São estes os Tempos para encontrarmos alívio em coisas mais imateriais. Deixemos por um dia os prazeres da carne ( e do peixe, e dos queijos, e dos vinhos e do paio do lombo, e ...pára aí bruto!).
Já me perceberam. Seja hoje um dia de contemplação de coisas etéreas e mais puras do que o costume.
Homenageio a Beleza.
Essa qualidade subjetiva cujos atributos variam para cada um de nós , mas que não deixa ninguém indiferente.
A Beleza do espírito, sem dúvida, mas também ( e sempre!) a Beleza material dos objectos, que nos permite desenhar um sorriso nos rostos punidos pela vida, e usufruir a preço módico (uma simples entrada num museu, por exemplo) do mais efectivo anti-ansiolítico e anti-depressivo que conheço: a criação - mesmo que momentânea - de uma zona de conforto que nos embale os sonhos.
Para este objetivo faço apelo a meu Mestre Torga e à sua "Ode à Beleza".
À Beleza
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga, in 'Odes'
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