sexta-feira, outubro 30, 2015

Mirita Casimiro - 100 anos



Pensei que ao fim de 34 anos desta vida de cerimónias e "bate carimbos" ao serviço dos CTT  já nada me surpreendia.

Desta forma vim do Porto para a cerimónia comemorativa do centenário do nascimento de Mirita Casimiro, no Teatro que tem o seu nome no Monte Estoril, sem demasiadas expectativas, esperando ver a família, o Sr. Carlos Avillez e o Sr. João Vasco (directores do TEC) e mais alguns...

Engano! Mais de 100 alunos da escola profissional de teatro de Cascais - joint venture entre a CMC e o TEC - esperavam pela cerimónia! E o presidente da Autarquia com os vereadores também não faltou.

Houve um número de teatro musical, houve a declamação de um poema inédito dedicado a Mirita, depois a evocação da grande artista pela filha ,  num testemunho comovido e impressionante.

E, está claro, houve a "carimbadela" e a troca de postais assinados.

Que grande fim de tarde!

A Mirita mais que mereceu, está claro. E eu vim para casa a pensar que ainda há esperança . Dezenas de candidatos a actores e actrizes , aplaudindo de pé e mostrando a força das suas convicções. Num enquadramento de arte!!

Veremos se o país não desbarata tais recursos. Nem só de porcas e parafusos vive a humanidade...

segunda-feira, outubro 26, 2015

Noite verde: "Criei uma ciência e fugi com o DVD!"



Entro nesta semana com reuniões marcadas em todos os dias. Autores de "livros a haver", Idas a Matosinhos e ao Porto, reunião no Arquivo Histórico Militar para conhecer o novo General Director, etc...

Os Posts vão sem dúvida sofrer. Hoje  e amanhã cá estarei, mas depois , de Quarta feira até Sexta feira, vai ser mais difícil...

Ainda me doem um bocado as costas depois do resultado de ontem à noite na Luz. A parte de baixo das costas, para ser mais exacto. Por sorte (ou medo de levar com alguma garrafa de litro e meio nos c****) o meu senhorio moderou as suas expressões de alegria. Mas vingou-se no "face", como vim a saber depois.

Enfim... Para mim a culpa foi do "alcance" do software, O Jesus pirou-se com "o programa das vitórias" para a selva e o Vitória (salvo seja) ficou a depender da Microsoft...

Sempre gostei mais da Apple.

De uma maneira ou de outra levámos o que se chama uma "banhada". Não gostei nada, mas contra factos não há argumentos. Ontem a noite foi verde. Até deu vómito...

Passando a  coisas mais importantes, o Dia Aberto da Filatelia no Porto será já a 28 de OUTUBRO, próxima Quarta feira. A estação de correios ( agora Loja CTT) do Município estará aberta a todos quantos nos quiserem visitar. E teremos um carimbo desse dia e uma surpresa para todos.

Em Lisboa tivemos mais de 300 visitantes. E tudo correu muito bem. Espero que os amigos do Norte também compareçam.  Venham do Porto, mas também de Braga (piadinha) ! E de outros lados.

Temos que ir rindo... E comer (e beber) bem também ajuda nestas alturas mais dolorosas.

P.S. :  Eu não disse que hoje já ninguém se lembrava da "frente de esquerda", da "coligação de direita" ou do discurso do PR?  Tiro e queda...

sexta-feira, outubro 23, 2015

Noite imperfeita pede poema perfeito



Uma tomada de posição tão veemente como a observada ontem à noite por parte do Sr. Presidente da República tem pelo menos a vantagem de separar as águas e de esclarecer as forças políticas em contenda.

Ninguém duvidaria da sua prerrogativa de nomear PPC para assumir o cargo de 1º Ministro. Era esperado. O que se estranha  - e muito - foi o resto da mensagem. O conteúdo cheio de "salero" (para não lhe chamar outra coisa) com que empurrou para baixo do tapete as outras opções.

Sabemos - no subentendimento que foi possível extrair -  que o Sr. PR não dará posse a um governo de maioria formado por PS, BE e CDU no caso do Governo PSD\CDS cair.

Assumiu desta forma o seu pensamento político original, aquele que faz parte da linha orientadora desde que (por "coincidência") foi fazer a rodagem do carro até à Figueira da Foz nesse já distante ano de  1985.

 Se a sua convicção profunda sempre foi aquela - a de que não pode existir um governo de Portugal com a inclusão de CDU e BE - o discurso de ontem corporizou-a em factos.

Onde está a democracia no meio de tudo isto? Aguarda por melhores momentos para se manifestar. Numa expressão  conhecida estará  actualmente "dentro da gaveta".

A democracia vê-se assim reduzida ao papel de  uma touca de banho. Retira-se da gaveta quando a "madame  ducha". Coloca-se na mesma gaveta quando a "madame termina a toillete".

Os tempos continuam interessantes.

Vamos comentar a "situação" com poema do grande Alexandre O'Neill onde sublinho a mensagem: "Portugal...meu remorso, meu remorso de todos nós".

Portugal

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,

A rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O'Neill, in 'Feira Cabisbaixa' 



Nota: Caricatura de Cristina Sampaio.

quinta-feira, outubro 22, 2015

Dar coisas nossas a coisos estrangeiros





Nunca mais me esqueço da altura em que - desejando ser amável e bom anfitrião - levei o nosso agente na Alemanha e Áustria,  Sr. Jürgen Schneider, comer uns percebes a Cascais.

O homem, que aliás era um óptimo gourmet muito virado para a "nouvelle cuisine", olhava para aquilo desconfiadíssimo,  via-me puxar os bicharocos para fora da manga, observava como espirravam para todos os lados e, em consequência de tudo o que via, não o consegui convencer a comer nem um.

