segunda-feira, agosto 31, 2009

A Chatice dos Aniversários

Não sei se V. gostam de fazer anos? Acho que a partir de certa idade , e como diz o poeta, o melhor seria "desfazê-los"...
Mas enfim, é das tais inevitabilidades que a todos nos acontece, e felizmente que é só uma vez por ano.

Atendem-se centenas de telefonemas (passe o exagero poético). A partir do terceiro só nos apetece ter uma mensagem gravada:
- " Sim, é verdade! Muito Obrigado. E vocês que vejam. Com saúde, é claro. Muito obrigado pela Lembrança! Abraços para todos"

Depois há o problema do enquadramento dos festejos... Com a Senhora Mãe? Com a Namorada? Com o Filho? Com os Amigos? Com a (pouca) Família que resta?

Alguns dos meus pesadelos passam-se em redor de uma suposta celebração em que eu próprio seria o homenageado e em que - Horror!! - toda esta cáfila de gente admirável estaria presente.

Brrrr... Até me deram suores frios a pensar na ocorrência.

Estou também numa altura da vida - não sei se o mesmo se passa convosco? - em que dou mais do que recebo... Com a excepção do caso notável constituído pela "minha sargenta" mas quanto a esse lá chegarei.

A Mãe nunca por nunca ser se separa do cartão de débito. As únicas excepções, todos os anos, são pelo Natal, pelo meu aniversário e pelo aniversário do neto.

Nessas alturas lá me entrega o cartanito com uma ordem clara de tirar "até XPTO".

A primeira coisa que faço é ver como está o estado da conta à ordem. Depois, e reconfortado com alguma largueza existente nesse aspecto, inicio uma complexa locubração matemática - candidata à Medalha Fields, o Nobel dos Matemáticos - sobre a melhor forma de lhe extorquir o mais possível sem que a Senhora dê muito por isso, pelo menos imediatamente...

Como consigo fazer? Bem , o segredo está em que "Ela" ainda pensa na moeda antiga... Assim, e quando me diz para "tirar 50 contos" Eu chego ao multibanco e transfiro 500 euros... Estão a ver? Mais tarde é relativamente fácil convencê-la que disse mesmo 500 euros. Pelo menos do "5" ainda se lembra...

Quando tem dúvidas pergunta ao neto. Ora este é cúmplice - acautelando a vez dele - por isso tenho as costas relativamente "espaldadas".

Quando é o Natal, os "20 contos para o Diogo e 50 para ti", rapidamente se transformam, miraculosamente, em 200 euros e 500 euros, respectivamente...

Sendo filho único não me preocupo mesmo nada com esta vigarice. E vou mitigando a quantidade de "massa" que vai parar aos cofres da Igreja, mês a mês, pois a Senhora minha Mãe ajuda que se farta a paróquia, os Salesianos, etc...
Não que eu tenha alguma coisa contra a caridade bem empregue, antes pelo contrário! Todavia, e pensando bem, prefiro que o dinheiro siga através dos canais certos (a minha conta) antes de chegar ao merecedor destino.

O meu Primo tem a doentia mania de ir ler estes Posts à Tia (que é a minha Mãe) mas como ele está para os Estados Unidos estou à vontade...Pensavam que eu era Parvo ou quê?
E assim vamos vivendo...

Bebam lá um copo - consoante as V. inclinações - à saúde dos que hoje nasceram: Otelo Saraiva de Carvalho; Sérgio Godinho; Richard Gere; Van Morrison ou o V. Blogger...

quinta-feira, agosto 27, 2009

Verde de Inveja!


Até que não é Piada ao Sporting. Desculpem lá a chamada de 1ª página, amigos Leões...Mas lendo o que segue compreenderão a mágoa.

O tempo está outra vez a aquecer. Nada tenho contra isso, excepto já não estar de férias. Tenho algum preconceito contra o facto de ter sido obrigado a trabalhar , durante metade do mês de Agosto, a apoiar a delegação britânica que aqui veio a Lisboa fazer a mudança da Máquina de Colar e Obliterar SAM 21 e que parte amanhã, depois do serviço cumprido…

Por isso – por ter de os levar ao aeroporto amanhã de manhã e fazer a última reunião de ponto de situação – não farei este Post na Sexta feira 28.

Mas, voltando”à vaca fria”, falava eu de férias, aumento de temperatura e obrigação de estar a trabalhar, quando os comuns dos mortais – entre eles alguns colegas meus lambões – estariam de “cú tremido” a jogar golf com o copo de Jack Daniels na mão, filosando muito àcerca da má sorte dos Leões na Champions e da terrível perda que essa infausta ausência não deixará de representar, para o Mundo em geral e para o País em particular…

Não é que eu não esteja de acordo com o sentido das opiniões manifestadas sobre o Velho Leão de Alvalade… Não Senhor! O que me chateia mesmo é que os autores dessas opiniões passeiam placidamente as mãos pelas águas tépidas das piscinas onde se encontram a “lavar a alma” e a coçar os …joelhos , enquanto que o “gordo do galego” aqui fica na Praça D. Luis I a trabalhar, preparando com algumas outras almas penadas a mudança de todos os serviços da Filatelia .

Reparem bem: eu não tenho inveja de ninguém! Apenas questiono porque é que as dádivas divinas e as sinecuras (respectivamente) cabem sempre aos mesmos!
Nem sempre Rainha nem sempre Galinha! Como dizia D. José ao seu confessor, desculpando-se de algumas ferroadas fora do penico conjugal…

Para descansar a vista


Desta Sexta feira próxima até ao meio da semana seguinte estou outra vez ausente da V. companhia.

Por isso aqui vai , de Alberto Raposo Pidwell Tavares, falecido em 1997, Pintor e Poeta mais conhecido por Al Berto:

Se um Dia a Juventude Voltasse...

Se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

Sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

Depois... mudaria de nome, de casa, de cidade, de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

Mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos

Problemas nos maiores Operadores Postais do Mundo


Vem nos jornais de hoje que o USPS - Correio Norte Americano, o maior operador postal do mundo - vai negociar a saída de 30,000 trabalhadores devido à falta de "material" (v.g. objectos postais para tratar) que justifique a respectiva força de trabalho. Dizem os peritos do USPS que o problema nem será ao nível da Distribuição , dos carteiros, mas sim no Tratamento, onde a evolução tecnológica e a diminuição do tráfego postal têm tornado obsoletas algumas carreiras...

Más notícias, sem dúvida, mas também a realidade deste mundo onde vivemos a chegar do nevoeiro para nos bater com força nas ventas: o mundo postal está em mudança - também em Portugal! - e nada ou quase nada poderá voltar a ser o que já foi nesta actividade multicentenária.
Vejam aqui sff a importância do USPS enquanto Operador Postal:


Mais de 7700 objectos postais processados por segundo. 667 Milhões por dia. Mais de 650 mil trabalhadores. O volume de correio fino (cartas e postais) que transportam representa mais de 45% de todo o Correio Mundial do mesmo tipo...

E mesmo assim...

Comentários ao Plano 2010

Mais um leitor que nos dá uma sugestão:

"Penso que emissão dedicada aos queijos e enchidos embora muito interessante será muito generalistas porque não em 2010 emissão dedicada aos queijos e em 2011 aos enchidos !!! Logo se pensa no livro sem pressas "

Comentário ao comentário: Ainda não pensámos bem como vamos fazer... Essa é uma boa ideia.

