sexta-feira, março 30, 2012

Para Descansar a Vista

Finalmente, a Chuva! Pelo menos aqui para o Sul e Vale do Tejo, mas  espera-se que neste fds avance para cima, para as Beiras e para o Norte Transmontano, que bem precisam...

Segue um poema de chuva, bendizendo o silêncio que se desprende das cataratas celestiais:

Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Nota: Quadro de Leonid Afremov

quinta-feira, março 29, 2012

A Austeridade vai e vem?

Com Pedro Passos Coelho ontem na TVI o indígena luso podia esperar ficar mais ou menos elucidado sobre os "quês" e "porquês" da sua vida. As grandes questões que o fazem passar as noites acordado:  "para onde vamos" e "como", etc e tal...

Mas sobretudo se lhe iriam mais vezes ao bolso ou não. Aqui é que  a porca torce o rabo! Na contagem dos cêntimos de euro que sobram aos tristes depois de tudo terem pago das despesas mensais.

Bem, quanto a essa ansiedade natural o nosso Primeiro Ministro disse: "NIM".

- "Que não está previsto aumentar ainda mais a austeridade, mas que não pode jurar que não o fará..."

Mal comparado lembra-me a anedota sobre a conversa  de um nosso diplomata para outro ( de país distinto) sobre a presença cultural de Portugal em determinado local da Ásia:

-" Estamos lá há 500 Anos e é bem forte a nossa presença atual!"
- " De certeza? Veja lá que eu não imaginava isso..."
- "Pois é verdade! Talvez não seja uma presença tão forte como desejávamos, mas lá estamos!"
- " Muito bem Colega! É que eu nunca dei muito por isso"
-" Bom, a presença a que me refiro é talvez pequena, mas existe!"
- "Extraordinário ..."
- " Temos de estar mais atentos Colega! É uma  presença pequena, mas existente."
-" Pena que não sirva para grande coisa  e que pouco se dê por ela..."
-" Lá nisso tem o Colega muita razão..."

Ou seja, traduzindo para politiquês que tenha a ver com a situação de Portugal face à crise e à não aplicação de mais Austeridade:

 Certezas  temos , mas são poucas. E as poucas que temos não servem para nada!

Organizem-se Senhores! Olhem que Abril está por aí a chegar....

quarta-feira, março 28, 2012

Ainda o discurso de Malkovich

Alguns Leitores estranharam que John Malkovich tenha acabado a sua comunicação com a invectiva "Merda!!".

Aqui vai um artigo da inevitável Wiki sobre este assunto:

"Generally, it is considered bad luck to wish someone "good luck" in a theatre. Prior to performances, it is traditional for the cast to gather together to avert the bad luck by wishing each other bad luck or cursing - in English-speaking countries, the expression "break a leg" replaces the phrase "good luck". The exact origin of this expression is unknown, but some of the most popular theories are the Shakespearean Theory or Traditional Theory, and the Bowing Theory.[2] If someone does say "good luck", they must go out of the theatre, turn around 3 times, spit, curse, then knock on the door and ask to be readmitted to the theatre.[citation needed] The expression "break a leg" has spread outside of the theatre and is regularly used by non-actors toward actors and in non-theatrical situations.

In Australian theatrical circles saying "good luck" is also avoided, but the replacement is often "chookas!".[3]

In Portuguese and Spanish-speaking countries, before each performance, director and actors gather on the stage, join hands and scream "Muita Merda!"/"¡Mucha mierda!" ("A lot of shit!"). The term "A lot of shit" reputedly comes from the success of a play. Where historically people would arrive by carriage, lots of people meant lots of carriages and horses, leaving "a lot of shit". Instead of saying "break a leg", those who want to wish good luck to the performers wish "mierda" to them. Similarly, in France and in Italy, actors say the word "Merde!" (French) / "Merda" (Italian) just before making an entrance. The French "Merde!" is also popular among ballet dancers across the world regardless of their mother tongue."


Nem sempre "merda" é asneira malta!!

terça-feira, março 27, 2012

Dia Mundial do Teatro

Em Portugal fui ao Teatro pela última vez em 1998, ver o grande Ruy de Carvalho no Rei Lear, ao Teatro Nacional. Depois disso, já neste século, tive a felicidade de ver em Paris o “Malade Imaginaire” de Molière e, um ou dois anos mais tarde, em Londres, “The Merrry Wifes of Windsor” do W. Shakespeare.

Convenhamos que é pouco…

Filmes vejo quase todos os meses…O último foi “Hugo” de Mestre Scorsese. E gostei!

Porque será? Há quem diga que é pela proximidade ao Actor, pela vergonha de nos encontrarmos numa sala com cada vez menos pessoas… O que obviamente traduz o início de um círculo vicioso fatal.

Outros referem o preço, outros ainda falta de paciência para ver “coisas sérias”, nestes tempos em que a realidade já será cinzenta que baste. E, alguns que têm o cinema ao pé da porta, declaram que não há já pachorra para vir de Lisboa fora de horas…

(mas se for por causa de uma noite no Bairro Alto…)

Eu, pecador, me confesso. Não sei bem os porquês deste afastamento, até porque tenho um Teatro quase ao lado de minha casa (Teatro Mirita Casimiro).

Mas pode ser que a minha redenção comece aqui e como o velho Frei Tomás (faz o que ele diz, mas não o que ele faz) , faço um apelo generalizado para que não se esqueçam do Teatro.

E transcrevo, na sua simplicidade, a admirável comunicação de John Malkovich para esta ocasião:

“O ITI – International Theatre Institute UNESCO, honrou-me ao convidar-me para redigir a mensagem comemorativa do 50º aniversário do Dia Mundial do Teatro. Vou dirigir estas breves palavras aos meus companheiros do teatro, colegas e amigos.

Que o vosso trabalho seja convincente e genuíno. Que seja profundo, tocante, comunicativo e incomparável. Que nos ajude a refletir sobre a questão do que significa ser humano e que essa reflexão seja conduzida pelo coração, pela sinceridade e pela bondade. Que superem a adversidade, a censura e a escassez algo que, na verdade, muitos de vocês são forçados a confrontar. Que sejam abençoados com talento e rigor necessários para ensinarem, em toda a sua complexidade, as causas pelas quais deve bater o coração Humano, tendo em conta a humildade e a curiosidade para fazer dessa tarefa a obra da vossa vida. E que seja o vosso melhor – porque o melhor que derem, mesmo assim, só acontecerá nos momentos únicos e efémeros – Em consonância com a pergunta mais elementar de todas.

“Porque vivemos?”

