sexta-feira, janeiro 24, 2014

Para Descansar a Vista

Vai-se Janeiro, o velho Janus das duas caras, símbolo da mudança, deus dos portais, deus dos começos e dos finais.

Aquele que encerra o pano e, ao mesmo tempo abre a cena para um novo acto.

Saúde-se Janus com dois poemas  apropriados. Do panteão do país irmão chegam Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles,  dois gigantes da poesia lusa:

Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra diante vai ser diferente

Carlos Drummond de Andrade

Renova-te.

 


Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
 
Cecília Meireles




 

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