sábado, março 10, 2012

Nos tempos do Senhor D. João V

Sexta feira não passei por aqui. Tratou-se da Ida a Mafra. Tempo e lugar para nos espantarmos com o que era a "largueza" gastadora de D. João V, o barroco monarca pio que nos governou no anteceder da decadência...

Cheio do ouro do Brasil, D. João V não esteve para modas. Tudo o que era bom e muito bom , caro e muito caro ( e até caríssimo!) mais cedo ou mais tarde tomava o caminho de Lisboa. O que resta hoje dessa magnificência? A capela da Igreja de S. Roque dedicada a S. João Baptista, o exuberante Convento\Palácio de Mafra.

E neste último ainda "mexem" para nos deleitar:

a) A única "orquestra" de 6 orgãos num único espaço (a Basílica de Mafra) que existe no mundo. Pouco usada porque precisa de...6 organistas!! Fica um concerto pelo preço de 6. E é preciso música especial...Partituras para 6 orgãos tiveram que ser criadas de propósito.
b) Dois carrilhões-mestres do melhor que se fazia no mundo. Tão caros que até os Ministros se encolheram com o preço de um. Ao que respondeu o Monarca "AI CUSTA ISSO E ACHAM QUE É CARO? POIS MANDEM VIR DOIS QUE AINDA SOU EU QUE AQUI MANDO!"
c) A mais importante biblioteca ( em conteúdo) de Portugal e uma das melhores do mundo em volumes do sec XVI.
d) A única enfermaria deste planeta do século XVI ainda implantada no local original,

Fora o resto e a sua "desmesura": o corredor mais longo de qualquer edifício da Europa (230m). 1200 salas, 4500 janelas... Impantação do edifício  em 39000 m2 (quase 4 ha senhores!). Mais de 50 000 almas ali empregues a trabalhar ao mesmo tempo.

Pois para lembrar que em tempos idos- e em vez de betão e alcatrão - já o País tinha malta que sabia "gastar", aqui vai poema - desta vez ao Sábado - sobre a opulência e a "gloria mundi" .

Deixo-vos, de Francisco Quevedo:

DESENGANADO DA APARÊNCIA EXTERIOR COM O EXAME INTERIOR E VERDADEIRO

Vês tu este gigante corpulento
que solene e soberbo se reclina?
Pois por dentro é farrapos e faxina,
e é um carregador seu fundamento.

Com sua alma vive e é movimento,
e onde ele quer sua grandeza inclina;
mas quem seu modo rígido examina
despreza tal figura e ornamento.

São assim as grandezas aparentes
da presunção vazia dos tiranos:
fantásticas escórias eminentes.

Vês que, em púrpura ardendo, são humanos?
As mãos com pedrarias são diferentes?
Pois dentro nojo são, terra e gusanos.

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'



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