quinta-feira, outubro 31, 2013

Noite de Bruxas e Bruxos Irrevogáveis


Ontem tive de cuidar da minha santa cá de baixo, motivo pelo qual não apareci aqui. Médicos de tarde e cemitério de manhã  - aproxima-se o Dia de Todos os Santos e há que ter as campas em condições, neste ano em que pela primeira vez o feriado do 1 de Novembro nos foi retirado.

Nestas vésperas do Halloween tivemos por ornamento à hora do Jantar a tão esperada, quase sebastiânica na demora e ansiedade, Reforma do Estado.

Foi mais ou menos o que se esperava: por um lado, um chorrilho de lugares comuns com que todos concordam. Ideias gerais, geralíssimas que já vêm do tempo do Sr. Prof. Cavaco como 1º Ministro.

E no que toca a ditames mais conclusivos, tivemos direito à Cartilha do Neo-Liberalismo no pleno: privatização da Segurança Social, da Educação e da Saúde (ainda mais). Flexibilização do trabalho e outras coisas que tais, muitos eufemismos que deixarei à UGT e à CGTP o cuidado da respectiva tradução.

Como dizia hoje de manhã o António Peres Metelo na TSF, o que se ouviu e viu foi a apresentação de uma espécie de proposta de OE para 2015, quando a mesma proposta devia ter sido apresentada  para discussão, em 2011…

Ah, e já me esquecia… Com a sombra da Revisão Constitucional e da inclusão da “regra de ouro” dos limites do déficit no texto revisto, entre outras coisas.

Não é que nesta Reforma proposta esteja tudo mal. Trata-se de um conjunto de afirmações ideologicamente orientadas (como seria de esperar),  aqui e ali envolvidas em grossas Lapalissadas na sua vulgaridade, em termos de senso comum. O mal não é esse. O mal estará em que quem as escreveu já sabia que  ao imbui-las da ideologia de centro-direita estaria a retirar a hipótese do PS as discutir seriamente.

Então para quê o trabalho?




 

terça-feira, outubro 29, 2013

A Língua Portuguesa


Este Post de hoje é de homenagem e de saudação às Comemorações dos 8 Séculos da nossa Língua. Hoje , 29 de Outubro de 2013, dia em que por acaso se inicia em Lisboa a II Conferência sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial promovida pelo Instituto Camões na Aula Magna da Reitoria da UL.

Com a devida vénia transcrevo o artigo de abertura do blog especializado sobre esta matéria que convido todos a procurar e a ler. O artigo é da Srª Profª Maria José Maya, Presidente da Direcção da Associação 8 Séculos de Língua Portuguesa.


Quando “nasce” uma língua? Como determiná-lo, tratando-se da língua portuguesa? Qual é o documento mais antigo escrito em língua portuguesa?

Embora os historiadores da língua não sejam unânimes, o Testamento de D. Afonso II, datado de 27 de Junho de 1214, surge como o primeiro, senão um dos primeiros documentos escritos em português. Em 2014, perfaz 800 anos.

Esta data mereceu a nossa atenção, no sentido de promovermos as Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa, designação mais abrangente passível de englobar quer o Testamento de D. Afonso II quer outros documentos, como a Notícia dos Fiadores, de 1175.

As Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa iniciar-se-ão, no próximo ano, a 5 de Maio, por ser o dia que a CPLP instituiu como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, tendo o seu término a 10 de Junho de 2015.

Para promover estas Comemorações, um grupo de cidadãos de boa vontade constituiu, em Abril de 2012, a associação “8 Séculos da Língua Portuguesa” ─ associação cultural sem fins lucrativos, e que é, sobretudo, um motor de sinergias para as mais amplas e dignas Comemorações.

Move-nos a paixão pela nossa língua. Temos o maior interesse em promover a Língua Portuguesa, contribuindo para unir os seus falantes em torno das comemorações da sua existência. Esta é, portanto, uma iniciativa da sociedade civil à qual instituições e personalidades lusófonas têm vindo a aderir ao longo destes últimos meses.

Na filosofia que nos norteia, é fundamental considerar que o que nos une é muito mais importante do que o que nos pode dividir. A mesma língua, falada por mais de duzentos milhões de pessoas, abraça realidades muito diferenciadas que a enriquecem.

Estas comemorações facilitarão um melhor conhecimento das culturas de língua portuguesa, o que fortalece a fraternidade e amizade entre os povos.

Em Portugal, as comemorações poderão, ainda, constituir um grande desígnio nacional que una os portugueses em torno de um valor inestimável – a língua –, gerando uma nova força e uma nova dinâmica pela largueza de visão do futuro que nos proporciona, tão necessária no momento que o país atravessa.