Merda!!!”

John Malkovich

segunda-feira, março 26, 2012

Os sabores doces da decadência

É bem certo que quanto mais se aproximam os sinais da decadência - de um país, de uma organização, de uma família - mais se podem encontrar sinais de excesssos. Assim foi na Alemanha de 1944\45.  Em Roma quando os bárbaros já batiam à sua porta, em tantos outros lados...

Pois neste fim de semana assumimos plenamente o estatuto de decadência nacional desta crise malvada, e vai de sermos convidados para almoçar em casa de um Amigo - profundo conhecedor e colecionador de vinhos - para que, todos juntos, déssemos conta de algumas garrafas memoráveis que por lá existiam na sua afamada adega.

Para iniciar a contenda dois Verdelhos - um de Setúbal e outro do Esporão. Acompanharam umas simples gambas com azeite e alho. Magníficos ambos, talvez com mais charme o do "Zé" Maria da Fonseca

Com umas perdizes estufadas e uns queijos de azeitão (nada daquilo que se vende nos supermercados! Dos mesmo bons! Comprados diretamente aos pequenos produtores da zona) começaram as coisas sérias. Muito sérias. Seriíssimas mesmo!!
Deram 4 marmanjos conta de : uma Barca Velha Magnum de 1966 (uma peça rara, já de coleção!). 1 Quinta do Noval Reserva de 2005. 1 Quinta do Noval Sirah de 2009. 1 Quinta do Vale Meão Reserva de 2003.

E para terminar : Uma garrafa de Porto Noval Nacional de 1994 e mais uma de Porto Noval Nacional de 1997.

Nota:  Este Noval Nacional é vendido a mais de 2000 euritos, como sabem...Cada garrafa! Não falo de caixas!

Que dizer? Que o Senhor Barca Velha de 66, com 46 anos de idade ainda se bebia. E muito bem, dando luta - obviamente noutra referência, de vinho velho - aos jovens "turcos" do Douro de quem foi sublime antepassado. Que dos outros vinhos de mesa , e apesar da excelência do Vale Meão,  pareceu-me levar a palma o Noval Reserva de 2005.

E que morrer sem ter provado o Porto Noval Nacional seria uma tragédia! E ainda, que da magnificência de ambos ressaltou o de 1994, ano paradigma de Porto Vintage do século passado.

Saímos de casa do nosso Amigo embasbacados, tal e qual como a malta que saíu da sala onde os Irmãos Lumiére fizeram a 1ª projeção cinematográfica... Embasbacados e um pouco "arejados" de movimentos...Nada que uma horita a apanhar o "fresco" da montanha não resolvesse...

E lá viemos ter ao Estoril com os olhos a brilhar de memórias gustativas e olfativas... Como a Crise pareceu lá tão longe nesse fim de tarde , também ele magnífico!!

Bendito Domingo aquele!

sexta-feira, março 23, 2012

Para Descansar a Vista

Deixei escapar o Dia Mundial da Poesia, nesta semana que agora finda. Mas em homenagem a esse dia e a todos os Poetas vivos - a quem dedico o habitual momento bloguístico desta Sexta -  regresso aos grandes clássicos e aqui vos deixo dois  Príncipes dos Poetas: um é o nosso Camões,  o outro, tendo nascido brasileiro, é já também de toda a gente. E faz 100 anos que nasceu já em 2013.

Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente

Erros meus, má Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que já as frequências suas me ensinaram
A desejos deixar de ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De Amor não vi senão breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
Dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

Fazer o gosto ao dente...

Em Mação, perto da Barragem de Belver e na freguesia da Ortiga,  mesmo junto ao velhinho apeadeiro  da CP , encontra-se a Casa da Dª Lena, conhecida como a "Lena da Barragem".

Em tempos idos que ainda testemunhei eram comuns as excursões de Lisboa, pela Linha da Beira Baixa, para ali comer lampreia. A Casa, um pouco como o Café Correia de Vila do Bispo e a sua inefável Lilita, tem idiosincrisias que podem afastar o incauto.

Primeiro que tudo (agora já não! Mas faço um pouco de história) ali só se comia mesmo Lampreia. Uma vez, ainda no tempo dos escudos (que saudades), a proprietária foi questionada por um amigo meu:

-  "Se não poderia a Dª Lena ter umas simples febras também na carta?"

E ela ter-lhe-á respondido:

"- Olhe lá, então eu ainda neste fds fiz 2000 contos a vender lampreia e acha que vou ter febras para aturar aqui os bêbados da Terra??!!"

Já podem ver como é ( nisso está igualzinha, Nosso Senhor a conserve sempre assim, tal e qual a Lilita) o "feitio" da criatura....

Depois, o vinho disponível era ( e é) miserável! De tal forma que o preço da Lampreia incluía a mistela. O Cliente era convidado a levar com ele a garrafa. O que fiz várias vezes.

Neste momento a Casa está um pouco mais composta. Já não se vê a areia no chão a esconder as manchas do tinto, as casas de banho são normais (nem lhes digo como eram...) e há um prato do dia ( a 7,5 euros) para além da Lampreia. Ontem era Cozido à Portuguesa e parecia bem servido. Quem o provou gostou.

A Lampreia  só se faz com Arroz. E tem dois preços: 25 euros a dose (bem servida, 4 a 5 troços , embora pequenos). Ou então 30 euros à "desbunda" , comendo o Cliente tudo quanto quiser.

E nesse preço está incluído o Pão, o Vinho (enfim, se se pode chamar àquilo que já está nas mesas vinho), café  e uns troços de Tigelada (fraquinha embora).

Se a Dª Lena simpatizar convosco pode ser que mande entregar na mesa uns canjirões de Vinho de Pias, esse sim , muito agradável e também incluído no preço da Lampreia.

Conclusão: A Lampreia e o arroz nem sempre chegam quentes às mesas. O serviço é assim, assim. Os guardanapos e as toalhas são de papel. A Dª Lena não é para brincadeiras....Mas a Lampreia é bem feita, e por 30 euros podem comer uma ou duas dessas "bichas" inteiras sózinhos!

Convenhamos que há piores locandas para satisfazer este vício do início de cada ano.

quinta-feira, março 22, 2012

Hoje em Mação

Mais uma apresentação no Museu Arqueológico de Mação do nosso Livro "História da Arqueologia em Portugal" , do Prof. Carlos Fabião.

Oportunidade para conviver de novo com o Professor e, sabido da sua predileção pela Lampreia, tentar juntar o útil ao agradável!

