sexta-feira, outubro 11, 2013

Para Descansar a Vista


Num dia radioso como o de hoje (tenham calma porque ainda vamos chorar este bom tempo fora de época) nem as notícias sobre mais cortes e mais austeridade devem ter poder sobre nós.

Bem, lá poderes têm. Até porque a história da felicidade se reduzir ao Amor e à Cabana foi inventada por um gajo que tinha uma ilha privativa nas Caraíbas.

Contudo e apesar dos tempos de tempestade que se abatem sobre nós
(esperem pelo OE 2014) podemos sempre fingir que somos felizes.

E que nunca se abandone a busca, a ânsia, a procura por alguma coisa!

Lá vai Poema condicente de meu Mestre Eugénio de Andrade:

Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas

 

Um comentário:

Anônimo disse...

SENHOR RAUL MOREIRA,

É URGENTE CONVERSAR COM VOCÊ.
Osiris Duarte de Curityba.
duarte.14@ig.com.br