quinta-feira, dezembro 21, 2006

Comer sobre Rodas


Refeições a bordo de um Comboio são aqui glosadas pelo nosso especialista residente, Maurício Levy, a quem se perdoa a extensão do texto pela alta qualidade do mesmo, técnica e "tácticamente" falando e bem divertida:

Como todo o “bon vivant”, gosto de bons restaurantes. Segundo a célebre anedota (se insistirem muito eu conto) estarei assim na segunda idade do homem (nada mau). Leio com interesse, quando posso crónicas sobre (novos) restaurantes e procuro visitá-los pelo menos uma vez para ficar com uma (vaga) ideia do que representam. Mas hoje venho falar-vos de um óptimo restaurante certamente desconhecido de 99,9% da população portuguesa e injustamente depreciado certamente pela maioria dos críticos gastronómicos da nossa praça.

Para se encontrar o dito restaurante deverá o leitor ser feliz possuidor de um bilhete de comboio para Paris ou Madrid
[1] e dirigir-se, cambaleando um pouco (não por acção de qualquer aperitivo mas pelo balançar da carruagem) até á carruagem-restaurante do “Sud-Express” (no primeiro caso) ou do ”Lusitânia comboio hotel” (no segundo), após a passagem da sineta que anuncia a disponibilidade das mesas.

O percurso já é em si uma aventura agradável, enfileirando com outros passageiros que igualmente pretendem jantar na dita carruagem e espreitando, em são exercício de curiosidade pelos diversos microcosmos revelados á passagem pelos compartimentos que pontuam os corredores das carruagens que nos separam do nosso destino. Lembro a propósito a afirmação de uma amiga que centrava o charme das viagens de comboio nos fugazes encontros e trocas de palavras entre passageiros, cruzando-se nos corredores estreitos das carruagens – “desculpe” “faça favor” declinado em várias línguas e acompanhado de sorrisos fugazes, ou ainda o manancial de informações que Poirot retira(va) desses curtos mas intensos momentos.

Quão diferente da viagem rodoviária que nos levaria até ao nosso restaurante sedentário, se essa tivesse sido a nossa escolha!

Percorrido com sucesso o caminhos dos balanços que nos põe “em situação”, eis-nos entregues ás sábias mãos dos empregados da carruagem-restaurante que, pelo menos no caso dos meus amigos da MINC-BARP, que é concessionária da restauração (permitam que não use a palavra “catering”) no “Sud-Express”, num ápice nos “medem” e se apercebem do nosso estado de espírito – se abertos à partilha da mesa (são por vezes de 2 e 4 lugares e outras só de 4 lugares- depende do “lay-out” da carruagem) com quem for que nos couber em sorte ou se parece preferirmos absorver-nos em prazer egoísta de contemplação da paisagem que diante de nós irá correr e dos pensamentos que ela nos inspirará.

Uma vez instalados, é altura de gozarmos a paisagem que desfila diante dos nossos olhos e abrirmo-nos ao prazer único da gula nómada.


Ele é o cálice de Porto como aperitivo ao passarmos em pequena velocidade quase que dentro das casas de pedra de uma qualquer povoação que se “abre” à nossa invasão, ele é a degustação (sim, degustação que o “ambiente” empresta novo valor aos sabores) das tostinhas com pasta de sardinha ou manteiga ao avistarmos uma albufeira sobrevoada numa qualquer impressionante ponte da Beira Alta (se for esse o caso), ele é a admirativa apreciação do “ballet” de prodigioso equilíbrio com que os empregados nos servem o prato principal, sem falhas, antecipando o sentido e amplitude dos balanços, ele é o gozo pecaminoso de comermos a sobremesa parados numa qualquer estação apreciando o olhar surpreendido e levemente invejoso da nossa “qualidade de vida” que nos dirigem os que, lá fora, esperam um qualquer comboio sem as amenidades do nosso, ele é o prazer de utilizarmos os pequenos conhecimentos dos “insiders” ao vertermos vinho no copo (segurando o copo numa mão e o vinho na outra, em atitude que seria contra a etiqueta num restaurante sedentário, mas que constitui segredo passado de geração em geração para evitar entornar o líquido em caso de balaço mais acentuado), ele é o nec plus ultra do “frequent rider” ao anteciparmos o efeito devastador da curva de Vila Franca das Naves, segurando copos e garrafas e evitando as catástrofes que essa curva irá induzir nas outras mesas.

Ele é também, se essa for a nossa opção, o prazer de conhecermos outras pessoas e de trocar com elas frases de circunstância, e de fazermos evoluir essa aproximação mútua de forma que só a carruagem-restaurante permite (vá lá saber-se porquê), com gradações claramente diferentes se se tratar de almoço ou jantar.

Para quem quiser “entrar” no jogo o ambiente é claramente mágico – os romancistas sabem-no bem, assim como os escritores de romances policiais - e pouco importa que, no capítulo estrito do tratamento palatal possa o ágape não estar á altura do Gambrinus – sabe o autor desta crónica, de ciência certa que o seu palato, mesmo contra toda a evidência científica, apreciou superiormente o Aperitivo e Digestivo (moscatel ou aguardente velha), o “couvert”, o pão regional, o “creme bela fazendeira”, o “lombo de porco no forno à transmontana com arroz de passas”, o “toucinho do céu de Murça” e a “salada de frutas au Porto”, bem como o vinho maduro branco Porca de Murça (Douro) e o vinho maduro tinto Barão de Figueira (Beiras)
[2], em relação ao seu jantar no “Gambrinus, pontuado por envio de beijinhos entre os empregados (não, não é o que estão a pensar, é a maneira educada e pouco intrusiva com que chamam a atenção uns dos outros quando há serviço a fazer) e ordens de “trazer á mesa o prato do Sr Engº João Talone” que, pelos vistos, nesse dia de Gambrinus fazia-nos companhia noutra mesa, juntamente com o pilar gambrinense que é o Fernando Lopes, invariavelmente sentado no balcão do dito restaurante.

