Um peru comprado nos nossos super-mercados pouco mais é do que um “hamburger com penas”, uma carcaça branco-azulada engordada com rações, em compartimentos onde não se pode mexer, para engordar mais depressa…
Agora imaginem que lhes calhava assar um peru criado em liberdade, em casa, a comer couves e alfaces tenrinhas e muito milho dado à mão, sempre a andar pelo chão e a picar o que lá encontrava…
Foi o que me aconteceu aqui na terra no 1º do Ano: fazer para o almoço um peru da quinta, assado no forno, com esparregado grosso (as “ervas” da Beira Alta), arroz dos seus miúdos e batatas fritas, que o forno já não tinha mais espaço depois de lá ter entrado a “besta”.
Este peru que assámos, já depois de morto deu 6 kg e tal!
O trabalho – não se iludam porque é mesmo trabalho - começou há 3 dias, logo que chegámos, com o embebedar da alimária, seguido da matança propriamente dita, o depenanço , o limpar da carcaça retirando o pescoço, fígado e coração para o arroz, e o mergulho em largo alguidar de barro (o mesmo da matança do porco, onde se adubavam os paios do lombo) com água, 1 garrafa de vinho branco, duas mãos de sal grosso e rodelas de muitas laranjas.
Passados um dia e meio o peru foi tirado da água e barrado com uma pasta feita de alho esmagado, massa de pimentão, uma mão cheia de sal, grãos de pimenta preta, um copo alto de vinho do Porto e azeite. Houve que gastar muitos alhos por causa do tamanho da criatura, mas para terem uma ideia pensem numa tigela larga , daquelas onde antigamente se batiam os bolos, cheia a 2\3 da pasta de tempero.
Pelo bucho enfiei um limão cortado ao meio. E ficou assim do meio dia do dia 31 até à manhã do dia 1 de Janeiro.
Para os que me lêem sem nunca ter visto um peru criado em liberdade, em casa, sempre lhes digo que a carne é bem mais firme e de tom mais escuro, mesmo a do peito, e abundam as bolhinhas de gordura à flor da pele. Como “contra” (se assim o considerarmos) as pernas são mais rijas e possuem tendões que mais parecem esticadores de aço…haja dentes…
Logo de manhã acendi o forno nos 250º e depois de estar quente – pelas 8,45h – meti lá o tabuleiro do peru, tendo o cuidado de regar com mais um fio de azeite .
Com o tamanho que tinha a única forma de caber foi retirar todos os tabuleiros do forno e assentar o do peru no fundo do mesmo.
Passada uma hora virei, e depois de outra hora tornei a virar. Só nessa altura reduzi a temperatura para os 170º, ficando assim mais uma hora e meia, até retirar para constipar a pele no alpendre e vir para a mesa. No total 3 horas e meia de forno, duas a 250º e hora e meia a 170º.
Entretanto fiz a puxadinha para o arroz dos miúdos, com arroz estufado, para ficar sempre solto, e fomos descascando as batatas para fritar . O Esparregado grosso fez-se também em meia hora (já aqui dei a receita).
Às12,45h , mais coisa, menos coisa, estávamos à mesa, a trinchar o “dinossauro”…
Com o nosso tinto aqui da quinta, Dão de 2009 - que deu 14,5º - que maravilha!
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