quarta-feira, dezembro 14, 2011

Sobre a nova Saudade

Com o regresso em força da Emigração regressa também a saudade. Sem dúvida que é respeitável e dolorosa a  saudade da separação, entre o novo  emigrado e a família que cá deixou.

(Sobre esta matéria não deixem de ouvir, se puderem, os comentários de Vitor Cotovio e Margarida Cordo, na TSF, nos seus diálogos matinais sobre a Psiquiatria e a Psicologia das pessoas e das nações.)

Mas não é só essa a "saudade" a que me refiro. Também a daqueles que, não tendo conhecido piores tempos do que os que estão a atravessar - toda a geração que nasceu depois de 1970 não sentiu na pele a miséria do fascismo - sentem já a falta do apogeu da moeda única, dos apoios de Bruxelas e da vida que levavam no fim do século passado e início deste. Sem dados concretos para fundamentar mesmo assim imagino com os meus botões que essa "década dourada" terá acontecido de 1994 até 2004... Mais ou menos...

Quando falamos da "Década Dourada" estamos obviamente a referir-nos à largueza das bolsas, dos apoios do Estado a estudantes, Universidades, Instituições várias, ao SNS, às Estradas que se abriam por todos os canteiros,  e por aí fora.... Se calhar, sabendo o que sabemos hoje, devíamos era ter chamado a essa década a "Década da Desgraça", os anos em que todos nos empenhámos até à garganta,  sem o saber.

Logo depois da EXPO 1998 - altura em que os Restaurantes tugas devem ter atingido o auge das receitas - vivia-se não direi ricamente, mas com uma certa bonomia consolada de Frade de Ordem atestada: a União Europeia, então CEE, parecia ser a Abadia de Alcobaça dos seus tempos áureos, quando o Dom Abade senhoriava 17 vilas e não sei quantas aldeias em redor, tendo a fama de ser o maior empregador nacional da época  depois do "patrão" dele (a Igreja Católica)...

De seguida e para ajudar à festa, veio o crédito barato e "muito soltinho",  o qual nos era impingido pela garganta como se fosse colher de mel das montanhas. À conta dele e dos "objectivos" conseguidos e ultrapassados com direito a prémios e bónus duas ou três vezes por ano, quantos bancários e seus clientes não se meteram em aventuras de casa nova e carro de gama alta?

Em conclusão: quem sonharia, nos idos de 2004, que hoje estaria a contar os tostões (se tiver a sorte de estar empregado) e a correr os supers à procura do "branco" mais baratinho?

Por isso, é apenas normal que se sinta essa "saudade" do bom tempo, tal e qual como a sentimos da nossa juventude, por muito desregulada e louca que tenha sido nalguns dos casos.

Eu, que ultimamente só tenho apanhado desilusões em restaurantes onde tenho ido ( como aqui reportei),  até acho que é de sentir também "saudades" do tempo em que a ida a uma Casa de Restauração com nomeada era apenas um prenúncio de umas horas bem passadas, onde o maior problema nem era a dimensão da continha, mas sim se tínhamos, ou não, mesa sem ter de reservar...

Bons tempos esses... (Estou a ficar velho!)

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