Como tudo na vida (tudo na vida tem um fim excepto a salsicha que tem dois) as viagens gastronómicas têm pontos altos e que nos ficam na memória (difícil lembrar-me de pontos baixos numa carruagem-restaurante) – e a melhor maneira de voltar a saboreá-los é partilhá-la convosco.


Fiquemo-nos então apenas por três ou quatro apontamentos que para sempre connosco irão viajar.

Comecemos por relembrar uma viagem Lisboa-Porto num rápido com serviço de carruagem-restaurante (para os interessados uma carruagem Budd, já hoje retirada do serviço) em luz crepuscular e com a bateria da dita carruagem avariada, o que fazia com que a iluminação interior do restaurante )alimentada unicamente pelo gerador) oscilasse ao sabor da velocidade do comboio e introduzisse um elemento de “suspense” romântico ao ambiente (conseguiremos ver a comida?).

Sigamos agora para paragens mais longínquas e experiências internacionais, com uma viagem no Glacier Express, mítico comboio que serpenteia pelos cumes suíços
[3] e seus glaciares, com refeição abundantemente regada com “Champagne” e libações entre os passageiros e os participantes num “rally” de “Donas Elviras” que, a passo de caracol (por mais interessados nas vistas e no Champagne do que na velocidade) circulava na estrada imediatamente adjacente á linha férrea[4]

Regressemos a Portugal, perto embora da fronteira com Espanha, para “viajarmos” na quadra natalícia e descrevermos um jantar na noite de Natal (a caminho de ir ter com a família, já previamente “na terra” felizmente situada em zona servida pelo “Sud-Express”) em que os poucos clientes dessa noite eram tratados pelos empregados com um carinho especial, culminando com a oferta de filhozes “feitas pela mulher do cozinheiro” e distribuídas de graça pelos clientes completamente surpreendidos (sobretudo se estrangeiros) por essa atenção que não lhes “quadrava” nas atitudes “normais” de empregados de restaurante.

Mudemos agora de registo mas não de intensidade de prazer para descrever os pequenos-almoços servidos após uma noite de carruagem-cama, enquanto o comboio desfila pela lindíssima paisagem do país basco, coberto de neve e com o calor do ambiente e do café com leite (e da aproximação a território de França que, para um jovem e nos anos do pré-25 de Abril muito queria dizer) a fazer contraste com o frio exterior, deixando lugar para uma descontraída apreciação da “tostada” e do brioche e do cerimonial do encher do copo de café com leite, deitado simultaneamente de dois bules, um em cada mão do empregado, cruzando os jactos de líquido, tudo isto num comboio em movimento e com apreciáveis balanços, frequentes na via férrea basca

Com tudo isto, caro leitor, sustento e julgo que posso considerar “c.q.d.” que não há experiência gastronómica que se compare ao uso de uma carruagem-restaurante. Perdida a batalha que em tempos (antes de 1998) travei para a inclusão de uma dessas carruagens nos “Pendolino Lisboa-Porto” (carruagem que, aliás, existe na versão original circulando em Itália), essa inesquecível experiência pode apenas ser gozada em Portugal a caminho de Paris ou Madrid
[5] (mas não é preciso ir “all the way”), recomendando-se sobretudo a primeira. Cesse tudo o que a musa canta sobre os restaurantes sedentários[6], que outro valor mais alto se “alevanta” [7]



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[1] Poderá também gozar as mesmas delícias fazendo uma viagem como por exemplo as que a “minha” associação de amigos dos caminhos de ferro (APAC) organiza todos os anos, com carruagens restaurante e almoço “en route”
[2] Quem quiser visitar o espaço acanhado no qual as refeições em carruagem-restaurante são integralmente preparadas (repito: integralmente – o que já não é usual noutros países) perceberá o milagre diário que é esse tipo de serviço – e quando souber o que ganham esses milagreiros, ficará sem perceber de todo
[3] Uma das coisas que mais agradavelmente impressiona na Suiça dos caminhos de ferro métricos (cantão dos Grisons ou Graubunden, por exemplo) é o silêncio que invade as paragens em estação, que a pouco e pouco fica dominado pelo chilrear dos pássaros e pelo ruído das cascatas. É coisa que nunca se esquece!
[4] Os copos do “Glacier Express” têm a base inclinada em ângulo com a haste, para ficarem direitos nas mesas quando o comboio enfrenta as impressionantes pendentes do percurso
[5] Ou em algumas viagens da Associação portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro, mormente o passeio de aniversário, normalmente em Novembro e de cujo menu deste ano nos servimos no texto
[6] O meu amigo cozinheiro Michel chegou, porém, um dia a contactar-me com a ideia de fazer o “mais comprido restaurante do mundo” comprando varias estações desafectadas ao longo da linha do Douro e transformando-as num restaurante no qual o cliente podia iniciar o seu almoço numa delas e continuar a comer os diversos pratos ao longo de uma viagem pelos outros. Era uma espécie de “sedentarismo móvel” como diria o “meu” aspirante do tempo da tropa, inventor do conceito do “olhar fixamente móvel”
[7] Das experiências de carruagem-cama outro dia poderia também muito se contar. Do prazer da contemplação da Lua através da paisagem nocturna ,toda em silhueta, ou da experiência única de se viajar em carruagem em que a iluminação normal, por avariada, tinha sido “substituída” por um “cordel de lâmpadas” espalhado ao longo do corredor, como se de uma iluminação de árvore de natal se tratasse, “rebentando-se as lâmpadas á media que os balanceamentos da carruagem as fazia chocar contra as portas dos compartimentos

