terça-feira, janeiro 21, 2014

O ridículo visto pelos outros

Na vida de todos nós existe sempre um (ou mais) episódios de que não desejamos nem falar, nem lembrar, nem sequer que seja lembrado por outros.

E não falo de coisas muito sérias...Refiro-me àqueles percalços, na maioria dos casos cheios de ridículo e até anedóticos  (para quem vê, nunca para quem os protagoniza!) .

Hoje acordei a lembrar-me de um desses casos que aconteceu comigo e que decidi vir para aqui tornar público, de forma a talvez conseguir exorcisá-lo de vez.

No período em que vivi "mimado" por tias, avós, antigas empregadas de confiança e pela minha mulher, o "Je" só punha pé na cozinha para "ajudar" e dar comentários, as mais das vezes escusados e que em nada ajudavam à harmonia familiar.

Ao contrário do meu Pai -  que pela inépcia gritante da minha mãe à frente dos fogões tinha de se saber orientar na cozinha, sob pena de comer pouco e mal - eu tive nessa fase da minha vida um ambiente gracioso e ocioso, cheio de coisas boas e muito despreocupado. Na divisão da tarefa familiar competia-me "encabazar", "aviar" todos os Sábados nos mercados o que me apetecia comer. E depois esperar pelos resultados.

Tudo mudou. Fui pelas voltas da vida apanhado em casa sozinho com o senhorio\filho (de 17 anos e já com quase 100kg! )  e comendo ambos que nem bestas (salvo seja). E ainda por cima habituados ao bom e ao melhor!

Depois de meses a comer fora quase todos os dias ( e a meter tostas mistas na equação nos dias em que não se saía de casa), tanto a algibeira ( minha) como a paciência (de ambos) começaram a esgotar-se. Havia que me dedicar aos fogões, nem que para isso tivesse que penar ( eu e o senhorio, coitado, a quem transformei em cobaia das minhas experiências químicas).

A "transição" só foi possível com a ajuda e o conselho de grandes amigos, da Dª Lurdes e do Mendonça Pai, da minha Santa sogra, está claro, das Tias e Primas da província, mas também dos cozinheiros dos locais onde nós mais íamos comer.

Demorei cerca de 3 anos a transformar-me de patego em aprendiz e, ao fim de 12 anos, ainda sinto que estou nessa categoria, embora a minha mesa já não envergonhe a maioria dos comensais.

De todas as malfadadas exéquias que passei nessa fase da aprendizagem forçada, sozinho à frente dos bicos e dos fornos, nunca mais me esqueço daquela vez em que a minha mãe estava adoentada e eu decidi fazer-lhe Fatias Douradas.

Nem sei ainda bem como, mas enganei-me nos frascos e em vez de canela meti noz moscada nas fatias de pão de forma, depois de saídas da frigideira. E, como nunca fui de poupanças, aviei na noz moscada seriamente, polvilhei o pão tal e qual como se tivesse convulsões, de forma contundente!

Imaginem agora a santa senhora, acamada, com a rabanada quentinha ao pé da boca e o seráfico filho ao lado esperando pelos elogios... Gulosa como ela sempre foi, vai de abocanhar a fatiazinha com força.

Mesmo com febre ainda teve forças para me expulsar de casa aos berros, tendo eu  - atabalhoadamente - descido as escadas de casa dela mais depressa do que as tinha subido, despejando as p**** das rabanadas pelos degraus fora...

Ainda hoje tenho de ouvir esta história... E por isso, para ver se me livro dela, aqui a deixei.

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