A grandeza destas Comemorações será moldada pelo conjunto das instituições e parceiros que as integrarem e a nossa língua ganhará tanto mais visibilidade quanto maior a sua abrangência.

A mobilização dos falantes de português em torno das Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa promoverá uma maior aproximação entre os povos do mundo lusófono e uma maior afirmação da língua portuguesa a nível internacional, nos seus vários domínios: cultural, científico, económico e político.

Deste modo, a Associação 8 Séculos da Língua Portuguesa, convida todas as instituições e personalidades do mundo lusófono que se empenham na valorização da nossa língua comum para, em parceria, integrarem as Comemorações dos 8 Séculos da Língua Portuguesa.

Reunamo-nos em torno das Comemorações dos 8 séculos da Língua Portuguesa que “é o som presente d’ esse mar futuro”.

Maria José Maya
Presidente da Direção
8 Séculos de Língua Portuguesa - Associação

segunda-feira, outubro 28, 2013

As Dores Matinais



Há dias em que acordo com dores nas costas. Outros com o joelho direito a tinir que mais parece um badalo de portão de quinta. Outros ainda em que é a articulação do tornozelo que se queixa. E, por fim, há ainda aqueles dias aziagos onde todos estes mecanismos do carago berram ao mesmo tempo. Como hoje.

Uma antiga namorada dizia-me que o problema era do colchão. Este teria que ser substituído de 6 em 6 anos (mais ou menos)…Nunca acreditei. A moça em causa tinha feito uns part times numa loja de móveis e esta seria uma “ estória” que o patrão lhe dizia para contar a toda a gente. Mas hoje tenho dúvidas.

Mesmo com dúvidas continuo a achar que, em alturas de crise, mudar de colchão de 6 em 6 anos cheira a vício de riquinho.

Mas voltando ao assunto, será do colchão (ou não) ou talvez da idade que se propaga pelas articulações e ossadas, ou ainda por algum mau jeito que dei na minha juventude assaz desregulada (para não usar nome mais contundente) , por entre o judo, o futebol de salão, o desbaste de cavalos, e outros “desportos ao ar livre”  onde o cavalheirismo mandava que fosse eu a deitar-me no chão, com os costados em cima do que por lá houvesse.

Por outro lado tenho a certeza que estas maleitas afligem sobretudo a malta com peso a mais. Sobretudo as articulações queixam-se do esforço a que são submetidas, mas enquanto que os cotovelos têm espaço para respirar , descansando ao lado das costelas, os desgraçados dos joelhos, da coluna e dos tornozelos não se conseguem livrar da escravidão, têm de suportar o peso da besta hora a hora, dia a dia.

Por isso vários médicos amigos têm-me vindo paulatinamente a sugerir a perda de peso. O grau de amizade influencia a forma como a sugestão é feita.
Temos desde o delicado “Olhe que tem de perder peso Sr. Dr”, observação amistosa feita pela médica dos serviços sociais (que só vi 2 vezes); até à frase lapidar do meu médico mais amigo e conhecido, com mais de 20 anos de convivência:”Tou-te farto de dizer a mesma M***! Pôrra! Ou perdes peso ou f**** !Grande C****!”

Faço o propósito de lhes fazer a vontade quase todos os dias, quando me levanto e começam as dorzitas.  A força desse propósito, infelizmente, vai  variando ao longo do dia. É muito forte às 6AM, continua fortíssima às 7AM, perde força à medida que se aproximam as 12AM e é mínima meia horita depois… De seguida aumenta de novo o impulso para a dieta, crescendo a olhos vistos entre as 15PM e as 19PM, altura em que fraqueja de novo…

Aqui o problema não tem a ver com a injunção bíblica da “carne ser fraca”. Muito pelo contrário! Comigo o que se passa é exactamente o contrário! A carne é forte como o caraças! É a força do “Cozido à Portuguesa”, do “Cabrito Assado no Forno”, da “Vitela de Lafões”, da “Mão de Vaca com Grão”, da “Dobrada com Feijão Branco”, etc, etc…

O combate tem sido desigual. Mas nunca desistirei.

sexta-feira, outubro 25, 2013

Para Descansar a Vista

Ontem em Conímbriga passámos uns bons momentos com a Prof. Raquel  Vilaça a fazer uma notável  “Oração de Sapiência” na apresentação do Livro “Ouro Arcaico Português”.

Um Abraço é devido ao Amigo José Cura, da AAC. Não li a tempo o seu comentário e por isso lá troquei o cabrito de Condeixa pela cabidela de leitão da Mealhada… Ficará para a próxima.