Comenta quem sabe

O nosso Amigo Manuel Subtil deixa um comentário bem a propósito dos perús em liberdade no Alentejo:

Talvez não seja novidade para muitos leitores mas, para outros será dificil de acreditar: no nosso dinâmico Alentejo havia (ainda haverá?) os guardadores de perús, que apascentavam bandos de dezenas de bicos, como se de ovelhas se tratásse. Dava cá uma trabalhêra...

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Bye Bye Barbera!!



Têm morrido os Gigantes da Animação clássica, desde o enorme Tex Avery, morto em 1980, criador do "Droopy" e do famoso "Bugs Bunny" entre muitas outras impagáveis recordações da nossa juventude (falo de quem anda pelos "entas"...) depois Chuck Jones (Warner Brothers) imortal desenhador do Willy Coyote & Road Runner que nos deixou em 2002.

Chegou ontem a vez de Joseph Barbera, a parte criativa da dupla Hannah-Barbera, responsável pelos Flintstones, Jetsons, Tom&Jerry, etc, etc...

Faço aqui uma reflexão para questionar se neste mundo de animação computorizada "à la Pixar et autres.." ainda existe espaço para as grandes equipas dos desenhadores clássicos que levavam, nos bons velhos tempos da "Fábrica de Sonhos" dos manos Disney, do Bambi e da Bela Adormecida, um ano para fazer uma Filme de cerca de 80 minutos?

O fenómeno de aceitação, por parte dos adolescentes de todo o mundo, do desenho animado de origem japonesa, com base na "Manga" , foi tremendo - Dragon Ball diz-lhes alguma coisa? - e a partir desse momento em que os Grandes Investidores verificaram que se podia fazer um filme de animação com muito menos meios humanos (em qualidade e quantidade) embora se tivesse de recorrer à animação computorizada, o antigo "métier" do desenhador de prancha, que nos encheu de fantasia há 40 anos atrás, estaria condenado.

Quem não se reformou ou foi pela vida compulsivamente reformado (caso dos que evoco atrás) ter-se - á convertido em Art-Director de alguma Empresa, ou em autor de Banda desenhada ou de capas de Livros de Fantasia ou SCF.

E é pena... Penso eu.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Um Olhar pelo "outro lado" do Natal


Fica bem fazer nesta altura do ano apelo para que os "bem de vida" se lembrem dos que não têm dinheiro para comer nem para se vestir. Com o aumento do Desemprego esta situação tem contornos sociais que , pessoalmente, me parecem muito complicados, sobretudo quando se fala do Natal e das prendas que qualquer criança espera ( e tem direito a receber) na noite do dia 24.

A "Caridadezinha" natalícia pode para alguns parecer hipocrisia, mas se aproveita mesmo a algum pobre o que é que isso importa?

O "Bom Ladrão" que rouba para si mas que não se esquece de repartir parte do espólio pelos desgraçados é sem dúvida condenado pela moral vigente, mas na minha contabilidade pessoal ( e peço desculpa se ofendo alguém com essa ideia) está acima do probo e honrado "Catão" que nunca alcançou o que não era seu, mas que também nunca ergueu a mão para ajudar quem quer que fosse.

O Mundo é feito de tonalidades de cinzento e há muito quem se revolte com as Festas de Sociedade onde se gastam milhões para se darem milhares e onde se vai sobretudo para aparecer na TV.

De novo eu pergunto "Mas se mesmo assim os tais milhares servirem para matar a fome e o frio a quem precise, de que é que nos estamos a queixar?"

Dar por gosto e não por obrigação (não falo das "Dízimas") e as mais das vezes - diria mesmo todas - anonimamente, é um dos maiores prazeres que levamos desta vida.

Nem que seja para limpar a consciência dos muitos pecados que acumulámos durante o ano.

No meu caso não me importo de confessar que a gula continuada do gastrónomo, embora disfarçada por roupagens eruditas e escrita bem ataviada, é apenas possível de se suportar caso o mesmo "animal" se lembre - de vez em quando - de auxiliar quem precisa.

Que melhor altura para o fazer do que nesta quadra?

Vamos a isso? Nem que seja pela esperança dos néctares tintos e brancos a haver futuramente sem que nos causem azias existenciais...

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Natal é Reunião de Amigos



Uma das caracterísiticas que mais me afeiçoam ao Natal é a possibilidade de Amigos antigos ou modernos aproveitarem a oportunidade para se encontrarem mais vezes, em casa uns dos outros , ou num simples Restaurante, trocando votos de Boas Festas, mas sobretudo reforçando a Amizade ao mesmo tempo que cuidam dos estômagos.

