terça-feira, janeiro 31, 2012

Notícias alarmantes

Quem leu os semanários neste fds pode ter começado a perceber que as coisas não parecem muito boas para Portugal no que toca à tão ansiada "confiança dos mercados" , que se traduziria em  nos voltarem a comprar dívida a juros aceitáveis.
Enquanto que a Espanha e a Itália (para já não falar da Irlanda, que  - e muito bem - desapareceu completamente dos radares) obtêm preços cada vez mais baixos para se financiarem, Portugal , ao contrário, só consegue obter dinheiro a juros proíbitivos...

E há já quem escreva claramente que a zona euro deve ser liberta de Portugal e da Grécia, Países periféricos  que não podem cumprir as suas obrigações... E quem o escreve são altos especialistas das mais importantes instituições financeiras... Cito o Expresso on line:

Portugal: risco de incumprimento acima de 73% e juros a 10 anos em 17,39%
A crise da dívida agravou-se segunda-feira significativamente, com novos máximos no risco de default e nos juros das obrigações do Tesouro no mercado secundário.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/portugal-risco-de-incumprimento-acima-de-73-e-juros-a-10-anos-em-1739=f702115#ixzz1l1fCmRCr

Pelo caminho que as coisas estão a tomar reforço a pergunta (ou a dúvida) que muitos e bons economistas têm:

"Se com a austeridade não convencemos ninguém e só afundamos a nossa economia, não seria de lá chegarmos pelo outro lado? Ou seja, acarinhando mais os agentes económicos, deixando respirar empresas e particulares?"

Sócrates era muito teimoso. Talvez esse fosse o seu pior defeito, juntamente com um ódio atávico em relação  às opiniões dos outros que discordavam dele... Não me digam que agora nos calhou na rifa um seu clone? Outra vez?

Pobre País...

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Biqueirões, Ventrescas e Robalos de mar

Feita a "convocatória" para o almoço deste Domingo passado , logo o duo comilante (eu e o meu senhorio) nos apresentámos à porta de armas, trazendo na bagagem o apetite e meia dúzia de  garrafitas de branco para ajudar à liça, que se previa famosa...

A "convocatória" tinha por causa mais próxima - se alguma tivesse que haver, para além do gosto de estarmos uns com os outros a comer coisas boas - o fato da costa de Cascais estar nesta altura a "dar" robalos de grande categoria. E antes que entre o Fevereiro, mês onde o peixe começa a perder qualidades, era de aproveitar esta munificência neptuniana, aqui praticada pelas mãos experientes do nosso Amigo Tó Simão,  Pescador e Armador , que quis oferecer aos amigos mais chegados dois dos maiores Robalos que tinha apanhado na véspera.

No Beira Mar  começou-se por umas santolas , onde todo o recheio foi para dentro do casco sem mais nada.  Seguiram-se uns biqueirões simplesmente cozidos , tão frescos que pareciam ainda saltar da travessa. Depois  a barriga do atum fresco (ventresca) assada no forno, apenas "estalada" para não afetar o delicado sabor desta carne, tão rara de se ver aqui em Portugal sem ser de conserva. 

E terminou-se em beleza, com dois robalos, um de 4,8 kg e outro de 3,5kg, assados no forno à portuguesa , com tudo a que tínhamos direito.  Vi os bichos ainda por amanhar e estavam tesos como a espada do Afonso Henriques! Pegava-se pelo rabo e dali até à cabeça nem a mais pequena curva fazia o corpinho!

Para beber vim provido de casa com 3 tipos de vinho branco: para começar um Alvarinho,  depois o Douro  Bétula, uma experiência de grande classe feita de viognier e de sauvignon e para terminar em beleza, o Reserva 2009 da CARM, um dos melhores brancos portugueses atuais.

O grande comerciante (bacalhau e outros peixes) Manuel Maria fez parte do bando e trouxe com ele o tinto da sua quinta, excelente! E dele todos nos servimos para acompanhar o queijo de Azeitão e o Jamon com que se encerraram as hostilidades. Encerraram é uma maneira de dizer, porque o Paulinho tinha vindo "armado" lá da sua Galicia com uma  aguardente branquinha de Alvarinho, particular, que estava de chorar por mais...

Chegámos a casa mesmo a tempo de ver o Sporting.. E para terminar tudo em beleza, depois do Benfica e do Sporting terem ganho, lá nos entretivémos a ver a desgraça do Porto.

Ele há dias (e noites) que não deviam nunca acabar... São é poucos.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Para Descansar a Vista

Está hoje um dia glorioso e, por muito que se peça já chuva,  dispôe bem levantarmo-nos e chegar à extensão prateada do Tejo com o Sol magnífico a iluminar um céu azul como só Lisboa tem.

Este Sol aberto num céu sem nuvens acompanha muito bem  o diálogo matinal de Vitor Cotovio e Margarida Cordo , na TSF, porque o tema hoje era a "importância do riso".

Sol, Mar e Riso. Trilogia mágica que dá forças ao luso indígena para ir atravessando este ano de todos os perigos. Sendo garantido o Sol e o Mar, o que podemos fazer quanto ao Riso?

Reparem que uma dos notícias do dia será a "ameaça da Liga (e dos três grandes clubes) de fazerem greve,  pararem todos os campeonatos, se o Governo não aceitar discutir com eles a grande dívida que foram acumulando"  (leia-se, adiar os pagamentos ou perdoar parte dos mesmos).

 Daria vontade de rir se os tempos não fossem o que infelizmente já são...

Outra notícia dá conta que "O processo de extradição de João Vale e Azevedo do Reino Unido para Portugal foi adiado pelo tribunal de Westminster para 2 de Março pela necessidade de analisar novos documentos entregues pela defesa ao tribunal, designadamente um depoimento em que um juiz português em actividade questiona a validade dos julgamentos de Vale e Azevedo em Portugal."

Imaginem como o Dr. Vale e Azevedo se deve estar a rir!

Para continuar nesta senda do riso ou do sorriso, aqui vai poema da grande poetisa brasileira Cecília Meireles (1901,1964). Cecília também sabe que para Rir é sempre preciso Mar, Céu e ... Alguém.



Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?

É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.
Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?

— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas...
Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje esta música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Ter mais olhos que barriga

Esta antiga injunção lusa "castigava" aqueles "gulosos" que cobiçavam alguma iguaria sem depois ter apetite para a comer. Hoje em dia pode ser também um  sinónimo popular para determinado tipo de  egoísmo: "mesmo que não a possa ter  também não há-de ser para ti!"

Mas no seu significado original tinha a ver com a fome que no século passado, nas décadas de 20, 30, 40 e até ao 25 de Abril,   muito ao contrário do que afirmava a propaganda do Regime e da fábula da "Casa Portuguesa", de fato fustigava as nossas aldeias, vilas e até cidades. 

Hoje em dia ( e espero que o futuro não me faça arrepender de escrever isto) para muitas pessoas  a fome e a vontade de comer  estão felizmente mais directamente ligadas às emoções ( a tristeza, a desilusão e a depressão) e muito menos às condições cruas da sobrevivência.

Fome física é a que é necessária para alertar os sentidos para a nossa sobrevivência, enquanto a Fome emocional vai  muito para além dessa necessidade. É a compulsão para comer, levando-nos a comer pelas mais variadas razões, mesmo que já estejamos saciados.