Mação é terra antiga de Lampreia. Ora leiam aqui sff:

O Festival da Lampreia de Mação, que decorre entre 24 de fevereiro e 25 de março, é uma iniciativa da Câmara Municipal e da associação de desenvolvimento Pinhal Maior, com o apoio do programa Proder, que conta com a participação de nove restaurantes do concelho que durante este período vão ter o famoso arroz da lampreia na sua ementa, com o presunto da marca Mação e enchidos nas entradas e o vinho “Terras da Gama”, produzido no concelho e feito à base de uvas da casta Touriga Nacional.

O Amigo Álvaro - em cujo solar vamos entrar - já tratou da necessária reserva num dos  restaurantes da zona que aderiram a este Festival. Apesar deste ano ter sido muito parco em Lampreias - e as que provei estavam relativamente magras - vamos mais uma vez ver o que o destino nos mete no prato à hora do almoço.

Depois conto.

quarta-feira, março 21, 2012

Regresso ao Passado

Em tempos que já lá vão tive muito que "fazer" ali em redor da Igreja da Memória, à Ajuda. Em novo ia para lá montar a cavalo com uma das filhas de um Sr. Coronel de Lanceiros 2 (sempre acompanhados por um ordenança, que o homem não era para brincadeiras!). Depois, muitos anos depois, namorei quem por ali morava (e mora). Sempre o coração a mandar no estômago, nesses tempos. Hoje é ao contrário...

Mas divago. Nestas andanças deu para conhecer um pequeno restaurante, quase "perdido" naquele bairro popular de Lisboa, onde - quase secretamente, na clandestinidade - o Dr. Jorge Sampaio ia por vezes almoçar quando era PR e se fartava da vianda do Palácio de Belém.

Restaurante A PAZ
Largo da Paz 22 B
Ajuda
1300-450 LISBOA
Telefone - 213641503

Para lá chegar não é muito fácil.... Tenham como primeiro azimute a Igreja da Memória, em cujo largo podem estacionar, e depois perguntem. O restaurante quase que se vê já de uma das muralhas em que  o largo da Igreja se apoia. Ou ,se se sentirem mais afoitos, venham para junto do Edifício do Comité Olímpico Português, um pouco cá mais para baixo na Travessa da Memória,  e estacionem por aí:

http://www.comiteolimpicoportugal.pt/cop/contactos

 O Restaurante ficará a uma escassa centena de metros, em subindo.

Fecha aos Sábados e Domingos o que dá já uma ideia do caráter citadino do estabelecimento. Lisboa - noutros tempos - esvaziava-se aos fins-de-semana. Nem é, por outro lado, restaurante para "turistas"! A  sua situação resguardada e quase "confidencial" também não convidava essa raça (tão abundante umas centenas de metros mais lá para baixo, para os "pastéis de Belém") a subirem e desfrutarem.

O que se come na Paz? Como verão de seguida a Lista parece trivial e comezinha, própria mais para snack bar do que para restaurante com pretensões a poiso de gastrónomos... Mas o que se destaca - sempre! - é a enorme qualidade da matéria prima e a delicadeza com que é confecionada, bem ali à nossa vista. Se o Cliente gostar dos filetes de pescada só alourados no azeite, sem farinha nem ovo, tudo bem.  Panados , em vez de passados por farinha normal? Arranja-se. Se o Cliente preferir o peixe assado com puré de batata , OK. E se ansiar por um arroz de pimentos ao lado, idem, idem...

Entradas: Pastéis de bacalhau, Salada de feijão frade com atum. Peixe: Filetes de pescada, garoupa e de cherne; Lulas grelhadas; Peixe do dia grelhado; Peixe assado no forno; Lulas à algarvia; Ovas de pescada; Garoupa frita à moda da casa; Garoupa cozida com todos. Carne: Vários cortes de carne de 1ª qualidade (só Lombo e Vazia) , disponíveis para a grelha ou para fritar à portuguesa, com alho e manteiga.

Para além disto, por vezes a origem minhota dos proprietários (já na segunda geração) , deixa-se ver nalgum mimo "de temporada" - o Cozido minhoto, só com enchidos da zona, a Lampreia, o Sável, a bela Cabidela de galo, até os Rojões com tudo a que têm direito cheguei a lá comer!...

Nunca mais me esqueço que nesta casa comi um dos melhores cozidos à portuguesa (versão do Minho) da minha vida! Ainda era vivo o Pai do atual gerente.

Ora depois de vários anos sem lá ter posto os pés, neste 1º Trimestre de 2012 e tendo como pretexto uma visita de trabalho ao palácio da Ajuda (ali tão perto!) fui almoçar com dois amigos ao velhinho " A Paz".

Entradas de pasteizinhos de bacalhau e rissóis (bons!). Filetes de garoupa com arroz de tomate (muito bons!) a 16 euros a dose, cada uma constituída por 3 filetes altos . Três peças de lombo grelhado "para provar as carnes", com batata frita em palitos (excelentes ambos) e a 7 euros cada peça, por ser meia dose. Com duas garrafas de verde Alvarinho e uma de Crasto 2009 Tinto, saindo as três juntas por 43 euros, pagámos 132 euros com 5 cafés e dois Jamesons para a sossega ( bebidos pelos "reformados" da campanha).

Um dia não são dias amigos...45 euros por cabeça é muito para os dias de hoje? Claro que sim.

E disso mesmo se queixa o gerente, que lamenta profundamente vir a ser obrigado a baixar a qualidade do que serve por falta de Clientes... E a ausência dos tradicionais e minhotos "pratos de tacho"? Bem, é pelas mesmíssimas razões... pelo cansaço em esperar Clientes que não vinham.

Em conclusão: se querem provar uma cozinha simples, intuitiva, feita de boa qualidade de matéria-prima e longe - mesmo muito longe - das atuais modas "metrosexuais" de alguma gastronomia dita de "Autor", vão à Paz. E fiquem bem , muito bem, Fiquem em Paz!

Mas depressa...pelo que vi, ouvi e entendi, não sei quanto tempo mais se vai aguentar...E não só é pena como faz também pena!

Comentário ao ColorAdd: E as Imagens dos Selos com antecedêcia?

Já respondi diretamente ao Amigo Bernardo sobre a falta de informação anterior aos lançamentos. Essa informação é normalmente dada à imprensa (geral e filatélica) com uma semana de antecedência. O que se passa é que muitos dos atuais "atores" neste palco da Filatelia utilizam Blogs , Fóruns virtuais e Sites para se comunicarem, e muitas vezes esses tipos de meios de comunicação não são contemplados nos nossos press releases.