Por estes dias tivemos ensejo de Jantar em casa de dois bons Amigos, o Luis Corte-Real , e também António Mendonça. Como os convivas quase que se repetiram foi interessante dar a este Post uma visão única deste sempre amável reencontro e , obviamente, do que se comeu e bebeu.

Dona Anita e Mestre Corte-Real tinham em sua Casa duas boas surpresas: Míscaros frescos, acabados de colher nas suas propriedades da Beira Alta, e Cabrito Montês da mesma proveniência.

A preparação dos Míscaros estava soberba, simplesmente refogados em azeite e alho (dizem os antigos que o alho é obrigatório nos pratos de cogumelos, pois "despista" os que são venenosos tornando-se preto durante o aquecimento). O Cabrito (mesmo mesmo Cabrito como diria o anúncio) foi assado lentamente no forno e acompanhado - como é costume em terras de Viriato - com arroz dos miúdos do mesmo e com batata nova assada no forno. Magnífico!

Queijo da Serra (da Estrela, o que é que estavam a pensar em casa de um montanhês?) encerrou em glória esta refeição.

Bebemos ( o responsável pela Adega é normalmente aqui o vosso Amigo) Quinta do Côtto Grande Escolha de 2000. Grande Vinho Tinto do Douro que - com os seus simples 12,5º - deu uma lição de elegância e de boas maneiras a alguns tintos que aí estão na moda.

Alguns dias mais tarde chegou a convocatória para casa de Mestre Mendonça: Os coelhos bravos estufados em Armagnac estavam a pedir meças e boa companhia.

Entrada de Ovas salteadas em azeite e melagueta (vinho branco para refescar quase no fim do salteio) e Coelhos esplendorosos , com um molho apuradíssimo em que entraram natas e Armagnac, acompanhados de arroz arábe, solto e perfumado pelos pinhões e sultanas.

Para sobremesa um Pastel de Nata gigante da autoria de uma boa Amiga do Alvito.

Esporão Tinto Reserva de 2003 foi o acompanhamento e, como fui criticado de levar "sempre muitas garrafas" desta vez aviaram só uma ... mas era de 3 Litros!! E bebeu-se toda!

Quem ficou com a garrafa (melhor dito, o garrafão) foi o Amigo Cardoso - proprietário da Casa do Victor em Alcabideche - restaurante do qual falarei dentro em pouco, pois é uma das casas mais honestas em termos de qualidade-preço que tive ocasião de fequentar.

Em ambos os jantares falou-se de caça e da possibilidade desta actividade dar origem a algum dos livros dos CTT. A estudar proximamente...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Perú assado no Forno


Retomamos a velha Receita que tenho praticado muitas vezes desde que me armei em "Cavaleiro dos Tachos e das Panelas " lá de casa.

Lavar bem o perú dois dias antes (eu faço-o com vinho branco) , ter o cuidado de o escolher em tamanho médio (perua se possível) e mantê-lo por 24 horas em água com limão e rodelas de laranja.

Na véspera esfregar todo o perú com massa de alho e massa de pimentão e cobrir com um pano.

No próprio dia aquecer o forno a 250º, regar o perú com Vinho da Madeira e colocar-lhe por cima umas nozes de boa banha (a de porco preto é a melhor e vende-se no Aucham). Podemos colocar também 3 ou 4 malaguetas.

Enquanto se espera para o forno aquecer e se insistirem no Recheio, podemos encher um papelote de papel de alumínio, que vai entrar no bucho do perú, com meio chouriço de carne, meio kg de vitela e meio kg de perna de porco picados bem finos, e temperados com sal e pimenta. Gosto de lhes juntar duas gemas de ovo para ligar bem e miolo de um paposeco demolhado em leite. A gosto (mas Cuidado com os abusos!!) podemos ainda deitar neste recheio umas gotas de molho inglês.

Inicia-se o processo da assadura, o qual demorará mais ou menos 3,5 horas para uma ave de tamanho médio.

Segredo é apenas ter o cuidado de ir virando a ave e controlando a temperatura, já que se deseja ter o perú tostado mas não queimado. Aconselho ainda que se prove o molho e se corrija de sal, pois as massas de alho que por aí se vendem têm teores de sal diferentes.

Quando estiver bem assado dos dois lados leva-se à janela para "constipar" e logo para a mesa!

É fundamental para que a pele se encontre bem tostada que seja servido logo a seguir.

Perú de Quinta para o Natal


Já sabemos em como a saborosíssima ave selvagem oriunda da América Central e do Norte acabou por se tornar um autêntico Mac Donald's ambulante quando domesticada e abusada pela dieta de rações de farinha de peixe a que foi submetida para engordar depressa e a custos reduzidos.

Claro que me lembro ainda de existirem perús (e peruas, mas noutro enquadramento, mais líquido" , digamos) distintas das do "branco de Aviário", sobretudo na sua versão "mamute" que teria tanto sabor natural como um verdadeiro mamute congelado da Sibéria...

Mas esses outros, de carne escura e tenra, que faziam mesmo uma canja rescendente de boa gordura, eram privilégio de quem os comprava ainda infantes e os criava em quintas, alimentando-os a milho, couves e outros cereais.

Neste Natal o El Corte Inglês avisa que tem à venda Perús de Quinta oriundos do Alentejo e
garante não só a autenticidade do material como também a dieta natural a que as aves foram submetidas antes do abate.