Dizem os entendidos que esta compulsão para comer emocionalmente, estimulando assim os centros de prazer do cérebro,  pode ter origem num comportamento social muito comum pelo qual todos ou quase todos  passámos na infância: quando sofríamos algum desconforto ou nos magoávamos, e chorávamos, recebiamos em troca um beijo e um  chocolate ou um bolo,  como compensação.

Na modernidade dos Países desenvolvidos a carência alimentar e as suas desordens estão sobretudo relacionadas com  este  conceito de fome emocional.

Mas a fome física ainda existe. No Mundo obviamente, com grande relevo para a África Subsahariana, mas  agora também começa a manifestar-se em Portugal.

Tive ocasião de privar com velhos aldeões lá na Beira Alta, 30 anos atrás ,  tendo eles 70 e muitos anos. Eram pessoas que tinham vivido durante as duas guerras - nascidos em 1905 ou por aí - e que sabiam o que era a fome verdadeira, aquela que os levava a fazerem sopas de ervas do campo e a beberem litros de água para enganar os estômagos vazios. Não só sabiam o que era a fome físicamente, como a temiam deveras e, por isso mesmo, quando se apanhavam nalgum casamento ou batizado, daqueles que duravam 3 dias (como foi o meu) aproveitavam os comestíveis disponíveis até exagerar. 

Tinham mais olhos que barriga!  Era verdade, e acabavam mal dispostos, quase sempre a vomitar . Mas temos que desculpá-los. O que estavam a fazer era a "armazenar" para os dias maus, como faziam nas suas juventudes, imitando os animais que praticam a hibernação.  E recordavam-nos  sempre que naqueles tempos  "quando o pobre comia galinha um dos dois estava doente"...

Durante o meu casamento, em 1981, um desses velhos camponeses pediu licença para se chegar à minha sogra e disse-lhe:

"Dª Maria, este foi o melhor casamento a que fui! Só sopas tinha três: a amarela, a verde e a castanha!"

Lá percebemos depois que se queria referir ao leite creme, ao caldo verde e à cabidela de leitão...

Era o Tio Santidade de quem vários vezes falei aqui no Blogue. O tal que andava sempre com um osso de frango, ou de coelho, ou de cabrito no bolso.

Na opinião dele:  "Só de cheirar o osso já tenho peito para um copito de tinto!"

E quem achar que era o Tio Santidade um velho besuntão, tenha cuidado. Pois El-Rei D. João VI era conhecido por também andar sempre com coxas de frango nos bolsos do real albornó!

Aqui a diferença é que um trazia o osso, o outro trazia a carne...

Como vêem o mundo não mudou quase nada. E é pena.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Leitoa ou leitão?

Vicissitudes da vida de trabalho levaram-me a Pero Pinheiro um destes dias. Já que estávamos perto de Negrais  houve que ir manducar para aqueles lados onde,  em tempos idos,  "reinava" como um dos maiores fornecedores de mármores  e granitos decorativos o excelente Sr Casinhas, grande amigo de  meu Pai.

Conhecido pelo seu grupo de compinchas, todos fiéis devotos da leitoa de Negrais, o Sr Casinhas tinha "defrontado" meu pai durante o Pau de Fileira da remodelação do Palácio de S. Bento (à entrada do Prof. Marcelo Caetano) num conflito gastronómico épico à volta de leitoas de Negrais, de que ainda hoje guardo memória e que já descrevi aqui no Blog. Por muito habituado que o famoso "três cús" ( a carinhosa alcunha que lhe davam os Amigos) estivesse àquelas refregas, nesse dia foi o Vitor Moreira que levou o troféu para casa.

Mas divago. Em Negrais tomou-se o rumo do:

Restaurante O Caneira
Avenida General Barnabé António Ferreira 171
Negrais
2715-315 ALMARGEM DO BISPO
Telefone - 219 670 905

Boa impressão imediata. Boas salas (duas); cave climatizada para os vinhos bem à vista; instalações sanitárias de qualidade e convenientemente segregadas , bons panejamentos, bons guardanapos. Pessoal gentil e atencioso (talvez um pouco ansioso de mais em acomodar o cliente, mas são os tempos que correm).

 Casa com 21 anos feitos em Janeiro, atingiu assim a maioridade civil, veremos se o conseguiu também gastronomicamente falando.

O Ex-Libris deste local é a antiga "Leitoa de Negrais" assada aberta sobre um fogo de lenha, sendo bastas vezes salpicada com um molho especial que variará de casa para casa. Trata-se de um muito antigo (talvez mais de 200 anos) prato das feiras limítrofes, que seria preparado a céu aberto nas festas religiosas da época, desde a Nª Srª do Cabo até à Nª Srª da Luz, passando por Caneças e pelas Mercês.

Entradas joviais da casa, com relevo para os pezinhos de leitoa (são de coentrada). Têm morcela e presunto espanhol, e ainda um paté de leitoa.

Depois, nas coisas de relevo, existem pratos do dia interpretando o receituário tradicional português "pesado" - desde a feijoada até às mãos de vaca com grão, passando pela dobrada e pela língua de vaca com puré de batata. Mas que inclui opções mais dirigidas a crianças ou a dietas.

Para além da leitoa, sobressaem ainda na área principal da carta vários peixes do dia, bacalhaus e outras  propostas carnais mais vulgares.

A carta de vinhos é completa quanto às regiões "estrela", Alentejo e Douro, mas algo fraca em relação às outras propostas. Mesmo assim os preços são mais baixos do que em Lisboa. Por exemplo, o excelente Crasto, tinto de 2009,  a 19€.

Mas vamos às provas:

Dois passantes enfiaram uma morcela assada (4,20€)  e seguiram pela Leitoa.

A morcela vinha torrada de mais na minha opinião, e  com  as minhas memórias recentes lá de Seia, perdeu em confronto com o "material" mesmo beirão. As rodelas querem-se mais altas e suculentas, para evidenciar a qualidade da matéria prima. Salvou-se a laranja que acompanhava a morcela, de grande qualidade , muito doce !

Da  Leitoa, e bem aconselhados pelo pessoal, mandámos vir apenas uma dose, a cerca de 18€ e que dá bem para 2 pessoas, se não forem do género "Casinhas" está claro! Vinha com batata frita "chip" , boa, em rodela muito fina. Salada pagava-se à parte (para quem o desejasse). Verde só a relva, como dizia meu pai, pelo que se mandou a salada à fava nesse dia.

Bem assada, pele vidrada e estaladiça, mas...a forma de preparação,  com a leitoa  "escalada", resseca obviamente mais as partes carnudas do animal do que a assadura da Bairrada, com o leitão fechado e espetado. As costelas estavam divinais, bem aconchegadas pela gordura intersticial, a febra da perna (lá está) um pouco mais seca...

Com isto bebemos um espumante Vértice cuvée de 2008 (muito bom e a 16€). Tomámos 2 cafés e Ala para Lisboa sem mais nada , que aquelas estradas saloias são acomodatícias a todo o tipo de encontros...Bons e Maus.

Continha para 2 pessoas, incluindo pão : cerca de 42€.

Em conclusão: casa para lá voltarmos, sem dúvida, até porque nos ficou na ânsia o experimentar aqueles pratos do dia tão politicamente incorrectos hoje...

