segunda-feira, agosto 14, 2017

Laranja no Inverno

A "laranja" é um fruto tradicional do Inverno.  Em Portugal (país que a introduziu na Europa vinda do Oriente) é no Algarve que tem mais fama. E vai daqui um abraço para a Cooperativa de Citricultores do Algarve (CACIAL) pelo trabalho que têm feito no apuramento das estirpes e na procura de mercados cada vez mais diferenciados para a nossa laranja.

Mas a "laranja" a que aqui me refiro não é a fruta, mas  sim a cor. Segundo as especialistas, a cor laranja seria a "rainha" do Inverno de 2017 e apareceu em força nos desfiles de moda que antecipam a estação, sendo possível observar esta cor nos mais variados adornos femininos,  em todos os blogs que se dedicam ao  "street style".

Aliás, não só o "laranja" fará furor nas próximas estações como também o "amarelo" e o "vermelho", que por combinação se transformam na dita cuja, como sabemos.

Ando agora cada vez mais  por fora destas tendências de moda. Nem me recordo do assunto me excitar assim tanto no passado, excepto quando tinha de "fazer de conta",  para  mostrar algum interesse em assunto onde a companheira de vida se atravessava.

 As modernas "fashionistas"são definidas pelo Urban Dictionary como "A fashion nazi, someone who defines alternatively oneself and others by the clothes they wear".

Não é muito simpático... De todas as formas -  segundo parece e está escrito (Huffington Post) -  caso se retirassem da Economia em geral os efeitos da Indústria de Moda (diretos e indiretos) estima-se que a recessão de 2011 teria sido dez vezes pior...

É este o poder da "moda". O consumo que gera causado pelos muitos milhões de aderentes que preferem passar a hora do almoço a "lamber as montras" do que a "lamber uma colher". Contribuindo dessa forma igualmente para esticarem cada vez mais o seu perfil, o que também está "na moda". 

Quem tem dinheiro para comprar habitualmente  haute couture, a 40 000 euros cada criação original? Uns milhares de pessoas em todo o mundo. E quem tem dinheiro para comprar um Picasso hoje? Idem , idem...

Mas quase todas podem andar com uns "jeans" da mesma marca milionária , ou ter em casa uma reprodução da Guernica.

O Bentley Bentayga custa "apenas" 300 000 euros . E o feliz e raro comprador pode ainda  ser convidado a gastar mais 200 000 eurinhos no relógio de tablier que é proposto como opção: um Mulliner Tourbillon da Bretling.

Quem pode, pode. Quem não pode compra um Volkswagen Polo por 15 000 euros.  É a vida.

(Já agora devem saber que a Bentley pertence à Volkswagen? Tal como a proletária indiana Tata Motors comprou a colonialista Range Rover...  São as voltas que o mundo dá e as teias que o império tece.)

A "moda" para as senhoras e senhores que lhe dão importância pode ser assim entendida como as revistas de automóveis de hoje: têm que ter o artigo central com o Lamborghini Veneno Roadster, para atrair leitores, mas depois fazem os testes nas outras páginas aos Renault Clio e aos Nissan  Micra.

Resta o caso da malta obtusa, onde me incluo, que não liga a marcas nem a coordenação de cores para além do óbvio "ululante".  Esta malta compra a roupa que lhe serve, emociona-se quando encontra um fornecedor que acerta com o tamanho e enternece-se quando usa pela milionésima vez o velho blazer azul escuro (praticamente tratado como se fosse uma pessoa de família).

Recordo-me de ter uma vez comprado um casaco na Aquascutum de Londres, ainda na Regent Street, 100. Era em tweed verde escuro e vesti-o até que o volume do corpo já não permitiu. Dei-o depois ao meu sogro que ainda o usou até falecer. Esse casaco  prestou bons e leais serviços durante mais de 20 anos.   Foi caro, mas "amortizou"  o investimento muito para além do prazo que seria esperado.

Não aposto é que o fiel casaco teria estado esses 20 anos sempre "na moda". Durante esses anos os gurus da "moda de homem" mudaram os botões , mudaram as rachas nas costas, mudaram o número de bolsos à frente, mudaram a silhueta do confortável para o estilizado, e vice-versa. 