A ver vamos, e lá comprarei para aqui dar notícia da prova.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Crónicas de Viagem - O Sud Expresso


O Amigo Maurício, o apaixonado e conhecedor homem de Comboios, entra nesta campanha com o seguinte, e magnífico, texto:


Sou o último viajante – recordações do “Sud-Expresso”

Sim, sou o último viajante. Ou melhor pertenço à última geração de viajantes. Os que se seguem a mim não viajam, são transportados.


Partem de um ponto e chegam a outro, sem qualquer vontade de cederem à magia da viagem. O tempo gasto entre a partida e a chegada deve, para eles, ser o mínimo possível, o olhar inquisitorial para a paisagem na tentativa de adivinhar as lentas ou rápidas, óbvias ou subtis alterações do ordenamento do território ou da geografia humana são exames inúteis e sem interesse.

A janela do comboio ou do automóvel não trazem qualquer apelo que possa superiorizar-se ao de uma contemplação do nada ou, melhor ainda, de um jogo de gameboy ou outro videojogo da moda.

Quando muito a janela do avião pode merecer olhares esparsos, mas apenas para garantir a imutabilidade da vista – nem sequer a análise das formas caprichosas de cirros, estratos, cúmulos ou nimbos apresenta qualquer interesse.

“Beam me up Scotty” – o transporte instantâneo – bem poderia ser o seu grito de guerra. A paisagem é sempre monótona, a viagem um inconveniente que se deve suportar para chegar ao ponto de chegada. Assim atravessam os meus filhos os vales da Lombardia, as paisagens dos Pirinéus, a Catalunha ou o “plat pays” que era o de Jacques Brel.

Mas não.


Além do prazer da partida e da chegada a outros sítios, a viagem, em si, para os “últimos viajantes” é um valor, um prazer, a descoberta do lento evoluir do território e das suas gentes, a transformação do conhecido em desconhecido, a descoberta das diferenças. E as vistas e os sons criam uma geografia que não mais se esquece, que nos acompanha e tem tanta importância quanto o conhecimento que iremos adquirir do nosso destino.

A viagem torna-se assim a lenta e agradável preparação para a chegada.

Para mim, por exemplo, a Espanha era o momento em que ouvia, na entrada da noite gritos de “oye Paco” a substituírem os anúncios por altifalante que me informavam que estava de passagem pela “estação de Vilar Formoso – o comboio estacionado na linha número um é o comboio “Sud-Expresso” com destino a Paris”, e o som da sineta inconfundível das estações de caminho de ferro espanholas (não por acaso comprei uma sua miniatura que guardo religiosamente em casa, aquando dos 150 anos da ferrovia do país irmão) acompanhava a minha travessia do território espanhol pela noite fora, pontuada de uma diversidade de apitos de locomotivas a vapor que me indicavam sem falhas o troço de via que estava a percorrer, ciência que a custo tinha conquistado vencendo o sono e descobrindo, umas vezes através da janela da carruagem-cama mas outras vezes obrigando-me a sair para os gélidos cais das estações, qual o local onde estava, mesmo se obedecessem a nomes tão fora das toponímias conhecidas como são os de Medina del Campo, Miranda de Ebro, Alsasua e outros.

E se Portugal era um Tejo pouco interessante, a variedade que a Beira Alta oferecia era anunciada pela música das vendedeiras de água e arrufadas de Coimbra da estação “B” dessa cidade, onde o comboio parava. E se a nossa invariável presença na carruagem-restaurante nos fazia dispensar a compra das vitualhas anunciadas, a canção entoada por essas vendedeiras era uma “paisagem sonora” inesquecível (pena não poder incluir som nesta crónica, para transmitir essa toada que, quem sabe, será, em detrimento das que a religião me prescreve dizer no momento da morte, o meu último murmúrio – “ar’fadas de Coimbra e queijinhos de Alcobaça” logo seguido de “Ágafresquiiiinha”).


Uma Beira Alta de barragens, pontes e albufeiras bem bonitas (com o comboio a passar quase pelo meio de povoações de casas de pedra) mas que, no resto do trajecto mostrava uma Serra da Estrela que fazia invariavelmente o meu pai dizer que o nosso era um país árido, anunciava o jantar e, a seguir, a Espanha, olhada da cama da carruagem-cama para onde nos recolhíamos, era a emoção de uma lua cheia vista a dois pela janela (em viagens mais tardias, com outras companhias que não a dos pais...) ou, depois de se avistar o tempo de uma piscadela de olho o castelo iluminado de Ciudad Rodrigo, essencialmente, uma interminável linha telefónica que “subia” ou “descia” ao longo da janela do compartimento e acompanhava, poste a poste, a ferrovia, iluminada por uma intensa lua que difundia uma luz que apenas algumas luzes esparsas – momentos mágicos – de casas isoladas interrompia por breves segundos (e cujo crescendo indicava inequivocamente a aproximação de uma cidade e de uma estação, que também a diminuição do ritmo do “dadang-dadang” dos rodados nos carris, anunciava ao reflectir sonoramente a diminuição da velocidade do comboio expresso).

A França era, - temos que o confessar – a monotonia da floresta das “Landes” bordalesas mas, antes de mais, o excelente pequeno almoço de que podíamos usufruir na carruagem-restaurante, e a minha mãe fazendo comparações impiedosas mas verdadeiras na altura (continuou a fazê-las pela vida fora, mesmo quando já não correspondiam à verdade, provando que muitas vezes a memória dos sentidos é mais forte do que a realidade) entre a qualidade das frutas, dos doces e do pão franceses face aos seus congéneres ibéricos (dos “croissants” nem se fala – mas ainda hoje é assim). E depois a vegetação luxuriante da região basca francesa, que tinha porém dificuldade em esconder os “camping” da zona, inúmeros em França (turismo de massas oblige) mas ainda quase desconhecidos em Portugal.