E se me perguntarem qual prefiro,  o Leitão da Bairrada ou a Leitoa de Negrais, direi: prefiro o da Bairrada. A não ser que a Leitoa de Negrais venha só com costela... Aí, e em dia santo, sou capaz de dar empate...

terça-feira, janeiro 24, 2012

Filhos da Crise: Oportunidade e Oportunismo

Já se sabe que não há ocasião que não tenha o seu ladrão. Mesmo com as coisas a piorarem de dia para dia deve haver gente (tenho algum rebuço em chamar-lhes pessoas) que estão a ganhar com a crise e à custa dos outros. Isto é velho como o mundo...Já nas campanhas Napoleónicas havia industriais franceses a ganharem dinheiro à custa do calçado deficiente que mandavam para a frente russa...

 E não houve guerra mundial ou período de racionamento que não tenha visto "florescer" a  classe social dos pantomineiros do mercado negro, que roubavam aos militares - muitas vezes com o acordo pago a peso de ouro de alguns deles - para vender aos civis, com lucros enormes. Alguns (poucos) foram enforcados. Muitos fizeram fortuna.

Na altura em que estamos - e por muito que digam ainda não chegámos a esse ponto do mercado negro, das leis marciais  e dos enforcamentos dos mixordeiros e ladrões - são sobretudo os chicos espertos que começam a pulular por este Portugal.

O caso que discuto e do qual começo por fazer aqui um enorme "proviso": sendo verdadeiro como parece que é e foi relatado pela TSF hoje mesmo, enche-me de tristeza e de vergonha.

 Segundo parece, terá acontecido que uns senhores vendedores da MEO,  lá para cima, em aldeias de Trás-os-Montes, desataram a enganar os pobres tristes que ali moram àcerca do fim das emissões da TV e da "necessidade imperiosa" de fazerem contrato com a MEO, sob pena de "chegar o 1º de Janeiro e já não terem televisão em casa".

Fazer o contrato fizeram todos, ou quase todos...O pior foi começarem a chegar as contas ao fim de cada mês.. Em vez dos 8 ou 9 euros que lhes tinham prometido antes de assinar, a faturazinha chegava aos vintes e tais... Todos os meses. Isto para gente que se calhar tem 300 euros por mês para viver...

"Mas assinaram os contratos", dirão alguns.  Assinaram sim. E alguém os elucidou sobre a matéria? Saberiam que pagando 90 euros (ou menos) uma só vez, teriam a TV em casa como antigamente?

Estas coisas são das poucas que me fazem ter ideias  de "vigilante" ou de "vingador"... Ludibriar desgraçados que já mal têm para comer? Muitos (quase todos) a bater nos "oitentas"?

Bem, não digo que se ergam outra vez as forcas nos cruzeiros, como nas guerras liberais, mas uns sopapos à moda da Beira Alta ? Só se perdiam os que caíssem no chão... Há tanto pau de marmeleiro a estragar-se por aí, sem uso...

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Pensões, priveligiados, galinha de campo e laranjas da quinta

Que esquisitice  de título! Agora é que o gajo pirou de vez!

Calma amigos leitores! O título tem a ver com o grito de alma do nosso PR, aflito porque a pensãozinha de 10,000€ não lhe chega para as despesas...

Tudo tem a sua explicação. Ora leiam:

Comecemos por notar que 10,000€ transformam-se rapidamente em pouco mais de 5,000 depois do Sr.Estado se servir. A partir daí é só espreitar o caderno das despesas do PR (que o deve ter, pessoa organizada como poucas! E poupado!):

Ginásio - Não usa. Automóvel - o do Estado. Gasolina - a do Estado. Colégios dos Filhos - já sairam dessa. Mercearias, carne e peixe: poucas, S. Bento tem cozinheira paga pelo Estado. Gás, eletricidade e outras commodities: só as da sua casa particular, que pouco usa, mesmo assim admitamos 500€ incluindo o condomínio. IMI: vamos supor 200€ por mês (casa de Lisboa e Algarve).

Mau, mau, Maria  que me vejo aflito para encontrar despesas...

Vamos lá a ver mais coisas: Tabaco: não fuma. Refeições fora : tem Despesas de Representação. Fatos, camisa e gravatas: Os que não saem das despesas de representação. Admitamos 500 € por mês. Jornais e revistas: mandam-lhe. Despesas com o pessoal: paga o Estado.

1,200€ já estão justificados.  Agora, com a esposa também a gastar, (supomos que mais do que os 800€ que tem de pensão) para cabeleireiros , manicures, SPA e afins, admitimos que para ali irão mais  1,500€ do ordenado do marido.

No fim de contas, se não fossem as galinhas do campo e as laranjitas que o feitor lhe envia de Boliqueime, via-se o Homem aflito para sobreviver. E agora que falo nisso, tirem lá mais 1,500€ por mês para as despesas da quinta.

Tudo somado serão 4,200€! Mas não consigo descobrir onde gasta os outros 1,300€ que lhe sobram. A não ser que os ponha de lado, para a sua proverbial poupança, com receio de alguma doença, como faziam os pobres no tempo do Botas...  Deve ser isso.

Em conclusão: Ele vê-se aflito para chegar ao final do mês com alguns trocos no bolso... O que dirão os casais que  ganham menos de 1,500€  por mês e têm que sustentar ainda 2 filhos a estudar?

Se calhar não existem. São alguma ficção inventada pelos malandros dos comunistas e dos sindicalistas! Essa gentinha que só está interessada em que o país não progrida ao ritmo da Troika!

Haja Paciência!

Ou, como muito bem cita Pacheco Pereira a Sá de Miranda, no seu "Abrupto":

"M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ...

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Para descansar a Vista

São estes os Tempos para encontrarmos alívio em coisas mais imateriais. Deixemos por um dia os prazeres da carne ( e do peixe, e dos queijos, e dos vinhos e do paio do lombo, e ...pára aí bruto!).

Já me perceberam. Seja hoje um dia de contemplação de coisas etéreas e mais puras do que o costume.

Homenageio a Beleza.

Essa qualidade subjetiva cujos atributos variam para cada um de nós , mas que não deixa ninguém indiferente.

A Beleza do espírito, sem dúvida, mas também ( e sempre!) a Beleza material dos objectos, que nos permite desenhar um sorriso nos rostos punidos pela vida, e usufruir a preço módico (uma simples entrada num museu, por exemplo) do mais efectivo anti-ansiolítico e  anti-depressivo que conheço:  a criação - mesmo que momentânea - de uma zona de conforto que nos embale os sonhos.

Para este objetivo faço apelo a meu Mestre Torga e à sua "Ode à Beleza".



À Beleza

 Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.

És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga, in 'Odes'

quinta-feira, janeiro 19, 2012

A Vida custa a todos! (ou não?)

Sabe-se que o Estatuto dos gestores públicos está por aí a aparecer, limitando o vencimento bruto de todos os Presidentes do SEE ao vencimento bruto do 1º Ministro, situado em redor dos 5300 euros mais despesas de representação. E depois por aí abaixo, em escadote.

O Jornal Público relata sobre esta situação uma previsível quebra de 32% nos vencimentos dos gestores públicos que venham a ser contratados para estes lugares (já que os outros ainda com contratos a vencer não serão afetados):

"O salário dos gestores públicos não pode ser superior aos 5 300 euros recebidos pelo primeiro-ministro. O decreto-lei que fixa as novas regras de recrutamento e selecção dos gestores públicos foi publicado hoje em Diário da República.

