Depois da interrupção da semana do Natal e Ano Novo voltamos à tradição do poema das Sextas Feiras.
Hoje é Dia de Reis, motivo pelo qual me parece bem que as "trovas" tenham a ver com a dádiva, com a disponibilidade de uns para alegrar os outros.
Numa altura em que se requere cada vez mais solidariedade e em que cada vez mais também será difícil fazer da bolsa própria um refrigério para quem precisa, pelo menos não falte a palavra e o gesto. Falemos pois da "Bondade", mas no registo crítico e social de Mestre Brecht, aqui superiormente traduzido por outro grande mestre, o Professor Paulo Quintela de saudosa memória:
De que serve a Bondade?
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
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