Também devo dizer aos leitores que aproveitei a deambulação pela região Centro para tentar encontrar a “Reforma do Estado” aparentemente perdida nas catacumbas de  S. Bento , entre a residência do PM e a AR… Teremos que contratar um cão para dar com a coisa, ou dois…

Hoje é dia de greve nos CTT. Como sabem não faço greve porque estou nomeado em comissão de serviço, e se fizesse greve teria de apresentar a minha demissão em primeiro lugar, por coerência. O que não quer dizer que não compreenda nem respeite os motivos da greve.

Por isto tudo aqui vos deixo Manuel Alegre.

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre.

Manuel Alegre

 

quarta-feira, outubro 23, 2013

Amanhã Blogger em Conímbriga

Amanhã não passo por aqui. Vou a Conímbriga fazer companhia ao Prof. Virgílio Correia, na apresentação do nosso (e dele) livro: Ourivesaria Arcaica de Portugal

Falcões no Ar

Apresentámos ontem no Palácio de Queluz mais um dos nossos Livros temáticos dedicado à Falcoaria. Como dizia o vosso Blogger: “Um falcão ainda cabe num selo, mas o céu onde voa já não…Só se for num livro”. E assim convenceu os poderes que mandam a  passar das palavras aos actos!

Deixo aqui algumas linhas sobre o teor desta obra.

Na Península Ibérica a antiquíssima arte da Cetraria ou Falcoaria foi praticada por diferentes povos há mais de mil anos: os invasores do norte da Europa introduziram a cetraria de "baixo voo", uma modalidade de caça mais utilizada nos bosques ou florestas, enquanto que, mais tarde, os berberes do Norte de África caçavam  em todo o Al-Andaluz por “altanaria”, onde por norma só se utilizavam falcões.

Foi durante a época medieval que a cetraria teve o seu auge no nosso país, tendo tido importância indiscutível ao tempo a edição – a pedido do Rei D. Fernando - do famoso livro de Pêro Menino (1380?) sobre esta atividade, com enfâse nas doenças que afligiam as principais aves utilizadas.

Um velho texto medieval – Book of  Saint Albans, 1486, Inglaterra -  faz referência à hierarquia da cetraria da época. É uma lista que  pela sua abrangência  dá a noção que se tratava de um desporto de elites sim, mas seguido de perto pelas outras classes sociais que conseguiam tirar algum tempo aos seus afazeres diários : Uma águia para o Imperador, um gerifalte para o rei, um peregrino para um príncipe, um sacre para um cavaleiro, um esmerilhão para uma dama, um açor para um pequeno proprietário, um gavião para um sacerdote, um bútio para um sacristão, um milhafre para um criado.

Atualmente a Falcoaria continua a ser utilizada como uma técnica de caça amiga do ambiente, pois  não provoca abates indiscriminados de espécies nem prejudica o equilibro natural. Para além disso  tem muita importância no controlo de pragas, quer nos aeroportos, afugentando pombos ou gaivotas que poderiam colidir com as aeronaves, quer em aterros sanitários, defendendo  a saúde pública, ou ainda na proteção de culturas agrícolas e aquaculturas.

Estas espécies magníficas são também  utilizadas em ações de conservação, pois tendo sido nascidas e criadas em cativeiro podem ser reintroduzidas em habitats naturais onde se verifica a sua diminuição ou mesmo extinção.

A par da beleza estética irrefutável que é apanágio das aves que aqui são retratadas, foram também os critérios de sustentabilidade ambiental inerentes a estas utilizações atuais que levaram  os CTT a lançar um magnífico Livro temático (com selos e blocos dentro) sobre esta milenar actividade.

Esperamos que o livro possa contribuir para o desenvolvimento de novas perspetivas e abordagens de investigação dos especialistas, mas também para despertar na juventude portuguesa o desejo de ver mais de perto e, sobretudo, de respeitar estes seres maravilhosos que dominam os céus.




terça-feira, outubro 22, 2013

Bloco em seda impresso a talhe doce


Alguns leitores questionam sobre o lançamento do “selo em seda” aqui avisado.

 A série filatélica comemorativa do Prémio de Arquitectura Aga Khan em Lisboa foi lançada em 6 de Setembro e continha um bloco especial executado – pela 1ª vez no mundo - com método de impressão Talhe Doce (intaglio, recess printing) sobre tecido de seda. Tem o valor facial de 3€.

Encontra-se este bloco quase esgotado , pelo que quem desejar ainda adquiri-lo deve dirigir-se às principais estações de correio do País rapidamente.