Mais ficou ...

Pior do que essa ocasião só a outra em que o mesmo tipo de criaturas estrangeiras (nossos agentes) se viu a braços com a tarefa de comer umas cracas na Ilha de S. Miguel... Quando viram as pedras nos pratos pensavam que era paródia, riram muito, bateram palmas e tiraram fotografias. O pior foi quando  nos viram a usar o alfinete para tirar o animal de dentro da toca...

Igualmente esquisito para muitos "gringos" , é a forma como em Portugal se come praticamente por todo o lado "Cabrito assado no forno", já para não falar do "Leitão". Os animais ainda novos (quase bebés) são em muitas nações considerados alimentos, não direi proibidos, mas cuja utilização culinária não é bem vista pelas pessoas que se consideram civilizadas.

Imaginem os "borrachos com ervilhas"... "Túbaros de carneiro"?  A simples e amável "morcela de sangue"? O "Sarrabulho" minhoto? Mesmo a "Dobrada" ou os "Pezinhos de porco de coentrada? Caracóis?

Estas iguarias não são para nórdicos. Espanhóis, franceses (nem todos) e italianos ainda se tentam.

Tentei descrever à mesma tribo o que era a "caneja da infundice". Nem me deixaram acabar, com olhares de perfeito enjoo, pensando de si para si se "aquela gente" não seria doida...

Nota: o verdadeiro "jagoz" da Ericeira aprecia a caneja (cação) com mais dias "de infundice". Os neófitos devem abster-se sem primeiro saber do que se trata. Eu já comi e gostei. Mas temos de passar pela barreira do cheiro. O travo a amoníaco é forte (tanto mais forte quantos os dias de "infundice") e detém muitos bravos... 
Como sabem, a "infundice" é a conservação do peixe em postas previamente salgadas e embaladas em panos brancos, isoladas umas das outras , tudo depois enfiado dentro de uma saca de serapilheira em local fresco, durante um período que pode durar entre 5 e 15 dias. O cação "mumifica" e é a partir daí que se coze, acompanhando com vinho tinto, batatas cozidas com a pele e azeite.

Pela minha parte comi de tudo um pouco, remetendo para os meus colegas de Macau grande parte da responsabilidade pelas coisas mais estranhas que me passaram pelo estreito. Mas foi em Seul, ao provar a "kimchi",  couve fermentada em barrica durante dias (e dias...) que é prato nacional coreano, que me senti mais perto da "caneja da infundice".

Acho até que se poderia utilizar um dos pratos a acompanhar o outro, numa refeição que -  prevejo já - podia ser épica!!

Pelo menos não se estranharia o cheiro... No fim de contas, mijo é mijo, aqui em Portugal ou lá na República da Coreia.

quarta-feira, outubro 21, 2015

Por entre os intervalos da chuva



O Tio Santidade, personagem conhecido na aldeia da Serra  e já aqui chamado várias vezes por causa da sua sabedoria popular,  andava normalmente embriagado. Não digo que fosse todos os dias, mas de certeza todas as tardes. Digamos que  desde as 18 h  até se ir deitar.

Podia-se conversar com ele da parte da manhã.  Depois do almoço é que se tornava mais difícil porque estava na altura em que começava a trabalhar para o "encabamento da machada". Esta encontrava-se completamente "encabada" (por vezes até demais) lá pelas 22h de cada noite.

Vivia da reforma da "empresa" e de um rebanho de 10 ou 12 cabras com o respectivo bode . Davam leite e cabritos.   Era viúvo com filhas que não lhe ligavam muito, a não ser no dia do mês em que recebia a reforma. Nesse dia não saíam lá de casa e brigavam para ver quem é que ia com o velho à Caixa levantar o dinheiro.

Lembro-me de o ver com uma samarra lãzuda a passear as cabras ( sim, porque os pastores a sério diziam que ele "passeava o gado") mesmo que chovessem canivetes.

Quando inquirido da razão porque não se abrigava da chuva forte, costumava dizer que assim poupava na água da companhia. Ele para se lavar e as cabras para beberem.

Tinha algum ódio à água da torneira, convencido que os taberneiros abusavam da mesma para temperar os copitos de tinto, quando o viam já meio tombado. No que tinha muita razão.

Quando casou uma neta foi obrigado a pôr um fato. Antes disso terá tomado um duche (ou três...). Mas veio cá para fora para o adro da igreja a dizer em voz alta:
-"Desta vez teve que ser. Mas não se habituem!".

Lembrei-me desta história verídica para reflectir até que ponto os acordos pré-formação de governo entre os nossos "três da esquerda"  não serão um pouco como o duche do Tio Santidade. Válidos apenas de casamento em casamento...  Mas entre casamentos, lá voltava o velho a apanhar chuva no toutiço...

Só que a alternativa de direita também não parece ser planta que tenha actualmente espaço para crescer...

Moral da história:  Quando o Tio Santidade já nem via pela violência da "tosga", quem se lixavam eram as cabras...Ficavam toda a noite sem ser mungidas por muito que berrassem.

E assim pode também ficar o povo aqui no rectângulo.

Nunca pensei ser comparado com uma cabra...Antes ser bode, que marra bem e não dá leite.

segunda-feira, outubro 19, 2015

Sobre o "Cozido à Portuguesa"

Embalados pela fotografia (no facebook) do cozido que fiz em minha casa neste Domingo, alguns amigos pediram "a receita".

Em Portugal, de Norte a Sul passando pelos Açores há dezenas de receitas de Cozido.  O do Minho, o de Trás-os-Montes, o das Beiras, o dito "à Portuguesa" que se pratica no Porto e também em Lisboa, com variações, os do Sul, com borrego, grão e feijão verde, o de São Miguel , etc, etc...

