sexta-feira, novembro 23, 2007

O outro "Palhaço de Deus"

Morreu Maurice Béjart.


Para alguns ficará apenas a estranha história da sua visita a Portugal (penso que foi em 1968) e poucos dias depois do asssassinato de Robert Kennedy .


Antes e nos intervalos do espectáculo que deu aqui em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, Maurice proclamava mensagens de revolta contra a intolerância e qualquer tipo de ditadura. E foi aplaudido 20 minutos seguidos!

Por ter tido essa coragem Salazar expulsou-o do País. Dizem os entendidos que foi esse o principal motivo pelo qual o Presidente da Gulbenkian Azeredo Perdigão cortou relações com Oliveira Salazar.

Depois do 25 de Abril , Béjart foi de imediato convidado a fazer o mesmo espectáculo e, é claro, veio e encantou e eu estava lá para ver, já no Coliseu, o seu "Romeu e Julieta".

Mas Béjart não foi apenas um grande coreógrafo. Foi sobretudo um revolucionário da dança e um visionário do espectáculo.

As suas ideias nem sempre resultaram do ponto de vista artístico. Por exemplo, é conhecida a forma como dirigia e escolhia os bailarinos, abdicando muitas vezes das grandes figuras mundiais para escolher valores ainda não testados junto das grandes audiências.

Alguns diziam que seria por apostar na juventude e na renovação. Outros diziam que era porque no "seu" espectáculo estrela só devia haver uma : ele e mais ninguém.

Embora muitos doutos críticos e personalidades "bem falantes" tenham nele visto (até na aparência física) ares de Mefistófeles , o que Béjard secretamente adoraria, penso que é o título do Ballet que escreveu em 1971 em louvor de Nijinsky - "The Clown of God" - que lhe deve ser atribuído nesta saída de cena aos 80 anos.

Que descanse em Paz.

Nenhum comentário: