quarta-feira, julho 20, 2016

Tintos de Verão?

Um conhecido escanção francês,  quando questionado sobre os melhores vinhos tintos para beber no Verão, a temperaturas ambiente perto dos 30 graus ( e mais) respondeu de forma clara:

-"Qualquer um dos grandes vinhos . O verdadeiro conhecedor bebe  em ambientes refrigerados com ar condicionado".

Pondo de lado o imperialismo da resposta - Oh miserável, vai mas é comprar à Sanyo o Ar Condicionado antes de fazeres a garrafeira no T2 onde pernoitas! - devemos saber que existem vinhos tintos  mais indicados para o Inverno e outros para o Verão.

Mesmo que  a temperatura de serviço seja a mesma em qualquer mês do ano, o certo é que os 17º da garrafa em Agosto e os mesmos 17º em Novembro nos "parecem" bem diferentes.

Direi que não só nos parecem, como também nos sabem a diferente. Para já não dizer que, em plena canícula agostiniana, muito rapidamente os 17º do vinho na  garrafita chegam aos 25º nos copos, se não bebermos depressa...

Variáveis como a idade, estrutura, casta, acidez e até a cor do vinho, podem pesar na balança da decisão sobre o que será um tinto mais adequado para as temperaturas elevadas.

De facto, são os taninos, corpo, acidez e grau álcool que normalmente vêm de mãos dadas com potencial de envelhecimento e fazem a base do que se convencionou chamar "Grandes Vinhos".

Mas nem só dos Petrus, Cheval Blanc e Barcas Velhas vive o enófilo.  E há vinhos tintos muito bons para todas as ocasiões, mesmo que seja em pleno Verão.

À beira da praia, perante um almoço de peixe grelhado, penso que apenas um empedernido apoiante do velho ditado "vinho é tintobranco é refresco"  continuaria a refugiar-se no tinto.

Mas admitindo que a noite já caiu e que estamos perante a hipótese de um jantar elaborado, onde a ementa, embora mais aligeirada, tem pratos de carne, porque não apostar num tinto jovem e mais leve?

Os antigos lavradores diziam que,  no Dão,  o branco era para o Inverno e o tinto para o Verão.  Há alguma verdade nisto, sobretudo se tivermos na mesa os brancos velhos de encruzado e os tintos mais novos de alfrocheiro ou de touriga.

Um destes tintos novos de grau álcool mais contido acompanha magnificamente pratos ditos "de verão" onde a carne predomina (ou não). Lembro-me por exemplo da família dos tártaros e carpaccios, não esquecendo os souflés e até alguns fricassés de aves.

E para não estar sempre a falar do Engº Álvaro de Castro aqui vai outra proposta: Vinha Paz (António Canto Moniz). Por cerca de 8 euros o Vinha Paz colheita de 2014 é uma proposta excelente para as noites de verão, se a comida ajudar. Tem 13º  e é um vinho macio com  fruta silvestre, fresco, pouco encorpado e elegante, com um final longo e persistente.

Claro que entre brancos e tintos aparecem os rosés... 

Algo vilipendiados pelo Macho Luso, acusados de serem "vinhos para damas". 

Todavia serão das propostas mais adequadas aos meses de muito calor e têm (os melhores) aptidões gastronómicas evidentes. Para além de serem daqueles que mais aguentam o inimigo número um do vinho: o vinagre . Do qual por vezes se abusa nos pratos mais veraneantes (escabeches frios e mayonaises vêm logo à memória).

Mas essa será uma história para discutirmos mais tarde.

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