Basta enviarem-me um endereço de E-mail com as caraterísticas do site onde querem que as imagens sejam divulgadas. Depois de confirmação das "boas intenções" e da "idoneidade" do tal site passaremos a enviar para os coordenadores esses press releases.

terça-feira, março 20, 2012

Uma Emissão de Selos Especial

Neste 1º Dia de Primavera deixem-me, para variar,  falar de coisas BOAS!

Portugal tem felizmente fama e proveito de manter um nível de criação artístico, cultural e científico de alto nível. Nestes tempos em que nos podemos sentir tocados por algum desespero e é fácil deixarmo-nos atingir pela amargura, nunca foi tão importante falar bem alto e com verdade para divulgar as boas coisas que, todos os dias, são feitas neste velho país pelos nossos concidadãos.

O projeto que hoje apresento aqui em forma de selo postal deve orgulhar-nos por muitos motivos: é inovador, tem um cariz marcadamente social , contribui para o desenvolvimento e para o progresso da humanidade e, para além disto tudo, é obra de um português!

O Designer Miguel Neiva defrontado com um problema – o daltonismo, a dificuldade em distinguir as cores - que, em maior ou menor grau, afeta  mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo, sobretudo Homens - com dedicação e muito trabalho tornou possível a distinção das tonalidades ao inventar o ColorAdd, um código gráfico monocromático, sustentado em conceitos universais de interpretação e desdobramento de cores, que permite aos daltónicos identificá-las corretamente.

Ao terem os CTT Correios de Portugal optado por sinalizar esta invenção através da emissão de um conjunto de 5 selos, todos desenhados pelo mesmo Miguel Neiva, damos cumprimento ao estabelecido no Estatuto do Selo Postal Português: o propósito prioritário de evocar, nas suas edições e nas emissões de selos de cada ano, personagens, criações, efemérides, histórias e patrimónios que fazem parte do que há de mais profundo e genuíno na tradição, na cultura e na alma portuguesas.

Agradeço-lhe e felicito-o, Miguel Neiva,  por esta oportunidade para divulgarmos ainda mais – junto de milhões de filatelistas e de utilizadores dos selos postais – a sua criação, seguro de que , ao fazê-lo, estou a contribuir para enaltecer, na sua pessoa, o nome de Portugal e de todas as suas gentes.

Nem tudo é Mau! (embora pareça....Chiu!)

segunda-feira, março 19, 2012

No Dia do Pai: Mais umas reles notícias e outras assim-assim......

Merecia mais este dia 19 de Março. Dia do Pai (moi!) e de mais uns tantos... A origem desta celebração é duvidosa, mas a história de  que mais gosto é esta: Foi encontrada uma placa de argila, na Babilónia, datada de 2000 A.C. , onde um jovem rapaz de nome Elmesu escreveu uma mensagem para o seu pai, desejando-lhe saúde, felicidade e muitos anos de vida .

Uns 4000 anos depois disso acho que ainda não se inventou melhor mensagem... Só se lhe acrescentássemos uma linhazita sobre os "cobres" (ou os bronzes") que já deviam existir nessa altura...Algo como "E que nunca te falte algum pilim para pagar os impostos ao Gaspar, as rendas  à EDP e os juros às Troikas que nos atanazam".

Nem de propósito, neste Dia do Pai de 2012, umas notícias para gelar ainda mais os ossitos dos "velhos":

 - A PIMCO - o maior fundo de investimentos do mundo - veio anunciar pela boca do seu Presidente que:
"A Grécia acabou, é para esquecer. E quanto a Portugal não tardará muito que necesssite de um segundo resgate, altura em que seguirá de perto este exemplo grego".

- Cá no burgo o Governo autoriza os Bancos a cobrarem 36,5% de juros sobre os cartões de crédito...mais uma machadada no consumo de restaurantes e similares. A mensagem continua a ser "Não comprem! Deixem de comprar! Guardem o dinheiro para a electricidade e para a água, enquanto não chega o papelinho do IRS e o do IMI!"

- Sabe-se hoje que os Estaleiros de Viana do Castelo serão privatizados a 100%. O que (aqui para nós) nem sei já se é bom ou se é mau...Comparado com o fecho e despedimentos , pode ser bom. Vamos ver quem por aí aparece. Os inevitáveis chineses estarão de volta?

- No capítulo desta semana referente às "rendas" da EDP e ao Secretário de Estado "herói" que se terá afastado (foi empurrado, será melhor dito), soube-se que o Governo apenas terá poder para afetar cerca de 50% delas...O restante só alterando contratos será possível mudar. Assinados por quem? Vão lá a Paris perguntar, ao Quartier Latin. Cada vez mais parecidos, o Sócrates e o Coelho...
 E sobre isto não resisto a transcrever do Blog Blasfémias:
"O primeiro-ministro Passos Coelho prometeu, ainda na sua mensagem de Natal, mudar as estruturas económicas “que protegem núcleos de privilégio injustificado”, algo que incluiu no seu desejo de democratizar a economia. É altura de, ao lidar com a EDP e outras empresas gigantes, mostrar que estava a falar a sério."

- Poderá salvar-se desta hecatombe a notícia que os Noruegueses - que dispôem do maior Fundo Soberano da Europa - estão dispostos a investir aqui em Portugal. Gente séria é sempre bem vinda!

E como é Dia do Pai, aqui vai , para terminar, uma mensagem adequada ao dia e aos tempos que decorrem:

sexta-feira, março 16, 2012

Dia Mundial do Sono (Ó,Ó)

Há que dar importância ao sono. Por muitos e bons motivos, mas principalmente porque sem ele não conseguimos equilibrar as "engrenagens corneativas", um bocado pasmadas já de tanto trabalhar em vazio de ideias e de objetivos nestes tempos malvados que  nos aconteceram.

Por isso, em homenagem ao soninho de todas as noites, aqui vai Poema:

Entre o Sono e Sonho

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Em Ourique, o Porco!

E foi assim. Reunião na Câmara de Ourique, desenvolvimento daquilo que será  a participação dos CTT no Congresso Mundial do Presunto ( a realizar pela primeira vez em Portugal!). Com lançamento de selos e do livro "Sabores do Ar e do Fogo"  previstos para a data de inauguração do Congresso: 29 de Maio de 2013!

A "malta" aqui do Baixo Alentejo treina já para esse acontecimento memorável, onde se espera a afluência de mais de 400 congressistas e acompanhantes, representando dezenas de países. O "treino" ,   consiste na organização do Encontro Ibérico e Feira do Porco Alentejano,  já este ano, entre 23 e 25 de Março, também em Ourique.

