quinta-feira, dezembro 06, 2007

A Queda de um Mito?


Já na altura em que se festejou o Dia do Selo em Estremoz tinha ficado na cabeça do Blogger a ideia de revisitar a velha "Adega do Isaías" na mesma cidade, antiga casa de pasto há mais de 50 anos na posse da mesma família e gerida por Mestre Isaías, figura incontornável da gastronomia alentejana e estremocense.
O meu Pai, que não era caçador mas que com eles muito privava - mais para as patuscadas e jogatanas que antecediam ou precediam a "faina" do que para o "trabalho" propriamente dito - levou-me pela primeira vez ao Isaías teria eu uns 15 ou 16 anos. Depois disso lá regressei apenas mais uma ou duas vezes, e de facto há muito tempo....
Nesta semana houve a ocasião de a visitar com um "notável" da cidade, e não podia perder essa ocasião para dar aqui novas do que lá se comeu.

Adega do Isaías
Rua do Almeida 21
7100-537 ESTREMOZ
Telef. - 268 322 318

Estacione-se a viatura no gigantesco parque de estacionamento em frente à Câmara de Estremoz. Passeie-se um bocadinho pelo mercado ao ar livre que se encontra adjacente, comprem-se produtos hortículas ou fruta, traga-se para casa um ou dois Kg de "massa de pimentão" feita à moda do Alentejo, da caseira...

Depois, situados de frente para o edifício da Câmara tome-se a direita até chegar a um largo com espelho de água e repuxos. De costas para a água, a Adega do Isaías fica numa das pequenas ruas que partem da extrema direita do largo em causa. Na dúvida perguntem, pois toda a gente a conhece em Estremoz.

À entrada repararão que se trata mesmo de uma Adega atabernada. Nada, mas mesmo nada que tenha a ver com a "Tasquinha do Oliveira" aqui referida há dias: Bancos corridos, grandes talhas para vinho, papel nas mesas, guardanapos também de papel, casas de banho (limpas, diga-se) mas "matarruanas que baste" , sem sanitas, apenas buracos no chão, a fazerem lembrar o Aeroporto de Tehran (imaginem...).

O que se come na Adega?

Sopas: Sopa de espargos bravos.
Peixe: Bacalhau frito com molho de camarão; Feijoada de polvo.
Carne: Migas com carne de porco; Lebre estufada com feijão branco; Borrego assado no forno; Cozido à Alentejana; Burras Assadas no Forno; Caldeirada de Caça e Chispe Assado.
Doces: Filhoses com Mel; Sericaia
Nesse dia experimentou-se:

Entrada - Cacholeira e Farinheira assadas na brasa (boa a primeira, mázinha a segunda)
Carnes- Burras Assadas (prato emblemático da casa) - Bem feitas mas chegaram à mesa mornas - sinal de que foram reaquecidas apenas - e o acompanhamento era de uma vulgaridade atroz, batata frita e arroz branco que se come em qualquer sítio de Lisboa ou do Porto .
Migas com Carne de Alguidar - Excelente a carne e bem temperada, mas as migas que deveriam ser de espargos, destes nem cheiro, e foram apresentadas espapaçadas e sem sinal da boa gordura de porco preto que as deveria ter tostado na frigideira. Parece mal dizê-lo, mas se querem Migas a sério vão ao Salsa e Coentros em Lisboa...
Sobremesa - foi substituída por um queijo de ovelha, bom sem deslumbrar.

Serviço rápido, muito rápido, mesmo veloz ( não sei se percebem?) - com esta velocidade a maior parte dos pratos estão já feitos, é só aquecer e trazer para a mesa - E depois disso há pressão que baste dos donos da casa para arranjarem espaço para os Clientes que se acotovelam à porta... E mesmo a presença do "notável" camarário ao meu lado não evitou essa pressão para nos "despacharmos" e dar lugar a outros.

O congelador da sala (à vista de todos) foi aberto várias vezes para dele se tirarem peças de carne. Para fazer o quê se não estavam temperadas? Mistério...

E Preços? Com duas canequinhas de branco e tinto da casa (que nos disseram ser mesmo aqui de Estremoz) e dois cafés pagaram os dois comensais tanto quanto 31€ .

É caro? É barato? Como se comparam esses 31€ com os 120€ que se pagaram (também 2 pessoas) no Sr. Oliveira de Évora?

Digo eu que se comparam bem e com vantagem para a "Tasquinha do Oliveira".

Porquê? Ora tirem dos 120€ os 60€ das duas garrafas do vinho de marca que lá se beberam. Ponham na equação a qualidade das entradas do Oliveira ( que até meteram sapateira recheada) ; acrescentem a mesa alva de bom pano , copos excelentes, guardanapos do melhor; e terminem com a sensação de que - ali no Oliveira - podem descansar à mesa depois do almoço o tempo que desejarem, fumando ou beberricando... E a Tasquinha senta 9 pessoas enquanto que a Adega deve sentar umas 50....

Estarei a "aburguesar" agora que entrei nos cinquentas? Estou a dar importância ao acessório em vez do fundamental?

Mas a verdade é que a comidinha também não fez esquecer outros ( e bem melhores locais) de boa vianda alentejana...

Não sei se lá volto para mostrar ao meu filho o que meu Pai me mostrou a mim.. E é pena...


Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado pelo roteiro proposto.
Também lá não irei quando me deslocar até aos filatélicos de Estremoz como foi o caso do Dia do Selo.
Pena foi não ter sabido para onde iria pelo que ao deslocar-me até Estremoz propositadamente/principalmente para consigo dialogar fiquei frustado quando o não vi nos almoço com os demais filatélicos .
Assim sendo e resumindo, irei antes até Evora à tasca do Oliveira. Obrigado pela ajuda.
Leal e CRÓ