quinta-feira, junho 22, 2017

Calamidade

 A desgraça assolou o grande Pinhal Interior Norte sob a forma de um violento incêndio que deflagrou perto de Pedrogão Grande,  no final da tarde de 17 de Junho.

Os números da fatalidade são chocantes. Estávamos habituados a que fossem medidos em  "ha" ardidos de floresta, o que por si só já era penoso, e não em vidas humanas perdidas.

Considero que estamos ainda muito próximos do evento para ter  capacidade de reflectir com racionalidade sobre as causas, a reacção, a coordenação,  o envolvimento dos meios e a eficácia do combate às chamas.

Ponho-me de fora destas matérias. Não as conheço. Não posso dar uma opinião séria.

Sobre o desenvolvimento do assunto todos pensamos alguma coisa com certeza. Nem que seja o óbvio: Não seria possível impedir a perda de vidas, sobretudo naquela estrada fatídica?

- "Porque não fecharam a estrada?"

Mas não se trata de futebol, nem aqui se pedem treinadores de bancada.  E, talvez mais importante do que tudo o resto, dar palpites depois de saber o resultado não configura grande perspicácia...

Penso que o País deve exigir uma análise serena e profunda sobre este caso, se possível feita a frio e com peritos que sejam independentes dos que estiveram envolvidos no teatro das operações.  E rápida. Não antevejo pior situação do que cairmos no marasmo de uma "Comissão" que leva dois anos a estudar e mais seis meses para escrever o relatório.

Exonerar ou culpar os intervenientes é importante para que os cidadãos compreendam a justiça e  recuperem a confiança.  Mesmo se a grande causa da propagação incendiária se deveu também a grave incúria dos proprietários na limpeza das suas matas.

No rescaldo deste gravíssimo incidente recordo aqui o agradecimento da Senhora Secretária de Estado da Segurança Social aos CTT-Correios de Portugal e aos nossos carteiros.

Quando foi necessário cumprir a tristíssima tarefa de confirmar se existiriam ainda mais pessoas mortas dentro das casas que foram pasto das chamas, foram os carteiros que guiaram as equipas de resgate e salvamento pelos caminhos ainda a arder daquelas freguesias. Apenas eles sabiam onde eram as casas e quem nelas morava.

segunda-feira, junho 12, 2017

O que fazer na "silly season" ? Leiam!

O período do ano em que os MCS se vêm mais aflitos para nos abastecerem de notícias com alguma relevância está a começar.

Acabou o futebol, começam as "Marchas". E há mais descanso na política - embora aqui já tivesse havido um período de nojo maior. Ter-se-á perdido o respeito pela água do mar e pelas férias dos nossos deputados.

Nas empresas o Verão ainda se nota? Sim.  E quem duvida desta afirmação, seguro que o país se modernizou e está a um pequeno patamar da Europa do Norte, que tente fazer um livro com saída prevista para Setembro.

Em Agosto as gráficas não fecham e os  gabinetes de design ainda trabalham? Pode ser que sim, mas a laboração é na maioria das vezes com menos de metade dos trabalhadores. Estamos a trabalhar! Não fazemos é a maior parte das coisas que era suposto fazermos. O que, bem pensado, deve dar enorme conforto ao cliente.

Lembra-me uma cena verdadeira passada com um antigo presidente da minha empresa, dirigindo-se a um colega de um Centro de Operações da época, que teria sido ensinado previamente a nunca dizer-lhe que não:

 -"Ouça Lá! O Senhor diga-me se  esta máquina ainda é muito utilizada?
 - "Sr. Presidente a máquina ainda faz alguma coisa, mas pouca..."
 - "E ainda a usamos?"
 - "Sr. Presidente, usamo-la muito pouco"
 - "E  em que circunstâncias?"
 - "Quase nunca Sr. Presidente".
 - " Já percebi. A máquina faz pouco e o pouco que faz não serve para nada. Parece uma Comissão."
(hoje diríamos "um grupo de trabalho"...

Uma boa aposta para esta "saison" é aproveitar a Feira do Livro e abastecer-nos de leitura para o resto do ano.  E em aperitivo ( há tanto tempo que não publico aqui poemas) aqui vos deixo uns versos.

Saudando Manuel Alegre, o prémio Camões deste ano. E bem a preceito aqui vai um soneto "Sobre um mote de Camões". A caricatura é de André Carrilho.

Sobre um mote de Camões

Se me desta terra for
eu vos levarei amor.
Nem amor deixo na terra
que deixando levarei.

Deixo a dor de te deixar
na terra onde amor não vive
na que levar levarei
amor onde só dor tive.

Nem amor pode ser livre
se não há na terra amor.
Deixo a dor de não levar
a dor de onde amor não vive.

E levo a terra que deixo
onde deixo a dor que tive.
Na que levar levarei
este amor que é livre livre.

                 Manuel Alegre