Comentários Emissão Conjunta

Alguns Leitores (Sr Bernardo e Metical) Comentam:

O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.Estarão os selos deste 31 (facial) destinados ao correio normal nacional de Avenças e Máq. Franquiar?
26 Agosto, 2009


Não estou a perceber. A emissão é conjunta só para Portugal? Não parece que os selos do Irão façam referência a isso.
26 Agosto, 2009


Comentário ao comentário: Falha minha que fui buscar drafts do ano passado, preocupado sobretudo com as cores... Não se aflijam porque o selos impressos são de 0,32 Euros e de 0,80 Euros. Quanto ao resto, a Emissão é mesmo conjunta. Mas enquanto Portugal costuma anunciar esse facto nos selos, o Irão nunca o faz nos selos, apenas na literatura anexa.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Irão: Desta é que vai ser!


Tudo a postos (finalmente!) para o lançamento, a 21 de Setembro, da Emissão conjunta Portugal-Irão : Águias (Rabalva e Pesqueira) de ambos os Países.

Aqui vão as fotos dos selos, esperando que, desta vez, as respectivas cores não lembrem a Coreia do Norte, como um dos nossos leitores sugeria...

A Pagela desta emissão conta com um texto do Sr Embaixador da República Islâmica do Irão em Portugal, escrito em Farsi (e obviamente traduzido). A caligrafia Farsi, como verão, é de uma grande beleza plástica.

Provavelmente o vosso Blogger lá estará em Teerão para a cerimónia do 1º Dia, a "reciprocar" a vinda a Portugal dos responsáveis dos Correios do Irão, em 21 de Setembro.

Comentários ao Plano

o Amigo Bernardo comenta:

Como sempre, e é natural, uns estão a mais e outros mereceriam constar no Plano de Emissões. Deixo algumas questões/reflexões/sugestões:. O tema Natal consta do Plano? No caso afirmativo - e tendo presente a imagem inserida -, qual o critério postal-filatélico? Não seria apropriada uma fórmula de franquia tradicional e faciais adequados aos objectos postais da "saison" (cartas/postais do correio normal, nacional e internacional)?. Mais uma vez, é notória a opção por temas para adornar os livros temáticos.... Entre os olvidados (muitos) ficam as sugestões: Centenário dos nascimentos de Madre Teresa de Calcutá e Com. Jacques-Yves Cousteau.

Comentário ao comentário: O Bloco do Natal que ilustra o Post é mesmo para sair ainda este ano de 2009, em Outubro. Mas também existirão Selos com as Franquias tradicionais. Em 2010 não faremos selos de Natal. Quanto ao resto , bem, de facto a Madre Teresa e o Comandante Cousteau são muito importantes para o Mundo. Pode ser que ainda se faça alguma coisa...

terça-feira, agosto 25, 2009

Plano de Emissões de 2010


Temos já uma primeira versão do Plano de Emissões Filatélicas para o ano seguinte.

Aqui vai, ainda em draft, sem datas nem valores faciais:

PLANO DE EMISSÕES DE 2010

VULTOS DA HISTÓRIA E DA CULTURA
500 Anos do Nascimento de Fernão Mendes Pinto
200 Anos do Nascimento de Alexandre Herculano
600 Anos do Nascimento de Gomes Eanes de Zurara
100 Anos do Nascimento de Francisco Keil do Amaral

DATAS DA HISTÓRIA
150º Aniversário do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre Portugal e o Japão

200 Anos das Guerras Peninsulares

100 Anos da Implantação da República
. Bustos da República
. Instituições Representativas da República

TEMÁTICAS

Pão - 2º grupo (Livro a propor)
Elevadores Públicos em Portugal – 1º grupo (Livro a propor)
Instituto Hidrográfico (50 Anos)
Queijos e Enchidos Portugueses (Livro a propor)
Judarias de Portugal (Livro a editar em 2010)
Joalharia de Devoção (Livro a editar em 2010)
Feiras e Romarias
Rock em Portugal
Pedras Ornamentais Portuguesas
Teatro em Portugal
Aqui há Selo
Correio Escolar
Circo

PROJECÇÃO INTERNACIONAL
Europa 2010 – Livros Infantis
2010 Ano Internacional da Biodiversidade
200 Anos do Nascimento de Frederic Chopin e Robert Schumann

EMISSÃO BASE
Transportes Públicos Urbanos – 4º ( e último) grupo

AÇORES
Europa 2010 – Livros Infantis
2º tema (aguarda-se proposta do Governo Regional)

MADEIRA
Europa 2010 - Livros Infantis
50 Anos do Jardim Botânico do Funchal (proposta do Governo Regional)

ETIQUETAS
2010 Ano Europeu do combate à Pobreza e Exclusão Social

Portugal – A nossa Primeira Escolha

Emissões consideradas relevantes
cuja confirmação depende de circunstâncias várias

Campeonato do Mundo de Futebol 2010
(A confirmar-se o apuramento da Selecção Nacional).

50 Anos do Astérix
(Existem contactos com a editora Leya, com vista à viabilidade de uma emissão.)

Migrantes
(Decorrem contactos com os Correios Argentinos para uma possível emissão conjunta cujo tema seria os Trabalhadores Migrantes de ambos os Países.)

Expo Shanghai 2010
(A confirmar-se a presença de Portugal).

segunda-feira, agosto 24, 2009

Arribas que matam

O desastre da Praia Maria Luisa, em Albufeira, veio trazer às páginas dos jornais do fim de semana passado todo um conjunto de interrogações:

- De quem é a culpa?
- Porque é que as pessoas "acampam" em locais onde existe a menção de "Perigo"?
- Quem faz inspecção às arribas?
- Porque é que o Ministério do Ambiente e\ou o INAG não decidiram já precipitar a queda das arribas duvidosas por esse país fora?

Até este momento a única coisa positiva que saíu desta tragédia foi a menção de que os "responsáveis iriam modificar a sinalização de Perigo existente nestes locais".

Convenhamos que é pouco...

E algumas jóias do comentário luso tiveram lugar...Elejo como merecedora do Grande Prémio "Chega p'ra lá qu'és Nojento" o inefável responsável pelo Turismo no Algarve que disse:

- "...se fossem turistas estrangeiros que tivessem morrido isto podia ter sido muito mau para o turismo algarvio, sendo assim não há problema".

Se bem disse das Autoridades sobre o combate aos incêndios, mal digo agora em relação a estas situações das arribas nas Praias e do seu enquadramento por quem de direito.

É que se não há dinheiro nem meios humanos para fazer desabar todas as arribas que estão em perigo de derrocada, pelo menos deve haver meios para lá colocarem uns sinais de 4 metros quadrados (no mínimo) onde se explique o perigo que corre quem para lá for dormir...

E se mesmo depois disso as pessoas insistirem? Bem, o melhor então é deixá-los lá ficar. Como sabem aqui neste País ( e nos outros civilizados) só se internam malucos com o consentimento das famílias...

Onde está o Programa Eleitoral do PSD?

Procura-se o Programa Eleitoral do PSD!
Há quem diga que se perdeu num Táxi, algures entre a Buenos Aires e o Palácio de Belém... Não sabemos se foi à ida se foi à vinda...

Estava disfarçado num embrulho de papel pardo que parecia conter salsichas de um talho, ou então chouriços comprados directamente ao lavrador...