No entanto, tal como acontece com o cargo de primeiro-ministro também podem receber 40% do salário, ou seja, 2120 euros, em despesas de representação durante 12 meses.
O diploma entra em vigor amanhã, mas não altera o vencimento para quem está actualmente em funções. Além disso, prevê excepções a estas regras para as empresas “cuja principal função seja a produção de bens e serviços mercantis, incluindo serviços financeiros, e relativamente à qual se encontrem em regime de concorrência no mercado, mediante autorização expressa do membro do Governo responsável pela área de finanças".
Os gestores das empresas públicas que exercem funções em empresas concorrenciais, como a TAP ou a CGD, poderão optar pela remuneração média dos últimos três anos do lugar de origem."

O que acho disto? Sinceramente acho que o 1º Ministro recebe pouco, e que alguns Presidentes de Empresas Públicas recebem muito...Mas não todos.

Os presidentes dos BCP, BES e CGD auferem aproximadamente 35000€, 29000€ e 27000€ por mês...E destes só o BES (segundo penso) ainda se pode considerar completamente privado.

O Presidente da TAP vai nos 44500€ mês (tudo incluído). O da PT (com afetação de resultados) anda pelos 71000€ por mês também.

Os Reguladores Banco de Portugal e CMVM andam na ordem dos 27500€ também mensais.  O da ANACOM entra nos 16000€.  O atual Presidente em exercício dos CTT aufere aprox. 10700€ mensais.

Os Presidentes dos Tribunais Superiores ( de Contas e Institucional) baixam a fasquia para os 8500€ por mês.

Um Eurodeputado recebe 10500€ por mês. Um Deputado aqui do retângulo ganha aprox. 3900€.

Mas um neuro-cirurgião de topo (na área privada)  ganha 50 000€ e o Chefe de Serviços de um Hospital privado pode chegar aos 70 000€ (Por mês! Não por ano!!)... Lugares de igual responsabilidade e com exclusividade nos Hospitais Públicos são remunerados a 5000€ mensais (o que explica muitas coisas).

Material para reflexão. Quanto receberia Jesus Cristo se cá voltasse?

Nota: vencimentos citados (sempre ilíquidos)  referem-se aos ultimos resultados publicados pelas Empresas (2009). No caso das EP's ter-se-ão verificado diminuições em 2011.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Acordo de Concertação Social: Boa fé e Má fé

Quem louva o Acordo que hoje é assinado dirá que embora o fiel da balança tenha virado para o lado do capital e dos patrões, "ninguém  imaginaria que algum patrão, de boa fé e num país da UE utilizasse os regulamentos mais penalizadores dos trabalhadores para desatar a despedir sem razão".

O problema é que a Lei não tem a ver com a boa ou má fé dos que têm de se sujeitar a ela... Se assim fosse não seria necessário existirem leis contra o roubo, ou contra o homicídio, pois "ninguém de boa fé cometeria esses dislates". No entanto essas leis cá estão, para serem aplicadas. E são-no, infelizmente muitas vezes...

O ponto para mim mais complicado no novo Acordo tem a ver com a facilidade de despedimento por causas relativamente subjetivas de avaliar e  facilmente imputáveis ao Trabalhador, como seja a quebra de produtividade.

Exemplifico: nos dias que correm as vendas retraem-se em quase todos os ramos de atividade. Será motivo para desatar a despedir vendedores ou outra gente das áreas comerciais, porque a respetiva produtividade "diminuiu substancialmente em 2011  quando comparada com 2010"?

Foi culpa do vendedor, "aquele madraço que, como todos sabem, passa a vida a comer almoços à empresa e a fingir que visita Clientes enquanto roça os pés pelos salões de snooker com os amigos"?

E, já agora, com a atividade a descer, se os gestores das fábricas diminuirem a produção porque não há forma de a escoar, isso também cai na rúbrica do "abaixamento da produtividade"?  Ou será ajuizado pelo Patrão, caso a caso, como este entender e face à cor dos olhos de cada Trabalhador, sem Tribunal que permita equilibrar as decisões arbitrárias e ditas (com razão) " "intempestivas"?

Imaginem os possíveis descalabros: os patrões utilizarem estas escapatórias para fazerem "limpezas" nos quadros de pessoal, desfazendo-se dos mais velhos, dos mais "complicados", dos mais "assertivos", das mulheres com filhos pequenos, dos que mais faltam por doença, etc, etc...

Claro que quem está na vida e no negócio "de boa fé" nunca faria isso! Mas, e os outros?

Sinceramente, e embora em última análise tenha de lhe louvar a coragem política, juro que não desejo estar na pele do meu conterrâneo de Cascais, Dr. João Proença, a quem tive ocasião de desejar pessoalmente Boa Sorte e Firmeza em todo este processo à saída do Jockey,  num destes dias que antecederam as negociações.

"Foram dias muito duros, foram processos muito longos de discussão", reconheceu João Proença, ontem, aos jornalistas, numa conferência de imprensa onde ainda era visível a tensão da maratona de negociações. "É um acordo de crise e de sacrifícios", assumiu."

E eu não o diria melhor...

Resultado da Revisão

Os resultados foram animadores. Não se partiu nenhum aparelho lá na clínica, nem sequer a balança do peso (o que seria provável). As análises devem estar pouco mais ou menos  (digo "devem" porque só hoje as enviam). O ECG estava normal (grande coração para puxar uma carroça destas). A vista estava o habitual, isto é, tipo rato-toupeira. Em conclusão, a besta deve aguentar-se por mais um anito, pelo menos... até à próxima revisão periódica obrigatória no Centro de Inspeção Técnica.

Tal como meu avô Correia lá da Beira Alta, só peço um ano de cada vez... E assim o velho lavrador e comerciante de gado foi vivendo até aos 95, fumando 2 macitos de "3 vintes" por dia e bebendo sempre. O vinho que ele próprio fazia está claro...

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Amanhã vou espreitar as canalizações

Dia de análises e de consultas médicas... Dia também de rever velhos conhecidos: o Zé Castrol, o Xico Gama (GT), o Manel do  Úrico, a Tia Betes, e outros assim...

Depois na Quarta conto como foi... Se ainda estiver vivo. O que espero que aconteça e será altamente provável, mas não é garantido.

Museu em Braga, com jantar laudatório

No famoso largo dos restaurantes de Braga existe há já muitos anos, desde 1926,  e sempre na posse da mesma família, o

Restaurante Cruz Sobral
Campos das Hortas 7 - 8
4700-210 BRAGA
Telefone - 253616648

A Ementa principal dá já uma ideia do que se trata, comida portuguesa tradicional, com sotaque minhoto, do bom e do puro! Ora vejam;

Vitela Assada à Cruz Sobral (fogão de lenha); Cabrito Assado no Forno (fogão de lenha); Papas de Sarrabulho c/ rojões à moda do Minho (só na época); Lampreia a Bordalesa (só na época);Bacalhau à Nossa Moda; Rojões à moda do Minho; Bacalhau c/ natas; Arroz de pato à moda de Braga; Tripas à Portuguesa com mão de vaca.

Coisinhas leves e de dieta, como vêem... Naquela noite fria de Dezembro, 4 figurões que iam fazer (ou assistir) a uma conferência no Museu Arqueológico da Cidade, tendo como pretexto o novo Livro CTT "História da Arqueologia em Portugal", de Carlos Fabião, entraram por aquelas vetustas portas do Cruz Sobral dentro e não saíram defraudados. Pelo contrário.

