quarta-feira, outubro 14, 2015

Profecias? Só daqui a bocadinho...



 Lee Yacocca foi um génio da industria automóvel, estando na lista dos 20 melhores CEO de sempre nos USA.   Tem actualmente 91 anos e continua a estar activo em fóruns e discussões sobre as políticas de gestão.

Aqui em Portugal é talvez mais conhecido por ter sido durante a sua gestão na Ford que foi desenvolvido o mítico Ford Mustang , do que propriamente pelo grande trabalho da sua vida, que foi pegar numa empresa falida ( a Chrysler) e fazer dela uma companhia que dava lucro e que era invejada, ao ponto de ter sido comprada pela Daimler-Benz em 1998 (hoje pertence ao grupo FIAT).

Um dos assuntos que Lee gostava de analisar com os seus directores tinha a ver com a confusão que às vezes se estabelecia em gestão entre "o gajo que tinha razão, antes de tempo" e "o gajo que não antecipava o futuro, mas que geria bem o presente".

Ambas as tarefas são necessárias numa empresa, como todos sabemos. O problema está quando o visionário faz a gestão corrente, em vez de estar num gabinete a pensar a estratégia; enquanto que o bom gestor do dia-a-dia é usado para "pensar o futuro".

Nestas posições invertidas estava ( segundo Yacocca) uma das principais causas do falhanço das organizações. Pôr o metódico e competente contabilista a fazer cenários de estratégia, e o gestor estratégico a fazer a contabilidade?  Desastre certo e sabido.

Segundo lee Yacocca, o gestor que é apenas visionário deveria ter na sua pedra tumular a seguinte frase gravada: "Este gajo tinha razão. Mas lixou-se porque ignorou o seu mercado real".

Na actual situação política aqui em Portugal esta verdade da ciência de gestão é mais do que evidente. Há o "mercado real" (o sistema complexo de condicionantes que hoje existe) e há o "mercado potencial" (onde desejamos estar dentro de alguns anos).

Uma coisa é a situação actual, o país que temos, as restrições existentes da política financeira subordinada aos mercados, aos nossos credores, às obrigações que tivemos de assumir desde a altura da intervenção da troika, etc...

Outra coisa é o futuro que queremos. Não só o que será possível mas também aquele  que é desejado. Com pleno emprego , com bons serviços sociais, e sobretudo com esperança que permita aos novos casar e ter filhos.

Um dos receios que tenho é que na presente avaliação sobre "quem deve governar, e como?" alguém se esqueça destas diferenças.

Soluções perfeitamente constitucionais para o futuro governo de Portugal haverá muitas: PSD e CDS  apoiados pelo PS.  PS sozinho apoiado pela esquerda. PS, PCP, Verdes e BE e ainda o PAN  formando um governo de coligação multicolor... E mais ainda.

Todas são legalíssimas, pese embora a alguns.

Mas onde estão as soluções de governo real que assegurem o presente e não comprometam o futuro?

Aquelas que garantam 4 anos de estabilidade governativa , a fazer leis e a gerir bem?

Aqui "faz mister proposição de mais funda presa" como escrevia nas suas demonstrações de teoremas das matemáticas o grande Aureliano Mira Fernandes.

Que eu saiba não somos profetas, nem astrólogos,  nem videntes,  nem "tarólogos" (quanto muito um pouco "tarados").

O caminho deve ser traçado de um presente ainda muito cinzento (vide o relatório da OCDE hoje tornado público) para um futuro mais risonho?  Sem dúvida.

O problema é saber como. Se tomamos um atalho ou se devemos ir pela estrada nacional. Se vamos andando a pé, de bicicleta ou de automóvel.

Para esse trajecto como escolher entre o Ford Mustang e a bicicleta?  Depende da distância, claro, mas sobretudo depende da existência de postos de gasolina no caminho... E de dinheiro na carteira para a comprar.

Eu, como conheço mais ou menos bem o país , lembro o velho ditado "Mais vale burro que me carregue do que cavalo que me derrube".

Sem querer chamar "burro", muito menos "cavalo",  a certos senhores que andam por aí disfarçados de políticos. Embora às vezes a vontade seja grande.

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