De entre o programa mais a sério  destacam-se os colóquios, a degustação de presuntos DOP e IGP, o encontro de produtores e vários "showcookings.

Para animar os turistas  vão ainda realizar-se dois concursos:.
a) Concurso de "Grunhidos"!!(??) - (Serão imitações dos porcos ou mesmo vocalizações dos naturalmente suínos?)
b) Eleição de Miss Piggy (E aqui também fiquei sem saber se as candidatas seriam de 4 patas, ou não...)

A não perder! E até pode ser que o trio Odemira da gastronomia volante (Fatima Moura, Zé Quitério e Mário Cerdeira) por lá aparecam  para esta ocasião, nos seus trabalhos infindáveis  sobre a documentação de tudo quanto é chouriça, presunto ou morcelas para o nosso Livro...  mas que rico trabalhinho de investigação!

Só a mim (como ao outro guloso que olhava para o céu à espera da chuva de "coisos") não me calha nada disto!

Por isso ontem vinguei-me indo almoçar ao já aqui referenciado Restaurante Novo Coimbra, à estrada velha que se dirige de Ourique para o Algarve (IC1) , do lado esquerdo de quem "desce", um km (se tanto) depois da Aldeia de Palheiros.

Belíssima Posta Mirandesa! Não estranhem. O proprietário é natural de Trás-os-Montes e faz questão de ter ali no Baixo Alentejo do melhor em carnes certificadas, quer as de vitela mirandesa quer as de porco alentejano. Posta a 12 euros (mas dá para 2 pessoas!),  vinhos do Monte das Servas tinto e branco colheita selecionada, a 10 e 9 euros. Prato de excelente presunto local a 4 euros. Com isto tudo podem almoçar 4 pessoas por cerca de 15 euros cada uma. Mas comendo das melhores carnes que existem no país.

Aviso aos puristas: trata-se de uma casa de grelhados, onde é a qualidade da matéria prima que impera. Muito pouco sofisticada ao nível da amesendação e quejandos. mas limpíssima , como é de regra em tudo aquilo que é alentejano! E a mão de grelha sabe muito bem o que está a fazer!

Recomendo muitíssimo.

quarta-feira, março 14, 2012

Amanhã em Ourique

Estarei amanhã em Ourique, para conversações com os responsáveis da Câmara Municipal de Ourique e da Associação de Criadores do Porco Alentejano.

Estando na forja o nosso livro "Sabores do Ar e do Fogo", de Fatima Moura e José Quitério, com fotografias de Mário Cerdeira,  e sabido que o Congresso Mundial do Presunto se realiza pela primeira vez em Portugal - exatamente em Ourique, lá para meados do ano que vem - é altura de começarmos a unir estes fios todos da meada...

Depois comento o que por lá se passar!

"Leve" como?

Alguns Amigos manifestaram-se face ao Post de ontem...Nestas actuais circunstâncias da vida lusa, "leve, mesmo levezinho" será um vinho que não pese muito na carteira...E que seja bom!

Essa "coisa" existe? Existe sim senhores!

Aqui vai uma pequena lista com chapelada aos muitos locais onde fui buscar inspiração para a fazer:

No Dão conseguem-se talvez as melhores relações Qualidade\Preço do nosso mercado. Ora vejam, sempre a menos que 10 euros: Quinta dos Roques 2008 Tinto, Centro de Estudos de Nelas 2005 Tinto, Julia Kemper branco encruzado de 2010, Quinta do Cerrado encruzado de 2010. Centro de Estudos de Nelas branco de 2010.

Mas há mais noutras regiões: Ermelinda Freitas Touriga Nacional e Touriga Franca (são 2 tintos extremes) de 2008,  Bacalhoa branco de 2010 (JP) com um toque de moscatel , excelente para as tardes de Verão ( 3 euritos!).

No Douro: Quinta do Crasto tinto colheita 2009  e Valado Tinto colheita 2009 (premiado à moda do Parker), Porca de Murça Reserva 2007, Evel Branco 2010.

E no Alentejo? Aqui vão alguns.  E como amanhã estou por lá perto só escolhi material da Casa de Santa Vitória (Albernoa):  Santa Vitória Tinto de 2008, Santa Vitória Touriga Nacional de 2008, Santa Vitória Branco de 2011.

Bom Proveito e...bebam com moderação! Cuidado com as curvas!

terça-feira, março 13, 2012

Um tal de "Vinho leve"....

Comecemos pela notícia da Lusa:

Lisboa, 08 mar (Lusa) - A designação "vinho leve" vai manter-se um exclusivo das regiões de Lisboa e do Tejo, anunciou hoje a Comissão Vitivinícola da Região (CVR) de Lisboa em comunicado.
"Como consequência das diligências empreendidas pela direção da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa o IVV [Instituto do Vinho e da Vinha] reviu a sua posição e decidiu manter a produção de Vinho Leve um exclusivo das Regiões de Lisboa e do Tejo", informou a CVR de Lisboa.

Na Revista de Vinhos já o assunto mereceu também ( e bem) tratamento:

Entretanto, a CVR Lisboa reuniu com os responsáveis da região da Península de Setúbal e sugeriu que a partir de agora, os produtores desta região, utilizem a expressão "Baixo Grau"que para mais tem uma tradução simples e imediata: “low alcohol”.

Ao mesmo tempo houve um imediato acordo entre todos os intervenientes, de que o Vinho Leve deveria manter-se sempre dentro de determinados parâmetros de valores de álcool e acidez que ficaram assim balizados:

1- Alcoól: este teor não deverá ultrapassar os 10,5%Vol.,

2- Acidez: a mínima andará na casa das 4,5 Gr/Litro.

O Vinho Leve foi criado por Portaria em 1985 e aberto a todas as Regiões que dele quisessem tirar partido. Como só as Regiões que hoje se chamam Lisboa (antiga Estremadura) e Tejo, (Antigamente Ribatejo) é que o produziram, desde 1993 está consignado a estas duas Regiões apenas, e assim ficará."

Ferreira Fernandes, num excelente artigo para o DN acrescenta a esta matéria:

"A escalada do grau alcoólico vai parar. Em 15 anos, subiu 2 ou 3 por cento de teor alcoólico. 14 graus que, ontem, eram só de exagerados vinhos marroquinos, são comuns em Bordéus;até os nossos verdes, tão leves antigamente, não se encontram a menos de 12 graus.A causa é uma das provas do aquecimento global: mais temperatura, mais açúcar nas uvas, o que fermenta mais álcool. Um absurdo que contradiz as campanhas contra o consumo exagerado de álcool. Os produtores do Novo Mundo,australianos e americanos, já há muito utilizam métodos técnicos para diminuir o álcool, mas os regulamentos europeus impediam esse uso. Agora, já há legislação preparada para mudar. Preparem-se para o habitual combate: tradicionalistas contra o bom senso. Vencerá o que tem de ser."

A minha opinião:

1 - Vender grau álcool por vinho de mesa  tornou-se hábito. Mau hábito. Alguns Vinhos do Douro e Alentejo a 16º e mesmo a 17º já apareceram no mercado. A 15º existem  muitos. 14,5º parece ser agora a norma... Daqui a pouco a distinção entre um Porto e um vinho de mesa será apenas no sabor... E pergunto se não andamos nós desfasados no tempo? Será que eram os orientais ricos de Shangai e Hong Kong que tinham razão quando acompanhavam as refeições com Cognac?

2 - Dizia o saudoso Dr. Chambel que "fazer um bom vinho de 12,5º não é para todos! Agora dar ao mercado vinhos espremidos  à Parker,  com mais de 14º? Para isso existem já as receitas todas nos livros...". E ele sabia do que falava.

3 - Tendo tudo isto em mente é normal que se aplaudam todas as ideias que permitam construir bons vinhos de mesa, para aperitivos, para consumir em bares, esplanadas  e discotecas, para o Verão, para acompanhar as pastas e os enchidos, etc... até aos 10,5º. Fora do Solar do nosso Minho, dos nossos Vinhos Verdes, onde tudo isso já era realidade há muitos anos atrás. Perguntarão os mais puristas: "Vinhos a menos de 10,5º??!! Mas isso ainda é vinho ou trata-se de água pé disfarçada de vinho?". É Vinho Senhores! E pode ser do bom!

4 - Quem ainda se lembra que EVEL (grande e clássica marca da Real Companhia Velha) não é mais do que "Leve" ao contrário? E que foi construído pelos enólogos daquele tempo exatamemnte para ser uma alternativa às cervejas e sangrias no Verão? Quem ainda se lembra que foi um "Vinho Leve" - O Mateus Rosé - que permitiu à Sogrape amealhar para manter os Barca Velhas , Reservas Especiais e outros que nos aquecem o coração?

Em conclusão: Há espaço e tempo para tudo. Para uma perdiz das verdadeiras,  um grande tinto do tempo frio, com corpo e grau que se aguentem mutuamente. Para petiscar com uns percebes a saber a mar, nada melhor do que um vinho leve e fresco, branco pois então!

segunda-feira, março 12, 2012

Mais detalhes sobre o Prémio que conquistámos na Terça feira passada, em Paris

O livro “A Tradição do Pão em Portugal”, lançado em maio de 2011 pelo Clube doColecionador dos CTT, recebeu a distinção de melhor livro do mundo sobre o tema “pão” dos Gourmand Awards 2012.

O prémio internacional atribuído na gala dos Gourmand World Cookbook Awards foi entregue em Paris, no dia 6 de março, e recebido pela autora, Mouette Barboff, em representação dos CTT.

A categoria respeitante ao pão, em que a edição portuguesa conquistou o primeiro lugar, distinguiu também “Our Daily Bread” da Irlanda (2º lugar), “The Fundamental Techniques of Classic Bread Making” dos EUA (3º lugar) e “Bröd Hemma”, da Suécia (4º lugar).

“A Tradição do Pão em Portugal” é uma obra que convida o leitor a acompanhar o ciclo do pão, desde que o grão é lançado à terra até aos variados pães regionais, sem esquecer algumas das receitas típicas confecionadas com aquele alimento.

A autora, Mouette Barboff, etnóloga e antropóloga, é uma reputada especialista a nível internacional em temas ligados ao pão.

Os Gourmand World Cookbook Awards foram criados em 1995 por Édouard Cointreau e
distinguem os melhores livros sobre gastronomia e vinhos de cada  ano.

As Receitas sobre Pão e com Pão português foram todas realizadas na "Sabores Calientes", pela Eduarda e pelo  Paulo Mendonça, tendo dado preciosos "alvitres" o mestre de cozinha António Mendonça!

Já  a  escritora e cronista de gastronomia  Fátima Moura ( hoje a colaborar connosco no Livro "Sabores do Ar e do Fogo") tinha conseguido um destes Prémios "Gourmand" - O  Gourmand World Cookbook Awards 2009 , na categoria  "Best Easy Recipes Book".

sábado, março 10, 2012

Nos tempos do Senhor D. João V

Sexta feira não passei por aqui. Tratou-se da Ida a Mafra. Tempo e lugar para nos espantarmos com o que era a "largueza" gastadora de D. João V, o barroco monarca pio que nos governou no anteceder da decadência...

Cheio do ouro do Brasil, D. João V não esteve para modas. Tudo o que era bom e muito bom , caro e muito caro ( e até caríssimo!) mais cedo ou mais tarde tomava o caminho de Lisboa. O que resta hoje dessa magnificência? A capela da Igreja de S. Roque dedicada a S. João Baptista, o exuberante Convento\Palácio de Mafra.

E neste último ainda "mexem" para nos deleitar:

a) A única "orquestra" de 6 orgãos num único espaço (a Basílica de Mafra) que existe no mundo. Pouco usada porque precisa de...6 organistas!! Fica um concerto pelo preço de 6. E é preciso música especial...Partituras para 6 orgãos tiveram que ser criadas de propósito.
b) Dois carrilhões-mestres do melhor que se fazia no mundo. Tão caros que até os Ministros se encolheram com o preço de um. Ao que respondeu o Monarca "AI CUSTA ISSO E ACHAM QUE É CARO? POIS MANDEM VIR DOIS QUE AINDA SOU EU QUE AQUI MANDO!"
c) A mais importante biblioteca ( em conteúdo) de Portugal e uma das melhores do mundo em volumes do sec XVI.
d) A única enfermaria deste planeta do século XVI ainda implantada no local original,

Fora o resto e a sua "desmesura": o corredor mais longo de qualquer edifício da Europa (230m). 1200 salas, 4500 janelas... Impantação do edifício  em 39000 m2 (quase 4 ha senhores!). Mais de 50 000 almas ali empregues a trabalhar ao mesmo tempo.

Pois para lembrar que em tempos idos- e em vez de betão e alcatrão - já o País tinha malta que sabia "gastar", aqui vai poema - desta vez ao Sábado - sobre a opulência e a "gloria mundi" .