A guerra começou com 8 salgadinhos (bons), 1 chouriço assado (muito bom), 1 pasta de atum (enfim...). Depois vieram 1 Cabrito Assado para dois, 1 Arroz de Pato  (desfiado) e 1 Vitela Assada. Todos muito bem feitos . Sabemos a dificuldade em ter bons pratos do dia durante os jantares, pois muitas vezes  são  aproveitados do que não se vendeu ao almoço. Mas aqui parece que se torneou o problema. Nenhum deles, a não ser talvez as batatas do Cabrito, sabiam a esse reaquecimento.

Na apreciação qualitativa dos pratos devo dizer que  as quantidades são grandes, as matérias primas muito boas, a forma de fazer é mesmo a antiga, a que se utilizava nas casas de lavoura (ou outras) há muitos anos atrás. Por isto tudo o resultado final é estimável.

Um garafa de Alvarinho Soalheiro de 2010 (a 17,35€) e outra garrafa de Tinto Crasto de 2009 (a cerca de 19€). Ambos muito bons e a preços simpáticos nos dias que correm.

Com 3 pudins do Abade (ou não estivéssemos em Braga),  1 laranja descascada (para o Je) , um queijo da serra que só pecou ( e foi pecado capital) por estar frigorificado e 4 cafés, pagou-se tanto quanto 112€.

Bom,  relativamente barato e por tudo isso, Amplamente Recomendado!

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Para Descansar a Vista

Sexta Feira, dia 13 de ;aneiro. Dia de má fama e propenso a desastre. Comemora-se miticamente o suplicio do Grão-Mestre dos Templários Jacques de Molay às mãos de Filipe de Valois, Rei de França, na Sexta feira 13 de Março de 1314. Outros dizem que esta má fama da "Sexta Feira 13" resulta da Última Ceia, servida a uma Sexta feira sendo 12 Apóstolos mais Jesus Cristo à mesa.

De todos os modos, como parece que as obediências maçónicas em muito vão beber à tradição esotérica templária, todo o cuidado é pouco quando se fala destas coisas, não vá algum Cabo da Esquadra das Olaias sentir-se ofendido...

Por isso pareceu-me de bom tom transfigurar este dia, propondo um poema ao Sol. Ao Solzinho de todos os dias, ao sol que nos aquece e alegra a existência, não ao Rei-Sol Luis , nem sequer ao princípio superior Aton do velho Akhenaton, o Herege Sagrado, que por muita coisa má que se diga dele, tinha muito bom gosto em mulheres...

Do nosso Ruy Belo, com muitas saudades, o seu magnífico "Quotidiano":


Poema Quotidiano

É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol

Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua

O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos

Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje

Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos

Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou.

Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo

Há quem diga que o sol foi longe demais

Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão

Chegaram a tratá-lo por vizinho

Por este andar... Foi uma autêntica loucura

O astro-rei tornado acessível a todos
ele que ninguém habitualmente saudava

Sempre o mesmo indiferente
espectáculo de luz sobre os nossos cuidados

Íamos vínhamos entrávamos não víamos
aquela persistência rubra. Ousaria
alguém deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe a vida iluminar-lhe as penas?

Mas hoje o sol
morreu como qualquer de nós

Ficou tão triste a gente destes sítios

Nunca foi tão depressa noite neste bairro

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

Pequena Nota angustiada: Será de esconder este poema do pautado senhor que gere os interesses europeus nesta província? Sendo Sexta Feira 13 ainda lhe pode dar ideias para mais alguma coima ou imposto...Sobre os raiozinhos do Sol....

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Deixem passar o Sal Restauradores!

Não deve haver coisas que mais me molestem e tirem do sério do que qualquer tipo de fundamentalismo. Religioso, político, clubístico, seja ele qual for , o fanatismo nunca combinou com a minha forma de estar na vida , nem comigo nem  com os outros a que chamo meus Amigos.

Admito, reconheço, sei e acredito que a quantidade de sal a que alguns portugueses estão habituados possa ser contrária aos preceitos da higiene alimentar dos nossos dias. Cortar nessas quantidades de sal é necessário e configura bom senso tendo em vista a qualidade (e a quantidade) de vida dos "comilões".

Agora, quererem convencer-me  que pelo facto (ou fato)  do peixinho vir do mar salgado já não precisa de sal, nem na panela, nem na grelha??!!

Ou ainda, que o cozido à portuguesa não carece de sal nas panelas,  porque os enchidos já são salgados??!!

Calma gente!  Nem 8 nem 80!

A antiga restauração de cariz tradicional português tinha a medida de ouro para o sal: uma mão-cheia na panela do bico grande, uma mão mais rasa na panela do bico médio. Experimentem e vão ver que esta medida não está fora  do razoável para os nossos dias também.

Apenas tenham em atenção que "bico grande e médio" se referem aos fogões profissionais. Em casa, e por muito grande que seja a panela, a mão rasa  ou meia de sal deve ser quase sempre suficiente.

E desde já aviso:  Restaurante que eu frequentar e onde der conta desta novel tendência de servir tudo insonso, não só deixarei de lá ir como em todo o lado onde chegar darei conta do ocorrido...

Bem bastam as cantinas dos hospitais para comer insonso (salvo seja! e Vá de retro!)

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Banco de Portugal faz previsões de Inverno

Desemprego sobe 1,8%, para um total a rondar os 13% (!!); Investimento baixa 13% (!!); Consumo baixa 6%; Exportações sobem 4%.

Parece que desde tempos recuados , será este o ano em que a Balança de Transações pode vir a ser positiva, isto é, as Exportações ultrapassarem as Importações. Bom sinal, claro, mas é pena que seja à custa da queda do Consumo e do Investimento.

O ideal seria exportarmos tecnologia e maquinaria high tech, e importarmos matérias primas e produtos agrícolas... E se assim a Balança de Transações fosse positiva, Ótimo e Caramba!

Agora , ter uma boa Balança de Transações à custa de deixar de comprar o frigorifico e a máquina de lavar, aguentar o carrito por 15 anos, e utilizar o Magalhães obrigatoriamente em todos os Serviços Públicos e equiparados?

Tenham santa paciência!

O círculo vicioso que temos neste momento é de simples compreensão: Sem Investimento não há criação de Emprego, sem emprego não há Consumo; sem Consumo aumentam as falências; com as falências aumenta o Desemprego...

Bem sei que o Governo-Feitor e a Troika que de fato ( e gravata) nos governam insistem na velha e relha regra de ouro dos "ultras": primeiro consolidar o equilibrio nas contas públicas e só depois disso "despertar" a economia.

O problema que eu levanto é apenas este: " E se na altura de reavivar o doente , este já estiver mas é a fazer as pazes com Deus Nosso Senhor? Como o desgraçado do cavalo do inglês,  treinado há semanas  para deixar de comer,  quando ...morreu."

Morre-se das doenças e morre-se das curas.   E o estupor do Médico é o mesmo.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Já há ameaça de seca?

Portugal terá tido um dos mais chuvosos Outonos de que há memória. Mas como Dezembro e Janeiro vieram sem chuva, já se ouvem compadres nas TV's a "queixarem-se da seca"...