Esta antiga forma de apresentar carnes frescas ou fumadas cozidas e vegetais abeberados nos sucos das carnes, não é exclusiva de Portugal. Existe em Espanha (Olla) , em Itália (Bolitto Misto) e em França (Pot au Feu), apenas para mencionar gastronomias sulistas.

A "minha" receita tem pouco de inovadora. Foi apurada tendo em vista que o "queima cebolas" designado é homem, e na altura em que começou a actividade junto aos fogões tinha ainda pouca prática da mecânica e das ferramentas próprias do ofício.

O meu segredo (como não tenho a arte do disfarce) é usar apenas os melhores produtos.

Chouriços certificados ponho sempre um de cada: Alentejo, Minho e Trás-os-Montes (de bísaro). As farinheiras são raianas, da Guarda (com uns laivos de canela)  e também de Estremoz. O paio é de Garvão. Os nacos de presunto fumado são do Minho. Entra sempre também um ou dois chouriços mouros do Fundão. E como as "santas" se habituaram  a isso desde a sua juventude,  enfio também umas chouriças frescas de sangue e vinagre (que eu bem dispensaria porque não lhes vejo valor gastronómico, a não ser para espevitar o arroz do cozido).

A carne de vaca para cozer é sempre do chambão e da aba grossa. E do porco apenas uso entremeada, pedindo no talho  para cortar o courato,  e orelha. Não uso pés de porco nem outras extremidades que nos obriguem a sujar as mãos à mesa...

As carnes frescas são todas previamente lavadas com vinho branco e bem esfregadas com sal.

Por comodidade costumo cozer as carnes de véspera, sem utilizar panelas de pressão.  Por sorte tenho em casa uma  "panelona"  de larga base em ferro, que herdei de umas tias do Fundão , e onde todas as carnes podem à vontade conviver com água abundante. O segredo de uma boa cocção das carnes é nunca utilizar tachos ou panelas onde as mesmas fiquem apertadas e com pouca água. Muita água é necessária para cozer os vegetais, como veremos.

No dia seguinte parto as carnes e arrumo-as em travessas que podem ir ao forno, com uma ou duas conchas de água da cozedura por cima, para que não sequem. O forno fica a 90º, apenas para marcar um pouco as carnes e não as deixar arrefecer enquanto que as couves e as batatas cozem.

O resto da água de cozer as carnes é dividido em três partes: Para as couves (na mesma panelona) ; para as batatas , nabos e cenouras (noutra panela) e para o arroz (num tacho mais pequeno).

No tacho do arroz desfaço um chouriço de vinagre e sangue previamente cozido, deito azeite no fundo, sal, e deixo fritar o arroz um minuto antes de deitar a água  (2 vezes e meia a mais do que o arroz).

As Farinheiras ficam por cima das couves , espetadas em palitos, e retiram-se assim que ficarem "inchadas".

À medida que estiverem os ingredientes  cozidos vamos apagando o lume e "abafando" os tachos e panelas com panos, até estar na altura de pôr em travessas e levar para a mesa.

O vinho é muito importante no cozido. Um Bairrada taninoso e pungente dá-lhe boa companhia, ou então um Dão ou Douro novos.

Aqui só para nós, o problema do cozido não é o trabalho que dá a fazer, mas sim o trabalho que dá a lavar tudo a seguir...Panelas, tachos e tachinhos... Que não cabem na máquina.

Bom proveito.

sexta-feira, outubro 16, 2015

Para Descansar a Vista entre o verde e o vermelho



Introduzindo o  habitual poema das sextas-feiras trago à colação a guerrinha Sporting-Benfica, com os 14 milhões de euros da indemnização e o "alcance" do programa informático, por um lado, e as prendinhas aos juízes de campo, por outro.

Longe vão os tempos das "Paulinhas" e dos quartos reservados em hotéis de luxo...Hoje os desgraçados dos árbitros só têm direito a um "pack" com camisolas e umas senhas de refeição...Se calhar apenas válidas na Catedral da Cerveja...

Acho mal.

Pelo menos uma noite no "Trombas", seguida de degustação das iguarias expostas. Isso era o mínimo que se esperaria para quem se desloca de longe para apitar um jogo em Lisboa, afastando-se assim do convívio familiar.

Para comentar esta parvoíce em dose dupla nada como fazer apelo a este belo poema de António Osório:

Os Loucos


Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

António Osório, in 'A Ignorância da Morte' 


quinta-feira, outubro 15, 2015

Intervalo para comer



Estou a ficar fatigado de aqui escrever sobre a "situação" todos os dias.

Não que existam coisas mais importantes para discutir, mas sim porque tenho fé no antigo dizer de sua Majestade D. José I para o seu confessor:

- "Padre, nem sempre Galinha , nem sempre Rainha...".

Há que comer outras coisas... (Isso digo eu).  Por isso, hoje e amanhã intervalarei.  A não ser que haja uma invasão de marcianos...

Bons amigos convidaram-me para experimentar um novo restaurante.

Trata-se do Restaurante Rubro.  Na Rua Rodrigues Sampaio 33-35; telefone 21 314 46 56

Existe em duas encarnações: esta na Rodrigues Sampaio e uma mais antiga na Praça de Touros do Campo Pequeno.  Falamos aqui do situado na Rua Rodrigues Sampaio.

O "ADN" deste restaurante está adequado à Praça de Touros, onde viu a luz do dia. Ascendência andaluza na ementa, com tapas e bocadillos. Degustação de petiscos e vinho a copo ( bons vinhos, diga-se). Um figurino de taberna galega...