Coronhadas e treino de boomerang

Aparentemente no OE 2014 houve um esquecimento no que diz respeito à inclusão de meios para funcionamento da Policia Judiciária: baixaram em 78% os plafonds para combustível e…esqueceram-se de considerar verba para munições.

O sempre lembrado Raul Solnado bem dizia que havíamos de chegar ao tempo em que seria necessário amarrar uma guita às balas e puxar a guita depois de cada disparo.

Também aqui  eu gostaria de lembrar a todos que a função da Walther pode também ser como arma de arremesso ou como cacete de Rio Maior, num aperto.

E mais se recomenda a importação de alguns aborígenes australianos para dar treino de boomerang aos nossos inspectores, sempre a prevenir a possível perda das pistolas depois do arremesso. Poderiam vir para cá ao abrigo do programa Erasmus (para se poupar).

Quanto às viaturas e ao combustível parece-me – salvo melhor opinião – que esteve bem o Ministério das Finanças. Pois se as ditas estariam já a cair de podre para que é que se gastaria ainda mais dinheiro em combustível, acelerando desta forma o fim da vida activa das carroças, digo, dos carros de serviço?

A ideia é utilizar cada vez mais o método da “emboscada” aos meliantes. Nada de perseguições barulhentas e poluentes ( isso podemos ver todos os dias no “Grand Theft Auto” ou coisa parecida). O ladrão rouba, muito bem. Terá de ser notificado para, se fizer favor, dizer antecipadamente onde se passará a ocorrência, para que a PJ lá esteja emboscada à espera.

Sendo expectável alguma reticência (teimosia) dos biltres em dar a morada e hora dos desmandos futuros, a alternativa será recorrer à Bruxa da Arruda (embora já falecida) para situar os agentes no terreno. Sairá carote, porque para além dos honorários da Bruxa (a recibo verde) teria ainda de se contratar uma “media”.

O que é uma “media”? A mulher que executa a profissão de “medium”. E o que será um “medium”? Uma espécie de operador de Telemóvel para o outro lado.

Adiante País que vem aí a Suécia nos Play-offs e isso é que interessa à maltosa!


 

segunda-feira, outubro 21, 2013

Em louvor da pesca artesanal


Serve o artigo de Miguel Esteves Cardoso no “Público” de Sábado passado, mais especificamente no “Fugas”, para meter eu também aqui a minha colher na defesa daquilo que ainda temos de bom na nossa terra.

E não falo apenas no clássico restaurante Beira Mar, local onde foi o meu filho e senhorio quase criado – o que, aliás, explica algumas das actuais idiossincrasias da alimária em adulto – e onde ainda hoje regresso sempre com imenso gosto, quase como se regressasse à casa da família depois de ausência longa de “emigrado”.

Falo sobretudo da pesca artesanal que à custa de alguns pescadores teimosos e desmiolados, como o sempre celebrado Tó Simão de Cascais, continua a abastecer algumas casas de restauração com aquelas coisas a que apenas os eleitos têm direito: os pargos e os sargos selvagens ali apanhados por volta da Roca, os linguados cor-de-rosa, os pregados a saltar dos baldes, os carabineiros de 400g cada um (sim, é verdade!), as verdadeiras gambas de Cascais de mão fechada (12cm) e por aí fora, passando pelos percebes, pelas bruxas e pelas lagostas e lavagantes, estes dos azuis, as primeiras salpicadas de preto. E para os grandes especialistas, as anchovas vivas de quilo e meio, o carapau manteiga ( mais para os mares setubalenses) e os famosos salmonetes das rochas  a que MEC se referia no tal artigo.

Uma vez – claro que no Beira Mar -  mandei vir 4 salmonetes encapotados para mim e para um convidado, um senhor importante, Director Geral da VPC Trois Suisses em visita à filial em Portugal. À frente dele retirei os fígados , temperei levemente com duas ou três gotas de sumo de limão e barrei várias torradas quentinhas com o resultado.

Ainda me lembro do brilhozinho nos olhos do gaulês…

Por todos estes motivos saúdo o Tó Simão, saúdo a DªLurdes e a equipa do Beira e mando daqui um abraço ao MEC, meu colega no liceu de S. João (em aluno) e mais tarde outra vez colega como Assistente no ISCTE, por em boa hora se ter lembrado de Cascais.

