terça-feira, agosto 11, 2009

O Estranho Caso da Garrafa Desaparecida


Tal como a ociosidade parece ser a Mãe de todos os vícios, é certo e sabido que o não se ter nada para fazer também obriga a uma certa inventividade para ocupar a mente, algo perturbada (é dizer o mínimo) pelos vapores etílicos que emanam da famigerada Adega cá da quinta…
No caso presente - e no meio dos vários check ups que temos vindo a fazer à saúde do “Branco” já de todos conhecido – reparei que na garrafeira das preciosidades que mantemos ao fundo da parede faltava uma garrafa.
Como sei disso? Porque essas garrafas foram cá todas postas por mim, são relíquias de um tempo em que privava com a malta do Fórum Prior do Crato e com o saudoso Engº Chambel. Abrimos algumas de vez em quando para ver se ainda estarão bebíveis, mas logo damos baixa das mesmas no “livro da cave” que mantenho no mesmo local.

O meu Cunhado , embora esteja completamente à vontade para usar e abusar dos líquidos expostos, nunca lá mete a unha, guardando para as temporadas que passamos juntos a alegria de experimentarmos alguns daqueles rótulos que eram famosos: Passarela, Pellada, FOJO do Douro, Reserva dos Sócios de Vila Nova de Tázem, Sousão de Montez Champallimaud e coisas assim. Tudo dos anos 80 e início dos 90 , do século XX obviamente!

A minha Sogra só entra na Adega para, de vassoura na mão, enxotar os “vadios” dos Amigos do meu cunhado quando por lá se demoram mais do que o normal…

Estávamos assim naquele impasse feito de suspeições e começávamos até a olhar com alguma desconfiança e desejos de vingança para os dois gatos rateiros que sempre (em diversas encarnações) compartilharam o espaço da quinta com a família, o casal de Serras da Estrela e as 3 ou 4 borregas, que eram o entretém do Avô Correia ( infelizmente, e desde a morte do meu Sogro , nao se “renovou” o zoológico, à excepção dos gatos).

A Garrafita que faltava, ainda por cima, era uma das últimas de litro e meio da Quinta da Passarela, um Dão de grande prestígio feito pelo dono original Santos Lima…

Analisado o lIvro da cave verificámos que a última razia às relíquias tinha sido feita pela Páscoa, na minha última estadia. Para o Almoço do Dia Santo tínhamos escorropichado duas Magnuns da Bairrada, Cordeiro de Sousa 91.

Lembrámo-nos então que nessa noite de Sábado de aleluia tínhamos recebido a visita dos Primos o que levou a prolongar o serão por mais umas horas, quase até à hora da Ressurreição… Beberam-se umas garrafas “normais” durante a noite e logo que – à meia-noite - bateram os toques de Aleleuia na torre sineira da Igreja, a malta achou que devia beber a última garrafa à saúde e em homenagem ao acontecimento feliz…

Não podia ser qualquer uma, sempre se tratava da Páscoa da Ressurreição… Lá vai o Raul à Adega amparando-se com as mãos pelas paredes ( et pour cause) apanhou a primeira que entreviu e abriu-a.

Registar no Livro? Àquela hora e nas circunstâncias factuais da cena? Depois de tanto "exercício"? “Ni Hablar”…

Era a da Passarela de 1988! Não há crime sem vítima, e esta acabou por ser encontrada por nós ontem, por detrás de um dos barris, já esventrada e exanguinada mas ainda com o rótulo legível…

Olhámos com alguma tristeza para a nobre garrafa do Dão, não porque fora aberta , mas sim porque nenhum de nós fazia ideia de como estaria o vinho, depois de tanto copo bebido durante tantas horas, pela noite fora.

Então, à saúde da Passarela 1988 e em louvor do trabalho dos soldados da Paz, terminado há pouco tempo naquele fim de tarde…bebemos mais um tintinho à espicha, já que o “Branco” continua na mesma como a lesma…

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