Tem também carne maturada magnífica, simplesmente grelhada. Por encomenda podemos ainda degustar o "cochinillo" , prato emblemático que mestre Cândido tornou famoso no seu "Méson" de Segóvia.

Os proprietários apostam na cultura enológica, organizando às Terças Feiras jantares temáticos tendo como protagonistas produtores e enólogos das várias regiões do país.
Por preços comedidos é possível não só ter acesso a vinhos excelentes, como também ouvir da boca dos próprios as principais características daquilo que fazem.

Gostei do ambiente e da forma de trabalhar. Apenas critico a falta de costas nos bancos (a ciática não perdoa estar muito tempo à mesa sem apoio dorsal..).

Nesta nossa experiência começámos por uma tábua de enchidos de qualidade, depois os ovos rotos com presunto que tornaram o Lúcio de Madrid famoso, e seguimos para a carne maturada.

O imponente "Chuléton" maturado (serve bem quatro adultos)  era de carne acima de qualquer suspeita, e vem para a mesa ao gosto do cliente: "bleu, saignant, à point, bien cuit".

Nota: Os franceses antigos chamavam "bleu" à carne da vaca que é apresentada no prato ainda a mungir... à moda dos hunos. No extremo oposto, "bien cuit" é para vândalos. Gente que gosta de tudo bem passado devia apenas comer panados de perú. Digo eu.

Encerrou-se com um prato de queijos, que foi talvez o calcanhar de Aquiles desta refeição... Um Cabrales destacava-se, mas era uma porção reduzida. Do resto não rezou a história... De rever .

Porque não  apresentar queijos portugueses de excelência atendendo aos vinhos que mantêm no "estábulo"?

De facto beberam-se grandes vinhos: Alvarinho Muros Antigos, Douro Rufo (Vanzeller) de 2012, Pellada de 2011 e finalmente San Roman 2011, um grande vinho de Toro, a lembrar-me não sei bem porquê -  a memória gustativa tem destes mistérios -  alguns tintos do Priorat (secos e austeros).

É uma casa que mais parece uma Enoteca onde se pode também comer, do que um restaurante onde se servem vinhos. Isto é um elogio à filosofia deste restaurante, que apostou sobretudo na garrafeira e em clientes entendidos nessas matérias.

A revisitar. E recomendo a todos os que acham que comer sem bem beber é mais uma obrigação para nos mantermos vivos do que um verdadeiro prazer.

Preços? Fui "atraiçoado" por um dos Amigos que pagou antes de chegar a conta à mesa...

Posso tentar adivinhar que um normal transeunte acompanhado  (2 pessoas) gastará em redor de 60 euros, bebendo bem, mas sem foguetes da NASA.  Se quiser replicar os vinhos deste almoço? Upa, upa... Não há milagres.

quarta-feira, outubro 14, 2015

Profecias? Só daqui a bocadinho...



 Lee Yacocca foi um génio da industria automóvel, estando na lista dos 20 melhores CEO de sempre nos USA.   Tem actualmente 91 anos e continua a estar activo em fóruns e discussões sobre as políticas de gestão.

Aqui em Portugal é talvez mais conhecido por ter sido durante a sua gestão na Ford que foi desenvolvido o mítico Ford Mustang , do que propriamente pelo grande trabalho da sua vida, que foi pegar numa empresa falida ( a Chrysler) e fazer dela uma companhia que dava lucro e que era invejada, ao ponto de ter sido comprada pela Daimler-Benz em 1998 (hoje pertence ao grupo FIAT).

Um dos assuntos que Lee gostava de analisar com os seus directores tinha a ver com a confusão que às vezes se estabelecia em gestão entre "o gajo que tinha razão, antes de tempo" e "o gajo que não antecipava o futuro, mas que geria bem o presente".

Ambas as tarefas são necessárias numa empresa, como todos sabemos. O problema está quando o visionário faz a gestão corrente, em vez de estar num gabinete a pensar a estratégia; enquanto que o bom gestor do dia-a-dia é usado para "pensar o futuro".

Nestas posições invertidas estava ( segundo Yacocca) uma das principais causas do falhanço das organizações. Pôr o metódico e competente contabilista a fazer cenários de estratégia, e o gestor estratégico a fazer a contabilidade?  Desastre certo e sabido.

Segundo lee Yacocca, o gestor que é apenas visionário deveria ter na sua pedra tumular a seguinte frase gravada: "Este gajo tinha razão. Mas lixou-se porque ignorou o seu mercado real".

Na actual situação política aqui em Portugal esta verdade da ciência de gestão é mais do que evidente. Há o "mercado real" (o sistema complexo de condicionantes que hoje existe) e há o "mercado potencial" (onde desejamos estar dentro de alguns anos).

Uma coisa é a situação actual, o país que temos, as restrições existentes da política financeira subordinada aos mercados, aos nossos credores, às obrigações que tivemos de assumir desde a altura da intervenção da troika, etc...

Outra coisa é o futuro que queremos. Não só o que será possível mas também aquele  que é desejado. Com pleno emprego , com bons serviços sociais, e sobretudo com esperança que permita aos novos casar e ter filhos.

Um dos receios que tenho é que na presente avaliação sobre "quem deve governar, e como?" alguém se esqueça destas diferenças.

Soluções perfeitamente constitucionais para o futuro governo de Portugal haverá muitas: PSD e CDS  apoiados pelo PS.  PS sozinho apoiado pela esquerda. PS, PCP, Verdes e BE e ainda o PAN  formando um governo de coligação multicolor... E mais ainda.

Todas são legalíssimas, pese embora a alguns.

