quarta-feira, janeiro 24, 2018

Reformar-se devagar

Com estas novas obrigações de escriba onde me meti semanalmente por suposto heterónimo, no site cultural "gerador.eu", tenho deixado para trás a presença aqui no blogue.

Já agora, vão lá dar uma volta ao site que vale bem a pena: http://gerador.eu/

Também é verdade que estou a escrever outras coisas nos tempos livres, que poderei eventualmente utilizar como material para editar um livrito (ou dois) lá mais para a frente. No horizonte onde me apercebo, com alguma desconfiança, da existência daquela senhora de idade, a "dona reforma".

"Reformar" , se for verbo aplicado a coisas,  é sinónimo de consertar, reparar, restaurar, emendar, corrigir ou retificar.  

Mas quando se aplica às pessoas terá duas interpretações:

 - Pode significar que alguém decidiu deixar o tipo de vida que levava (bom ou mau) e abraçar novas aventuras. E esta mudança pode acontecer em qualquer idade.
 - Ou então  indicar que o cidadão ou cidadã terminou a sua vida activa. Significa assim a cessação do exercício de funções, com a consequente atribuição de uma prestação pecuniária mensal vitalícia, designada por pensão. Nesta acepção da palavra é preciso chegar actualmente aos 66 anos e picos  para poder usufruir da pensão completa.

Com o prolongamento da esperança de vida  - em Portugal a média está quase nos 81 anos, e o INE estima que chegue aos 90 anos em breve - espera-nos a todos um período de mais ou menos 20 anos em que teremos de reinventar a nossa presença no mundo.

Visitando locais especializados em aconselhamento de "seniores" (palavra muito em moda para designar a malta de idade) recolho algumas propostas de "actividades" que se podem fazer depois dos 70's: 

- Aprender uma língua nova ( se me garantissem que só batia as botas depois de ter concluído o estudo escolheria mandarim. Ou marciano).
- Tirar um curso superior (perdeu a graça quando as frequências baixaram para 3 anos...)
- Praticar Desporto (cansativo e perigoso. Leiam o que disse Winston Churchil sobre a matéria)
- Jardinagem (já não me curvo bem agora, quanto mais andar de cócoras daqui a 10 anos? )
- Passar tempo com os netos (tenho treinado com a mãe,  a tia e a sogra...será quase a mesma coisa. Fraldas incluídas. Não é novidade).
- Dedicar-se às artes (só se for a de bem comer e de bem beber. Então passei a vida a aturar artistas para depois seguir-lhes os passos? Livra!)
- Fazer Voluntariado (esta ainda escapa. Claro que preferia que me deixassem escolher a actividade. Por exemplo nas Ilhas Fiji. Não riam. Fui ver e existe esse programa:
 http://www.topdestinos.com.br/experiencias/cultural/ser-voluntario-em-programas-sociais-nas-ilhas-fiji/)

Um amigo meu - bom gourmet, excelente enófilo - aproveita a reforma "dourada" ( e aqui o termo tem duplo entendimento) para se dedicar a experiências gastronómicas de requinte. Em Espanha, em Itália, em França. Planeia duas ou três viagens dessas por ano com a companheira de vida, tem ocasião de frequentar aqueles restaurantes que só aceitam marcações com meses de antecedência, e programa a visita de forma a poder (antes ou depois da refeição "estrelada")  passar por alguma ou algumas caves de vinho que fiquem por ali perto.

Neste momento está a pensar mudar o enfoque para o Novo Mundo:  USA e Chile , Napa Valley e Casablanca, Maipo ou Colchagua. Depois será capaz de experimentar  a Austrália...

Devo dizer que a este tipo de "reforma" também eu aderiria com gosto. Começava com o Hotel e restaurante da família Troisgros em Ouches (Rouanne), e depois se veria...

Para usufruir destas reformas convém ter bolsos fundos. Pelo que o meu conselho à malta que aspira (é o termo) a este tipo de turismo elitista é que não tenha muita pressa.  Vá esperando e vá poupando.

O pior que lhes pode acontecer é já estarem meios (ou meias) ginjas quanto tiverem o dinheirito de parte.

Mas não se preocupem que os herdeiros lhe darão utilização.  Que não será na farmácia.

Entretanto assinem a NetFlix, frequentem a FNAC, comprem e leiam bons livros. Para rir vejam o Manuel Serrão e o Pedro Guerra aos piropos  no "Prolongamento".

 Entretenham-se na cozinha se tiverem jeito. Se não tiverem, façam tostas mistas.  Evitem o "stress"!
E já gozam.