É muito meigo, está treinado para contentar tudo e todos, e é como o Melhoral , não faz nem bem, nem mal (Tio Jerónimo dixit noutro envolvimento) .
Os Assessores do PSD recompensarão bem quem o entregar são e salvo. Pode ser com um lugar de Presidente de Conselho de Administração de alguma boa Empresa Pública...

No caso de não ser possível encontrá-lo a dona, aflita, considera adoptar o Programa Eleitoral do PS, com ligeiras modificações.

Atica a Arder


Uma palavra apenas de comiseração para com a população dos arrabaldes de Atenas, a sofrer com os violentos incêndios que desvastam as planícies da Atica.

Desde 2007 - quando morreram mais de 70 pessoas nos fogos de Verão - que não se via coisa semelhante na Grécia.
O apuramento de responsabilidades que o governo grego de então exigia , criando comissões de inquérito e coisas assim, deu em pouca coisa ou mesmo em nada... E, tanto quanto parece a esta distância, pouco também terá sido feito na profilaxia das causas dos fogos... pelo menos tendo em atenção o que agora se vê.

E se fosse em Portugal? Apesar deste ano ter sido muito mais pródigo em incêndios do que o ano passado - parece que 2008 foi o melhor ano dos últimos 30 - não há dúvida que os dispositivos no terreno têm dado resposta às contingências e, por muito mal que se queira dizer do MAI, Protecção Civil, e etc, estamos neste momento muito mais à frente nesta ciência do combate aos incêndios do que estávamos anos atrás.

Seria a nossa obrigação? Pois seria , mas olhem lá para a Grécia... É claro que não faltará quem diga que "pimenta nos olhos dos outros é refresco..." Mas mesmo assim...

sexta-feira, agosto 21, 2009

Para descansar a Vista

De David Mourão-Ferreira ( O Davífen, como lhe chamava Artur Portela) aqui ficam duas coisas bonitas... Pelo menos na minha opinião...


"PARAÍSO"

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.


Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!


Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,

entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

*********************************
Por Vezes...

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos

E por vezes encontramos de nós
em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.


David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal" (1959-1962)

quinta-feira, agosto 20, 2009

Pargo? Qual pargo?

Alguns leitores aproveitaram a ida de férias - sempre têm mais tempo... - para questionarem a imagem do "Pargo" que enviei ontem no Post sobre Sagres.

Eu conheço o peixe no prato, mas também de o ver na lota. É certo que os entendidos falam de muitas espécies de peixes parecidos, sempre de bom gosto quando assados no forno, mas Pargo verdadeiramente Pargo (o chamado "legítimo") só haverá uma espécie : Pagrus, pagrus. Está aí ao lado nas mãos do pescador que o apanhou!

Depois há o Pargo capatão (dentex, dentex) ou Mitra (com uma protuberância na cabeça)também conhecido no Algarve por Pargo fêmea. Deste ainda conhecem os entendidos o Capatão de Bandeira! Há o Pargo Africano (pagrus africanus) , o Pargo Mulato ou Pombo (Plectorinchus), e os também muito apreciados Imperador e o Goraz.


Tudo Peixe grandão, vermelhão e estimável para assar com as batatinhas novas, tomate e um tudo nada de pimentos...

Aqui vai a minha Receita de Pargo no Forno (ou Goraz, ou o que desejarem, e esteja mais fresco na banca e mais adequado às bolsas...):

Para 6 pessoas contem com um bicho de 3 kg. É costume estimarmos meio kilo por pessoa.

Peçam para vos limparem muito bem o Pargo na banca. Dêem-lhe 3 ou 4 golpes no dorso para melhor o despinharem depois.

Em casa disponham num tabuleiro de ir ao forno e dimensão adequada a "cama" onde vão assar o peixe: cebola às rodelas e também pequenas chalotas inteiras, tomate aos pedaços bem maduro, alho picado pouco. Um alho francês aos pedaços fica sempre bem. Deitem azeite do melhor, uma mão cheia de sal grosso gema e 4 ou 5 grãos de pimenta verde. Por dentro do peixe um ramo de salsa. Em desejando (não faz falta, mas eu habituei-me a esse gosto) deitem uma colher de sopa de massa de pimentão no molho da "cama".

Acamem o peixe nesse fundo, virando-o de um lado e do outro. Não usem bacon ou presunto por cima, o que apenas iria disfarçar o gosto excelente do peixe.

Disponham as batatas novas descascadas dos dois lados do peixe (e partidas aos quadrados pequenos para assarem melhor) se couberem.

Levem a forno quente (230º) durante cerca de 50 minutos a uma hora, tendo o cuidado de ir regando o peixe por cima, com o molho do fundo do tabuleiro, de 15 em 15 minutos.

Nota: É preferível comprarem dois Pargos de 1,7 kg e assarem em dois tabuleiros onde caibam as batatas, do que assar as batatas à parte... Mas se tiver de ser, então façam a "cama" às batatas num tabuleiro à parte tal como fizeram para o peixe...

Eu gosto muito de acompanhar este pargo com arroz de pimentos malandrinho, apresentação que era comum no Norte, na saudosa Margarida de Leça ou no Degrau do Castelo.

Para o arroz: façam uma puxada em azeite, cebola picadinha e algum alho. Fritem os pimentos cortados finos nessa puxada acompanhados por dois bons tomates também picados finos. Acrescentem uma mãozinha de sal (meia ou cheia, dependendo do gosto) . Depois deitem o arroz, envolvam no azeite e pimentos e de seguida acrescentem água com um bocadinho do molho do tabuleiro do Pargo, na proporção de 3 de liquído para uma chávena de arroz. Quando estiver o arroz cozido ao dente é tirar do lume , abafar e deixar abrir já na mesa, ao lado do tabuleiro do Pargo assado.

Bom apetite!

quarta-feira, agosto 19, 2009

Sagres do bom Peixe

A Costa Vicentina de há muito que tem a fama de ter dos melhores patrimónios piscícolas do País.
Os Percebes, as Lagostas e Santolas, o afamado Sargo da ponta de Sagres, o Pargo legítimo, o Goraz, as Douradas de 2 e 3 Kg, e por aí fora...

Não admira por isso que abundem na zona entre Vila do Bispo e a Vila de Sagres muitos restaurantes que apregoem aos 4 ventos terem à disposição dos passantes estas maravilhas da nossa natureza.

Cuidado, contudo, é essencial na escolha dos locais onde amesendamos, sobretudo em Agosto.

Em Portugal - e no Algarve... - há ainda a mania de que se trabalha em Julho e Agosto para dar para o resto do ano... (não sei se me entendem?)

Temos em Vila do Bispo a Lilita do Café Correia, já de todos conhecida pelas suas idiosincrisias, mas que me pareceu este ano algo calma de mais e sem aquela chama de vivacidade que a tornava famosa em todo o país. E a comidinha também disso se ressentiu. Salvaram o dia os Percebes de Sagres, rijos e saborosos como em mais nenhum lado.

Mesmo no centro da Vila de Sagres, quase ao lado dos bares e discotecas da zona (Dromedário, etc...) existe já há alguns anos o:

Restaurante "Carlos".
Rua Comandante Matoso
8650-357 SAGRES
Distrito: Faro
Concelho: Vila do Bispo
Freguesia: Sagres
Telefone

282624228

Conhecido pelas Massadas de Peixe, Cataplanas e Lulas recheadas, tem também e sobretudo Peixe fresquíssimo, comprado na sua grande maioria aos pescadores lá do local e que consta sempre na ementa. Para os verdadeiros conhecedores o Patrão Carlos guarda na cozinha uma mesa enorme de mármore com o que chegou naquele dia do mar e está à disposição.