Mas onde estão as soluções de governo real que assegurem o presente e não comprometam o futuro?

Aquelas que garantam 4 anos de estabilidade governativa , a fazer leis e a gerir bem?

Aqui "faz mister proposição de mais funda presa" como escrevia nas suas demonstrações de teoremas das matemáticas o grande Aureliano Mira Fernandes.

Que eu saiba não somos profetas, nem astrólogos,  nem videntes,  nem "tarólogos" (quanto muito um pouco "tarados").

O caminho deve ser traçado de um presente ainda muito cinzento (vide o relatório da OCDE hoje tornado público) para um futuro mais risonho?  Sem dúvida.

O problema é saber como. Se tomamos um atalho ou se devemos ir pela estrada nacional. Se vamos andando a pé, de bicicleta ou de automóvel.

Para esse trajecto como escolher entre o Ford Mustang e a bicicleta?  Depende da distância, claro, mas sobretudo depende da existência de postos de gasolina no caminho... E de dinheiro na carteira para a comprar.

Eu, como conheço mais ou menos bem o país , lembro o velho ditado "Mais vale burro que me carregue do que cavalo que me derrube".

Sem querer chamar "burro", muito menos "cavalo",  a certos senhores que andam por aí disfarçados de políticos. Embora às vezes a vontade seja grande.

terça-feira, outubro 13, 2015

Viver Portugal com o Mediterrâneo à Mesa



Apresentamos hoje este livro do Fortunato da Câmara  em Lisboa, na Rua de S. José 20. Quem quiser lá aparecer já sabe.  E pode comprar o livrinho!

Para variar da situação política nada melhor do que um passeio pela mesa. Só de olhar para as imagens já a boca começa a salivar...

Neste livro , “Viver Portugal com o Mediterrâneo à Mesa - A dieta mediterrânea na gastronomia portuguesa”,  Fortunato da Câmara traça um percurso histórico de grande erudição sobre a evolução dos usos e costumes alimentares dos portugueses, com relevo para as grandes influências do passado -  romana, árabe e fenícia -  e sem esquecer o presente e o futuro da gastronomia portuguesa de excelência, baseada - como sempre o foi - nos produtos de primeira qualidade: peixes e mariscos irreproduzíveis, uma doçaria conventual intransmissível (no dizer do próprio autor).

A chamada “dieta mediterrânica”  não se pode considerar como sendo unicamente um tipo de regime alimentar que alguns portugueses adoptaram.

É uma forma de  estar e de viver que muito nos honra, uma herança histórica de tradição e de civilização com raízes que mergulham no período da romanização e do “mare nostrum”. 

A “região que é Portugal”, de acordo com  Orlando Ribeiro, resulta e individualiza-se pela dialética que se estabelece entre o espaço físico e a ocupação humana. Paisagem interior e mar omnipresente, nem que seja apenas pela tradição cultural milenar.

É esta uma obra de referência para a análise da evolução da  tradição gastronómica lusitana, e que sem dúvida também contribuirá para um melhor conhecimento genérico sobre quem somos e como chegámos aqui.

Parabéns ao Autor e também ao Editor (já agora,  e passe a imodéstia)...

segunda-feira, outubro 12, 2015

"Reunite" aguda aflige o país



Um amigo meu, empresário durante a maior parte da sua vida, dizia:

-  "Em Portugal reúne-se demais! As reuniões são para apresentar os resultados do trabalho. Não são trabalho!".

De facto muita gente confunde "reunir" com "trabalhar". Quem gosta de falar, gosta de reunir. Quem não gosta de falar, gosta de reunir para ouvir os outros que falam (e ir consultando o "face").

Reunir dá direito a cafés e águas, nalguns casos a bolinhos! E sempre se muda de ambiente. No final de duas horitas de conversa será tempo de almoçar ou de  ir preparando o regresso a casa. Só vantagens para quem encara cada dia de "trabalho" como se fosse um percurso de mini-golfe que urge ir fazendo, sim, mas com calma.

Tenho em relação às reuniões opinião contraditória.  Necessito delas para me pôr a par dos assuntos e dar conhecimento aos colegas do que se passou noutras instâncias, mas lamento o tempo que ocupam.

Estimei já que uma reunião fora do local de trabalho, seguida de outra reunião no local de trabalho para transmitir o que se passou na primeira, ocupa quase um dia,  7 horas!
Reparem: deslocação, procurar estacionamento, reunião, vir de regresso, almoçar, chegar ao escritório e preparar uns tópicos sobre o que se passou, convocar os colegas, nova reunião. Serão quase 7 horas.

Sobretudo para quem trabalha num dos extremos da cidade e necessita de se deslocar a Museus, Universidades, etc... no centro.

Hoje, Segunda Feira 12 de Outubro,  o  amigo Costa tem bué de reuniões: Com o Bloco de Esquerda, com o Partido das Pessoas Animais e Natureza e com o Sr. Presidente da República. A ordem não é desrespeitadora da hierarquia, apenas reflecte a agenda do dia; começa com o BE de manhã, acaba com o Sr. PR às 16h.

Admito que depois da última e nos intervalos entre as outras, "mestre Costa" reúna ainda com os seus colegas do PS.

E já amanhã vai de novo reunir com a coligação PAF, sendo de esperar ( mas nunca se sabe) que mais "atrevimento" esteja na agenda. Alguém do elenco do "trombinhas" ?

Quando terá tempo para digerir tanto dado, tanta reunião? Não haverá lugar a confusões?

Imaginem que o amigo Costa, já baralhado, iria para o PAN discutir a proposta que leva para a PAF e no Palácio de Belém avançaria com a estratégia definida para cativar o BE...

