quinta-feira, novembro 23, 2006

O Estado da Nação Postal


Termina 2006 com alguns resultados animadores para os CTT Correios de Portugal mas também com algumas angústias...

Em relação aos primeiros é de notar uma desaceleração evidente nos Custos da Operação (Fornecimentos e Serviços de Terceiros); um Volume de Negócios ligeiramente em alta (para o Grupo CTT será muito próximo dos 800 Milhões €); e, por fim, uma Margem Líquida positiva , embora residual (não superior a 10 ou 11 Milhões €).

Na Fileira das angústias está obviamente o contínuo decrescimento do Tráfego Postal tradicional (quase que a 4% ao ano).

São as Correspondências e as Encomendas que "enchem" ainda os bolsos desta Empresa responsabilizando-se por mais de 70% da Receita do Grupo CTT, e por isso mesmo, é desolador ver a erosão do respectivo volume.

Lamentações são luxos a que não nos podemos dar... Também se lamentaram sem dúvida os árabes senhores do comércio das Especiarias do Mediterrâneo quando os Portugueses chegaram à Ásia, ou os Comerciantes da antiga Estrada Nacional 1 quando a Auto-Estrada chegou por fim ao Porto... E para quê?

O tempo não volta para trás e a comiseração não aproveita a ninguém. Para a frente é que é o Caminho, por muito difícil que este seja.

Mas é importante fazer um diagnóstico correcto da situação actual e das suas evoluções estimadas. Só assim será possível desenhar o "road map" que nos guie para um futuro não direi promissor, mas pelo menos aceitável ao nível dos compromissos fundamentais: manter o Emprego, cumprir as Obrigações decorrentes do Serviço Universal postal e satisfazer o Accionista (Estado).

Todavia faço minhas algumas das preocupações manifestadas pelo Chairman Luis Nazaré ontem à tarde:

a) Obter resultados apenas à custa da redução dos Custos é uma operação que tem limites... Lembrem-se da anedota do cavalo do Inglês, quando estava já treinado para não comer...morreu.

b) Alternativas ao Correio Físico têm de ser postas em prática (Via CTT, etc...) tão cedo quanto possível, para nos protegerem "em avanço de Know How" da concorrência que nos respeita em relação ao "saber fazer correio" mas que não tem respeito nenhum sobre a nossa competência ao nível da "fileira digital" (penso que até nos despreza nessa área...)

Não se vislumbra - em Portugal ou em qualquer País do Mundo - o dia em que a última carta será posta no marco de correio ou depositada à porta do destinatário.

Em alguns Países, como os USA, 2005 foi até um ano onde o volume de Tráfego Postal subiu....

Mas a tendência geral é sempre a quebra. Quebra porque as Utilities e os Bancos procuram alternativas mais baratas para o contacto com os seus Clientes, porque os Particulares deixam de escrever no papel para o fazerem por mail ou em SMS, etc...

Esta Casa tem quase 500 anos (fará 500 anos em 2020) e pode-se-lhe perdoar algum complexo de "imortalidade" por tão longa e incomparável permanência em actividade...

Todavia deduzir que teremos ainda mais outros 500 anos pela frente é um exercício de imaginação gratificante, sem dúvida, mas pouco credível face ao actual estado das circunstâncias.

Mas também daqui a 500 anos onde estarão a Daimler Benz (sem gasolina para pôr nos carros) e as outras grandes Companhias de transportes aéreos ou terrestres? Ou se convertem às novas tecnologias de transformação de energia em movimento - sejam elas o que forem - ou morrem.

E o mesmo se passará connosco.

É uma questão de sobrevivência encontrar - já hoje - alguns desses caminhos alternativos que nos permitam manter esta cultura e prática da Proximidade com os Portugueses de todos os pontos do país, nem que seja para lhes trazer os remédios ou as compras do supermercado à porta de cada casa , em vez das contas da água e da Electricidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Para além dos números, só uma achega ao estado da nação postal: o serviço prestado pelos CTT ao cidadão comum é cada vez PIOR! Cartas entregues com muito atraso e cartas que pura e simplesmente nunca são entregues são já situações vulgares. E o tratamento das reclamações? Tive a infeliz ideia de apresentar uma por e-mail e agora é raro o dia em que não recebo uma mensagem de um qualquer serviço dos CTT a pedir-me mais esclarecimentos, mesmo que eujá os tenha prestado. Para terminar: resido nos Olivais, Lisboa, e não posso deixar de achar muito estranho que, depois de uma semana sem receber cartas, encontrar o carteiro ao Sábado (sim, ao Sábado!) a despejar cartas nas caixas de correio e, quando esta estão cheias, a deixá-las nas escadas do prédio. Os CTT estão em dificuldades? Lamento, mas não tenho pena...