quinta-feira, janeiro 31, 2008

Em Beja a falar de Ovelhas


Estive ontem em Beja, com três amigos alentejanos, a falar sobre a Ovibeja deste ano (são já 25 anos que esta feira leva de vida) e como poderíamos ajudar a organização na divulgação do certame , filatelicamente falando, está claro.
Acordou-se na Emissão de um Postal Inteiro comemorativo dos 25 anos, o qual complementará a Mostra Filatélica que o Amigo Geada de Sousa está a preparar para a inauguração da Ovibeja de 2008, lá para o final de Abril.

Como estávamos perto da hora do almoço, a respeitada e ancestral hospitalidade transtagana falou mais alto e o V. blogger viu-se convidado para almoçar.

Desde os tempos em que o Restaurante "Os Infantes" fazia as delícias das minhas idas a Beja que eu não tinha a oportunidade de provar a gastronomia local.

Nota: hoje, e infelizmente , o Restaurante "Os Infantes" está a atravessar um período menos bom e, por isso mesmo, não recomendo a sua frequência.

Estávamos mesmo no recinto feiral de Beja (situado perto de uma das cinturas exteriores da Cidade, mesmo ao lado do Super Mercado "Modelo") e dali foi um pulo até à Rotunda do Pastor (rotunda encimada por uma estátua de um Pastor alentejano e do seu cão) , mesmo à frente encontramos o NERBE (Núcleo Empresarial de Beja) onde está situado o Restaurante com o mesmo nome :

Restaurante do NERBE.
Beja
Rua da Cidade de São Paulo
Tel. 284 325 325
Encerra ao domingo
Não encerra para férias.
Lotação: 60 lugares

Sala ampla, onde é permitido fumar.

Serviço esforçado e atento.

Preços pequenos, pequenos.... E qualidade bem acima da média.

Pratos que saliento da Ementa:

Cabeça de xara, para entrada, e depois o ensopado de borrego, a sopa de cação ou de peixe com tomate, polvo salteado ou migas de tomate com gambas.

Que mais se pode querer?

Mas nós, bem aconselhados pelos naturais, decidimo-nos por outro petisco...

Comemos de entrada uns Torresmos do rissol acabados de fazer e uns ovos mexidos com aparas de presunto.

Como prato principal uma Açorda de Pescada e Bacalhau (duas "postonas" de cada) com todos os seus acompanhamentos, desde o pratinho de Beterraba cortada em fatias, até às belíssimas azeitonas retalhadas e temperadas. Pão do dia anterior (cuidado com a ASAE!!!); Terrina de Barro grandiosa com caldo rescendente de azeite virgem, orégãos, coentros e alhos. Ovos escalfados para todos.

Como sobremesa alguns comeram fruta e o V. Blogger deu serventia a uma maravilhosa "Sopa Dourada".

Bebeu-se um Tinto "guloso" e aromático do ano de 2006, do Baleizão. E mais 4 cafés para fechar.

Que óptima refeição!!

Não fui eu que paguei (obviamente!) mas com pratos principais a 7€ e a 8€ e com este vinho a custar 10€ por garrafa, muito me admiraria se o meu anfitrião tivesse pago, por 4 pessoas, mais do que 40€, ou no máximo, 50€...

Vão até lá se estiverem em Beja e peçam a Carta, pois tem uma cuidada escolha da gastronomia do Baixo Alentejo e ...Atenção! o mesmo prato feito no Fialho de Évora ou aqui mais em baixo, em Beja, não sabe ao mesmo! Utiliza-se por norma , mais sal e mais banha em Évora e mais o Azeite por estas zonas mais chegadas ao Sul...

Clientes espanhóis em barda! São os actuais proprietários das Terras e Olivais de Beja, por muito que nos custe... E devo dizer que com eles podemos aprender . E muito!

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Raúl

Pegando no tema que nos é tão caro da cozinha tradicional, fico agradado sabendo que lá fora também se defende a tradição, para tal preparei um pequeno texto que espero seja do seu agrado.