Descansem que do ponto de vista prático nada de mal aconteceria... Como toda a gente (incluindo a coligação PAF) já está à espera do pior, se o PS virasse as conversações do avesso o mais natural seria que se marcassem ...outras reuniões para "melhor esclarecimento de alguns pontos".

Entretanto o  país está em "ponto-morto". Se isto demora muito,  passa de "ponto-morto" a "falecido" mesmo...

Já consigo ver os abutres dos livros do Lucky Luke a olhar cá para baixo.


sexta-feira, outubro 09, 2015

A Vista não descansa...Um olho na Esquerda e outro na Direita...



António Costa terá já sintomas de estrabismo. O conhecido síndroma de ter  "um olho no zero e o outro no infinito" apoquenta-o, mas não deixa de lhe dar satisfação. Esfrega as mãos em surdina e ri para dentro.
Como aqui o escriba previu,  neste momento está o país parado à espera. Não de Godot, mas sim da decisão "do Costa".

Enquanto fala e não fala, reúne e não reúne, há que lhe encontrar leitura para os momentos de folga. Como estimo que serão poucos, a leitura deve ser a condizer com o momento político. Lembrei-me de lhe propor vários livrinhos:
- "A Arte da Guerra"  - estratégia militar revista pelo mestre Sun Tzu (ou lá como se escreve)
- " O Príncipe" - Nicolau Maquiavel no seu melhor
- " O Principezinho" - a obra-prima de Saint-Exupéry (não tem nada a ver? Leiam e depois falem).
- "Desperte o gigante interior" - de Anthony Robbins
- "A Lei do Triunfo" - de Napoleon Hill

Como poema adequado ao momento político escolho um soneto do grande Luis. Vejam lá se não encaixa bem:

Mudam-se os Tempos...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança: 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto, 
Que já coberto foi de neve fria, 
E em mim converte em choro o doce canto. 

E afora este mudar-se cada dia, 
Outra mudança faz de mor espanto, 
Que não se muda já como soía. 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" 

quinta-feira, outubro 08, 2015

Sobre as perdizes



Por vezes ainda é possível ter acesso a perdizes com alguma aptidão gastronómica. Mesmo em Lisboa, desde que  conhecendo as pessoas certas.

Embora nestes dias de hoje o termo "perdiz com aptidão gastronómica" seja cada vez mais um sinónimo de perdiz criada em cativeiro e depois ambientada à reserva de caça, com mais ou menos tempo.

Esta temática da "perdiz brava" e da "perdiz de aviário" , sua convivência nas reservas e depois na mesa do gastrónomo, é complicada.

Há quem defenda que a introdução da perdiz "aviárica" na reserva dá bons resultados.
Há quem diga que não, pois na época de acasalamento as de aviário têm muito mais dificuldades em reproduzirem-se, o que vem estragar a fecundidade do grupo no caso de haver casais mistos.
E há ainda quem defenda que a única forma de preservar esta raça cinegética é introduzir nos bandos de perdigotos selvagens, com poucas horas de vida,  os outros perdigotos criados em chocadeira.

Para complicar ainda mais esta matéria, existem  restauradores com muita experiência  que afirmam que se comprarem perdizes a caçadores particulares que actuam em zonas onde as reservas de caça são mais raras,  terão maior probabilidade de comprarem perdizes mais próximas do bravio. Se comprarem a comerciantes ou a empresas que fazem da caça a sua actividade principal, quase de certeza que compram "frangos".

Mas outros dizem exactamente o contrário: sendo a perdiz brava um fenómeno cada vez menos frequente, mais vale comprar a entidades que garantam pelo menos o povoamento em qualidade da perdiz nascida nos aviários. A partir das 6\7 semanas, no máximo uma perdiz por cada metro quadrado de "chão", alimentação do mato complementada com base em grão e cereais seleccionados.

Não sou especialista nestas coisas.
Como  aquilo que me dão e faço o julgamento depois de apreciar.
O que não gosto na perdiz: fraca consistência das carnes, ausência de perfume , ou ainda pior, com odor a ração. Dirão os amigos entendidos que a "faisandage" corta o perfume natural da caça. Dirão outros que acentua.

Mas façam "faisandage" a um frango de aviário e depois digam-me como encontraram as pobres febras...

O grande teste da perdiz com aptidão gastronómica é a preparação (para animais com menos de um ano) simplesmente grelhada com sal ou frita em azeite e alho à moda de Sousel. Digo "o grande teste" porque permite testar a consistência, o perfume e o sabor.

A perdiz mais velha, feita à moda da Serra Morena ou noutro tipo de estufados lentos,  ainda tem de passar o teste da consistência, mas já  não passará o do odor, transfigurado pela preparação. E o seu sabor resplendecerá pela companhia do Madeira ou do Porto de qualidade.  Evidentemente que estes sabores são muito mais refinados do que nas outras preparações mais simples.

De Francisco Mota ("O Cheiro do Frio" ) recupero esta simples e tão tradicional receita de Chaves para perdizes velhas "com aptidão gastronómica"

Na casa dos Fernandes, família burguesa culta e esclarecida, casa de médicos há muitas gerações, o importante é o jantar de dia 26, com as perdizes que iam oferecendo ao Sr Doutor e que se guardavam para esta ocasião. Depenadas, chamuscadas e alouradas em banha, estofavam lentamente em cebola (uma por perdiz), alhos, toucinho, azeite, manteiga, um bom molho de salsa, vinho branco pouco ácido. Um pouco de louro, cominhos, malagueta, sal e um cacho de uvas. Tempo, atenção e paciência. Servem as perdizes com o molho triturado no passe-vite, sobre fatias de pão torrado. Ao lado, fartas travessas de verdura cozida.

quarta-feira, outubro 07, 2015

O rafeiro, o cepo e o pescoço



O médico Joseph Ignace  de Guilottin , animado pelas melhores razões humanitárias (não fazer sofrer desnecessariamente os condenados à morte)  mas também ciente de que era fundamental assegurar a maior rapidez no processamento do assunto - estávamos em  época de grande movimento dos tribunais - inventou a guilhotina, mais conhecida afavelmente nos meios jurídicos como "A Viúva".
Foi utilizada durante alguns (!!) anos, desde 1792 até 1977.  Sim, até 1977.