Deixo-vos, de Francisco Quevedo:

DESENGANADO DA APARÊNCIA EXTERIOR COM O EXAME INTERIOR E VERDADEIRO

Vês tu este gigante corpulento
que solene e soberbo se reclina?
Pois por dentro é farrapos e faxina,
e é um carregador seu fundamento.

Com sua alma vive e é movimento,
e onde ele quer sua grandeza inclina;
mas quem seu modo rígido examina
despreza tal figura e ornamento.

São assim as grandezas aparentes
da presunção vazia dos tiranos:
fantásticas escórias eminentes.

Vês que, em púrpura ardendo, são humanos?
As mãos com pedrarias são diferentes?
Pois dentro nojo são, terra e gusanos.

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'



quinta-feira, março 08, 2012

Dia Internacional da Mulher

Antes de partir para Tomar quis aqui fazer uma pequena  reflexão sobre a importância que se dá (ou que se deve dar) ao dia de hoje.

 O ratio oficial do World Demographic Profile de 2012 estabelece a quase existência de paridade sexual entre os 7 Biliões (9 zeros) de seres humanos que se estima estejam neste momento a habitar o nosso planeta:   o ratio é de 1,01H para 1,00M. Mal comparado, se no mundo existissem apenas 201 pessoas, 101 seriam homens  e 100 seriam mulheres .

A ideia de que as Mulheres largamente ultrapassavam o número de homens no mundo é incorrecta.

É claro que país a país existem diferenças. E aqui em Portugal estima-se que os homens sejam 48,55% apenas da população total.

À medida que os anos vão pesando estes números baralham-se:  no mundo a percentagem de mulheres vivas a partir dos 65 anos excede a dos homens. E em Portugal também é assim.

Mas a composição demográfica da população por sexos é apenas uma forma rudimentar de análise do nosso mundo. O que interessa é saber se existe ou não Igualdade de Direitos e de Oportunidades para todos.

O problema da desigualdade sexual perante as condições de vida agiganta-se  quando se comparam sexualmente (sobretudo nas sociedades menos viradas para a liberalização dos costumes) posse de terras, fortuna, ocupação de lugares públicos eleitos, de Conselhos de Administração de grandes empresas, etc, etc... No fim de contas o "poder" nas mãos de homens ou de mulheres.

E aí, nos  casos que deixam a Europa e USA de lado, verifica-se que o nosso mundo pouco mudou da estrutura mais ou menos feudal da família que subsistia no velho continente lá para os séculos XI ou XII da nossa era...

Na Ásia, em África,  o lugar da mulher ainda é subalterno e servil. Atividades mais importantes: Perpetuar a espécie, servir de incubadora, criadora de filhos e filhas...

Bem podem os amigos (parece que os estou a ouvir agora) berrar que "lá em casa sempre foi a Mãe que mandou!"

E eu sei bem disso!! Por acaso também me acontece...

Mas o que se discute não é a "praxis" de uma sociedade evoluída  como a nossa! Evoluída em comparação com o que se vê por outras latitudes, sobretudo as mais "quentes"... Antes saber até onde estamos na igualdade mundial dos sexos perante a lei.

E aqui estamos mal. Os sexos não são iguais perante a lei, falando de uma maneira que queira abranger todos os países do mundo.

E mesmo que teoricamente o fossem, dizia uma das mais conhecidas iranianas, ativistas dos direitos da mulher , ( Shadi Sadr) :

"Na prática não importa nada se a lei que permite a uma mulher votar ou ser eleita para Presidente da República está estabelecida... O que interessa é saber quantas Mulheres já ocuparam esse cargo depois da lei ter sido aprovada!"

Toma lá e embrulha. Agora vai-te queixar à Mãe.

quarta-feira, março 07, 2012

Algumas notícias

1 - Soube agora mesmo que o nosso Livro "A Tradição do Pão em Portugal" ganhou o prémio Gourmand, em Paris, tornando-se assim no "Melhor livro do Mundo sobre o tema Pão em 2012".

Parabéns à autora - Mouette Barbof ; e aos designers - Vasco e Sofia do Atelier  Folk.

E (já agora) a toda a minha malta da filatelia dos CTT que tornou isto possível.

2 - Amanhã estarei em Tomar, para participar na conferência sobre  “Gastronomia, Património Cultural … um ativo da restauração e do turismo nacional”, no Instituto Politécnico de Tomar pelas 15h."

Fui convidado como Editor de Livros de Gastronomia. Já fizémos 6, desde 1996. E sabiam que mais de 18 milhões de selos de Portugal sobre estes temas ( deixo o Vinho de parte, senão seriam mais de 25 milhões!) já circulam em todo o mundo ?

Apareçam que a entrada é Livre!

Não prometo crónica sobre a Tia Alice (mesmo ali ao lado, na terra da minha "Madrinha") ou sobre o Chico Elias, dado que estes almoços têm tendência para prolongamento... E a Conferência não espera.

3 - Na Sexta feira continuamos com o périplo pelos Palácios Nacionais, para a Emissão de selos com o mesmo nome. Será a vez da visita ao diretor do Palácio de Mafra.

Depois, na Segunda feira, darei conta de tudo isto.

terça-feira, março 06, 2012

Comer por menos de 15€

Não há muitas hipóteses de continuar a comer bem (sim, digo e repito,  "Bem") por 15€ ou  20€  em Lisboa nestes dias de crise.

Está fechado (ou quase a fechar) o nosso bom e velho restaurante Adega dos Macacos, asfixiado por causa das obras de anos que lhe cortaram acessos e clientes, transformando aquela Rua D. Luis I , à Ribeira, num local de guerra civil.

Já encerrou o outro poiso afável da baixa, o antigo "Verde Mar" ( e que saudades do Sr. Araújo e da sua lampreia...).

Antes destes deu a alma ao Criador  ( o grande Quitério diria Zeus) o extraordinário Muni, à Rua dos Sapateiros.

Ontem dei comigo a esconder a fome num tal "Chef Baker"... Uma fatia de tarte de espinafres e requeijão, uma sanwich de salmão fumado com queijo philadélfia, uma mini preta, um café: 8,25€..

Não estava mal...Para aperitivo.

Quem puder sair de Lisboa tem ainda a Casa dos Pneus, na estrada do MARL para Caneças. Ali almoçam dois matulões por 30€ ou menos. E não saem com fome. Isso é garantido! Às Quintas Feiras tem um cozido monumental onde uma dose dá no mínimo para 3 pessoas ( a 17,5€) embora eu a deixe de lado, assustam-me as travessas de cogulo e as grandes doses na mesa. Mas se forem por um prato do dia (dose enorme!)  e por um bacalhau assado na grelha, com um queijinho de ovelha, uma cesta de pão bem avantajada, e um verde tinto da casa ( a 7,5€), com dois cafés e dois Jameson,  não passam a fasquia dos trintas...

