ser do desejo...Como era a primeira do ano...).

Já agora para quem passe por aqueles locais - Abrantes, Sardoal, Vila de Rei - existe uma Cooperativa de Linho (onde se podem comprar artigos de grande qualidade em linho) e pegada a ela uma fábrica de pão e doces característicos da zona que é extraordinária, utilizando ainda a farinha moída à antiga e fermentos tradicionais. Fica na localidade de Alcaravela. E a referência da Cooperativa é Artelinho.
Podem ver aqui: http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=339833

 O ano está mau para as lampreias, porque a chuva não apareceu e assim as alimárias  não comem e não engordam tanto.

Mesmo assim cá me encontram à espera do que me aparecer no Prato. Seja em Ponte de Lima (Carvalheira) , em Entre-os Rios (Miradouro e Pensão Aliança),  em Carrazeda (Calça Curta), no Chico Elias de Tomar (por encomenda). E aqui mais perto, no Solar dos Presuntos ou na Tia Matilde , em Lisboa.  No Beira Mar de Cascais ou até no Cima's, onde o amigo José Manuel utiliza vinho velho para a confecionar.

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Para Descansar a Vista

Está um frio de rachar: 3 graus na entrada de Lisboa pelas 7.00h de hoje. Mas parece que o record foi batido na estação metereológica de Carrazeda de Ansiães, onde o termómetro baixou até aos 8 ou 9 graus negativos nesta madrugada.

Carrazeda, terra do nosso saudoso amigo Sr Rainha, que tantas saudades deixou e outras tantas histórias gastronómicas notáveis.... Algumas hei-de recuperar aqui em homenagem àquela personagem maior da nossa vida de boémia contida, lá na Linha de Cascais, durantes os anos 80 e 90...

O Sr Rainha  era proprietário de farmácia da família (no Porto), tinha quinta grada em Trás-os-Montes onde extraía belo azeite e magnífico vinho, e ainda se entretinha como comerciante\armazenista\distribuidor de vinhos em Cascais - tudo isto , como ele dizia, eram os seus hobbies. Porque a ocupação profissional "a valer" era como chefe de vendas da BASF para Lisboa e Sul do país. Fora tudo isto era um "gourmand", mas também um "gourmet",  notável e um epicurista no sentido pleno da palavra.

Não cabia numa viatura comum, utilizava sempre aquelas vans da Mercedes altas e largas. Quando cá recebia alemães da BASF pedia sempre primeiro, no Beira Mar,  "um preguinho para matar a fome e não parecer um labrego à frente dos estrangeiros"... O tal "preguinho" que o vi muitas vezes comer, era um pão de Mafra inteiro com um senhor bife mal passado lá metido dentro...

Depois de saciado o apetite imediato, fora da vista dos outros, sentava-se à mesa e era um senhor anfitrião! Era conhecedor de vinhos como poucos  e grande especialista em Portos: chegou a ser conselheiro de empresas suiças para o investimento nesse vinho.

Fica aqui hoje apenas este apontamento de saudade e de muita estima pela memória deste grande Amigo e Senhor, recordando um passado feliz. Nunca esquecendo a frase de meu Mestre Borges: "Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo - o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível ..."

E, em  homenagem ao Sr. Rainha, aqui vai um Poema que enalteça a Vida , as coisas boas, e as "outras" que a vida (ainda) nos pode proporcionar.

A Vida

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;

A vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.

Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Comparar o incomparável?

Esta,  que ainda não acabou, foi Semana de comer fora por três vezes - o que, nos tempos que correm, parece quase Natal...

No sempre estimável NOBRE, ali ao Campo Pequeno, da Dª Justa e Sr Nobre, uma festa para todos os sentidos onde avultou a sopa de santola e o arroz de garoupa, ambos "de cair para o lado". Antes disso um  Porto branco seco e a acompanhar a refeição um Alvarinho Soalheiro, já o de 2011, excelente como o seu antecessor. Com  café, pagou-se 40 euros por cabeça.

Ontem, na Mealhada, ida à NOVA CASA dos Leitões, solar dos vinhos da Mata Fidalga. Leitão assado magnífico, Espumantes da Casa:  tinto de 2009 (muito bom) e Branco Bruto Reserva Pessoal de 2006 (excelente). Aqui e também com cafés e mais nadinha, a conta subiu aos 30 euros , igualmente por  cada corpinho que se apresentou à mesa.

Finalmente,  em Alpiarça, na rota para a quinta da Lagoalva a comprar vinhos, surgiu à beira da estrada uma humilde casinha de pasto ribatejana "A CARAVELA". Prato do dia - Pá assada de porco (4 fatias) com puré de batata sem ser de pacote (duas mãos cheias). Estava bem boa!  - meio litro de vinho branco de Almeirm (em jarro e também ele aprazível). Um café e um queijo seco,  certificado,  de cabra. Pagou o impetrante ...8 euros...

De 40 para 30 e daqui para 8.  O que acham desta escadinha? Que comparo "alhos com bugalhos" certamente.

Assim é, mas dá para ver que o significado de "comer bem" pode ser glosado de muita maneira, à medida das bolsas, dos apetites, das viagens e até da "melancolia" que nestes dias manhosos parece ser uma doença que nos afeta a todos...

E se no Nobre privei com uma das melhores cozinhas que se podem atualmente fazer, em Portugal ou no Mundo, se na Nova Casa dos Leitões dei por mim rendido à boa etnografia regional da mesa (leitão e espumante clássico) , que hei-de dizer da humilde  Caravela? 

Que comi igualmente bem e que estava na sala um frio do caraças, porque apesar da lareira (lugares em redor já mais que tomados),  ali não há nem ante-câmaras, nem tapetes espessos, nem ares condicionados, nem cadeiras "fufas" (nem fufas, nem fofas, eram de taberna, rijas como cornos e acabou-se!). Apenas, papel nas mesas e nos guardanapos,  laje no chão e porta aberta para deixar entrar os convivas e o arzinho de Deus Nosso Senhor...

Recordo apenas o já bem conhecido aforisma de D. José  ao seu confessor: "Padre, nem sempre Rainha, nem sempre Galinha!"

Por vinte vezes que vamos à Caravela (porque o merece na relação qualidade\preço que nos apresenta) , não se deixe de alimentar a fantasia gastronómica com uma ou outra ida aos "outros" locais. Aqueles que nos abrem a porta dos sonhos...

Ontem em Conímbriga

Ontem não passei por aqui. Fui a Conimbriga, ter uma reunião com o Diretor do  Museu local para estudarmos a possibilidade de se editar mais um Livro temático dos CTT em 2013: Ouro Arcaico de Portugal.

Em Portugal existe um excelente reportório de ouriversaria da pré-história, época romana e início da civilização cristã. Apenas há um levantamento incompleto ( e totalmente esgotado) dessas magníficas peças num catálogo editado - talvez há 25 anos -  pelo Museu de Arqueologia de Lisboa.

Estaria na altura de voltar ao assunto. E lembrando também que as peças arcaicas não subsistem assim "a brilhar",  para visitante de Museu ver,  sem muito trabalho de recuperação e manutenção, a cargo de especialistas, em laboratórios dedicados.

É uma história dos achados, da recuperação e da manutenção , enquadrada obviamente pela descrição da época, que desejaríamos fazer neste Livro, com saída prevista para o 3º trimestre de 2013.