6 viajantes por lá abancaram num destes dias e eis o que manducaram: Pargo legítimo assado no forno por encomenda, um peixe soberbo com 3,5Kg; 4 garrafas de verde Muralhas (grande refúgio qualidade\preço neste Algarve de alguns desmandos...); umas 3 doses de ameijoas das cristâs, mas tamanho médio; dois medronhos pré-ASAE; 4 cafés; uma tarte de alfarroba; duas de natas. Pagaram os 6 mortais (dos dois sexos) tanto quanto 190 euritos...

Se fosse em Cascais... ponham lá o dobro sff.

E vão agora umas sardinhitas??

Então dou-vos um endereço quase secreto, talvez mais conhecido de espanhóis (que passam palavra uns aos outros) do que de portugueses... Trata-se de uma Tasca tascosa mesmo, chamada Catizé (sabe-se lá porquê). Fica numa pequena rua a uns 100 m do Mareta Beach (pequeno hotel de charme à entrada da Praia da Mareta). Perto do Quiosque, por detrás e paralela à rua dos restaurantes e esplanadas, sempre em Sagres, e vale bem a pena procurar um pouco por ela.

Venham cedo (ou reservem as sardinhas porque estas nunca chegam). O Patrão , já de uma certa idade, está de serviço à grelha, bem no meio da rua e à frente da pequena esplanada da tasca. As sardinhas vêm para a mesa, dose a dose (6 por 7,5 euros) e sem nunca esfriarem...É esta uma comodidade difícil de encontrar noutros locais. Vamos sempre comendo sem esfriar o "material" e vendo as "mininas" a assarem mesmo à frente da nossa vista...

Por 75 euros comeram-se 36 sardinhas, com as respectivas saladas e batatas no azeite, mais 3 garrafas de Verde Quinta da Aveleda, um belíssimo pão de trigo local com azeitonas e umas águas (café não havia por falta de pressão da água).

Muito recomendável!

quarta-feira, agosto 12, 2009

Para descansar a vista



Antecipando esta nova ausência aqui vai mais um poema .

Aliás, vão dois, do Amigo Alexandre O'Neill.

Estou saudoso e muito beijoqueiro, por isso aí vão os versos:

O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo!
(Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

E que tal estes conselhos que O'Neill dava aos Poetas?

Bom e Expressivo

Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas
que tão bem desfecham
e que são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,
tal como o outro pedia se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência que grite:

— Não é poesia!, diz-lhe que não,
que não é, que é topada, lixa três,
serração, vidro moído, papel que se rasga
ou pedra que rola na pedra...

Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,
a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...

Alexandre O'Neill, in 'De Ombro na Ombreira'

Mais deslocações

Amanhã regresso a Lisboa para preparar a cerimónia do dia da Infantaria, a 14 de Agosto, em Mafra, onde devo estar antes das 8.00H.

Depois serão alguns , poucos,dias no Algarve, sem Computador e com TM no descanso, para ver se sossego um pouco lá para as bandas de Sagres, reduto da afamada e perigosíssima Lilita!

Em Vila do Bispo, claro, no seu famoso Café Correia mesmo, mesmo ao lado da estação dos CTT.

Próximo Post, correndo tudo bem, será no dia 19.

Comentário aos "Bandeiristas"

Um dos nossos Leitores comenta:

Bom dia

Mas no video

( http://videos.sapo.pt/qFcomVMZP3Ftva2Qv0rn )

o que se vê ser substituido é a bandeira dos Paços do Concelho e não a bandeira Nacional.

Ou estarei a ver mal?

Comentário ao Comentário: De facto parece ser essa... Ou será que tiveram de tirar ambas para efectuar a substituição?

Viram por aí uma bandeira??!!

Toda a gente já sabe da história, a malta do 31 da Armada disfarçou-se de Darth Vader , à moda de Star Wars, e toca de caminhar para a Câmara Municipal de Lisboa durante a noite de anteontem , com uma escada de vários metros às costas, para substituir a velha bandeira Nacional e Republicaníssima pela...Bandeira da Monarquia!!!

Os Bloggers - que como sabem são gente mais ligada às "direitas" - afirmaram mais tarde (sempre disfarçados) que se tratava de um protesto pelo "inoperância" da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República... E , se calhar, nessa parte da história até têm razão.

As reacções da Blogosfera foram muitas e variadíssimas, desde a indignação até à risota. Eu devo confessar que achei impagável a situação, imaginando aqueles "maduros", mesmo nas barbas da polícia, a fazerem a desfeita ao Sr Dr António Costa.
E alguém me explica como é que 7 marmanjos disfarçados com máscaras e com um escadão de uns 4 metros aos ombros "assaltam" assim a varanda da CML com a toda a desfaçatez?

A CML neste caso teve fraco humor e nenhum fairplay, já que entregou a matéria à Polícia para investigações...

Há aqui obviamente contornos que os profissionais da política entendem e eu não (o meu Senhorio, por exemplo está indignadíssimo e já protestou no Blog do Expresso onde neste momento oficia até às eleições, como "politólogo"). Mas francamente não vejo neste assunto, e para já , outra coisa que não seja provocar uma sonora gargalhada à custa da tal Comissão Nacional para o Centenário da República...

terça-feira, agosto 11, 2009

Uma Noite de Ananases


Há muito tempo que não experimentávamos uma noite assim… Às 23.00 ainda estavam 29 graus…

Do lado de fora da casa existe uma vaga de calor que impregna todas as superfícies duras, como as escadas, as paredes e a propria pedra do chão.

Noites boas para cá ficarmos fora, a contar histórias uns aos outros, olhando para o céu estrelado …

É claro que se previligiam as histórias de terror, ou, como se diz cá em cima, “de meter medo”.

Trago da minha reserva pessoal as histórias da “Cabra de Caparide” e da “Costureirinha”.

A primeira tem a ver com um animal branco – Cabra ou Bode - que apareceria nas noites mais quentes do Verão, pelas estradas mais isoladas de Caparide (perto do Murtal, lugarejo do alto de S. Pedro do Estoril) e que seria um prenúncio certo de morte na família daquele que a visse. É preciso avisar que aqueles lameiros perto da antiga Ribeira de Caparide, até há relativamente poucos anos atrás (30 ou 40) eram palco de estranhas cerimónias nocturnas que se entreviam nos dias seguintes, com sangue de animais e restos de galinhas mortas… provavelmente alguma assembleia de bruxas ou de adeptos do satanismo por ali oficiaria e teria todo o gosto do mundo em afastar dos seus lugares de culto os normais mortais… daí a provável origem da história fantasmagórica… De todas as formas houve gente na minha famíla que jurava e trejurava que tinha visto a célebre “cabra”.

A “Costureirinha” era e foi durante muitos anos um “Mito Urbano”... O da costureira que por Amor se perdera e que teria feito um pacto com o Diabo para conquistar o seu amado… como este pacto tinha dado para o torto – e os pormenores deste assunto variam com os contadores da história – o resultado foi que a costureira tinha ficado amaldiçoada a trabalhar toda a vida na sua máquina de coser, fazendo-se ouvir para toda a eternidade a muitas oficiais do mesmo ofício que, como ela, julgavam ter encontrado o amor na figura de um ou outro apaixonado.
Outra versão mais conhecida no Alentejo, diz-nos que a "Costureirinha" fora amaldiçoada por teimar em trabalhar durante todos os domingos do ano. Ou ainda, por ter quebrado uma Promessa feita a S. Francisco de Assis...
De todas as formas trata-se da história recorrente da "alma penada" que por ter pecado foi obrigada a fazer desta terra o palco para a sua desventura eterna.