Falam-me bem da Tasca do João, ao Lumiar, ( podem aqui dar uma vista de olhos:

http://www.netmenu.pt/rest_ficha.asp?roteiro=1&RID=1086)

que era o solar da lampreia e do cozido à moda do Minho... Parece que mudou de gerência e que ainda está melhor...Irei ver como está a nova patronagem.

E ainda do Castelo, na Arroja (vejam aqui sff http://ocastelo.pai.pt/) onde as grandes costeletas de vaca na grelha e o outro monumental Cozido das Quintas Feiras atraem também muita gente (enfim, nestes dias direi antes "alguma gente").

Fora disto estou um pouco à nora.... A não ser que se  fale do restaurante  "A Marmita", muito antigo. Tão antigo que muitos já nem se lembravam dele...

segunda-feira, março 05, 2012

Um Baptizado

Tivémos um batizado neste fim de semana e eu tive que intervir na função de Padrinho.

Como de costume (pelo que me disseram) batizaram-se duas crianças ao mesmo tempo naquela manhã. Um rapaz ( o "meu" ) e uma menina.  Foi engraçado ver as comitivas a espalharem-se pelas duas alas de bancos, quase como num casamento, os convidados da noiva para um lado  e os do noivo para o outro. E cada um a cuscar  as "farpelas dos outros", o tamanho da vela, os sapatos das madrinhas, etc, etc...

Para além da nova organização do assunto lá na Igreja, com o Padre a receber os novos catecúmenos à porta  e a ter que procurar santos e santas com os nomes dos pais e padrinhos, para entoar a ladainha (São Raul não há. Posso ser eu o primeiro), o que mais me espantou foram as "liberdades" que hoje se tomam com  o traje de "ver a Deus"... e já nem falo de cabeças cobertas ou braços ao léu...

A madrinha da "outra" trazia uma mini saia que mais parecia um cinto (não muito largo) e o Padre, coitado, não tirava os olhos daquilo... Quando nos recebeu à porta da igreja ainda o vi estremecer, mas deve-se ter lembrado que os tempos não estão de modas para afastar "clientes" e vai daí... É fartar vilanagem!

O tempore,  o mores ! Cala-te velho Cícero que a real politik chegou à Igreja!

( e bem...Que belas pernas...)

sexta-feira, março 02, 2012

Para Descansar a Vista

A Chuva já apareceu tímida. Não sei se o nosso amigo Pajé já terá começado a pajelança lá em Manaus (o que não é certo, pois o Pajé é da tribo mas não é parvo. Sem uns trocos por fora bem podem esperar sentados).

Para lhes dar força ( à chuvinha e ao Pajé) fica então aqui um poema de coragem e de confiança no futuro (ou não...).  E se as palavras animadoras, se este "pep talk", tiver a virtude de animar mais alguém que precise, ainda melhor.

De Machado de Assis deixo-vos "Dois Horizontes":

Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.

Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

quinta-feira, março 01, 2012

Sonhos

Ontem à noite sonhei com o David.

Foi um sonho bom e terno. Estávamos nalgum local aprazível que não reconheci de imediato. Parecia uma sala ampla e clara que dava para uma larga esplanada onde se via o mar. Podia ser no Guincho pois recordo-me que estive com ele no Porto de Santa Maria, no Monte Mar e até na esplanada daquele hotel de luxo onde o Chefe Aimée chegou a trabalhar.

O local é o que menos interessa. Estávamos a beber champagne e a brincar com o Zé Quitério e com o João Paulo, que sempre que se encontram têm que "marrar" por causa dos vinhos e dos copos. O Pedro Rodrigues parece que fazia companhia e a Fátima estava lá por perto juntamente com o meu senhorio. Mais gente haveria, mas difusamente , perdendo-se na névoa.

Tenho agora de manhã a impressão que o meu subconsciente podia estar a tentar integrar no sonho aquele almoço que o David ofereceu em sua casa logo que lançámos o Livro "Sabores da Lusofonia".

Ou não... A comida não era a mesma. Lembro-me vivamente que  elogiámos as ostras com o Ruinart blanc de blancs, que marchámos para um Pargo monumental assado no forno com Tiara de 2008, e que todos terminámos com umas Galinholas estufadas, com  a sua manteiga em tostas, companhadas por dois tintos - Poeira de 2004 e Crasto Vinhas Velhas de 2005 (dois dos melhores Douros dos últimos anos!).

O David, rodando já o copo do Vintage Fonseca Guimaraens de 67,  lembrava-me que estava morto. E eu perguntava quem o substituiria na função.  David inclinava-se para mim na sua bonomia de Pai Natal, olhava para os outros e parece que dizia que estava ali quem o substituíria. Mas não lhe saía nome da garganta ou saíria e eu não o conseguia ouvir.

Faleceu a 29 de Abril de 2011. Não só era um comentador de gastronomia excepcional, um tremendo conhecedor, com uma humildade que o tornava ainda ávido de aprender , mas também um Homem bom que melhorava todos aqueles que com ele confraternizavam.

Foi o Zé Quitério que o introduziu aqui na minha roda e - se mais não houvesse ( e há!) - seria isto suficiente para lhe dever preito e homenagem, para sempre.

E eu tenho muitas saudades. Da voz dele, do tom pausado como começava as suas conversas comigo:
" Amigo Raul...".  Das opiniões escorreitas, da sua sabedoria calma e contida.

Mas também dos seus alvoroços, do deslumbramento que mostrava - como se fosse uma criança - quando lhe proporcionávamos alguma coisa que lhe fosse transcendente.

Um dia, no Beira Mar, olhando para o Robalo de Mar excepcional, rijo que nem uma tábua, pescado há apenas algumas horas e que era "irmão" do outro que estava à nossa frente no tabuleiro do forno, dizia para o pescador:

- "Mestre Tó Simão, é este um privilégio! Poder estar aqui consigo,  com o pescador desta maravilha,  a comer o seu peixe, algumas horas depois de o ter apanhado! Em que país do mundo  isto seria possível?"

E tinha razão. Aliás, cada vez mais tem razão e terá, muitos anos depois da sua passagem.

Deus queira que continue a sonhar com ele! ( e, aqui só para nós,  se for para comer e beber da mesma maneira que ontem à noite, Chapeau et Merci Dieu!)