terça-feira, maio 17, 2016

Sovinas e outros Invejosos



Acordei a pensar num amigo infelizmente já falecido e com o qual "contracenei" vários anos nas minhas funções. Ele, e mais alguns de que não darei nomes (obviamente), eram peritos na nobre arte de passar por entre os pingos da chuva no acto do pagamento.

Provavelmente a "câmara lenta" teria sido inventada quando alguém reparou no tempo que cada um destes senhores ( e senhoras) levava a tirar a carteira do bolso do casaco ou da mala.

Estes profissionais da poupança tinham esquemas admiráveis. Um dos que presenciei consistia em , chegados ao restaurante, pedirem um vinho dos caros que não havia na carta.  Perante o lamento do funcionário que os atendia a resposta era rápida:
"- Era isto que me estava a apetecer...Se não há,  olhe, dê-me uma imperial. Mas sff traga-me só o copo quando chegar o prato de comida à mesa! Não aprecio beber sem acompanhamento!".

Era uma espécie de  gente que telefonava para quem os convidava para um acontecimento público, como um concerto, e dizia com uma "lata" grandiosa:
-"Boa tarde! Venho confirmar a minha presença no concerto. Tenho um pequeno problema que decerto me vai resolver. Em minha casa jantam hoje comigo dois amigos. Sff mande-me bilhetes também para eles."

Quando começámos a fazer apresentações públicas dos nossos livros existia uma lista de individualidades a quem dávamos os livros porque tinham colaborado com a edição, oferecido imagens, etc...

Os tais "muletas negras" das borlas pareciam os abutres do Lucky Luke à espera do cadáver.
Logo que percebiam que havia livros oferecidos e outros vendidos não hesitavam.  Dirigiam-se à "banca" e apresentavam-se, Depois continuavam a conversa dizendo que tinham colaborado activamente na divulgação do livro. Se não fossem eles nem fulano nem sicrano teriam tido conhecimento do assunto. E acabavam exigindo um exemplar.

A frase mais utilizada por tais criaturas é sempre: -"Hoje paga você. Mas para a próxima sou eu! Está combinado!"

A "próxima vez" calhava sempre a 30 de Fevereiro...

Uma vez fizemos a folha a um destes sovinas. Tratava-se de uma daquelas reuniões com centenas de colegas, num hotel da zona centro onde dormíamos de seguida.

Perante a conhecida mania do "encostanço às notas dos outros" de um colega, achámos que estava na altura de lhe dar uma lição de boas maneiras. Conseguimos saber o número do quarto dele e a partir daí todas as bebidas consumidas por nós  no bar iam para aquele quarto!

Na altura da saída - e estamos a falar da época dos "contos", onde um whisky à noite depois da reunião de trabalho não parecia nada mal, e custava uns 200 escudos - o "homem" chegou-se ao balcão e pediram-lhe 17 contos de consumo de bar!

Os uivos ouviram-se no hotel todo...Bem feito!

A inveja , tal como a sovinice, também é uma coisa feia...

Eu tinha por norma basar sempre na altura dos jantares dessas reuniões magnas de trabalho com centenas de participantes.  Ia comer onde bem me apetecia, escolhendo os melhores restaurantes da zona onde era a reunião.

O Presidente dos CTT na altura - que gostava de comer bem e de beber ainda melhor, tal como eu - ficava furioso quando percebia que o "Je" já ia a caminho do leitãozinho do Mugasa, com um ou dois colegas, deixando para trás a reles carne assada da comunidade...

Então (invejoso do caraças!) colocou as minhas colegas das Relações Públicas à espreita do (s) impetrante (s) que se baldavam ao jantar comunitário. Estava eu a sair do estacionamento do hotel e lá vinham a correr as colegas:
-"Oh Doutor! Olhe que o Dr. Pilar já anda a perguntar por si! Tem de se sentar à mesa dele!"

E lá ia eu, porque o respeitinho era de mote com uma "criatura" daquelas...

Logo que me via o Presidente mandava logo a bojarda:
- " Queria comer bem não? E Beber melhor? Pois eu também! Sente-se aqui e aguente porque eu faço o mesmo! Era o que faltava! Você no bem bom e eu aqui a comer m***!

Bons tempos malta!

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