quinta-feira, junho 22, 2006

Plástico ou Cortiça? Vidro ou Cartão?



Não são respostas fáceis de dar. Para as duas questões existem defensores e detractores das velhas tecnologias face aos novos produtos que se apresentam como alternativa.

1 - As Rolhas

O grande problema da Cortiça consiste na possibilidade de desenvolvimento daquilo a que costumamos chamar "cheiro a rolha" ou "cheiro a mofo". Não é possível explicar doutra forma , é mesmo um odor desagradável, que lembra roupa molhada e guardada sem secar, e que estraga - para sempre - qualquer garrafa de vinho onde surja.

Esta situação deriva de uma contaminação (bacteriológica?) que se desenvolve no processo de fabrico das próprias rolhas. Em rolhas mais caras esse processo de fabrico tem maior controlo de qualidade e o fenómeno é minimizado. Em rolhas mais baratas há mais possibilidades de acontecer.

Mas Atenção! Já me aconteceu em provas de vinho Topo de Gama encontrar "cheiro a rolha"!!

Uns investigadores portugueses desenvolveram uma tecnologia que permite anular a hipótese de contaminação, parecia muito promissora , apareceu em todos os jornais aqui há uns anos ... E nunca mais ouvi falar deste assunto.
Será que é demasiado cara ? Ou então até estará a ser aplicada e eu desconheço...

Em Conclusão: Rolha de Plástico nunca desenvolve este Problema. Rolha de Cortiça, para o evitar, não é competitiva em preço. Ou seja: Para vinhos correntes ou até de uma gama média, o Plástico resolve bem. Para Vinhos mais caros a Rolha continuará a ser alternativa.

E em termos do comportamento do vinho?

O plástico (os seus defensores) clama que é neutral e não "aquece nem arrefece" o que lá está dentro em termos de evolução. A cortiça tem por si mais de 300 anos de provas dadas...

Não há - ainda - tempo de prova suficiente para verificar se o Plástico mantém a sua neutralidade ao fim de 15 ou 20 anos.

Mas hoje em dia quem é que guarda um vinho tanto tempo?

Resta o Marketing... Grandes Vinhos com Rolha de Plástico terão sempre mais dificuldade em atrair sectores tradicionais deste Mercado elitista.

E a defesa do Património Nacional : Viva a Cortiça e os Sobreiros debaixo dos quais comem os Porcos Pretos!!

2) As Embalagens \ Garrafas

A maior dúvida e crítica que se tem feito ao Vidro é a de que exposição solar "passa" para dentro das garrafas, molestando os seus conteúdos. Formas de embalagem na linha das "TetraPak" ou das embalagens de Sumos ou de Leite que todos conhecemos e compramos nos Supermercados são inócuas a esse fenómeno da Luz solar.

Por outro lado a tradição exige que os Grandes Vinhos sejam acomodados de forma adequada, em caves frescas, arejadas e longe do Sol, pelo que esta situação afectará menos os Produtores e Armazenistas - que têm essas infra-estruturas montadas de raiz - do que o Consumidor final e o Retalhista: todos já vimos, decerto, bons vinhos nas montras de mercearias...

Tenham contudo em atenção que não é só a Luz Solar que afecta os conteúdos, mas também o Calor. E quanto a isso as embalagens modernas não resolvem: Leite ao Sol fica mesmo quente.

Vinho também, com a ressalva de que o Vinho aquecido matura muito mais rapidamente e passa à fase de oxidação ("passado") mais depressa.

Em Conclusão - Não há contra indicações técnicas - que eu conheça - para a utilização de substitutos do Vidro nas embalagens do vinho. Tenho dúvidas que os Vinhos melhores e de créditos firmados venham a seguir esta via, mas - de novo - por considerações de Marketing e de exigência dos Grandes Clientes.

Beber vinho é Cultura e é História.

Como tal os apreciadores necessitarão sempre dos seus pequenos mas importantes rituais : O abrir da Garrafa, o cheirar a rolha, o decantar o vinho, etc, etc...

Este factor será, na minha opinião, sempre determinante nas escolhas que o Mercado decidir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Raúl
Debrucei-me sobre o tema e encontrei alguma informação que julgo pertinente:

Segundo o investigador Neo Zelandês Alan Limmer a rolha de rosca "screwcap" pode gerar aromas a enxofre, artigo publicado na revist "Australian & New Zeland Grapegrower & Winemaker" com o título "Do cork breath? or the origin of SLO". A questão está em saber se a rolha permite a entrada de oxigénio nos vinhos e se a "screwcap", cria o que chamou SLO, sulphur-like-odor. Alan Limmer, que é doutorado em quimica, trabalhou cerca de 20 anos em enologia e é director da comissão de vitivinicultores da NZ, parte de um estudo baseado na oxidação e redução dos vinhos, conhecido como potencial Redox, e vem dizer que as garrafas rolhadas com "screwcap" envelhecem de forma "diferente" e a um ritmo muito mais lento. Paea além disso, a garrafa fica de tal maneira selad que a entrada de oxigénio é nula e acaba por gerar aromas a que chamou SLO cuja origem podem estar em compostos sulforosos. A cortiça é feita de 15% de matéria sólida e o resto de ar e, esse facto assegura uma maior permeabilidade da rolha tradicional de forma a garantir a evolução mais harmoniosa dos vinhos e menores riscos de aromas indesejáveis o que coloca o "screwcap" na condição de vedante apenas em vinhos de consumo imediato´nunca em vinhos de guarda.

Pessoalmente ainda não me estou a ver a salivar por um vinho, sem ter um saca-rolhas na mão.

Um abraço
Paulo Mendonça