Um abraço

Paulo Mendonça

Cuisine du Terroir, o que é?

Cuisine du Terroir, em português Cozinha Regional, é um tipo de cozinha, que cobre as especialidades regionais ao nível do produto e do receituário, em que os componentes principais (ingredientes ou produtos de alta qualidade), são dessa mesma região, e as receitas utilizadas foram sujeitas a investigação de forma a encontrar a original, mantendo a sua singularidade.

Francês, ou não Francês?

Como todos nós sabemos, a Cozinha Francesa, é conhecida pelos seus pratos muito elaborados. Mas, na Cuisine du Terroir, por vezes, os pratos não são tão elaborados, e por isso mesmo, alguns, não aparecem como franceses e nem aparecem nas ementas de restaurantes franceses, como pratos nacionais ou regionais, sendo este um factor motivador e impulsionador desta “nova tendência”, pois esses mesmos pratos de cozinha regional, diferem muito da imagem que hoje em dia todos temos da cozinha, muito influenciada pela Nouvelle Cuisine que durante décadas dominou a maioria da restauração.

Porque Paul Bocuse e outros grandes Chefs, defendem este tipo de Cozinha?

Os Chefs, especialmente Paul Bocuse e Allan Ducasse, defendem este tipo de Cozinha porque em certos aspectos, os franceses, não valorizam muitas tradições que caíram quase no esquecimento. Mas para eles, esta tradição deveria ser preservada, pois foi a partir daqui, deste tipo de Cozinha, que pôde surgir a chamada Cozinha Francesa, e também a sua imensa riqueza de sabores tem sido ocultada da maioria da população.
Afirmam ainda que a Nouvelle Cuisine e as cozinhas de fusão têm e terão os seus nichos de mercado, que conquistaram e fidelizaram. Mas a riqueza das regiões francesas, no que concerne aos seus muitos produtos, de alta qualidade, deveriam ser “aproveitados”, pois assim, cada região, seria reconhecida também, pela sua própria gastronomia.
E ainda, a ideia de poder conciliar a tradição com a inovação, é muito animadora para estes grandes Chefs. A ideia é não desvirtuar as receitas originais no seu conteúdo, mas sim melhorar a sua aparência, os tachos e caçarolas voltam a aparecer nas mesas mas com cuidados acrescidos ao nível da sua apresentação.
Um exemplo simples no que concerne à cozinha tradicional portuguesa desta “nova tendência” seria: ao apresentar um cozido não colocar os produtos de qualquer forma na travessa, mas sim pegar nesse mesmo cozido e usar riqueza cromática, criando contrastes e colocando os produtos de forma atractiva. No que concerne ao tacho sugestões simples como a sua impecável limpeza, apoiada por dobras de guardanapos e formação dos empregados de mesa a empratar o seu conteúdo de forma a manter a sua atractividade, alguns Chefs inclusive chamam a si esta tarefa.
Como regra básica para este trabalho é sugerido que a sua apresentação seja o mais possível fidedigna à sua origem, evitando os empratamentos mais elaborados próprios da Nouvelle Cuisine.
Os usos, costumes e produtos de um local ou região estão implícitos nas suas tradições.
Podemos ver como a tradição influencia profundamente qualquer acto ou cerimonia na sua essência, incluindo a alimentação e o seu receituário, pautando-se pela actualidade mas buscando sempre linhas e condutas que ao longo dos anos se foram aplicando.
Muitas são as receitas que se realizam hoje em dia com cunho pessoal, que tiverem a sua origem nas tradições transmitidas de geração para geração através das distintas épocas históricas.
É lícito então dizer, que não ter em conta estes factores quando se fala em cozinha regional é incorrer num grave erro.
A gastronomia deve, até como serviço público pautar a sua evolução, sem esquecer a fundamental importância que têm na preservação da tradição, é sem duvida a restauração um modo de informar/relembrar o público dos saberes e sabores do seu País.