O Sr Raul Solnado marcou a minha geração - faço 54 dentro de dias - como um dos raros faróis que iluminavam a vida cinzenta e salazarenta do País antes de Abril.
Viu-o muitas vezes no Teatro (meu Pai era amante das Revistas e privava com muitos actores desse tempo) recordo por exemplo uma noite de fim-de-ano, onde eu estava no Monumental a ver uma peça da época (penso que era com o Nicolau Breyner) e vai daí começo a ver os artistas todos a rir às escondidas. O que se passava era que o Solnado tinha acabado mais cedo a sua peça no Villaret e tinha vindo para os bastidores do Monumental fazer caretas , mandar bocas aos colegas e a fazer rir a outra "malta"...O forróbodó foi tão grande que já ninguém se entendia, e ele teve mesmo de vir à boca da cena para ser aplaudido de pé!
Mas foi sem dúvida o Zip-Zip , teria eu 15 anos , que mais me marcou.
Raul Solnado criou então uns bonecos impensáveis (mesmo para a altura da Primavera marcelista) com os seus famosos "Fritz" , que perdia a Auto-Estrada Lisboa-Porto logo depois de Sacavém, ou o "Baladeiro" émulo de Zeca Afonso, que cantava para "comunicar comunicação".
Foi actor dramático de grande importância na "Balada da Praia dos Cães" de José Fonseca e Costa e fez há muito pouco tempo um espantoso velho comunista puro e duro, no filme Call Girl, com a Soraia Chaves e Nicolau Breyner.
Conheci muito bem e pessoalmente seu primo Pedro Solnado, director do BES quando eu era Key Accounts General Manager aqui nos CTT. E foi exactamente através desse primo que soubemos do seu envolvimento na Casa do Artista , tendo então os CTT colaborado nessa obra de assistência de grande mérito, na qual Raul Solnado tanto investiu pessoalmente nos últimos anos.
Costumam despedir-se os artistas à porta do cemitério com grandes salvas de palmas. Neste caso concreto acho que umas boas gargalhadas estariam mais adequadas ao Sr Solnado, o Raul do Riso em Portugal.
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