A França era, também o orgulho de viajar em comboios modernos, de carruagens prateadas, pronto a deslizar a velocidades desconhecidas na Ibéria e que faziam do “Sud-Expresso” o comboio mais rápido da Europa, logo a seguir ao ultra-famoso “Mistral” ( e mesmo primeiro em percursos de mais de 500 kms, “ex-aequo” apenas com outro nome mítico da ferrovia, o americano “Twentieth Century Limited”).

Passadas as “Landes” o incessante olhar pela janela do comboio revelava estações que ocupavam imensidões, as suas linhas com material ferroviário moderno e variado oferecido ao olhar ávido do amigo dos caminhos de ferro (e mesmo, um tempo, a linha abandonada do “Aerotrain Bertin”, uma das falhadas aventuras mais interessantes do caminho de ferro), a incrível oportunidade de ver comboios a fazerem ultrapassagens e outros comboios e as sensações feéricas da aproximação a Paris, com os postos de agulheiros a pontuarem a chegada a “Paris Austerlitz”, indicando os kilómetros que faltavam e que ritmavam a preparação da saída para a cidade, com a descida das bagagens das bagageiras, a contagem destas e a procura ansiosa do “porteur”, chamado pela janela e que leva os “colis” ao táxi com o qual acabava a viagem.

Não, Scotty, do not beam me up. Deixa-me o prazer de me deslocar lentamente de um local a outro, absorvendo os sons, os sabores, as paisagens diversas. Que pena que eu seja o último viajante….

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Férias


Blogger inicia agora um período de Férias, pelo que os Posts poderão sofrer um pouco com a ausência...

Afinsa propôe acordo com Clientes Credores




De novo o caso AFINSA enche os jornais (lá mais para o meio do jornal, já não dá 1ª página...) com uma proposta que a Administração da AFINSA Portugal fez ontem aos seus Clientes aqui no País sobre a hipótese de estes se constituirem como "Sócios" da Empresa com a garantia de que num prazo de 10 anos lhes seriam devolvidas as poupanças investidas na companhia.

Em Espanha tal proposta também já foi feita.

Para que seja aceite pela Justiça 50% dos Clientes mais um teriam de dar o seu acordo explícito a esta iniciativa, e para isso a AFINSA está já a trabalhar.

A Directora-Geral, Maria do Carmo Lencastre, alvitra até que seria possível pagar a prazo não só o capital investido como também os Juros...

Que dizer desta proposta?

Começamos por admitir que no âmbito de uma execução judicial onde todo o património da AFINSA seria vendido ao desbarato é de admitir que os Investidores já se dariam por muito satisfeitos se viessem a receber 10% a 20% do que lá enfiaram.

E quando? A justiça em Espanha é mais célere do que em Portugal, mas não se esperam conclusões do processo antes de 5\6 anos...

Por outro lado, de que forma é que a Administração da Companhia se propôe fazer face aos seus compromissos para com os Clientes? Vendendo a pouco e pouco - e com o seu conhecimento específico do mercado - o seu património constituído por Selos ( valor real a determinar, embora estejam contabilizados a 1900 milhões €) e Imobiliário (600 Milhões €).

Parece-me mais lógico para os investidores a aceitação desta proposta do que ficarem à espera do que lhes "couber na rifa" da divisão do património executado judicialmente, mas há também que ter em conta o estado actual do Mercado Mundial de Novidades (em selos) , que não está para avarias (nem grandes nem pequenas...)

De todas as formas esta Proposta, por muito irreal que pareça - e com a qual, aliás, a DECO não concorda - tem pelo menos a virtude de ser uma réstia de esperança para quem tudo investiu neste negócio.

Só por isso acho que merece ser avaliada sem preconceitos.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Hora da Ciência Bacalhoeira






O seu nome científico é Gadus Morhua, mas é conhecido internacionalmente como Codfish.

Este peixe tão apreciado pelas suas qualidades nutritivas é chamado nos países de língua portuguesa Bacalhau.

Pertence à família dos gadídeos e é o mais conhecido dos peixes de águas frias do mar Atlântico Norte, no Círculo Polar Ártico.

Dele aproveita-se tudo: a carne é consumida em todo o mundo (seja fresco, fumado ou salgado e seco ), do fígado extrai-se óleo e da bexiga faz-se cola.

É uma das maravilhas da culinária de todos os tempos e essa justa fama é inteirinha devida aos Portugueses!

Cresce muito rápido e a fertilidade das fêmeas é excepcional: põem de 2 a 8 milhões de ovos por ano ; os que sobrevivem alcançam 40 cm em dois anos, 1m aos vinte anos (já vão rareando estes)-

Nessa idade, o peso é de aproximadamente 50 kg. Mas há muito maiores... Ou havia...

O período de reprodução é entre Janeiro e Abril, e o principal local de desova é no Arquipélago de Lofoten.

Por ser estenoterno - habituado a uma determinada temperatura - o bacalhau viaja constantemente, a fim de permanecer em águas propícias.

Por isso pode ser encontrado - por enquanto - nos mares da Noruega, Rússia, Islândia, Canadá e Alaska.