Nota: Um destes dias comemos no Beira um magnífico pargo de 5kg assado no forno à portuguesa, com Vallado extreme de Moscatel Galego 2012, antecedido por umas bruxinhas acompanhadas por um Alvarinho particular de Monção, muito perto do antigo Alvarinho de bago miúdo (paradigma da casta, hoje praticamente abandonado pela fraca rentabilidade). O paraíso cristão deve assemelhar-se muito a isso. Só faltou aquilo que V. estão a pensar…

 

sexta-feira, outubro 18, 2013

Para Descansar a Vista


Dia de chuvinha outra vez. Venha ela que as couves agradecem.
Não vou propor mais um poema da chuva, ou ainda pareceria que este Blog é uma filial de alguma tribo dos Sioux.
Antes proponho uma jóia meio escondida de meu mestre Herberto Hélder, em boa altura dada a conhecer pelo Instituto Camões – para onde vou daqui a pouco ter uma reunião.

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
 
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
 
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
 
que te procuram.

(excerto do poema «Tríptico», publicado em A Colher na Boca, 1961)
 

quinta-feira, outubro 17, 2013

O Grande Arcebispo de Braga


D. Frei Bartolomeu dos Mártires é uma figura importante da história eclesiástica e , obviamente, também da história de Portugal. Grande animador do Concílio de Trento, onde proferiu a conhecida frase de aviso aos orgulhosos cardeais:

«Os ilustríssimos e reverendíssimos cardeais precisam duma ilustríssima e reverendíssima reforma. Vossas senhorias são as fontes donde todos os prelados bebem; necessário é portanto que a água seja limpa e pura.»

O grande especialista frei Raul Rolo, Provincial da Ordem de S. Domingos – talvez o maior conhecedor da vida e obra de D. Frei Bartolomeu, infelizmente já desaparecido – foi o responsável pelo andamento dos trabalhos que culminaram na beatificação de 2001.

E porquê tantos anos, desde a morte de D. Frei em 1590 até a esta justíssima proclamação? De notar que a figura do Arcebispo já era venerável aos olhos da Igreja desde 1845. E o povo de Viana (onde faleceu) já o considerava Santo muito antes disso.

Bem, o que consta é que terá sido alguma incúria da própria Província portuguesa da Ordem de S. Domingos, caída em desgraça nos tempos do Marquês de Pombal e apenas renascida mais perto de nós . De facto, apenas   em 7 de Março de 1962 foi restaurada esta Província ,  quase  na altura em que frei Rolo defende a sua tese de doutoramento em Roma, exactamente sobre a vida do Arcebispo.

Teremos mais um selo sobre esta figura, depois do selo único da emissão das figuras da arte e cultura de 1990. Neste caso de 2014 celebram-se os 500 anos do nascimento de D. Bartolomeu. Um único problema se avizinha no horizonte: dotado de uma bondade , santidade, sapiência  e bom trato que o situam no mais alto plano da humanidade, qualquer que seja a crença, infelizmente e apesar disso, era D. Frei Bartolomeu mais feio que um macaco mono do Brasil… Vesgo e de face entortada…

Na ausência de Photoshop naqueles tempos, os artistas que o pintaram foram tentando minimizar a “coisa”, mas com resultados pouco satisfatórios, como se pode ver pela amostra…

Como em tudo , não se deve julgar o  conteúdo pela embalagem…

 

terça-feira, outubro 15, 2013

Amanhã não temos Post

Blogger em Braga, amanhã não haverá Post.

Dia de Santo Orçamento


Cá chegará hoje o rol das desgraças para 2014. Pela noitinha já saberemos com mais detalhes algumas das medidas e qual o seu alcance.

Vou entretanto fugindo desta realidade manhosa para Braga, cidade dos arcebispos, exactamente para tratar da emissão dedicada aos 500 anos do nascimento de D. Frei bartolomeu dos Mártires, águia (sem gozo!!) do Concílio de Trento e uma das figuras mais importantes da Igreja lusa de todos os tempos.

No S. Bentinho deitarei uma moedita ( de euro) por todos nós, pedindo que nos livrem deste Orçamento. Desculpem ser tão pouco, mas os bolsos já se queixam de falta de alimento.

Estranho, porque quem ainda não se queixa é o meu estômago.Por enquanto

segunda-feira, outubro 14, 2013

A Guerra dos Clones?


Está tudo parado à espera do Orçamento de Estado para 2014. As “coisas” vão-se sabendo às pinguinhas, cada uma mais venenosa do que as outras. Hoje no Público circulava que mais uma vez a TAP e a CGD serão excepções à “austeridade generalizada no Sector Público” sob a forma de corte nos vencimentos e\ou nos subsídios de Natal e Férias, tal como em anos anteriores.

