segunda-feira, novembro 06, 2006

O Vinho , os Gostos Actuais e o Sr. Parker


O nosso Amigo Paulo Mendonça telefonou-me com esta ideia de abrirmos um pequeno debate aqui no Blog sobre a alteração na apreciação ( e nas compras ) de Vinhos Tintos , causadas pela enorme influência do Sr. Robert Parker no Comércio vinícola mundial, com relevo para o importantíssimo mercado Norte Americano e Asiático (que agora desponta).

Há até quem chame a esta discussão " a importância da Parkerização dos Vinhos Tintos"

Robert Parker é considerado um "Guru" sobre estes assuntos da Vinha e do Vinho, editando um Compêndio sobre todos os Produtores Mundiais (enfim, aqueles que ele acha que valem a pena) o qual actua sobre os Profissionais deste ramo um pouco como o Guide Michelin (o Miquelino, chama-lhe Zé Quitério, e eu subscrevo) faz em relação à Restauração.

O meu filho ofereçeu-me o Guia Parker este ano, pelo que posso, em boa verdade, falar do que li e não por interposta opinião.

Em primeiro lugar digo-lhes já que as referências a vinhos Portugueses se limitam ao Porto - e estamos conversados no que diz respeito à "abrangência" da Obra.

Estão lá todos os Grandes deste Mundo - Franceses, Norte Americanos (Claro!!) Australianos, Neo-Zelandeses, Italianos, Chilenos e (alguns) Espanhóis.

As notas mais altas são reservadas a Tintos com características de cor preta retinta, grande concentração, jovens, cheios de força e de corpo. As referências ao chocolate, aos frutos negros (amoras) e à baunilha são recorrentes.

Estes Vinhos, de que em Portugal o "chorado" Cruz Miranda de 2001 é um bom exemplo (mas também o Batuta 2003 da Niepoort, ou o Fojo 2000) estão hoje "na Moda".

Mas esta "Moda" é feita pelos Opinion Makers como Robert Parker . E obviamente influencia o Perfil que os grandes enólogos procuram para os seus vinhos, pois cada um não pode descurar a importância das "recomendações" dos Gurus neste mercado onde a concorrência é feroz...

Consequência? Perder-se o Perfil dos antigos. Em vez de um mundo de Bio-diversidade enológica, caminharemos para um planeta de "unanimidade viti-vinícola"...

Já aqui alertei para o que se estaria a passar em Portugal com o Dão, Região que era considerada o paraíso dos Tintos elegantes e com longevidade, e que começa agora a "torcer" para dar vinhos tão "espremidos" na vinha (com mondas precoces extremas) e na adega, que aparecem no Mercado com concentrações de cor e de corpo notáveis .

São vinhos gulosos, mais fáceis de apreciar para o não iniciado endinheirado, são bons. muito bons, mas não são um Dão...

O Mercado manda, dirão alguns, mas o "Gosto pessoal" não é, nem pode ser, um exercício de obediência cega aos ditames da Moda.

Tem de haver possibilidades de Escolha!

Quando o Industrial pega na mão do Crítico e faz-lhe a vontade, pois é esse crítico que influencia as Vendas, não estará a hipotecar o futuro, embora tire dividendos no presente?

Não é fácil dar respostas...

Qual a V. opinião?



Um comentário:

Anônimo disse...

A "parkerização" dos vinhos não é, ao contrário do que alguns pensam, "a globalização chegou ao sector vitivinícola" (na realidade , a globalização já chegou a tudo), é sim a "americanização" dos vinhos. A questão é tão simples como isto: a título de exemplo, os vinhos californianos, por muito bons que sejam, não têm uma coisa, nem nunca hão-de ter uma coisa a que os franceses chamam "terroir". Um vinho produzido em Napa Valey, Sonoma County (gosto deste último pelo nome: lembra-me Steinbeck) ou Whatever Somewhere in the so called New World pode ser magnífico, carregado de cor, aromas, etc., etc., mas não tem essa coisa tão europeia (se quiserem) que são as características edafo-climáticas de um determinado local que, aliado a coisas tão voláteis como a história, a geologia, a etnografia, etc., fazem com um que um vinho como um Barca Velha, um Vega Sicilia, um Chateau Ausone e tuti quanti seja incopiável.
Assina: Joaquim Calado, que tem o raro privilégio de também ser amigo do Paulo Mendonça. Um abraço!