São cinco os peixes que normalmente se comem como Bacalhau: O primeiro é o Gadus Morhua, o Bacalhau do Atlântico Norte, o legítimo bacalhau; a seguir o Saithe, o Ling e o Zarbo, que também são peixes salgados e secos. O quinto peixe é o Gadus Macrocephalus , o Bacalhau do Pacífico ou do Alaska.

Bacalhau que chegue para Todos

Está complicada a vida para os amantes do fiel amigo...

Peritos internacionais da ONU estimam que, se não for efectuada uma paragem na pesca imediatamente, dentro de 15 anos o bacalhau poderá estar em vias de extinção...

Antes que isso aconteça vamo-nos entretendo com o que já está seco - e que seria uma pena deixar estragar...

O Amigo Manuel Subtil entra nesta contenda enviando-nos um ficheiro a propósito: são 100 Receitas de Bacalhau que não deixarei de ir citando aqui.

NOTÍCIA de 20 de OUTUBRO "Jornal O Globo do Rio de Janeiro":

"Europa analisa banimento da pesca para evitar extinção do bacalhau

LONDRES.

Alarmada com dados de uma pesquisa apresentada este mês, a Comissão Européia analisa a proibição total da pesca do bacalhau em águas européias a partir do ano que vem.

Há anos pesquisadores e ecologistas alertam que o bacalhau, uma das espécies comercias mais importantes do mundo, corre risco de extinção.

Porém, o estudo realizado pelo Conselho Internacional para a Exploração do Mar (Ciem), uma organização que reúne especialistas de toda a Europa, trouxe notícias devastadoras para a indústria pesqueira.

Só na Grã-Bretanha, a proibição da pesca do bacalhau poderá custar 20 mil empregos.

A Comissão Européia decidirá em dezembro quais serão as diretrizes para o próximo ano. Mas, segundo o ministro da Pesca da Grã-Bretanha, Elliot Morley, a tendência é que a captura do bacalhau seja proibida por um prazo ainda não determinado.

— Este é um dos mais sérios e preocupantes estudos científicos sobre os recursos pesqueiros da história recente e não pode ser ignorado — disse Morley.

O Ciem propôs a proibição da pesca não somente do bacalhau, mas de outras espécies de peixes de alto valor comercial, como o hadoque.

O motivo é que as redes para apanhar essas espécies acabam por pegar também o bacalhau.

O relatório pediu a proibição da pesca em todo o Mar do Norte, no Mar da Irlanda e em águas do Ártico. Os cardumes de bacalhau foram severamente reduzidos por séculos de pesca excessiva.

Nas últimas décadas, a modernização da indústria pesqueira tornou a captura mais eficiente e acelerou o processo de extinção.

Hoje, não só os cardumes que estão menores. Os peixes também. Isso aconteceu porque durante anos os animais maiores foram intensamente capturados, fazendo com que a população remanescente da espécie seja descendente de peixes menores, de valor comercial reduzido.

Nos últimos 20 anos a população de bacalhau tem ficado abaixo do mínimo necessário para sustentar a sobrevivência da espécie. Além da pesca excessiva, o próprio ciclo de reprodutivo do bacalhau dificulta a recuperação da espécie.

De cada 20 filhotes, apenas um consegue sobreviver tempo suficiente para se reproduzir. O bacalhau leva até seis anos para chegar à maturidade sexual.

Devido a isso, cientistas acreditam que a recuperação da espécie demorará anos. "

terça-feira, dezembro 05, 2006

Paulo Mendonça riposta com Comentário e ...mais bacalhau, que a Época está para isso

Caro Raúl

A sua receita será tida em conta para futuras provas. já agora recomendava também e da referida Quinta de Vale Meão o Vinho Meandro 2004 cujo preço de 9,20€ revela uma excelente relação qualidade preço.


Aproveito para apresentar mais uma receita de bacalhau, pouco conhecida mas excelente na apresentação e no sabor.

(quantidades para 10 pax)

Bacalhau à Zé do Gato

INGREDIENTES

Bacalhau (inteiro) 1 unid.Bacalhau; 400 gBatata nova 1,8 kg; Camarão 750 g; Miolo de mexilhão 400 g; Miolo de berbigão 400 g; Bacon 300 g; Presunto 350 g; Azeitona preta 200 g; Alhos sêcos 8 dentes; Colorau 1 c. sopa; Vinho branco 2 dl; Azeite O,5 l; Salsa ½ molho; Pão ralado q.b.; Sal q.b.; Pimenta q.b.; Água q.b.;

MÉTODO DE CONFECÇÃO

• Escame e retire a espinha ao bacalhau inteiro préviamente demolhado• Coza as 400 g de bacalhau• Limpe de pele e espinhas e desfie• Coza o camarão em água temperada com sal e descasque• Pique a salsa• Corte o bacon em brunesa• Pique o presunto, o alho e os mariscos• Adicione 2/3 de azeite e a salsa ao picado• Tempere o aparelho com sal e pimenta• Recheie o bacalhau inteiro com o aparelho e cosa-o com fio norte unindo as extremidades no sentido longitudinal• Coloque num tabuleiro o bacalhau, regue com vinho branco e restante azeite e disponha o bacon• Polvilhe com pão ralado• Asse o bacalhau no forno à temperatura de 170º• Asse a batata descascada temperada com colorau, sal , pimenta e azeite no forno à temperatura de 165º• Desate o bacalhau• Emprate harmoniosamente o bacalhau e a batata• Decore com azeitonas e ramo de salsa


Comentário - Vê-se logo a diferença entre um Amador (eu) e um Profissional como o Paulinho...