O que está em causa para muitos milhares de trabalhadores e aposentados do SEE são 2 coisas:
 - Cortes directos de 10% nos vencimentos. Está ainda para se saber se estes cortes somam aos do Engº José Sócrates ou se substituem esses. Se somarem, grande parte dos visados deve deixar de comer todos os dias.  De todas as formas e mesmo que haja substituição apenas, as novas condições serão mais gravosas para quem recebe.
 - Cortes nas Pensões por via da chamada “convergência dos sistemas da CGA e da Segurança Social”. E acumulando com a Contribuição Extraordinária de Solidariedade! Esta situação carece também de esclarecimento quanto à forma. Será uma convergência que se vai impor durante um período de tempo, mais lentamente? Ou será já à bruta?

Os “outros” trabalhadores e aposentados da "Privada" levam também com o corte nas Pensões de Sobrevivência (acima do acumulado de 2000 euros). Para todos a idade da Reforma aumenta para 66 anos.

Leiam aqui, retirado do site do Diário Económico, algumas das razões para este novo ( e não será o último!) “Ataque dos Clones” ao bolso do transeunte:
O Governo comprometeu-se com a ‘troika' a baixar o défice para os 4% no próximo ano, partindo de um défice de 5,7% este ano. Este é o desequilíbrio das contas públicas em 2013, que só será possível conter nos 5,5% graças às receitas extraordinárias que o Executivo espera obter com o plano de regularização de dívidas fiscais.
Para chegar à meta desejada, o Governo tem de cortar 3,5 mil milhões de euros na despesa se quiser cumprir o prometido por Passos Coelho, em Maio, numa carta enviada aos credores internacionais. Esta redução dos gastos tem de ser estrutural, eliminados os cortes transitórios feitos até agora e recuperando o equilíbrio entre receita e despesa que foi penalizado em 2013 quando o Governo avançou com o enorme aumento de impostos.
Para ultrapassar esta dificuldade, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, não poderá contar com a ajuda da economia. É que apesar de o próprio Executivo esperar que o país deixe de estar em recessão, a economia vai continuar a perder postos de trabalho. As projecções oficiais apontam para uma destruição de 22 mil empregos apesar de a economia crescer 0,8%. Este factor penaliza duplamente as contas do Estado. É que enquanto a economia estiver a perder emprego, os cofres do Estado recebem menos contribuições sociais e pagam mais subsídios de desemprego.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Para Descansar a Vista


Num dia radioso como o de hoje (tenham calma porque ainda vamos chorar este bom tempo fora de época) nem as notícias sobre mais cortes e mais austeridade devem ter poder sobre nós.

Bem, lá poderes têm. Até porque a história da felicidade se reduzir ao Amor e à Cabana foi inventada por um gajo que tinha uma ilha privativa nas Caraíbas.

Contudo e apesar dos tempos de tempestade que se abatem sobre nós
(esperem pelo OE 2014) podemos sempre fingir que somos felizes.

E que nunca se abandone a busca, a ânsia, a procura por alguma coisa!

Lá vai Poema condicente de meu Mestre Eugénio de Andrade:

Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas

 

quinta-feira, outubro 10, 2013

Qual "General Garcia"?

Alguns amigos (dos mais novos, daqueles que apenas veêm cartas quando a Autoridade Tributária ou a EDP as mandam) perguntam quem era o tal Garcia aqui referido ontem.

Com chapelada para o colega Blogue "levaracartaagarcia" (qual poderia ser melhor para o fim em vista?) Aqui vai a história - ainda pensei escrever "Cá vai a história" mas o buraco já está demasiado grande por ele próprio, sem necessidade de mais "cavadelas":

Na guerra entre os EUA e a Espanha, a propósito da despótica colonização espanhola de Cuba, ocorreu o episódio que deu origem à frase “Levar a carta a Garcia”, divulgada por Elbert Hulbard em 1899. O presidente americano, Mackinley, precisou de contactar com um dos chefes da guerrilha cubana, o general Garcia. Chamou um tal Soldado Rowan e passou-lhe uma carta para ser entregue, em Cuba, ao comandante rebelde. Pelo que se conta, Rowan, sem nada perguntar, meteu a missiva numa bolsa impermeável e partiu para Cuba. Percorreu montes e vales, selvas e praias, mas, quatro dias depois, entregou a carta a Garcia e regressou aos EUA para dar conta do cumprimento da missão ao seu presidente. É este o sentido da expressão que dá título a este blogue: “Cumprir eficazmente uma missão, por mais difícil ou impossível que possa parecer”. (in Ciberdúvidas).

E até amanhã que estou com o joelho direito a cair de podre pelas muitas horas que estive ontem de pé e urge (é mesmo esta a palavra) ir à Clínica meter mais uns shots. Não para a veia!! Para a cartilagem!

quarta-feira, outubro 09, 2013

E agora Correios?