Aqui é que o assunto fica complicado, pois quando eu tinha uns 12 ou 13 anos, muitas vezes ouvi em casa da minha Avó Judite este “barulho” de máquina de coser… Sempre interrompido pelas Avé Marias e Padres-Nossos dos ouvintes, transidos de medo. Poderia ser o caruncho dos móveis velhos (e decerto que seria) mas o facto tal como o presenciei fica aqui relatado.

Na Beira Alta este tipo de histórias tem mais a ver com os maus encontros nos Cruzeiros (cruzamentos de 4 estradas) durante a noite de Sexta Feira Santa ou então com as figuras dos “lobisomens” que por terem feito muitas malfeitorias teriam tido como paga demoníaca o transformarem-se em animais durante as noites de lua cheia, nem sempre lobos, como também bois ou cavalos…

Não sei se por reacção católica a estas histórias, mas o facto é que as santas mulheres de algumas aldeias perdidas da Serra (incluindo a nossa) ainda há muito pouco tempo faziam a antiga e provavelmente pagã cerimónia de “aumentar as almas” exactamente na Semana Santa e nos Cruzeiros das Aldeias. Esta cerimónia um pouco aterradora e que eu ainda presenciei – com cantos fúnebres “a capela” interrompidos pelas célebres matracas, que nos faziam estremecer a todos – tinha por objectivo, tanto quanto sei, pacificar as almas irrequietas do Purgatório que teriam a tentação de se passearem pela Terra e atormentarem os vivos nesta época do ano.

E pronto, são algumas das histórias do terror português que eu sei contar…

Tenho mais algumas no meu alforge, mas ficam para outra oportunidade…

O Estranho Caso da Garrafa Desaparecida


Tal como a ociosidade parece ser a Mãe de todos os vícios, é certo e sabido que o não se ter nada para fazer também obriga a uma certa inventividade para ocupar a mente, algo perturbada (é dizer o mínimo) pelos vapores etílicos que emanam da famigerada Adega cá da quinta…
No caso presente - e no meio dos vários check ups que temos vindo a fazer à saúde do “Branco” já de todos conhecido – reparei que na garrafeira das preciosidades que mantemos ao fundo da parede faltava uma garrafa.
Como sei disso? Porque essas garrafas foram cá todas postas por mim, são relíquias de um tempo em que privava com a malta do Fórum Prior do Crato e com o saudoso Engº Chambel. Abrimos algumas de vez em quando para ver se ainda estarão bebíveis, mas logo damos baixa das mesmas no “livro da cave” que mantenho no mesmo local.

O meu Cunhado , embora esteja completamente à vontade para usar e abusar dos líquidos expostos, nunca lá mete a unha, guardando para as temporadas que passamos juntos a alegria de experimentarmos alguns daqueles rótulos que eram famosos: Passarela, Pellada, FOJO do Douro, Reserva dos Sócios de Vila Nova de Tázem, Sousão de Montez Champallimaud e coisas assim. Tudo dos anos 80 e início dos 90 , do século XX obviamente!

A minha Sogra só entra na Adega para, de vassoura na mão, enxotar os “vadios” dos Amigos do meu cunhado quando por lá se demoram mais do que o normal…

Estávamos assim naquele impasse feito de suspeições e começávamos até a olhar com alguma desconfiança e desejos de vingança para os dois gatos rateiros que sempre (em diversas encarnações) compartilharam o espaço da quinta com a família, o casal de Serras da Estrela e as 3 ou 4 borregas, que eram o entretém do Avô Correia ( infelizmente, e desde a morte do meu Sogro , nao se “renovou” o zoológico, à excepção dos gatos).

A Garrafita que faltava, ainda por cima, era uma das últimas de litro e meio da Quinta da Passarela, um Dão de grande prestígio feito pelo dono original Santos Lima…

Analisado o lIvro da cave verificámos que a última razia às relíquias tinha sido feita pela Páscoa, na minha última estadia. Para o Almoço do Dia Santo tínhamos escorropichado duas Magnuns da Bairrada, Cordeiro de Sousa 91.

Lembrámo-nos então que nessa noite de Sábado de aleluia tínhamos recebido a visita dos Primos o que levou a prolongar o serão por mais umas horas, quase até à hora da Ressurreição… Beberam-se umas garrafas “normais” durante a noite e logo que – à meia-noite - bateram os toques de Aleleuia na torre sineira da Igreja, a malta achou que devia beber a última garrafa à saúde e em homenagem ao acontecimento feliz…

Não podia ser qualquer uma, sempre se tratava da Páscoa da Ressurreição… Lá vai o Raul à Adega amparando-se com as mãos pelas paredes ( et pour cause) apanhou a primeira que entreviu e abriu-a.

Registar no Livro? Àquela hora e nas circunstâncias factuais da cena? Depois de tanto "exercício"? “Ni Hablar”…

Era a da Passarela de 1988! Não há crime sem vítima, e esta acabou por ser encontrada por nós ontem, por detrás de um dos barris, já esventrada e exanguinada mas ainda com o rótulo legível…

Olhámos com alguma tristeza para a nobre garrafa do Dão, não porque fora aberta , mas sim porque nenhum de nós fazia ideia de como estaria o vinho, depois de tanto copo bebido durante tantas horas, pela noite fora.

Então, à saúde da Passarela 1988 e em louvor do trabalho dos soldados da Paz, terminado há pouco tempo naquele fim de tarde…bebemos mais um tintinho à espicha, já que o “Branco” continua na mesma como a lesma…

Fogo na Serra


Quebrou a pacatez destes dias de campo o irromper de um fogo florestal mesmo à frente do terraço da nossa cozinha, ontem à tarde, pela hora de mais calor , seriam 15,30H ou 16 Horas.

Para quem conhece a Serra e a região circundante de Seia e de Gouveia, foi muito perto da localidade dos Vales.

Metia impressão ver o como o fumo e as chamas muito rapidamente galgavam matos e terrenos, obviamente aproximando-se das casas. Espectáculo estranho que nunca cheguei a ver assim de tão perto, a não ser quando eu próprio fazia parte dos Bombeiros Voluntários dos Estoris, já lá vão quase 40 anos…

O socorro aéreo partiu a tempo do aeródromo de Paços e felizmente que à 3ª passagem do helicóptero pesado deixámos de ver fumos…

Se fosse assim sempre era bem bom!

Parabéns à minha malta do “Bombeiral” que , desta vez e como aliás quase sempre, estiveram muito bem na fotografia.

segunda-feira, agosto 10, 2009

O Caso do Roubo na INCM

O nosso Amigo Bernardo sugere que se faça aqui um comentário sobre o infame caso do roubo de Material filatélico feito na Imprensa Nacional Casa da Moeda pelo Engº Trigueiros.