Louvor do ano de 2004



Os Vinhos do Douro, Dão e Alentejo de 2004 estão um portento!

Já me tinha apercebido que - depois da desgraça da colheita de 2002, má para quase todas as Regiões do País - tinha vindo um ano extremo em termos de temperaturas (2003) onde os vinhos atingiram graus alcoólicos inauditos e onde foi também necessário utilizar toda a mestria de saber humano para domar na adega as forças brutais das massas vínicas desse ano.

Só para ilustrar informo que, nas nossas vinhas do Dão, o Tinto de 2003 atingiu 15,8º e parte dele teve de ser transformado em aguardente porque não desdobrou no vasilhame...

Até que apareceu 2004!

Ano abençoado no que toca às condições ideais para a vitivinicultura!!

Sol no tempo certo, chuva que baste e também a tempo, vindima sadia debaixo de um Sol brilhante e sem vista de nuvens.

Não admira que muitos especialistas considerem que este 2004 será um dos anos mais emblemáticos do Sec XXI em relação à classificação das colheitas. Eu próprio, simples amador , considero que temos Vinhos de grande, enorme , competência nesse ano:

No Douro: Pintas, Vale Meão, Poeira, Quinta da Leda
No Dão: Carvalhais Alfrocheiro, Carrocel,
No Alentejo: Esporão Reserva, Conde da Ervideira Reserva,

E só falo do que , felizmente, já provei.

Uma das últimas provas foi em minha casa, em redor de um simples Bacalhau de Caldeirada, com pimentos e tomates, que preparei para o almoço de Domingo.

Bebemos o Quinta da Leda 2004 e ficámos no Céu...

Bacalhau de caldeirada (4 pessoas)

Tirei 4 boas postas de bacalhau do congelador, onde já estavam dessalgadas, na véspera. Tive o cuidado de lhes juntar também a cabeça e o rabo, mais para dar gosto do que para o resto.

No dia, hora e meia antes da refeição, escorri o bacalhau e sequei-o em papel de cozinha. Seguidamente pus num tacho de ferro preto 8 boas batatas da terra , vermelhas, cortadas em rodelas grossas; 4 boas cebolas, idem; 5 Dentes de Alho grosseiramente picados; dois meios pimentos cortados às tiras finas (um vermelho e um verde ); 3 tomates médios partidos aos bocados;

Juntei uma colher de massa de pimentão , uma mão cheia de sal grosso, e reguei com um bom golpe de azeite do melhor. Por cima pus as postas do bacalhau, começando pelas mais grossas . Atenção, porque o bacalhau desfaz-se mais depressa do que o peixe fresco neste tipo de preparação!

Mais um golpe de Vinho Branco e três malaguetas pequenas desfeitas e foi pôr em lume brando durante aprox. 1 hora sem nunca mexer mas abanando de vez em quando.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Au Revoir Philippe!



Foi a enterrar na Sexta Feira passada Philippe Noiret, nome grande da Cinematografia e do Teatro Francês e um dos meus Actores de eleição.

Aqui em Portugal será talvez mais conhecido pelos papéis de referência no "Carteiro de Pablo Neruda" e no "Cinema Paraíso". Em ambos interpretava o papel do Conselheiro - Neruda aconselha o seu carteiro a encarar os relacionamentos e o Projeccionista, farto da censura eclesiástica aos beijos dos filmes que projecta, encontra num jovem italiano de uma cidade de província uma alma gémea .

Mas Noiret foi muito mais do que isso, tendo interpretado mais de 120 filmes e dezenas de peças de Teatro em toda a sua extensíssima carreira. Homem de uma só mulher (mais de 40 anos de casamento) acabou por ser um cancro que o derrotou depois de tantas vitórias na tela.

Para mim o mais tocante dos Filmes onde o vi - e que é um dos meus filmes de culto - é :
"Un Taxi Mauve" .

História de encontros e de desencontros numa Irlanda crepuscular onde Noiret, Charlotte Rampling, o veterano Fred Astaire, a belíssima Agostina Belli e o também grande actor Peter Ustinov nos enredam numa história de amor e de renúncia enquadrada por algumas das mais belas paisagens que se podem filmar nesta Terra.

A não perder agora com uma boa edição em DVD!

Philippe Noiret dizia sobre a Vida: « Le voyage est court autant le faire en première classe ! »

E este podia também ser o meu moto.

Até à vista Amigo e Bon Séjour!

Comentário a Camarate

Um dos nossos Leitores comenta o Post sobre o "Sr. Esteves":

A verdade é que o Primeiro Ministro deste País e o Ministro da Defesa morreram na queda de um avião,quando levantava de Lisboa para o Porto e além de muita cortinada de fumo,tal como noutros cenários à portuguesa,muitas dúvidas,muita investigação?!!,

Será que haverá mesmo interesse em esclarecer?!poucos resultados,muito branqueamento,muito boqueio,muita desconfiança,muita insinuação.....muito tempo e de concreto...muito pouco, ou quase nada....é este país no melhor dos seus desempenhos macro estruturais....mas num dia de nevoeiro ainda virá aí um Salvador....e,nem,não só, mas também....

Povo de Brandos Costumes...Vêde lá que pode o Povo....será que poderá um dia?

Esperemos que sim