A nossa velha conhecida ASAE publicou normas sobre o fabrico e armazenamento do Queijo da Serra - provavelmente não só deste, mas de todos os queijos artesanais - que tornam praticamente impossível, à face do cumprimento da lei, a feitura e venda artesanal de tal iguaria.
As normas incluem exigências de carácter higiénico sobre a "arquitectura" das salas de ordenha, as salas de manutenção de temperatura e de armazenamento e ainda sobre a qualidade do Leite utilizado, sujeito a análises periódicas e, de preferência, esterilizado.
À primeira vista ( e até à segunda ou à terceira) estes ditames têm por finalidade proteger o consumidor final da contrafacção - vender queijo de leite misturado por serra legítimo, por exemplo - e também rodear de maiores cuidados a produção propriamente dita, muitas vezes efectuada em casas e simples palheiros sem qualquer regra.
Mas, um olhar mais atento sobre esta situação verificará que a mulher do Pastor, ou alguém da sua família, vai deixar de produzir o verdadeiro queijo artesanal , apertado pelas mãos conhecedoras nas manhã frias de Inverno. O Pastor transformar-se-á em produtor de Leite que vai vender às fábricas, únicas entidades que têm hipótese de garantir as exigências da ASAE.
O problema é que nessas fábricas o queijo é industrial - no bom sentido e no mau. E quanto ao leite... o que é que impede de se ir comprar a Espanha leite de Ovelha, onde já existe uma indústria virada para esta necessidade das fábricas de queijo?
E sabemos de que raça de ovelhas é esse leite?
Tenho muita pena de que uma actividade milenar desapareça desta forma. Compreendo as razões dos preceitos higiénicos, mas que diabo deveriam existir excepções!
É claro que o Presidente da ASAE lá vem dizendo que "não proíbe ninguém de fazer queijo artesanalmente, desde que este não seja vendido a terceiros..."
E eu pergunto: poderá ser dado? Ou trocado por outros bens? Parece que não...
Quer dizer que o verdadeiro Queijo da Serra ainda vai aparecer para consumo dos próprios Pastores e suas famílias. Ou...dos amigos que lá forem comer a casa...
Devo desde já avisar que, aqui na Beira Alta, não só as famílias dos Pastores são muito "numerosas" e têm muitos "amigos" (cada vez mais, como se perceberá) como também comem queijo que se fartam!
Tenho notícias fidedignas de que esses "Amigos"podem dar cabo de uns 6 Kg de queijo por dia! Mais ou menos o mesmo que a produção diária de leite de 200 ovelhas de raça bordalesa pura.
E haverá alguém que impeça um Amigo de fazer um donativo ao Pastor para a preservação do seu rebanho? Ora essa! É uma questão ecológica e de protecção do Ambiente!
Há sempre forma de dar volta ao texto... Cala-te Raul que a ASAE está sempre à espreita...
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