Pouco percebo destas coisas da "Ingríciola", a não ser aquilo que me vem parar ao prato, mas por isso mesmo sou grande defensor (direi mesmo, defensor acérrimo e  intransigente!) dos agricultores, pescadores , caçadores e mais amigos terminados em "dores" que abastecem a minha despensa, a minha mesa e finalmente a minha considerável barriga.

Mas mesmo eu tenho de duvidar dos "compadres televisivos da seca"... Então para onde terá ido a águinha que tanto desabou em Outubro e Novembro? Perdeu-se na terra? Então e o Alqueva, não aparou nenhuma? Pensem bem Compadres...

O Sistema de Informação de Recursos Hídricos reporta a normalidade da situação:

"No último dia do mês de Dezembro de 2011 e comparativamente ao último dia do mês anterior verificou-se um aumento do volume armazenado em 8 bacias hidrográficas e uma descida em 4.
Das 56 albufeiras monitorizadas, 16 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 4 têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Os armazenamentos de Dezembro de 2011 por bacia hidrográfica apresentam-se superiores às médias de armazenamento de Dezembro (1990/91 a 2010/11), excepto para as bacias do LIMA, CÁVADO/RIBEIRAS COSTEIRAS, DOURO, TEJO e ARADE."

Para termos Seca ainda falta verificarem-se as características definidas pelo Sistema de Proteção Civil:

"A seca é uma catástrofe natural com propriedades bem características e distintas dos restantes tipos de catástrofes. De uma maneira geral é entendida como uma condição física transitória caracterizada pela escassez de água, associada a períodos extremos de reduzida precipitação mais ou menos longos, com repercussões negativas significativas nos ecossistemas e nas actividades sócio-económicas."

A não ser que os Compadres se refiram a outro tipo de "secas"...

Aí , tratando-se (por exemplo) da escassez do Tinto às refeições, ou durante a sossega da tarde, apenas uma investigação pormenorizada e em primeira mão do fenómeno, em Adegas Cooperativas, poderia confirmar a existência da "seca".

Pensando bem, e atendendo à possível  gravidade destas "secas" localizadas, sendo necessário não me importo de me voluntariar para o trabalho de campo, pode ser em Borba ou na Vidigueira.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Cheirar a "Mar"

Com as constipações de Inverno e as alergias da Primavera vai-se o olfato (ou olfacto). Na maioria dos casos é aborrecido. Noutros, pelo contrário, ainda bem.

Vem este início de conversa para falar da importância que o cheiro tem na cozinha, de como o nosso prazer em comer fica ressentido se para além da vista e do palato não estiver também em jogo o já referido "olfato". Neste fim de semana, aproveitando ter trazido da Beira as couves tenrinhas  que me fartei de elogiar aqui no Blogue, fiz um cozido à portuguesa para os três: Senhora Mãe, Sr. Senhorio e o Moi mesmo.

Mal empregado, já se sabe, para tão pouca gente...Mas com a vantagem de poder ( e assim será!) aproveitado durante a semana, ou tal e qual,  ou em tortilha dos conteúdos, envolvidos em ovo, salsa e cebola.

Mas infelizmente eu estava de nariz tapado. Depois da 2ª infusão do VIC vi logo que "aquilo" não tinha escapatória. Era mesmo preciso comer o cozidinho sem que me subissem pelas narinas os eflúvios divinais das carnes e do caldo das mesmas, à medida que o processo de cocção (ou coção?? isto está a ser penoso, o Acordo raio que o parta!)  se desenrolava à minha frente, dentro das panelas.

E lembrei-me de outras alturas em que esta predisposição para o "tamponamento nasal" me afligiu, umas chatas , mas outras que se transformaram em autênticas dádivas dos céus.

A minha falecida mulher embirrava com "cheiros estranhos". E nem estou a falar dos casos em que qualquer mulher suburbana  a primeira coisa que fazia quando o homem chegava a casa era dar-lhe uma boa "snifadela", não fosse ele vir a tresandar a perfume alheio...

Nota: meu Pai, que tinha experiência para dar e vender, falava sempre da grande vantagem em oferecer sempre a mesma marca de perfume , dentro e fora de casa... Acho que esse conselho ainda hoje se mantém actual.

Mas como dizia, a Natália embirrava com cheiros mais ativos, pelo que não podia entrar em casa, aos fins-de-semana,  infestado do cheiro a peixe ( sempre gostei de mexer no peixe se me deixassem) ou do odor a cavalo, (se tinha passado a manhã na Quinta da Marinha). Isto é, poder , podia, mas havia resmungos certos e sabidos.

Também a minha santa cá de baixo sempre foi avessa a maus encontros deste tipo, pelo menos até ter tido um dos AVC's que lhe retirou na maior parte o sentido do olfato. Já aqui falámos de algumas vantagens que tenho recolhido por causa disso. Dentro e fora de casa... Sempre são dois homens sozinhos que por ali moram e demoram.

Ora um dos episódios sobre esta temática que melhor recordo, com saudade, foi a visita a Portugal dos Agentes Internacionais da Filatelia, uns 20 anos lá para trás já,  com acompanhantes de todo o mundo, para uma das nossas reuniões anuais. Nessa altura a reunião era na Zona Centro, o que deu azo a leitoadas (já aqui alguns narizes franziram)  nas Caves de Espumantes da Bairrada, sessões de Fado de Coimbra na Lusa Atenas, visitas guiadas ao Buçaco e à Serra da Boa Viagem, na Figueira da Foz e terminando com Aveiro e Ílhavo e com a visita ao Museu da Vista Alegre (tudo bem) mas também às salgas e secas de bacalhau (tudo mal)...

A auto-estrada Lisboa-Porto tinha-se inaugurado há meses e por isso mesmo a maioria dos Agentes até estranhou quando tomámos uma estrada interior perto de Cacia, dirigidos a Ìlhavo.À medida que nos aproximávamos um "odor" forte e caraterístico invadiu o autocarro.

Eu, já naquela altura um otimista de gema. dizia feito parvo:

" É o cheiro a maresia! Estamos cada vez mais perto do Mar!"

Mas o que insultava as nossas narinas nada tinha a ver com o Mar, coitado! Eram os tenebrosos eflúvios que vinham das fábricas de celulose da Portucel, ali tão perto! Cheiro a latrina que fedia tanto mais quanto mais nos aproximávamos...

Depois dessa gaffe, ainda nos esperava outra pior: se um português pode perdoar ao "fiel-amigo" algum cheiro a "bedum" - para não falar de outras coisas piores -  imaginem uma inglesa ou um holandês, da high society,  a passearem-se por entre filas de bacalhau a secar ao ar... Bacalhau ainda húmido da salga está visto...

Já não tive coragem de servir bacalhau naquele almoço. Nem enguias (pudera!)! Foi tudo corrido direito ao Porto, onde houve que improvisar um almoço numas caves de vinho do Porto ( à custa do grande Tó Mané Santos Costa, o melhor Coordenador Comercial que os CTT tiveram para estas coisas do desenrascanço comestível). Eles do almoço nem quiseram bem saber...

Foi só a partir da primeira garrafita de Porto que aqueles olhos nórdicos voltaram outra vez a brilhar... E daí até ao fim foi sempre a debitar combustível. De tal maneira que lá para as 4 e meia da tarde e  já com uma garrafita de vintage no lombo, pelo menos,  a Dini Thomas (holandesa) me dizia:

"Raul , we forgive you!"