A guilhotina sem cepo e sem pescoço não cumpre o fim para que foi criada. A não ser que se utilize para partir melancias ao meio.  

 Na linguagem vulgar "pôr o pescoço no cepo" pode significar que nos entregamos à fatalidade, ou que arriscamos tudo sem esperar nada.

Nesta altura da vida política em Portugal quem tem o pescoço no cepo? E quem apertará o gatilho da "viúva"?

BE e CDU nada têm a perder. Arriscam tudo na jogada da oposição dita por alguns "destrutiva".
PSD e CDS foram mandados para casa de castigo, pelo Sr. Professor, para estudar como "hão-de constituir uma solução de estabilidade política  e assegurando a governabilidade do País".
O PS está ainda a digerir os resultados eleitorais (com alguma bílis) e não parece de momento disposto a sair do WC onde se encerrou.

O povo? Trabalha, come e bebe. Respira . E pensa já no jogo da selecção de amanhã e nas prendas dadas aos árbitros...  

Não o notando,  nem sequer pensando nisso (grande coisa é a bola e o canal da "Quinta das Celebridades") é esse povo que tem a "cabeça no cepo". 

E o mandante que libertará a pesada lâmina da invenção do doutor Guillotin tem uma corda comprida na mão. Vai de S. Bento até Bruxelas. Tendo até já começado a latir com laivos de aviso, tal e qual um rafeiro pulguento a dar sinal aos passantes.

O problema de alguns rafeiros é que mordem mesmo depois do aviso. Mas isso acho que já todos sabemos.  Quem não foi "mordido" nestes últimos anos que levante a mão.

terça-feira, outubro 06, 2015

Relaxamentos



No Sábado passado estivemos em casa de um amigo - lá para os lados do centro geodésico do país - a testar uns vinhitos, em redor de um lombo de veado assado no forno e de um cozido à portuguesa, todo ele feito com "material de 1ª", enchidos e carnes frescas de pequenos produtores locais.

Os vinhos em prova foram:
 - Espumante Moscatel Galego (Casa de Sarmento, sem data)
 - Malvasia de Colares 2013 em garrafa de 1,5 litros
 -Pinga Amor, Alentejo de Portalegre, 2011
 - Legado de 2009 (obra prima da Sogrape feito em homenagem ao Sr. Fernando Guedes.

É claro que os dois brancos serviram sobretudo para "apurar" o palato e dar provimento a uns enchidos artesanais.

Sobre o Espumante  de moscatel galego já aqui falei. Continua magnífico. Um belo aperitivo a resvalar para o doce, mas nunca enjoativo.

O raríssimo Malvasia de Colares, muito caro devido a escassez da vinha plantada (menos de 10 ha na região toda!!!) apresentou-se diferente de tudo o que até aqui tínhamos provado. Melhor do que nós os especialistas da Revista de Vinhos fizeram a sua caracterização, com a qual concordo em absoluto:  Possui uma acidez fantástica e tudo o resto que caracteriza os brancos da região: nervo, toque salgado, mineralidade, corpo enxuto e austero.

O Tinto de Portalegre ( da Senhora da Penha) é um excelente vinho.  A excepcional colheita de 2011 foi premiada e de facto mereceu.  Um pouco de falta de corpo  é contrabalançado pela aptidão gastronómica. Bebe-se bem com quase tudo que se ponha no prato! De novo, segundo os especialistas: "Aromas de fruta preta madura e boa perceção da madeira, primando a finura e não a robustez. Na boca é vigoroso e afinado, com taninos estruturados e elegantes."

Para o fim a "piéce de résistance". O Legado 2009.  Um vinho guloso, denso, com perfil do novo mundo. Tudo bem feito e equilibrado. Dele escreveu a Revista de Vinhos: O vinho mostra uma média concentração na cor mas um aroma muito rico e requintado, onde frutos vermelhos se misturam com notas balsâmicas e especiadas, um tom vegetal seco e barrica de luxo. Sofisticado e complexo na boca, acetinado e de longo e inebriante final.

Pena custar aquilo que custa... 

Regressámos a casa,  eu e o meu senhorio,  a sonhar com outras andanças destas... Temos é que começar a juntar já os tostões para ter vinhos semelhantes, está claro. Daqui a uns seis meses?

segunda-feira, outubro 05, 2015

E agora?



Os resultados das eleições de ontem para os Partidos e Coligações que obtiveram mandatos (representação parlamentar) foram:


Coligação PAF - 38,55%
PS - 32,38%
BE - 10,22%
CDU - 8,27%
PAN - 1,39%

A Abstenção subiu (desde 2011) para 43,11% tornando-se assim a mais elevada de sempre em Legislativas. Obviamente influenciada pelo número de emigrantes destes últimos anos que continuam nos cadernos eleitorais.

Quem ganha?  A Coligação PAF, apesar da política do "aperto" teve uma notável recuperação que deve ser explicada sociologicamente.  O BE ganhou! facturando com a notável prestação das "meninas" Catarina e Mariana.  CDU também subiu face a 2011, mas perdeu face às expectativas... PAN (quem diria!!) mete um deputado.
E o  PS é o grande vencido da noite. Também por causa das expectativas criadas.