Podem ver aqui a notícia (cortesia do Amigo Bernardo)

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1330406


Tenho algum pejo em comentar este assunto por motivos vários:

a) Conheço pessoalmente o Engº Trigueiros. Fui colega no ISCTE da irmã dele. Nunca me passou pela cabeça que chegasse a este ponto... Fiquei mesmo estupefacto quando a Judiciária divulgou o assunto.

b)A INCM tem culpas no cartório por ficar em seu poder com material filatélico que , nos termos do estatuto do Selo, devia pertencer ao Editor e Emissor CTT. É verdade que apenas este ES de 1985 regula especificamente esta questão e que muito material roubado era anterior a essa data, mas mesmo assim o anterior ES dava já indicações suficientes nesse sentido... E uma pergunta devo fazer ( e já fiz) : o que andará ainda por lá escondido ou abandonado?

c) Finalmente, porque fui envolvido na investigação - como seria de esperar - e por isso estou um pouco aflito para dar pormenores.

Quanto à sentença...Palavras para quê?? Comprem lá uma fotocopiadora rapidinho à INCM....

Crónica de um Dia na Serra


Alguns Amigos ( e também a "mais que tudo") questionam o Blogger sobre como se aguenta tantos dias aqui na Serra... No fim de contas o entretenimento com os tachos e as panelas ocupa parte do dia, mas não todo.

Bem, este ano temos o problema do "branco que só há pouco tempo parou de ferver", factor que muito influencia a ocupação das gentes aqui em cima, como verão...

Como de costume acordo às 6.00 e fico a olhar para o relógio à espera que sejam horas de levantar. Lá para as 7.30H levanto-me, tomo banho, acordo o "senhorio" e , enquanto espero que S. Exª se despache das abluções matinais (é pior do que uma mulher...) venho para aqui escrever.

Pelas 9.00H estamos em Gouveia, tomamos o pequeno almoço e compramos os jornais. às 9,40 estamos em Seia, no Pingo Doce, a ver o que se arranja para o almocinho - o peixe trago sempre de Cascais, mas aqui compro a carne e o resto. Por exemplo, ontem comprei costeletas de vitela e de borrego para experimentar de novo as mãos no grelhador Weber...

Os resultados não foram melhores do que com os sargos. Desta vez deixei a carne mal passada, com medo de a estorricar. A experiência dá qualidade e aprimora o jeito, pelo que estou convencido que daqui a uns 20 borregos e 15 vacas estarei ao nível.

Mas deixem-me continuar.

Chegamos a casa pelas 10.00H e é altura de ir à Adega ver se o "branco" já estará em prova...
Tecem-se muitos reparos ao tempo que está muito mudado, aos adubos adulterados, ao vasilhame que não se comporta como devia (com o "branco", porque com o Tinto nada disto aconteceu)... Mas nunca por nunca ser se pôe em causa a qualidade do enólogo e adegueiro ( o meu Cunhado).
Como o "branco" ainda não dava Prova bebeu-se um copito do tinto à espicha para justificar a deslocação à Adega - ainda são 18 degraus para baixo, outros tantos para cima e 6 metros de caminho de pedra...

Ajudo ao almoço , vamos para a mesa às 12.00H , vê-se o noticiário e depois arruma-se a cozinha.

Pelas 15.00 é altura de dar mais uma saltada à Adega, pois pode ser que entretanto o "branco" tenha mudado de carácter (ou lá o que é ).... Ainda nada. Por isso bebe-se um copito de bagaço geladinho para justificar a deslocação...

A meio da tarde é altura da cachimbada com o meu senhorio, lendo alguma coisa do muito que por aqui temos. Se me der o sono ressono mesmo ali no terraço.

Pelas 18.00 há que pensar nos grelhados do jantar (enfim...) Mas, antes disso ( já adivinharam) vai-se outra vez à Adega, desta vez acompanhados por Amigos que entretanto chegaram, para ver o estado do "branco".

Como infelizmente o "branco" ainda não se pode beber, há que oferecer aos Amigos um Tinto, para justificar a deslocação deles ( e nossa) e em sinal de solidariedade. Tecem-se então muitas considerações sobre o Tempo, os adubos, o vasilhame , etc... Dada a demora neste conciliábulo fraternal, há que beber mais uns tintos antes do jantar...

Janta-se (se tiverem sorte com a grelha) , arruma-se a cozinha e pelas 21.00H faz-se a última romaria à Adega (Exactamente!)

Dadas - infelizmente - as condições do "branco" manterem-se estáveis, bebe-se mais um bagacito geladinho , para a sossega.

Esta (a sossega) chega mais cedo do que parece... Sem contar com o meu "senhorio" que fica a trabalhar na Tese até às tantas, e a minha Sogra que se pendura nas Telenovelas da TVI, eu e o meu cunhado às 23.00H já estamos a serrar presunto, e do grosso!

Em conclusão: Ou o C... do Branco rapidamente "desdobra" ou "aclara" ou lá o que é que os vinhos têm obrigação de fazer nos tonéis, ou então ainda saímos daqui com o fígado estragado... Obviamente que por culpa do Tempo, dos adubos modernos e da trampa do vasilhame!

sábado, agosto 08, 2009

O Raul do Riso

Nestas alturas em que morre uma celebridade fazem-se sempre aqueles comentários de circunstância que enchem os minutos dos telejornais, com as inevitáveis filmagens junto ao velório , onde nunca se percebe muito bem se os "jet sets" que por lá aparecem vão para ser entrevistados ou mesmo por veneração e respeito pela figura que partiu.

O Sr Raul Solnado marcou a minha geração - faço 54 dentro de dias - como um dos raros faróis que iluminavam a vida cinzenta e salazarenta do País antes de Abril.

Viu-o muitas vezes no Teatro (meu Pai era amante das Revistas e privava com muitos actores desse tempo) recordo por exemplo uma noite de fim-de-ano, onde eu estava no Monumental a ver uma peça da época (penso que era com o Nicolau Breyner) e vai daí começo a ver os artistas todos a rir às escondidas. O que se passava era que o Solnado tinha acabado mais cedo a sua peça no Villaret e tinha vindo para os bastidores do Monumental fazer caretas , mandar bocas aos colegas e a fazer rir a outra "malta"...O forróbodó foi tão grande que já ninguém se entendia, e ele teve mesmo de vir à boca da cena para ser aplaudido de pé!

Mas foi sem dúvida o Zip-Zip , teria eu 15 anos , que mais me marcou.

Raul Solnado criou então uns bonecos impensáveis (mesmo para a altura da Primavera marcelista) com os seus famosos "Fritz" , que perdia a Auto-Estrada Lisboa-Porto logo depois de Sacavém, ou o "Baladeiro" émulo de Zeca Afonso, que cantava para "comunicar comunicação".

Foi actor dramático de grande importância na "Balada da Praia dos Cães" de José Fonseca e Costa e fez há muito pouco tempo um espantoso velho comunista puro e duro, no filme Call Girl, com a Soraia Chaves e Nicolau Breyner.

Conheci muito bem e pessoalmente seu primo Pedro Solnado, director do BES quando eu era Key Accounts General Manager aqui nos CTT. E foi exactamente através desse primo que soubemos do seu envolvimento na Casa do Artista , tendo então os CTT colaborado nessa obra de assistência de grande mérito, na qual Raul Solnado tanto investiu pessoalmente nos últimos anos.

Costumam despedir-se os artistas à porta do cemitério com grandes salvas de palmas. Neste caso concreto acho que umas boas gargalhadas estariam mais adequadas ao Sr Solnado, o Raul do Riso em Portugal.

De serviço à Grelha


Nesta altura do ano em que - pelo menos em teoria - o tempo está bem bom para refeições " al fresco" é de norma comerem-se grelhados.