Para o Dia Mundial dos Correios faço aqui um Agradecimento:

Neste fim de vida dos Correios Públicos em Portugal - história de hoje que repete outra antiga que já aqui no burgo tinha sido protagonizada por Filipe I (tinha de ser um destes) em 1584 – um grande Abraço de muita Amizade e de grande, enorme , Consideração,  por todos os colegas de todos os Operadores Postais que, por esse mundo fora, ainda tentam diariamente “levar a carta ao general Garcia”.

E não se esqueçam que  se foi um Filipe que o vendeu, foi uma Maria que o tornou a comprar (em 1799, D. Maria I reintegrou o serviço postal na Coroa outra vez).

O mundo está esquisito. Mas pode ser que, de tão esquisito que está, se ponha a fazer o pino, ficando tudo outra vez como estava…

Dia Mundial do Correio


Mensagem do Director da Secretaria Geral da UPU: O Correio faz parte de nossa vida diária e da vida das empresas!

Em cada país, os serviços postais desempenham um papel crucial na comunicação e na permuta de mercadorias.

Em 2012, os Correios distribuíram no total 350 biliões de cartas e mais de 6 biliões de encomendas. Também trataram milhões de transações financeiras.

O serviço tradicional das correspondências ainda representa uma parte importante da atividade do Correio; de facto, as cartas ainda geram, em média, 45% das rendas postais mundiais. No entanto, a queda progressiva do volume de correio das empresas obriga os serviços postais nacionais a redefinir a sua abordagem.

No mundo todo, os Correios diversificam os seus produtos e serviços para responder melhor às necessidades dos clientes em termos de confiabilidade, de rapidez e de segurança. Com a ascensão do comércio electrónico, os Correios  posicionam-se como distribuidores de escolha para as mercadorias compradas on-line. Neste mundo em constante evolução, os Correios facilitam consideravelmente as trocas comerciais nacionais e internacionais.

Os serviços financeiros postais , bem como os serviços de encomendas e de logística, também estão em pleno desenvolvimento. Em breve, as receitas geradas por cada um destes serviços devem representar, em média, mais de 20% das receitas postais. Nos países onde o Correio nunca esteve envolvido com os serviços financeiros ou apenas em parte, a introdução destes serviços já está prevista e discutida.

Porquê? Simplesmente por que a rede postal está em todo lugar. É a rede física mais extensa do planeta e constitui uma infra-estrutura fundamental que permite o bom funcionamento de segmentos inteiros da economia.

Com mais de 600 000  estações de Correios no mundo, o Correio oferece serviços acessíveis a todos; ninguém é excluído. O Correio é verdadeiramente um serviço público para todos, não importa a sua posição social.

Neste 9 de Outubro, Dia Mundial dos Correios, peço aos governos que se lembrem de quanto o papel dos Correios dos seus países é essencial para garantir serviços de ordem social e económica às pessoas e às empresas.

E exalto a dedicação de mais de 5 milhões de empregados postais que, no mundo todo, trabalham para facilitar diariamente os contactos e o intercâmbio entre as pessoas e as empresas.
 

terça-feira, outubro 08, 2013

Um Amor Feliz e Angústia para o Jantar


"Um Amor Feliz" passa-se na sociedade post 25 de Abril, aqui em Lisboa e arredores,   temos a história de um escultor  com quase sessenta anos e de uma estrangeira duas décadas mais nova que ele. Além da diferença de idades, ambos estão casados - ele com uma pediatra, ela com um homem de negócios que lhe parece quase um estranho. Os dois conhecem-se num jantar de boas-vindas a um outro casal  do meio e começam a encontrar-se às escondidas, no atelier dele. São estes os elementos que servem de base à história deste romance de David Mourão-Ferreira, escrito em 1986.

Cito um parágrafo muito moderno (e de que maneira!) desse romance admirável:
"De regresso ao meu cadeirão, mal-humorado, e olhando de novo aqueles oligarcazinhos de meia tigela, que bebiam e comiam de tudo com tão boa boca, avidamente metidos até ao gasganete em negociatas de batatas ou de batotas, em tráficos de terrenos ou de terrores, acudiu-me a conclusão de não ser por acaso que"poder" e"podre", em português, se escrevem fatalmente com as mesmas letras."

Em contraponto o clássico dos clássicos da literatura “escapista” ou romanceada sobre o conflito de classes: Angústia para o Jantar de Luis Sttau Monteiro, a obra-prima de 1961, também ela passada em redor da nossa capital, com reminiscências do então aristocrático “English Bar” (onde nunca se levavam as amantes!)  e de outros locais bem conhecidos da época.