O pior foi o regresso a Lisboa, com várias idas ao "Gregório" pelo meio... não há bela sem senão.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Para Descansar a Vista

Depois da interrupção da semana do Natal e Ano Novo voltamos à tradição do poema das Sextas Feiras.

Hoje é Dia de Reis, motivo pelo qual me parece bem que as "trovas" tenham a ver com a dádiva, com a disponibilidade de uns para alegrar os outros.

Numa altura em que se requere cada vez mais solidariedade e em que cada vez mais também será difícil fazer da bolsa própria um refrigério para quem precisa, pelo menos não falte a palavra e o gesto. Falemos pois da "Bondade", mas no registo crítico e social de Mestre Brecht, aqui superiormente traduzido por outro grande mestre, o Professor Paulo Quintela de saudosa memória:



De que serve a Bondade?

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela

quinta-feira, janeiro 05, 2012

"Bosses" há muitos....Mas o de Chicago é o Mayor!

Não devem perder a magnífica série "Boss" (TVSeries)  onde o principal intéprete é o vencedor de 5 Emmys, o grande actor  Kelsey Grammer .  Provavelmente o nome não diz nada sem referir que interpretava o psiquiatra Frasier Crane nas séries Cheers, Wings e Frasier.

Vejam aqui os detalhes sff: http://www.imdb.com/title/tt1833285/

Kelsey Grammer , um dos "heróis da magnífica colheita" de 1955 (olhem bem para a imodéstia do Blogger!) faz aqui em BOSS um excepcional Mayor de Chicago, senhor de um poder quase absoluto na cidade dos grandes lagos, king maker que pôe e dispôe do lugar de Governador do Ohio, manipula e controla todas as actividades lucrativas da cidade, mantém e governa com mão de ferro um grupo de empresários, chefias de minorias, polícias, bombeiros e o que mais que pudermos pensar...

.As semelhanças com outra grande série (com a mão de Mestre Scorsese) a passar também no Cabo aqui em Portugal -  Boardwalk Empire - são óbvias. Mas com uma enorme diferença! Enquanto que "Nucky Thompson" , o actor Steve Busemmi, governa Atlantic City nos anos 20 do século passado, o Mayor Crane faz o mesmo numa Chicago dos nossos dias.

E quem diria que nos nossos dias seria ainda possível ter um poder absoluto, sem qualquer tipo de controlo, sobre a 3ª maior cidade dos USA,  cidade de 2,8 milhões de pessoas (sem contar os arredores) e com um Orçamento anual para cima de 3,2 biliões de USD...

O enredo da série BOSS complica-se quando o todo-poderoso Mayor se apercebe que foi atingido por uma doença neurológica degeneratica, incurável. E que tenta esconder de todos, incluindo da mulher e dos conselheiros mais próximos... A decadência de um deus-homem, "cronicada" pelo próprio, faz desta série um must see absoluto. Na minha opinião, está claro.

Nota final: Aqui em Portugal também sempre se ouviu dizer que os Presidentes de Câmara eleitos tinham um poder nas suas áreas de influência  "de facto" muito superior aos dos Ministros e Governadores Civis... Seriam quase, quase, omnipotentes entre eleições... E sem hipóteses práticas  de responsabilização civil ou criminal pelos atos cometidos...

Não será de estranhar assim tanto a ideia-base da série BOSS.... Para os portugueses, está claro!

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Oh Jerónimo (Martins!!), deixa-te disso...

"A família Soares dos Santos, que detém a maior participação na Jerónimo Martins (JM), dona do Pingo Doce, vendeu os seus 56% do capital à subsidiária do grupo na Holanda.

Na base da mudança está uma manobra de gestão que visa fugir a uma dupla tributação com a entrada na Colômbia - onde a dona do Pingo Doce quer investir 400 milhões de euros até 2014 - mas também a antecipação de eventuais mudanças na lei portuguesa que possam penalizar ainda mais as SGPS."

Fonte: Diário de Notícias

Bem prega Frei Tomás. Lá vão os accionistas do Pingo Doce esfregando as mãos de contentes com o "refúgio" da empresa-mãe do grupo na Holanda, país onde paga bem menos de IRC do que aqui em Portugal.

Nada se diria desta decisão estratégica empresarial, normal para empresas que têm por objectivo maximizar o valor para o accionista, se não fosse a "outra" postura do mesmo grupo em termos sociais: refeições a 4 euros, cabazes sociais, etc, etc... Para já não falar da forma corrosiva como o patriarca do mesmo Grupo aniquilava a governação do anterior regime cada vez que abria a boca em público, esgrimindo esses argumentos da "sustentabilidade social"...

Pode-se sempre dizer que quanto mais dinheiro pouparem nos impostos directos, mais podem distribuir em Portugal sob a forma de novos empregos, e de maiores regalias sociais... Mas até se provar essa tese - boa sorte a quem tentar! -  ficam um bocado mal na fotografia estes senhores que mandam nesta Empresa.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Espreitando o Ano Novo (com olhos meios piscos)

Espreitando é uma forma de dizer...Com o nevoeiro sobre Lisboa que se abateu nesta manhã não se espreita nadinha mesmo...Só as luzes vermelhas dos carros que vão à frente.

Mas continuando, muito se comentou sobre a mensagem do PR, as mais das vezes para dizer mal.

Concordo que o Doutor Cavaco diz quase sempre as mesmas coisas, criticando o Governo,  mas depois, na sua prática, não deixa de promulgar e dar palmadinhas nas costas ao mesmo Governo e às suas leis.

Mas fora isto - que pensando bem é quase tudo o que interessa -  nem sei bem o que é que o Homem poderia dizer mais  nestas circunstâncias... Convocar novas eleições? Puxar as orelhas ao Dr. Passos Coelho? Impossível!  É preciso perceber que quando os portugueses se amarraram à Troika, o PR ficou amarrado com eles.. E hoje em dia tem de facto um poder muito menor do que alguma vez teve...

O mesmo raciocínio assenta como uma luva a este PS cabisbaixo e tristonho que se arrasta por S. Bento.   Mas há que reconhecer que a tarefa do Dr. Seguro é enorme, também ele (tal como o PR e o CSD\PSD) refém do "contrato" que assinaram com a Troika.  Como é que os comentadores de serviço pretenderiam que o Tó Zé Seguro fizesse outra figura na oposição "responsável" do que aquela que está neste momento a fazer (embora triste, apagada e bem indigna de um PS na sua glória passada)?

Seguro tem que se distanciar do Sócrates, de má memória, mas também não pode agir , nem falar, dramaticamente contra o processo de recuperação do País que o PS sancionou. Vá lá que não vá, uma martelada no prego e outra na ferradura...

Por isso temos a Oposição reservada para o PCP e para o BE. Enorme vantagem nesta luta leva o PCP, pela sua influência nas estruturas sindicais.  E bem, acho eu.

É que não existindo PS para pôr algum travão nas iniciativas mais que zelosas dos "ultras" do Governo (com o Ministro das Finanças à frente) resta ao Povo a pressão dos sindicatos para temperar este "caldinho", sob pena do mesmo escaldar sempre quem tem menos poder, menos força, e menos vozes que falem por ele.

Esse tal "mexilhão" de quem muito se fala, mas a quem quase nunca deixam falar ele próprio...

domingo, janeiro 01, 2012

Próximo Post a 3 JAN

Amanhã vamos de viagem...