Temos um grelhador a carvão daqueles circulares e maneirinhos , com 60 cm de diâmetro, o qual tem a grande vantagem de ter rodas e poder ser utilizado tanto nos terraços ou varandas (larguitas...) como nos jardins.

A noite passada e depois da tradicional feijoca à Pastor do almoço, onde se aproveitou para rachar o tonel do tinto do ano passado (bem bom, para vinho feito sem grandes "compusturas") grelhei uns Sargos para o jantar.

Aqueles sargos de meio kg a que em Cascais chamamos sargo de palmo e meio, gordos e reluzentes , são dos melhores peixes que podemos oferecer à grelha.

O pior foi a falta de arte do grelhador de serviço, novato nestas lides do fogo e a sentir muitas saudades do Amigo João Alves, esse sim, perito no manejo das fogueiras...

Comecei logo a meter água no atear do carvão. O "SOB" nunca mais pegava ou lá o que era que se chama a isso. Ao fim de meia hora, meia dúzia de acendalhas e uma pinha seca, muito abanão do "abanico" e alguns litros de suor, o C... do carvão lá ateou.

Depois foi a 1ª experiência de grelhar em cima da chama. Tinham-me dito (ou ouvi dizer) que o material - peixe ou carne - nunca se coloca em contacto directo com a chama, mas sim com as brasas.

Tudo bem, mas uma vez ateado o carvão como é que se "desateia" o mesmo a seguir?

Alguém me saberá explicar? Ninguém sabia. Cunhado e Filho olhavam com algum receio para os sargos crús , com medo que o jantar fosse queijo presunto e pão... A Sogra cozia as batatas, fazia a salada de tomate e cebola, e vinha ao Terraço de vez em quando dizer "Olhe que as batatas já estão cozidinhas..."

Isso também não ajudava, como calculam...

Enfim, lá jantámos eram já 21,30H e ...ninguém se queixou.

Seria a Fome, que no dizer do imortal poeta "Constitui o melhor dos temperos que se pode dar à Vianda".

E tinha razão.

sexta-feira, agosto 07, 2009

A SAM 21

Alguns Leitores, entre eles o Amigo Silvério, questionaram o que seria esta coisa da SAM 21...

Tratar-se-ia de algum robot malévolo tipo Maximilian ou HAL (só para conhecedores da SF)?

Não senhor!.

A SAM 21 é uma máquina de colar e obliterar fabricada expressamente para os Operadores Postais designados de acordo com as características de cada um (não existem 2 SAM 21 iguais).

O Fabricante é a Firma Stephen Mayer International Lta, de Bristol, United Kingdom. Trata-se de uma máquina importante, com cerca de 3,5 metros de comprido e com perto de 1,000 Kg. Daí os cuidados que relevamos em face à sua desmontagem, transporte e posterior montagem ...

A nossa SAM 21 veio apenas com os módulos de colar selos , em sobrescritos e de acordo com a formatação que desejamos.

Existem também módulos de carimbar, mas infelizmente na altura em que a comprámos, estes módulos não passaram os nossos testes de qualidade.

Actualmente as novas SAM 21 possuem características extremamente inovadoras, com módulos de carimbar irrepreensíveis e de muita qualidade.

Custaria, uma nova SAM 21 com esses módulos, cerca de 200 mil euros.

Valerá a pena, quando supomos que o caminho do futuro será sempre o dos selos auto-adesivos?
Estamos a estudar esta importante questão....

quinta-feira, agosto 06, 2009

Para descansar a Vista

Porque me ausento amanhã, não quis deixar os "clientes" sem o habitual poema das Sextas,que neste caso são vários e de um dos meus autores favoritos : Jorge Luis Borges , o Mestre-Bibliotecário cego de Buenos Aires, aquele que entreviu por entre a neblina das suas pupilas secas outros mundos e outras realidades dentro desta onde nos encontramos.

Jorge Borges durante toda a vida sofreu de problemas de visão. Mesmo depois de várias operações não conseguia ler nem escrever... Mas admitia, com resignação, que na sua cegueira nada havia de dramático ou patético, comentando: "...esplêndida ironia de Deus em conceder-me a um só tempo oitocentos mil livros e a escuridão".

A figura do Bibliotecário cego, percorrendo com as mãos as estantes da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, sabendo pelo toque e pela sua espantosa memória onde estavam os seus autores e os seus textos favoritos, sempre me fascinou. Tanto ou mais ainda como a sua admirável obra literária, a que até a falta de um Nobel veio - em minha opinião - dar mais prestígio.

As traduções do castelhano são de Fernando Pinto do Amaral, estudioso da obra de Borges.

Os meus Livros
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim.
As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

O Apaixonado
Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,

Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros.

É mentira. Só tu existes.
Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Luis Borges, in "História da Noite"

Nostalgia do Presente
Naquele preciso momento o homem disse: «O que eu daria pela felicidade de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel e de repartir o agora como se reparte a música ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento o homem estava junto dela na Islândia.

Jorge Luis Borges, in "A Cifra"

E sobre o Tradutor Fernando Pinto do Amaral, personalidade reconhecidíssima da nossa vida literária:

Fernando Pinto do Amaral (n. 1960), depois de frequentar a Faculdade de Medicina, que abandonou por falta de vocação, licenciou-se na área das literaturas românicas, tendo mais tarde concluído o doutoramento nessa mesma área. É professor na Faculdade de Letras de Lisboa, tradutor e crítico literário. Colabora regularmente no jornal "Público" e nas revistas "Ler" e "Colóquio Letras". Tem comissariado alguns eventos dedicados à literatura, nomeadamente , "100 Livros do Século", ou mais recentemente a comitiva de escritores portugueses no Salão do Livro de Genève. Em 1990 publicou o seu primeiro livro de poesia, "Acédia", a que se seguiram "A Escada de Jacob" (1993), "Às Cegas" (1997) e "Poesia Reunida 1990-2000". De entre os seus ensaios destaque-se "O Mosaico Fluido - Modernidade e Pós-modernidade na Poesia Portuguesa mais Recente" (1991). Traduziu, entre outros, Baudelaire, Verlaine, Borges.

mais mini-férias

Parto para a Beira Alta amanhã de manhã, para mais uns dias de descanso. Mandarei alguns Posts lá de cima, nem que seja para dar conta do estado do vinho da casa e do cabritinho assado no forno...

Depois interrompo as férias para ir a Mafra, onde os CTT colaboram a 14 de Agosto no Dia da Arma de Infantaria, cujo Patrono é D. Nuno Álvares Pereira, como sabem.

Espero voltar ao serviço - para tratar da mudança da nossa máquina de colar selos SAM 21 da Casal Ribeiro para a Praça D. Luis I - a 19 de Agosto.

quarta-feira, agosto 05, 2009

A Noite das Facas Longas


A Drª Manuela Ferreira Leite acertou as contas com o seu Partido ontem à noite, na altura de escolher as listas para Deputados ...

Tal como José Sócrates já o tinha feito anteriormente - retirando dos lugares elegíveis todos os opositores, desde a linha de Manuel Alegre até à de António José Seguro.

Ontem, como disse, foi a vez do PSD "purgar-se".

E por muito que nos custem estas medidas - por nos parecerem pouco democráticas ou até definidoras de uma certa forma de estar na política, faraónica e absolutista - de facto qualquer Líder eleito em Portugal acaba por ter legitimidade para escolher quem muito bem entender, mesmo à revelia dos conselhos e avisos das suas chefias no terreno.