 Lembrando-me dessa frivolidade cometida no final dos anos 70 do século passado, há dias em que ainda sonho possuir um fato Brioni feito por medida. E, já agora, entrar com ele no Plaza de Nova Iorque com a Virginie Ledoyen pelo braço, depois de ter dado a chave do Bentley (com relógio) ao porteiro.

Sonhar não custa nada. Para quem ainda não toma comprimidos para adormecer. Como eu.

quinta-feira, agosto 10, 2017

A desertificação da cidade causa alguma sede...



Entrando pelo mês de Agosto os sinais de férias multiplicam-se em Lisboa e penso que também nas outras cidades do país. Não será já como foi outrora, onde parecia que a cidade  fechava um mês para obras, mas mesmo assim  notam-se diferenças notáveis no dia-a-dia de quem passa, trabalha ou vive nos Burgos.

Mês de Agosto é também mês de férias ao contrário, de imigração turística. E Lisboa afina por esse diapasão cada vez mais. Tal como Barcelona e Paris ( para citar exemplos que conheço) cidades que por força dos muitos milhares de visitantes ficam descaracterizadas nestas alturas.

Como costumava dizer um amigo meu catalão:

-"Em Agosto todos os "pixapins" se vão embora! Só a igreja do Gaudi não foge porque é de pedra".

Nota: Pixapin , Camaco ou Ets de Can Fanga,  são nomes dos  barceloneses em calão local.

 Só as pedras não fogem , porque não podem. E em Lisboa será o mesmo. Ou não?

Para quem ainda trabalha nesse mês existem vantagens interessantes, como a diminuição do fluxo de automóveis na estrada, a maior facilidade em estacionar, ou ainda a possibilidade de frequentar restaurantes com mais calma, sobretudo aqueles que estão fora dos guias turísticos internacionais.

Por exemplo, num destes dias pude ir almoçar com uma trupe engraçada ao Bel'Empada, no cruzamento da  Avenida de Roma com a João XXI, deixando o carro quase ao lado da porta,

 E como o Sr. Belmiro apenas tem capacidade para 10 ou 12 convivas, não imaginam a alegria que foi ter chegado às 13h  e deparar com três mesas vazias!

Alegria para o grupo de manducantes, porque para o proprietário talvez não... Não existem mundos perfeitos, com sol na eira e chuva no nabal.

A ideia era trazermos vinhos para prova.  E a desculpa era a canícula, o calor que fazia e a desertificação da cidade ambos convidavam a refrescar as gargantas.

Pensemos no bar colonial lá para o Cairo,  onde T.E. Lawrence , regressado da última conversa na tenda de Faiçal, se encostaria para um Gin&Tonic.

Mesmo sem Peter O'Toole ao nosso lado beberam-se nessa ocasião , e começando pelos brancos, um Chardonnay alentejano da Figueirinha 2015, excelente; Dory de viosinho e alvarinho, um Douro muito interessante ; e um Espumante  millesimé vinificado em Távora-Varosa, bom , mas sem deslumbrar.

E depois passámos aos tintos: de Susana Esteban o Aventura de 2014, alentejano das terras altas que mostrou vigor e frescura; Quinta da Leda 2004 (de cair para o lado!); um Priorat de 96 soberbo ainda, aristocrata seco e fino; E como surpresa um Cartuxa de 92. Velho, sim, mas não acabado, cheio de sabedoria e a convidar para ser bebido sozinho e lentamente.

Para aguentar tanto líquido apresentaram-se na mesa: Queijos de Castelo Branco, requeijões de Serpa,  "terrine de viande"   ali mesmo feita pelo Sr. Belmiro,  pimentos de Padrón e dos outros, as inevitáveis empadas que dão nome à casa, com recheio de  galinha e enchidos. Sopa de Beldroegas e um  belo Pernil assado no forno.

Bem podia ser sempre assim. Refiro-me à facilidade de estacionamento e à ausência de filas para as mesas. Porque quanto ao resto, boa comida e a preços maneirinhos, já o Amigo Belmiro nos habituou seja em Agosto, Abril ou Dezembro.