sexta-feira, janeiro 27, 2012

Para Descansar a Vista

Está hoje um dia glorioso e, por muito que se peça já chuva,  dispôe bem levantarmo-nos e chegar à extensão prateada do Tejo com o Sol magnífico a iluminar um céu azul como só Lisboa tem.

Este Sol aberto num céu sem nuvens acompanha muito bem  o diálogo matinal de Vitor Cotovio e Margarida Cordo , na TSF, porque o tema hoje era a "importância do riso".

Sol, Mar e Riso. Trilogia mágica que dá forças ao luso indígena para ir atravessando este ano de todos os perigos. Sendo garantido o Sol e o Mar, o que podemos fazer quanto ao Riso?

Reparem que uma dos notícias do dia será a "ameaça da Liga (e dos três grandes clubes) de fazerem greve,  pararem todos os campeonatos, se o Governo não aceitar discutir com eles a grande dívida que foram acumulando"  (leia-se, adiar os pagamentos ou perdoar parte dos mesmos).

 Daria vontade de rir se os tempos não fossem o que infelizmente já são...

Outra notícia dá conta que "O processo de extradição de João Vale e Azevedo do Reino Unido para Portugal foi adiado pelo tribunal de Westminster para 2 de Março pela necessidade de analisar novos documentos entregues pela defesa ao tribunal, designadamente um depoimento em que um juiz português em actividade questiona a validade dos julgamentos de Vale e Azevedo em Portugal."

Imaginem como o Dr. Vale e Azevedo se deve estar a rir!

Para continuar nesta senda do riso ou do sorriso, aqui vai poema da grande poetisa brasileira Cecília Meireles (1901,1964). Cecília também sabe que para Rir é sempre preciso Mar, Céu e ... Alguém.



Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?

É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.
Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?

— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas...
Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje esta música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

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