Crónicas da Serra 5

Um peru comprado nos nossos super-mercados pouco mais é do que um “hamburger com penas”, uma carcaça branco-azulada engordada com rações, em compartimentos onde não se pode mexer, para engordar mais depressa…

Agora imaginem que lhes calhava assar um peru criado em liberdade, em casa, a comer couves e alfaces tenrinhas e muito milho dado à mão, sempre a andar pelo chão e a picar o que lá encontrava…

Foi o que me aconteceu aqui na terra no 1º do Ano: fazer para o almoço um peru da quinta, assado no forno, com esparregado grosso (as “ervas” da Beira Alta), arroz dos seus miúdos e batatas fritas, que o forno já não tinha mais espaço depois de lá ter entrado a “besta”.

Este peru que assámos, já depois de morto deu 6 kg e tal!

O trabalho – não se iludam porque é mesmo trabalho - começou há 3 dias, logo que chegámos, com o embebedar da alimária, seguido da matança propriamente dita, o depenanço , o limpar da carcaça retirando o pescoço, fígado e coração para o arroz, e o mergulho em largo alguidar de barro (o mesmo da matança do porco, onde se adubavam os paios do lombo) com água, 1 garrafa de vinho branco, duas mãos de sal grosso e rodelas de muitas laranjas.

Passados um dia e meio o peru foi tirado da água e barrado com uma pasta feita de alho esmagado, massa de pimentão, uma mão cheia de sal, grãos de pimenta preta, um copo alto de vinho do Porto e azeite. Houve que gastar muitos alhos por causa do tamanho da criatura, mas para terem uma ideia pensem numa tigela larga , daquelas onde antigamente se batiam os bolos, cheia a 2\3 da pasta de tempero.



Pelo bucho enfiei um limão cortado ao meio. E ficou assim do meio dia do dia 31 até à manhã do dia 1 de Janeiro.

Para os que me lêem sem nunca ter visto um peru criado em liberdade, em casa, sempre lhes digo que a carne é bem mais firme e de tom mais escuro, mesmo a do peito, e abundam as bolhinhas de gordura à flor da pele. Como “contra” (se assim o considerarmos) as pernas são mais rijas e possuem tendões que mais parecem esticadores de aço…haja dentes…

Logo de manhã acendi o forno nos 250º e depois de estar quente – pelas 8,45h – meti lá o tabuleiro do peru, tendo o cuidado de regar com mais um fio de azeite .

Com o tamanho que tinha a única forma de caber foi retirar todos os tabuleiros do forno e assentar o do peru no fundo do mesmo.

Passada uma hora virei, e depois de outra hora tornei a virar. Só nessa altura reduzi a temperatura para os 170º, ficando assim mais uma hora e meia, até retirar para constipar a pele no alpendre e vir para a mesa. No total 3 horas e meia de forno, duas a 250º e hora e meia a 170º.

Entretanto fiz a puxadinha para o arroz dos miúdos, com arroz estufado, para ficar sempre solto, e fomos descascando as batatas para fritar . O Esparregado grosso fez-se também em meia hora (já aqui dei a receita).

Às12,45h , mais coisa, menos coisa, estávamos à mesa, a trinchar o “dinossauro”…

Com o nosso tinto aqui da quinta, Dão de 2009 - que deu 14,5º - que maravilha!

Ano Novo, Vida Nova ( e de que maneira||)


É certo como o destino que chegados a esta altura do ano começamos a fazer contas à vida que vamos ter em 2012.

Posso já avisar os Amigos Leitores: Será pior em quase tudo, a não ser que pertençamos àquela faixa de cidadãos que muito sinceramente não entende o barulho que se faz à volta da “crise”, já que para eles são bons sinais o poderem deixar de pagar à criadagem os subsídios e, ao mesmo tempo, terem maior leque de escolha: talvez uma licenciada em relações internacionais para criada da Senhora, ou um licenciado em direito para tratar das cavalariças…

Mas fora essa gente, que de uma forma ou de outra sempre mandou no mundo, os outros 99,9% não vão passar bem.

Aumentam os impostos sobre o consumo e sobre os rendimentos, , aumenta o IVA na Restauração, deixaremos de receber na função pública e “arredores” os subsídios de Natal e de Férias, aumenta a despesa com a Saúde e idem, idem com o Ensino. Sobem as rendas de casa, aumenta o IMI para os que cometeram o crime de comprar casa própria…

Tenho ouvido e lido os maiores dislates de pessoas aparentemente entendidas sobre os “porquês” de aqui ( a este buraco) ter chegado Portugal. Mas aquilo que mais me chocou foi um dos Senhores Críticos Comentadores ter levantado a lebre da “casa própria”. Teria sido por Portugal se ter tornado um reino de “terra-tenentes”, “possidentes possidónios”, ou “senhorios de pechisbeque” que a Crise nos deu em cima com esta força toda!

Os Bancos , os Construtores Civis e os estúpidos milhões de tugas que decidiram comprar a sua casa foram os grandes culpados. Tivessem alugado!!

(Mas onde ? E a quem?).

O desequilíbrio do sistema bancário teria sido provocado por este estar voltado para o crédito à Habitação mas , ao mesmo tempo, financiar também os Empreiteiros e Construtores, criando assim uma espiral da qual não conseguia sair logo que os pagamentos dos créditos começaram a falhar e os Bancos nacionais deixaram de ter acesso aos outros Bancos desse mundo para se financiarem.

Mas isto foi o que se passou nos USA com a questão da “bolha” do sub-prime… E com reflexos em todos nós, por aí abaixo, como se fosse um jogo de dominó com as peças ao alto. Não estará o Senhor Crítico Comentador a confundir o efeito com a causa? Mas adiante que não estamos em Amarante nem sou eu que lhe pago...

E já agora pergunto eu: Não devemos encontrar aqui em Portugal razões para a Crise mais ligadas aos poderes públicos e menos às atuações dos indivíduos? Por exemplo ligadas ao investimento em Obras Públicas e \ou de “estadão”, de pompa e de circunstância , para eleitor ver e estrangeiro embasbacar, em montantes muito superiores às capacidades do País para os poder pagar?

E daí vem alguma revolta dos nativos: quem é que nos explica as razões pelas quais os “pata na lama mexerucas” estão a pagar a sério por estas decisões mal tomadas por quem os governava?

E a resposta dos “Poderes que agora há” são também evidentes:

-" Mesmo que nunca tenha circulado pela A17 (auto-estrada fantasma) ou frequentado a “Casa da Música” do Porto, ou ainda ter comparecido a vitoriar a seleção nos jogos do EURO 2004, ou, finalmente, a visitar com todos os primos e primas a EXPO98, É CULPADO SIM SENHOR porque…Votou naqueles que fizeram essas coisas!


E se não votou, a culpa continua a ser sua, porque não foi capaz de convencer o Povão a votar como Você!! Pelo que – e aqui está o busílis – ganhou quem ganhou e fez a m*** que fez…"


Moral da História: na lenda do lobo e do cordeiro este último é sempre comido, esteja a montante ou a jusante da posição do lobo face ao riacho… Amochem todos os fracos e nunca se esqueçam que a Razão é um conceito deveras relativo, sobretudo quando invocada pelos fortes…

Um Bom Ano de 2012, o melhor Possível, a todos os amigos e leitores aqui do Blogue!