É a história de dois antigos colegas de liceu, que passados 30 anos continuavam a jantar todos os dias 15 de cada mês. O Gonçalo,que é empresário rico e filho de boas famílias. Casado e com dois filhos, um dos quais era motivo de grande preocupação devido às suas ideias revolucionárias. E o António, empregado de escritório e pobre, filho de um oficial da marinha e solteiro.
Apesar de toda a intimidade demonstrada na conversa, dá  ideia ao leitor que ambos se odiavam. Gonçalo gozava com António devido à falta de dinheiro e à condição social, e António invejava Gonçalo porque ele tinha de tudo melhor que ele. No caminho para casa cada um ficava a pensar porque raio se continuavam a  encontrar todos os dias 15…

Quando nos aproximamos dos 40 anos do 25 de Abril faz bem a qualquer alma lusa reler estas duas obras.

segunda-feira, outubro 07, 2013

Para que serve o "Canudo"?


O Público de hoje comenta que apenas 50% da quebra nas candidaturas do Ensino Superior será devida a factores demográficos (menos crianças a nascer, menos alunos a estudar). Os outros 50% são causados por falta de vontade ou falta de dinheiro, ou descrença nos resultados, por parte de pais e alunos.

Quando o Sr. Presidente da República apelou no discurso do 5 de Outubro ao “reforço na qualidade da Escola Pública, que é a forma tradicional de se fazer a mobilidade social no Portugal democrático” provavelmente já saberia destes resultados.

É triste ver pais e educadores a abandonar a ideia de sacrifícios pelos filhos, mesmo que estes tenham boas notas, apenas porque as saídas profissionais de licenciados, mestres e doutorados são cada vez mais complicadas.

O número de licenciados, mestres e doutorados sem emprego aumenta sem parar. Que incentivo, que sinais dará esta situação aos mais interessados? Talvez que se aprenderem um ofício, daqueles que todos precisam  - canalizador, electricista, carpinteiro, biscateiro de qualquer coisa – nunca lhes faltará trabalho nem dinheiro em casa. Com a vantagem que, se tiverem sorte, já começam a ganhar dinheiro a partir dos 15 ou 16 anos.

É um retrocesso civilizacional de quase 40 anos. Situamo-nos a caminho de uma situação só vista mesmo antes do 25 de Abril…

A educação pela educação era um privilégio dos mais ricos. Daqueles que podiam estudar Humanidades e fundar depois um jornal com o dinheiro da Avó que armazenava em Gaia mais de 1500 pipas de vinho (referência queirosiana). Quem se ligava neste País às ciências “duras”, sabendo que as mesmas não traziam outra ocupação excepto a docência universitária (e esta apenas se estivéssemos bem com o regime)? Apenas quem tinha muita vocação. Quase como para Padre! Os 3 ou 4 matemáticos que tivemos de relevo depois do grande Pedro Nunes tiveram este destino e nenhum deles enriqueceu com a profissão. Pelo contrário.

Os médicos, advogados,  engenheiros e economistas , esses sim, ganhavam dinheiro e fundavam dinastias familiares. Depois da revolução começaram até a ter uma nova fonte de emprego, que eram os muitos “tachos” governamentais. Mas para lá chegar tinha de se ter os “melhores contactos”. Podia subir-se a pulso, mas ajudava sempre um “empurrão certo, da pessoa certa, na ocasião certa” (Belmiro de Azevedo ou Cupertino de Miranda podem contar como foi).

Com a crise que se instalou (e tenham todos a certeza que apenas a geração seguinte poderá ver o início do seu fim) acabou esta “entente cordiale” que envolvia quem estuda, é bom aluno e arranja emprego, quem o financiou durante os anos de estudo (os pais) e, finalmente, quem o empregava.

Mal estamos: Não há certezas (nem sequer esperanças) de emprego depois dos estudos superiores. É visível a “ganância” das universidades que, depois do Processo de Bolonha e aflitas com os cortes  do Ministério, utilizam os Mestrados e Doutoramentos como fontes primárias de financiamento (extorquindo às famílias tudo aquilo que podem). Admira que quem tem de gerir os dinheiros (cada vez mais escassos) de uma família comece a encaminhar os filhos para outras vias?
O único problema vai ser o futuro. Se existir futuro, quem virá para cá gerir e tomar conta dos lugares de topo?

Resposta: Tal como há 50 anos atrás, os filhos e netos de quem tem dinheiro e os mandou estudar, de preferência pagando-lhe os estudos “lá fora” ou na privada cá de dentro. O mundo é redondo e a história repete-se.