quarta-feira, agosto 12, 2009
Para descansar a vista
Antecipando esta nova ausência aqui vai mais um poema .
Aliás, vão dois, do Amigo Alexandre O'Neill.
Estou saudoso e muito beijoqueiro, por isso aí vão os versos:
O Beijo
Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.
Donde teria vindo!
(Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?
É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.
E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'
E que tal estes conselhos que O'Neill dava aos Poetas?
Bom e Expressivo
Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.
Vai-me a essas rimas
que tão bem desfecham
e que são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,
tal como o outro pedia se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência que grite:
— Não é poesia!, diz-lhe que não,
que não é, que é topada, lixa três,
serração, vidro moído, papel que se rasga
ou pedra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,
a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...
Alexandre O'Neill, in 'De Ombro na Ombreira'
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