segunda-feira, novembro 25, 2013

Carnificina

A gastronomia do Brasil - país de dimensões continentais - é obviamente fecunda e abrangente, herdeira de tonalidades africanas, europeias e até caribenhas (estas também "filhas" e "netas" de outras latitudes).

Desde a Baía, que me parece ser o cume gastronómico do grande país, até às necessidades que aguçaram o engenho dos exploradores de Minas Gerais, como o célebre "feijão tropeiro" que a tradição mandava ser  comido em cima do dorso do cavalo. Passando pelas feijoadas completas, sinfonia gastronómica que por si só daria para incluir o Brasil no Livro de Ouro dos gourmands que também são gourmets.

Hoje os grandes chefes de cozinha estão um pouco por todo o lado, talvez até mais em S. Paulo do que no Rio ou em Brasília. S. Paulo tem até a fama de ser um dos locais do mundo onde a cozinha de fusão mais se agiganta. Mas mesmo sem irmos por aí , restaurantes japoneses, italianos e de expressão mais francesa pululam . Quase todos muito  bons e também caros. Helena Rizo, Alex Attala, são nomes hoje já bem conhecidos pelo mundo e não só no Brasil.

Mas quando se fala de forma mais plebeia em restaurante no Brasil é normal que se ligue o assunto  ao Churrasco.

No Rio de Janeiro a churrascaria mais "badalada" é o Porcão Rio's, no Aterro do Flamengo.
Tem uma maravilhosa vista em frente, sobre a Baía de Guanabara e o Pão de Açucar, está situado dentro de um "resort" primorosamente ajardinado e cuidado. Tem tudo para "encher o olho" de quem entra, até - e nada de pasmar - a variedade da oferta.

Esta começa por um bar de Sushi bem fornecido e com chefes à espera das nossas instruções. Segue por um buffet de saladas que inclui algum peixe e marisco também. E tem como apogeu o carrocel de carnes grelhadas. Uma autêntica "carnificina" que se desenrola à frente do pacato patrício, incitando qualquer "vegan" a "desarriscar-se" dessa confraria, abraçando in extremis os sucos , os sabores e o sangue da verdadeira carne.

Proeza de vulto será aguentar mais que três "voltas" dos espetos. E ter ainda estômago para as sobremesas (que poucos solicitam. Et pour cause...).

Sendo o Rio de Janeiro como é, cidade da praia e do culto do corpo - tanto para elas como para eles - é engraçado ver senhores industriais brasileiros convidarem para a orgia "gringos" de todo o lado, desde os USA até ao Japão, incitá-los a comer e ...acompanharem os ditos com duas incursões frugais ao sushi e às saladinhas... Apenas.

Com bebidas é de prever cerca de 250 reais por cabeça. Aproximadamente 80 euros. Muito caro para o Brasil e também já um bocado "puxadote" para o tuga às voltas com a crise...

Mas tal como o Carnaval só passa uma vez por ano, ir ao Rio e não entrar uma vez nesta desbunda completa seria como ir a Roma sem cumprimentar (salvo o devido respeito) o Papa Chico.
 







Um comentário:

Américo Oliveira disse...

Ilse Losa, numa obra editada no final da década de 1950 que relata uma sua longa viagem pelos Estados Unidos e depois de nos esclarecer que um operário americano ganhava mais numa hora de trabalho que um português em três dias, invocava esta «questão de comidas, sempre tão discutida pelos que viajam por outras terras e voltam convencidos de que só na sua é que se sabe cozinhar, e só na sua se não passa fome» para nos dizer o seguinte: «adquiri uma filosofia minha: deliciosa só a comida da nossa infância. Tudo o resto não passa de hábito. Afirma o velho provérbio alemão: o parolo, o que não conhece, não engole».
Estava a ler este relato gastronómico e a lembrar-me da divinal carne de sol que comi numa fazenda do Mato Grosso do Sul…