Sem contar ainda com os 4 deputados a eleger pelos círculos da Emigração ( normalmente vão 3 para o PSD e 1 para o PS) a distribuição dos mandatos que espelha o resultado das eleições é como segue:

104 PAF ; 85 PS ; 19 BE ;17 CDU ;1 PAN.

Mais precisamente, atendendo a que o CDS negociou (muito bem) com o PSD o número de deputados, e já distribuindo a emigração com a estimativa de 3 PSD e 1 PS, teríamos:

PSD - 89; PS - 86; BE - 19; CDS\PP - 18; CDU - 17; PAN - 1; Total: 230 Deputados.

E agora? Um imbróglio interessante: a Direita ganhou as eleições, mas a maioria parlamentar é de Esquerda...

Constitucionalmente falando, cabe ao Sr. Presidente da República ouvir todos os partidos que alcançaram assento parlamentar e convidar a constituir Governo o líder do partido (ou coligação) com maior número de deputados eleitos.
Como não há coligação à esquerda, não tenho outro entendimento que não seja o do Sr. PR convidar Pedro Passos Coelho a constituir Governo. Esse Governo só "governará" se o PS assim o entender. Pois BE e CDU já informaram que para esse "peditório" nunca deram, nem nunca vão dar.

Temos assim uma situação no mínimo interessante. O PS perdeu as eleições, mas transforma-se, por obra e graça dos resultados e da Constituição, no verdadeiro fiel da balança do regime. 
Nesse sentido é compreensível que António Costa não tenha apresentado a demissão. Os seus  85 deputados serão fundamentais para que o programa do Governo PSD\CDS-PP passe. E para impedir que seja aprovada alguma moção de censura. 

Todos lhe virão comer às mãos. A começar pelo actual inquilino de Belém... Adivinham-se tempos complicados. E, aqui para nós, quem desejará ser Ministro nestas circunstâncias? Antes ser Oposição. Até quando? 

Essa a grande questão. 
Porque, como todos sabemos, o Prof. Cavaco Silva está no final do seu mandato e não poderá dissolver este parlamento. Portanto, mesmo que o Programa do Governo seja rejeitado o país entrará em crise e em regime de funcionamento governativo de duodécimos até que o novo PR dissolva  a AR  e marque novas eleições. Tempo mínimo para isso acontecer?  Uns  7 ou 8 meses... Lá para Junho ou Julho de 2016 teríamos novo parlamento.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Com os olhos vermelhos...Até pelas malditas "tracking polls"



Não chorei, mas fiquei comovido com a vitória do SLB em Madrid. Obrigado malta! E para a próxima vejam quem levam à bola, porque parece que há macacos nesses galhos. Malta que gosta de estragar as festas.

Depois do Porto e Benfica cabe agora ao SCP manter a honra deste convento. Não quero agourar, pelo que mais nada escrevo. Mas seria uma jornada em grande, ainda por cima se bem acompanhada por Braga e Belenenses!

Também ainda não chorei, mas as constantes publicações das chamadas "tracking polls" são cebola nova cortada à frente dos meus "progressivos".

Explico porquê: Uma amostra que é feita pelo telefone, e através de meios automáticos, sem nenhuma intervenção de entrevistadores,  não pode ser considerada aleatória nem sobre ela fazerem-se cálculos de "Erros de amostragem". 

A aleatoriedade da amostra teórica é destruída pela alta percentagem dos que se recusam a responder e pela impossibilidade de identificar os que mentem (por exemplo em relação à Idade, que não é visível através do telefone!).Quem estudou estatística sabe que é assim. Parem de enganar as pessoas!

Isto é sempre verdade, independentemente dos resultados favorecerem fulano ou sicrano.

Hoje sim, Teremos as sondagens sérias, feitas por gente séria (acredito eu!) , pelo método de simulação de voto em urna, devidamente acompanhado por pessoal especializado nestas andanças.

Nesses resultados que serão publicados entre hoje e amanhã, , tão perto do acto eleitoral, já todos temos que acreditar.

Mas então não haverá mais incerteza? Sim haverá!!  Desde que o número de "Indecisos" continue a ser superior ao desvio entre as tendências de votos nos partidos maiores.

Utilizem o seguinte "coeficiente de queixo" como aproximação ao que vai acontecer : metade dos que se declaram indecisos não vão votar. Da outra metade dependerá o resultado final das eleições.

Por exemplo: Se o desvio entre PS e a PAF for de 4,5 pontos favoráveis à PAF , e se a percentagem de todos os indecisos for 20%, então em 10% desses estará a capacidade dar a vitória ao PS ou de garantir o prognóstico vencedor da PAF.

Como distribuir a priori esses Indecisos que votam? Aqui é que está a mais importante questão desta análise. Classicamente há duas maneiras:
 - Distribui-los pelas tendências verificadas nos eleitores da mesma amostra que especificaram qual o seu voto.  O que daria de imediato a vitória à PAF, no caso do exemplo anterior.
 - Distribui-los de acordo com as percentagens obtidas nas últimas eleições homólogas, desde que se tenham mantido circunstâncias e coligações. O que obviamente já não é o caso. Muito mudou...Mesmo assim voltaria a ganhar a PAF no caso do tal exemplo.

Em conclusão: Se as sondagens " a sério" desta noite derem a PAF à frente do PS fora da margem de erro, é muito provável que a PAF ganhe as eleições. Se o resultado (seja qual for) estiver dentro das margens de erro? Nem o Pitágoras acertaria com o nome do próximo 1o Ministro!!