A Eleição para o Parlamento, as chamadas Eleições Legislativas, não são em Portugal, actualmente, mais do que um Sufrágio dos Líderes partidários vigentes. Quando ( e se alguma vez...) forem uma eleição de Deputados, então sim, falaríamos a sério.

Mas desta forma, quando o Líder sabe que é por ele, ou por ela, que se ganham ou perdem as eleições, obviamente que faz o que muito bem entende quanto às Listas e aos lugares elegíveis que nelas constam.

E, também como de costume nesta Democracia de fingimento, o "verdadeiro" Líder só quer a seu lado bonecos de porcelana como os que se colocavam há 30 anos nas prateleiras das bagageiras dos automóveis , e que abanavam constantemente para cima e para baixo as cabeças... Lembram-se?

Já aqui referi os perigos que decorrem de um rei absoluto estar rodeado apenas de "Yes Men" , dos fâmulos que apanham as migalhas da mesa do Poder e que, por causa disso, com infinito medo de perderem a mama, são fiéis ao glorioso Líder como os cães são fiéis ao dono.

Em Portugal, no PS e no PSD (para não dizer noutras coisas corporativamente falando) confunde-se muito Lealdade com subserviência e Fidelidade com sabujice.

Mas ninguém se esqueça que quando os alcatruzes da nora recomeçarem a girar - o que será inevitável - os Fiés e os Leais ainda ficam, enquanto que os sabujos e os subservientes, tais como os ratos de porão, serão os primeiros a abandonar o Navio...

O Lider que não quer ninguém a seu lado para temperar , com racionalidade e bom senso, as euforias associadas ao exercício do Poder, perde uma grande oportunidade de se tornar verdadeiramente útil ao seu Povo e ao País.

Mas isto sou eu que escrevo...

terça-feira, agosto 04, 2009

Sai-me cada uma...


Ontem à tarde fui buscar uma Amiga ao terminal da Rodoviária, situado ali perto do Jardim Zoológico, em Lisboa. Nada a dizer se exceptuarmos o tamanho e o peso do malão que a acompanha desde a Namíbia - por mim alcunhado "o Anti-Cristo" - o qual me persegue desalmadamente desde que ela chegou ao aeroporto, vai para 2 meses...

O desgraçado do Anti-Cristo ainda por cima parece aumentar com os dias da estadia aqui em Portugal, o que se compreende com as ofertas dos pais e familiares... O meu azar é que tenho de o carregar pelas escadas acima aí uns 3 andares bem contados. E depois pelas mesmas escadas abaixo (ou vice-versa...)

Bem, mas fora isso, estava eu já em casa a aplicar emplastro "Leão" (cruzes credo!!) nas espáduas, quando começo a receber uma série de nada menos do que 4 telefonemas de call centers os mais diversos, a tentar vender-me - acho que era por esta ordem - um seguro de vida, dois cartões de crédito e umas férias.

Atendo estes telefonemas apenas porque as empresas gerentes dos C. Centers perceberam que a malta não atendia se fossem números confidenciais e passaram a usar dos normais.

De todas as formas e após 3 negas consecutivas da minha parte, à quarta vez - a tal das férias - eu já não estaria muito bem disposto e descarreguei na menina de sotaque brasileiro que estava do outro lado. Descarreguei mas com delicadeza, não pensem por aí que a mandei falar com os apêndices ósseos que saíriam da cabeça do Pai dela, ou coisa assim.

Então não querem lá ver que a senhora disse logo que "eu era muito mau" e que "ela ganhava pelas vendas que fazia " e que "tinha filhos pequenos para criar" e ...mais não ouvi porque desliguei o telefone...

E esta hein? Para além de me chatearem de grande ainda me dão complexo de culpa pela noite dentro??!!

Está decidido: só atendo chamadas de números reconhecidos.

segunda-feira, agosto 03, 2009

SAL - Sindroma de Agosto em Lisboa


Agosto é bom para passar em Lisboa. Trabalhando, está claro!

Pelo menos era...

Estacionávamos ali mesmo à beira dos locais de trabalho, havia muito menos gente na estrada e mesmo com as obritas na A5 que era certo e sabido começarem nesse mês, com alguma sorte e vindo cedo chegávamos mais depressa.

Bem sei que tínhamos os Restaurantes habituais fechados, mas aproveitava-se a oportunidade para conhecermos outros.

Mas isso era dantes. Não sei se têm a mesma opinião que eu, mas se deitarmos para fora da análise a questão das Férias escolares - esse sim, o factor externo que traduzirá a grande diferença em termos de ocupação das vias - não me parece que este Agosto actual seja mesmo o das Férias Grandes de todos os portugueses.

Dirão que ainda a procissão vai no adro, mas mesmo só com três dias de treino não vejo a cidade assim tão deserta como noutros anos. E mesmo os restaurantes parece terem inaugurado uma nova forma de responderem à eventual mudança de hábitos dos lisboetas: em vez de fecharem o mês de Agosto todo, alguns só fecham completamente na 2ª metade e nos primeiros 15 dias do mês dão só almoços...

De facto - e não é só um fenómeno de Verão - Lisboa desertifica-se durante a noite e, se esquecermos o Bairro Alto, as Docas e parte da 24 Julho , parece que a partir das 21 horas deambulamos por uma cidade fantasma... Estranho mas verdadeiro.

Lembro-me das famílias irem jantar ao Polícia ou ao Funil nas Sextas-Feiras e Sábados, e quem diz estes dois antigos poisos respeitáveis de uma certa burguesia média das Avenidas Novas dirá outros tantos noutras zonas da nossa cidade... Mas, tanto quanto me parece, esses hábitos desapareceram.

Fruto da crise, sem dúvida, mas também fruto de uma certa erosão da antiga classe média que cresceu com Abril de 74 e que , infelizmente , se vê agora fortemente manietada financeiramente...

No Agosto algarvio estes portugueses da classe média até tinham uma alcunha dada pelos ricos e afluentes, como se fossem uma praga que se abatia sobre eles : chamavam-lhes "os agostinhos".
Iam para um hotel em conta lá para os Algarves, depois disso tentaram (e ainda conseguiram) alugar uma casinha na Quarteira, daí passaram ao campismo em Monte Gordo, e depois, bem, depois acabou-se Algarve ou Allgarve...
A falta de dinheiro levou-os a emigrarem para as visitas a casa da família que têm nas terras da província (os que a têm). Hoje alguns (talvez a maioria) passa o Agosto no apartamento de todos os outros meses do ano e vai à Praia que lhes fica mais perto. Levam sandes e garrafas de água, não há dinheiro para sardinhas ou para febras... E não se trata de indigentes, nem de operários, nem sequer de empregados de balcão! São pequenos patrões, Quadros Médios, Professores de Liceu, e por aí fora...

E atenção, pois é dessa gente e do seu esforço contributivo que vive a Segurança Social e muitas das outras dádivas deste Estado meio-providencial... São eles que, por enquanto, pagam a parte de leão dos nossos impostos.
E haja cuidado pois muita desta gente tem direito a indignar-se com o que lhes vem acontecendo nestes últimos anos! Serão a "espinha dorsal da Nação" quando toca a pagar, mas para o resto, para receber a distribuição dos dividendos, tenho a impressão que estão tão mal colocados quanto os inocentes aforradores do BPN que clamam pelo seu dinheirito colocado a prazo e com garantia do Estado...

Até quando? Ninguém olha para estas famílias? Olhem que sem Classe Média perde-se o País e perdem-se os Portugueses.